Abri a porta do quarto de Arya mas não a encontrei lá dentro. Xinguei baixinho e dei uma olhada rápida no cômodo, em cima da cama havia um caderninho preto de couro com uma lua prateada na frente. Curioso e ansioso, peguei o caderno que tanto me chamava a atenção e comecei a lê-lo.

Na primeira página estava escrito "Diário" em letras cursivas grandes com várias estrelas, corações e flores desenhadas em volta. Os primeiros dias contavam nada mais que o cotidiano e os sentimentos de Arya e assim se seguiu até o mês de abril.

"Mamãe e papai resolveram se mudar de novo, dessa vez para uma pequena cidade do interior da qual nunca ouvi falar.

Sam apareceu novamente, depois de tanto tempo. Ela disse que precisa de ajuda, disse que está com medo e não aguenta mais viver sempre no escuro. Não sei se irei ajudá-la."

Depois disso ela voltava a falar sobre seu cotidiano. Passei mais algumas folhas.

"Sam está aqui de novo, cantarolando nossa antiga canção de ninar enquanto escrevo. Novamente ela me pediu ajuda e acho que irei ajudá-la sim, será bom para nós duas. Sam ficará livre de seus medos e me dará seus poderes que junto aos meus serão enormes!

Pense em quantas mentes poderei tomar e atormentar para sempre, mesmo depois de morta! É fascinante."

Parei, estático. Droga! Arya era como uma mini psicopata! Enquanto Samara queria livrar-se do que a fazia sofrer, Arya queria fazer com que os outros sofressem. Ela era realmente louca!

Passei para os registros mais recentes e meu coração quase parou ao ler aquilo.

"Sei que devo libertá-la e ajudá-la, pelo menos me parece a coisa certa a fazer. Afinal, somos irmãs, certo?"

Irmãs. Suspirei, encarando e relendo aquele mesmo trecho inúmeras vezes. Parte de mim preferia acreditar que aquela era apenas uma mentira daquela garota insana, a outra parte me acusava de ser burro por não ter percebido algo que já era tão evidente desde o começo.

–Ótimo, me apaixonei por uma louca-psicopata que é irmã da menina que matou meu pai e minha prima... - sussurrei.

Mas no fim das contas nada disso importava, eu precisava encontrar um jeito de ajudar a ambas.

Algo que Rachel havia dito há uns anos martelou na minha mente: "Samara não é realmente má, apesar de estar dentro dela aquele mal não lhe pertence". Eu suspirei, provavelmente havia finalmente entendido o que aquilo queria dizer.

Joguei o caderno de lado, deixando uma folha cair.

"É hoje. Hoje que irei ajudar Sam e aumentar meus poderes. Não irei mentir, estou com medo, mas não posso mais esperar.

Estou indo para o quarto da minha mãe agora. Me deseje sorte"

–Arya M. Black

Era de hoje. Rapidamente levantei da cama e fui para o corredor, onde haviam quatro portas, todas - exceto a do quarto de Arya - estavam fechadas. Segurei a maçaneta da primeira e senti minhas pernas bambearem. Xinguei-me mentalmente por ser tão medroso e abri a porta. Banheiro.

Fui para a segunda porta, onde encontrei o quarto certo. Fechei a porta e a tranquei, aproveitando a chave que já estava na fechadura.

Várias capas transparentes de CD's estavam espalhadas pelo chão, a TV mostrava a imagem de um poço aberto com a tampa caída na grama em algum lugar mais ou menos parecido com uma floresta. Fechei os olhos e suspirei.

–Vamos lá Aidan, é para o bem de ambas - sussurrei e atravessei a tela.

P.O.V. Arya

–Droga - xinguei e senti minha cabeça latejar.

Passei a mão na testa e encontrei um corte, sangue, água e lodo misturados. Ótimo, havia batido a cabeça. Olhei para cima e vi a saída a pelo menos três ou cinco metros acima de mim.

Como havia ido parar ali? Simplesmente não conseguia me lembrar, me sentia zonza e tudo parecia rodar. Foi quando me dei conta de que estava cercada por água e um desespero tomou conta de mim. Minha respiração pareceu me deixar e meu coração começou a bater descompassadamente.

–Com medo, irmãzinha? - ouvi Samara sussurrar mas não consegui responder, estava paralisada. - Você também tem medo de água, não é? Agora sabe como me sinto.

Uma garotinha saiu da água, seu rosto coberto pelos longos cabelos negros embaraçados. Samara. Ela chegou mais perto de mim, nossos corpos quase se tocando.

–Não se preocupe Arya, não vou te matar assim como você fez comigo.