–Ah, desculpe, Arya Morgan.

Ah, droga! Droga, droga, droga!

–Me desculpe por perguntar mas... tem algum parentesco com Anna e Richard Morgan? - perguntei.

Mas é claro que teria, o mesmo sobrenome; aparência semelhante à de Samara e na minha vida não existiam coincidências.

–Conheceu tio Richard? - perguntou meio confusa.

–Não exatamente - respondi. - Conheci a FILHA dele.

Arya murmurou algo e seus olhos ficaram tristes de repente.

–Não me lembro muito de Samara, mas deve ter sido uma boa menina antes de... antes de... - ela respirou fundo e por fim conseguiu dizer - morrer.

–Eu sinto muito, se não quiser falar sobre isso...

–Não, não tem problema - ela sorriu.

Ficamos em silêncio por um tempo. Toda essa confusão sobre ser parente dos Morgan não me deixara perceber o quanto Arya era linda.

–Posso tirar uma foto sua? - perguntei e ela pareceu um pouco surpresa.

–Claro, mas... Por quê?

–Meu pai gostava muito de fotografia, inclusive era um ótimo fotógrafo, e acho que herdei os dons e gostos dele.

–Entendo - ela riu. - Minha mãe é musicista, aprendi a tocar piano com ela.

Quem sabe um dia você toque pra mim - falei e Arya deu um sorriso.

–Acho que não, sou muito tímida.

–Por isso hesitou quando pedi para tirar a foto? - estava começando a me familiarizar com Arya, mesmo esta sendo prima de Samara.

–É mais ou menos isso mas pode tirar se quiser.

–Depois, não estou com a câmera agora.

Sorrimos um para o outro. O sinal tocou e enquanto todos os outros alunos fingiam não ouvir, eu e Arya nos levantamos para voltar à sala.

Não conversamos durante a aula, diferente do resto da turma que cochichava sem parar. Eu tinha quase certeza de que era sobre Arya e isso me dava nos nervos.

Durante três anos e meio as fofocas haviam sido sobre mim e Rachel e agora eles tinham achado outro alvo. Mas tinha uma diferença: eu não me importava, poderiam falar que eu era o próprio demônio que eu apenas fingia que não ouvia, mas acho que Arya era diferente. Ela parecia se importar.

Me virei para trás para falar com ela mas esta estava de cabeça baixa, provavelmente dormindo, assim como 60% da sala. Não a culpo, aula de matemática era realmente irritante.

–Aidan? - a Sra. White me chamou.

–Quê? - respondi distraído.

–A resposta.

–Não sei - falei e era essa a verdade, eu não estava prestando atenção em nada, só conseguia pensar em todos aqueles problemas passados voltando para ferrar com a minha vida.

–Selenne? - passou a pergunta para a loira.

–Hmmm... Raiz sexta de menos doze elevado à quatro?! - respondeu com certa dúvida.

–Correto - ela escreveu a resposta na lousa e Selenne sorriu, satisfeita.

Minhas pálpebras começaram e pesar e percebi que estava que estava quase pegando no sono.

–Er... Sra. White? - chamei e ela me olhou, abaixando os óculos grandes e redondos. - Posso ir ao banheiro?

–Vai Aidan, vai - respondeu balançado a mão suja de giz na direção da porta.

Me levantei e saí apressado na direção do banheiro. Abri a torneira e molhei o rosto, a água correndo pela pia.

–Eu avisei, Aidan - ouvi um sussurro bem no meu ouvido. Aquela voz. - Não para.

Levantei o rosto e pelo espelho pude ver Samara parada atrás de mim, o cabelo na frente do rosto como sempre. Meu coração acelerou e minha respiração ficou ofegante.

–Não tenha medo, não vou te matar - ela disse em tom debochado e a água da torneira começou a flutuar. - Não agora.

Virei-me para trás mas não encontrei ninguém, apenas ouvi uma risada aguda e a água que estava no ar caiu novamente na pia, respingando no espelho, onde formou as palavras "CUIDADO ARYA".

Só não sabia se eu tinha que tomar cuidado com Arya ou ela com Samara, afinal, os dois sentidos eram válidos.

Voltei para a sala e sentei no meu lugar, ainda atordoado com tudo aquilo. Já havia pensado na possibilidade de tudo não passar de um sonho ruim mas não adiantava fantasiar, toda vez que levantava a manga da blusa lá estavam as marcas vermelhas das mãos de uma garotinha que parecia inofensiva, mas que poderia matar meio mundo se quisesse.