Love Story escrita por Carol


Capítulo 1
We were both young when I first saw you




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Eu olhava pela janela enquanto meus pensamentos vagavam nos limites entre realidade e fantasia.

– Julie? Filha? – Minha mãe, Camila, disse, libertando-me de meus devaneios.

– Que foi? – Eu perguntei e me virei de reflexo para olhá-la.

– Já chegamos.

Eu olhei de novo pela janela do carro. A escola. Suspirei e dei um beijo estalado na sua bochecha.

– Obrigada, mamãe. Boa sorte na sua apresentação hoje. – Sai do carro.

– Filha?

Eu parei de caminhar e girei nos tornozelos.

– Eu preciso de um favor seu. Pode entregar isto ao Rafael?  Mamãe estendeu um envelope pardo por sobre a janela.

Suspirei. Apenas escutar aquele nome era suficiente para deixar nublado o mais ensolarado dos dias. Dei um sorriso forçado e peguei o envelope.

– Claro, por que não?

Coloquei o envelope no meio dos cadernos e voltei a caminhar para dentro da escola. A imponente construção era antiga, toda de tijolinhos e madeira. Era aconchegante e impunha respeito. Mas nada que o dia-a-dia não tornasse rotina. Já estava mais do que acostumada àquele cenário, e com o passar dos dias menos notava na beleza evidente da escola.

Entrei no colégio. Como se um foco de luz me seguisse, vários pares de olhos viravam em minha direção. Eu não tinha dificuldade em encará-los de volta. Podiam me chamar do que quiser, nerd, CDF, cabeção, mas eu não estava nem aí. Estava lá para aprender, não para agradar aos outros.

Acenei para alguns conhecidos e segui o caminho até a sala de aula. Sentei no lugar de sempre e abri o livro que havia começado há apenas alguns dias, Romeu e Julieta. Já estava imersa na história quando senti algum me cutucar bem no ombro.

– Bom dia!  Uma voz conhecida disse no meu ouvido.

– O que você quer?  Eu disse fingindo indiferena.

– Nossa. Eu esperava algo como... Bom dia. Custa muito fingir que você gosta de mim?

– Rafael.  Me virei para o garoto  Você quer alguma coisa ou está só enchendo o saco?

– Bem...  Ele fingiu cogitar as hipóteses  Não. Só estou enchendo o saco mesmo.  Ele sorriu.

Eu bufei e virei de costas para ele.

– Ei, o que isso?  Ele esticou o braço e pegou o envelope pardo que eu havia guardado entre os cadernos.

– Minha mãe mandou pra você.

– Mandou pra mim? E não tem nenhum recado? É só isso?

– Só isso.  Eu havia voltado a ler o livro e tentava ignorar a presença dele.

– Tem certeza?

Fiz uma pausa.

– Eu teria algum motivo pra te esconder se minha me tivesse um recado para você?  Eu disse como se explicasse algo a uma criança de cinco anos de idade.  Faça-me o favor, tenho coisas melhores para me ocupar.

Rafael fingiu estar ofendido e encostou as costas na cadeira dele, para ver o conteúdo do envelope.

Camila, minha mãe, era a madrinha de Rafael. Nós dois havamos sido criados juntos, desde bem pequenininhos. Nossas mães eram muito amigas, desde o tempo de faculdade, e nossos pais também eram bem próximos. Quando pequenos éramos amigos também, mas chegou aquela idade em que meninos e meninas não podem se falar e acabam formando grupinhos. Então nos separamos e não voltamos a nos aproximar.

Grande parte disso era por minha culpa, porque se dependesse dele, poderíamos ser amigos... Mas ele era muito criança. Nunca cresceu, e eu já não tinha essa esperança.

Quando eu havia finalmente voltado a me concentrar no livro, o sinal do colégio tocou e vários adolescentes barulhentos entraram na sala. Eu suspirei e fechei o livro. O professor logo chegou e deu início aula. Eu sempre prestava muita atenção na aula, ento quase dei um pulo quando um papel dobrado caiu em minha mesa.


Muito engraçado. Você não tem vergonha de brincar com uma coisa dessas?



Após tantos anos de convivência, eu sabia sem pestanejar que essa era a letra de Rafael.



Qual o seu problema? Do que você está falando?



Agora era tarde, não conseguiria me concentrar na aula novamente. Mas isso não era um problema, depois pediria para copiar o conteúdo do caderno de algum amigo, provavelmente de Amanda, minha melhor amiga.



Você nunca foi de mentir, o que te deu agora? Tem algo haver com aquele Paulo?



Você não tem nada a ver com os meus amigos. E eu não estou mentindo!!



Amigo, sei... Não seria só amigo se dependesse de você, não é? Haha.



Não que isso seja da sua conta. Mas por que você veio me acusar desse jeito de brincar com coisa errada?



Está admitindo que foi tudo uma brincadeira?



NÃO!



Então não sei o que isso pode significar...


O que quer dizer com isso?



Mandei o bilhete e o recebi de volta sem resposta.



RAFAEL! Me responda!



Novamente recebi sem resposta. Eu bufei de indignação e ouvi a risada baixa de Rafael atrás de mim. 

Crianças, nunca mudam, pensei.


Durante o intervalo senti uma curiosidade imensa de abrir o envelope e descobrir o que Rafael queria dizer. Será que isso seria invasão de privacidade? Ah, mas que se dane a privacidade alheia! Se bem que... Isso iria completamente contra todos os meus valores.


Eu estava sentada em meu lugar na sala, sozinha, refletindo as possibilidades, quando algum abriu a porta com urgência.

– Julie. Rápido, arrume suas coisas.

Eu encarava Rafael enquanto ele jogava suas coisas dentro da mochila.

– Que é? Quer que eu arrume as suas coisas também?  Ele disse, impaciente.

Eu nunca havia visto ele tão... Sério. E com um tom de tamanha urgência na voz.

– Não, claro que não.  Comecei a colocar as coisas na bolsa, enquanto tentava entender o que estava acontecendo.

– Mais rápido!  Ele estava quase gritando e começou a pegar os livros que estavam na minha mesa enquanto caminhava apressado até a porta.

Corri até onde ele estava.

– Você poderia me explicar o que isso quer dizer?

– Não temos tempo!  Ele disse e saiu pelo corredor enquanto eu tentava o alcançar.

Ele era bem mais alto que eu, então cada passo seu eram equivalentes a quase três meus. Enquanto ele caminhava num ritmo rápido, eu estava praticamente correndo.

– Por que não? O que houve?

Ele continuou calado e no mesmo ritmo. Eu não prestava atenção no caminho que ele ia, apenas seguia atrás.

O sinal que significava o final do recreio soou e eu fiquei confusa.

– Rafael, vamos nos atrasar para a aula.

Ele continuou calado.

– Rafael! Vamos levar uma notificação!  Eu dizia com um crescente desespero enquanto minha voz subia algumas oitavas.  Isso vai manchar a minha ficha!!

– Julie!  Ele parou abruptamente e segurou o meu ombro com força.  Isso não importa! Dá pra só ficar quieta e acelerar?

– Só se você me disser porque estamos fazendo isso!

– Julie...  Rafael falou com um tom suave. Mas percebeu que eu não cederia.  É a sua mãe, tá legal? Agora será que dava pra você calar a boca e andar logo?

– Minha mãe?...  Eu ecoei, mas era tarde para uma discussão, Rafael já estava caminhando e eu tive de correr para alcançá-lo.


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