Dead Inside escrita por Valentina


Capítulo 7
Terminal


Notas iniciais do capítulo

Propaganda básica; caso algum leitor que esteja acompanhando essa fic curta THG, acabei de criar uma fic, se alguém quiser ler, hoho.
Enfim, espero que curtam esse cap, mais umas dicas da história da Blair.



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Antes que pudéssemos chegar no perímetro da casa, Rick e Michonne caminhavam agachados em nossa direção, pedindo para que ficássemos em silêncio. Carl instintivamente tocou seu coldre, e sem que eu pudesse perceber, as juntas de meus dedos estavam brancas, tamanha a força com a qual eu segurava o machado. Nós quatro paramos embaixo da copa de uma árvore, a uma distância relativamente segura da casa.

“Um grupo entrou lá. Achei melhor irmos, parecem perigosos. Vai ser mais vantajoso se não souberem que existimos” – sussurrou Rick. Concordei com a cabeça enquanto Carl encarava algo além; a janela do quarto, talvez.

“Para onde vamos? Acha que vão ficar por lá?” – ele perguntou, um tanto curioso, um tanto preocupado. Quando ele abaixava seu tom de voz, parecia-me que sua infância havia retornado a ele, e aquele timbre frio e desinteressado se desmantelava.

“Não sei. Mas enquanto pudermos evitá-los, melhor” – achei que Carl discordaria, considerando sua expressão de reprovação, mas, no entanto, ele apenas meneou a cabeça positivamente.

Sem trocar mais nenhuma palavra, nós seguimos em direção aos trilhos. De repente, meu coração se apertou, pois eu sabia que estava de volta à estrada. Aquela falsa segurança de um teto sob minha cabeça já não existia mais, e talvez nunca mais fosse existir. A quem eu estava tentando enganar, pensando que as coisas poderiam ser pelo menos um pouco normais? Eu tinha que lidar com o fato de que nós seríamos eternos nômades, caso fôssemos sobreviver a esse novo mundo.

Algumas coisas haviam mudado, contudo. Eu não me sentia tão sozinha, como me senti nos dois dias em que caminhei sem ninguém ao meu lado. Eu tinha três pessoas nas quais eu confiava o suficiente, eu as ajudaria e sei que elas me ajudariam, caso eu necessitasse. Minhas habilidades no quesito “matar” já estavam bem melhores; tudo o que eu precisava era da arma certa, da pessoa certa, e de confiança em mim mesma. O fato de ter salvado Carl me deixou muito mais segura. Nós seguiríamos em frente, não importa para onde. Eu poderia morrer no meio do caminho, mas seria ao lado deles, e estava bom o suficiente para mim. A minha missão para chegar a Charleston encerrou-se quando meu pai entregou seu último suspiro, e eu estava cansada de sentir que dever algo para um mundo que só me cobrava dívidas.

Assim que pisamos nos trilhos, um vagão enferrujado que um dia fora vermelho-vinho estava decorado com um pôster não muito convencional. Um mapa, precisamente. A palavra Terminal estava bem no meio, cercada por linhas apagadas e linhas realçadas por um tom laranja-escuro. Suspeitei se tratar da estação do trem, mas então, ergui meus olhos para a mensagem a cima do mapa.

“Aqueles que chegam, sobrevivem” – disse Michonne em voz alta, antes que eu pudesse fazê-lo. – “O que acha?” – ela se virou para Rick, que encarava a mensagem. Sua testa estava enrugada e suas sobrancelhas arqueadas; estava certamente duvidando da veracidade da proposta. Sinceramente, eu não acreditava nem um pouco nessa promessa.

“Não sei. Mas não temos muitas opções” – ele disse por fim. Rick estava certo. Ele era bom em tomar decisões difíceis, acho. Porém, cada fibra do meu ser dizia que isso era uma cilada. Em um mundo como o nosso, em que estamos sempre desesperados, iludir a nós mesmos torna-se cada vez uma tarefa mais fácil.

“Vocês não acham que é bom demais pra ser verdade?” – resolvi me pronunciar. Se eu não tentasse nada para impedi-los, e se fosse de fato uma armadilha, eu nunca me perdoaria.

“Podemos estar indo para uma nova Woodbury” – disse Michonne, de repente considerando o que eu acabara de dizer. Percebi só agora que, apesar de ambos duvidarem da autenticidade do mapa, em momento algum duvidaram da mesma coisa que eu. Enquanto eu indagava se era ou não uma armadilha, eles indagavam se o lugar existia ou não.

“Se esse for o caso, espero que o Governador de lá seja mais inteligente. Vamos logo. É melhor do que ficar andando por aí sem rumo” – disse Carl, pondo-se a frente de nós, caminhando com aquele ar de superioridade.

Michonne fez uma careta e deu de ombros. Fiquei segurando o olhar de Rick, em uma última tentativa de fazê-lo mudar de idéia. Mas por um lado, Carl estava certo. Se não fôssemos para lá, para onde iríamos? Morreríamos em breve, e se morrêssemos no caminho de algo que julgávamos ser uma esperança, eu me daria por satisfeita. Nós dois fomos atrás de Carl e Michonne, e o silêncio entre nós pairou no ar.

CINCO ANOS ATRÁS

O aviso de “apertem os cintos” começou a piscar em seu tom vermelho costumeiro. Meu pai suava frio, embora eu soubesse que não tinha medo de avião. Deduzi ser outra coisa. Eu nunca gostei de turbulências, mas digamos que eu já estava suficientemente acostumada. A aeromoça parecia preocupada, perambulando pelos corredores de cinco em cinco minutos.

Eu não estava preocupada com o avião, com as nuvens ou o mal tempo do lado de fora, mesmo que talvez devesse. Minha mente focava-se apenas em nosso destino, e em como eu não queria ir para lá. Carolina do Sul não era um dos roteiros mais emocionantes do papai, que quando viajava a trabalho, como nesta ocasião, costumava ir para Manhattan ou Chicago. Dizia ele que mamãe nos encontraria em Charleston, o que confesso não ter me animado muito.

Ela nos deixou há cerca de três anos, quando conheceu um francês barrigudo cuja personalidade não se envolvia com a minha. Não que ela não quisesse me levar junto, mas bastou algumas palavras para convencê-la a me deixar para trás – o que me deixou decepcionada, acho. Enfim, eu a amava, mas guardava certa mágoa, provavelmente.

O avião chacoalhou violentamente, arrancando gritos agudos de alguns passageiros. Meu pai segurou minha mão com firmeza, fechando os olhos como se não quisesse estar ali. Eu estava calma diante da situação, mas nervosa por ele. Olhei para o meu lado, procurando entender o que estava acontecendo através da pequena janela arredondada.

Algumas nuvens cinzentas passavam por nós, mas eu me lembro de termos enfrentado tempestades com um céu completamente enegrecido – essas coitadas não deviam nem fazer cócegas em uma carcaça de metal dessa proporção.

As bagagens que ficavam guardadas acima das poltronas começaram a cair, uma por uma. Minha mão estava sendo esmagada pela de meu pai, enquanto os champanhes e camarões da primeira classe pulavam para fora de suas “mesas”.

De repente, uma força sobrenatural começou a nos puxar para baixo, como se estivéssemos sendo puxados da Lua de volta para a Terra. A pressão que recaía sobre nós fazia com que alguns imergissem em um estado de silêncio profundo, como meu pai, e outros gritassem até seus pulmões não agüentarem mais, como no caso do passageiro à nossa frente. Eu não conseguia dizer nada. É isso, pensei, irei morrer.

“Atenção passageiros, pouso forçado em Atlanta” – a voz de uma mulher ressoou trêmula e engasgada. Parecia que ela mesma não estava certa do que dizia, mas que esperava que tudo desse certo.

O barulho da turbina inundava meus ouvidos e a sensação de pânico tomou conta de mim. Fim da linha. Finalmente um baque forte o bastante para me arremessar para fora da poltrona, se eu não estivesse de cinto, assolou a aeronave.

Eu não havia desmaiado, não havia morrido. Entretanto, uma dor aguda em minha coluna começou a me incomodar. Meu pai tinha um corte horizontal e do tamanho de uma caneta esferográfica abrindo sua testa. Seus olhos estavam fechados e sua mão estava relaxada, indicando que ele não estava acordado. Verifiquei seu pescoço, aliviada ao constatar que estava vivo. Por fim, permiti que meus olhos explorassem o local à minha volta.

As asas e a traseira da aeronave tinham sido decapitadas, por assim dizer. Algumas poltronas pendiam juntamente com fios e partes de metal retorcido, e as pessoas que outrora sentaram nelas tinham seus corpos cortados ao meio ou estavam mortas graças a uma batida muito forte na cabeça. As lágrimas escorriam pelo o meu rosto.

Só percebi que não estava escutando quando meus ouvidos voltaram a funcionar; chiados, estalidos, gritos de terror e angústia. Gemidos.


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Notas finais do capítulo

Hm, Charleston? hmmmm



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