–Não se preocupe Arya, não irei te matar assim como você fez comigo.

Fiquei paralizada após ouvir aquilo. Meu coração acelerou. Não, aquilo não era verdade, eu nunca mataria Samara. Ela era minha irmã e eu a amava.

–D-do que vo-você está falando?

–Não se faça de boba! - Samara gritou e me empurrou contra a parede, suas mãos frias apertando meu pescoço. - Você sabe que a maioria das alucinações de Ana não foram causadas por mim. E quando fui internada naquele hospital psquiátrico por sua causa? Como eu poderia ter causado as alucinações de Ana estando à quilômetros daquela ilha infernal? - ela falou e eu tentei afastar suas mãos da minha garganta mas ela só a apertou mais. - Você era a única que possuia poderes e estava perto o suficiente para ter feito isso. Minha única pergunta é: por quê, Arya?

Samara finalmente me soltou e eu pude respirar. Algo se acendeu em mim, tomando minha mente aos poucos.

–Por quê? Porque você sempre foi a queridinha da família! Porque Atena sempre preferiu você a mim e vivia dizendo o quanto você era uma boa menina e eu odiava isso! Mas eu finalmente encontrei a solução perfeita: fazer com que você fosse o verdadeiro monstro e então eu seria a garotinha boa e você seria apenas a louca que causou a morte da própria mãe.

Impulsionei as mãos para baixo e toda a água do poço começou a flutuar, formando ondas nas paredes redondas. Dei um sorriso. Minha sanidade mental já se esvaíra completamente e eu amava isso. E como amava.

Arya P.O.V. off

Aidan atravessou a tela da TV e sentiu-se um pouco zonzo e assustado. Ignorando esses sentimentos, correu até o poço e encarou a escuridão abaixo de si. Só conseguia ouvir o barulho da água, a voz de Samara e uma risada insana que só poderia ser de Arya.

–E você pensou o quê? Que só porque havia me matado passaria a ser normal? Minha morte não mudou nada, você continuou sendo louca e obsessiva por atenção e poder! - gritou Samara.

–Pelo menos não fui eu quem teve o espírito preso a esse mundo por buscar vingança! - gritou Arya de volta e as ondas abaixo do penhasco bateram com força nas rochas.

A terra estremeceu e Aidan perdeu o equilíbrio, indo parar dentro do poço. Ele tentou se segurar nas bordas mas seus dedos escorregaram e ele afundou na água fria que pareceu cobrir tudo.

O silêncio tomou o local, juntando-se à escuridão e deixando tudo ainda mais tenso, assustador e bizarro, "pra ferrar com o meu psicológico" pensou Aidan enquanto saía da água, recordando-se de todos os seus pesadelos em que estivera preso naquele lugar.

Ele puxou seu chaveiro-lanterna do bolso e o ligou, encontrando dois furiosos e curiosos olhos azuis à sua frente, mas não de um azul brilhante, um azul opaco e leitoso. "Como os olhos de um morto".

–O que você está fazendo aqui? - indagou Arya, irritada.

–A-Arya... Seus olhos... O que aconteceu com você? - Aidan disse quase sussurrando e Arya o empurrou contra a parede, apertando sua garganta e fazendo sua pele queimar sob a dela.

–Eu perguntei o que você está fazendo aqui.

–E... eu vim... aju-ajudá-las - Aidan disse com dificuldade e Arya o soltou.

–Não precisamos de ajuda - as irmãs disseram em uníssono.

Aidan respirou fundo.

–Arya, eu li o seu diá... - ele engoliu em seco. - Eu li o seu diário, sei que não foi certo mas precisei fazer isso, deixe-me ajudá-la, essa não é você.

Arya soltou um suspiro de raiva e impaciência.

–Sim Aidan, esta sou eu, me desculpe se não sou a garotinha tímida e gentil que você esperava que eu fosse. Me desculpe por ser louca.

Ela riu e Aidan estremeceu. Ele precisava contar à elas o que havia descoberto.

–Eu preciso contar algo à vocês mas, para isso dar certo e eu não acabar morto, ambas precisam ter paciência e me ouvir até o fim - ele começou e as irmãs assentiram. - Para começar, não precisam confirmar nada em voz alta, apenas sejam sinceras com si mesmas: Quando sentem muita raiva é como se outra pessoa estivesse assumindo a mente de vocês e poderes que nem sabiam ter acabam sendo despertos como queimar a pele de um humano comum com apenas um toque e até mesmo mudar a cor dos olhos ou o som da voz.

Arya e Samara permaneceram em silêncio, fitando a água que no momento se encontrava totalmente parada.

–E quando alguém tem medo de algo é normalmente por algum trauma mas as duas tem medo de água e escuro desde que nasceram sem motivo algum.

–Nós já sabemos disso, pode ir direto ao ponto? - Arya disse já começando a irritar-se novamente e Aidan assentiu, devagar e com calma.

–O que eu quero dizer é que esse mal não pertence à vocês, é como algo vindo de uma vida passada junto com seus poderes e Evelyn sabia disso, bem como sabia que o ponto fraco desse mal é a água e por isso tentou afogá-las ainda bebês. Como mãe ela sentiu e quis salvá-las - ele concluiu e Arya estreitou os olhos, Samara o encarou como se fosse louco.

–E você quer que eu acredite nisso, Aidan? Por favor, ela tentou me matar! - Arya gritou com os olhos cheios de lágrimas.

–Eu só quero te ajudar - Aidan respondeu e inesperadamente puxou-a para um abraço.

Seus braços e suas mãos queimavam ao entrar em contato com a pele da garota mas ele não se importou ao vê-la ali, tão frágil, chorando com o rosto enterrado em seu peito. Ele afagou os cabelos molhados de Arya e murmurou um "me desculpe".

Antes que ela se desse conta do que estava acontecendo já estava submersa nas águas agitadas do poço, lutando desesperadamente para voltar à superfície. Samara passou a observar àquilo, sem demonstrar qualquer emoção. E então, tudo se acalmou.

Arya parou de se debater, desmaiada. Aidan a puxou de volta e uma névoa negra pareceu deixar seu corpo magrelo. O garoto a segurou firmemente - sua pele já não queimava mais - e começou uma respiração boca a boca por alguns segundos, sem obter qualquer resposta.

–Vamos lá Arya, por favor - ele sussurrou e voltou a tentar trazê-la de volta.

Finalmente, uma tosse. Arya tossiu e cospiu água, abrindo os olhos lentamente. Seus belos olhos castanhos e não os olhos azuis de um zumbi.

–Aidan - ela disse com a voz rouca e Aidan sorriu. Sua Arya estava salva.

–Não - Samara disse fitando a água que voltava a se agitar. - Você não deveria ter feito isso! Ela deve morrer! - ela gritou furiosamente e tudo tremeu.