Dead Inside escrita por Valentina


Capítulo 8
Estrelas


Notas iniciais do capítulo

Um super obrigada aos dezoito acompanhamentos. Saber que alguém lê a sua fic é realmente uma ótima sensação. Agradeço a todos vocês, amores!!
Espero que curtam o cap.



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A casa estava envolta por cercas precárias, mas ainda assim, eram cercas. Havíamos caminhado por cerca de três horas antes de encontrá-la no meio da floresta que cercava os trilhos do trem. Era modesta, como a que tínhamos deixado para trás, mas de alguma forma, uma energia negativa a encobria como a um véu. Em sua frente, um banco de madeira desgastada parecia estar úmido, mas não me lembrava de ter chuviscado recentemente. Ignorei o fato ao me deparar com as três “lápides” perto dele.

Três cruzes, uma ao lado da outra. Uma delas possuía um pequeno par de sapatilhas douradas penduradas, o que fez Carl se esquivar instantaneamente. Presumi que se devia ao fato de lembrá-lo de Judith. Agachei-me, imaginando que ali se encontravam os pais e o bebê do casal. Queria prestar condolências, mesmo sabendo que ninguém ligaria para isso. Rick e Michonne já haviam entrado na casa, enquanto Carl dirigiu-se até a cerca, encarando nada em particular – ou pelo menos eu acreditava que assim fosse.

Suspirei e me levantei, indo até a porta de entrada. Não havia motivos para chorar por quem eu não conhecia, sendo criança, bebê, adulto. Já vi muitos morrerem e já vi todos os tipos de walker que eu poderia ter visto, então era melhor vê-los definitivamente mortos do que andando por aí, querendo me comer.

O interior da casa parecia aconchegante. Um pote de nozes descascadas repousava sobre a mesa, mas ninguém pareceu notá-las. Será que ainda tinham um gosto bom? Uma chaleira estava no fogão, e era como se alguém tivesse saído para colher frutas e estivesse prestes a voltar. Tudo tão... Cotidiano. Rick estava sentado em uma poltrona em frente à uma lareira, e Michonne estava adentrando cada vez mais pela casa. Uma boneca de pano estava jogada no chão, e eu tive que ter muita força de vontade para controlar o choro que queria escapar; imaginei uma bebê no berço, agarrada a ela.

“Temos um poço” – disse Carl, limpando a sola dos sapatos no capacho. Deixei que um sorriso singelo escapasse.

“Podemos ficar por aqui por enquanto” – Rick balbuciou. Ele já parecia ter se acomodado na poltrona, espreguiçando as pernas e levando os braços para trás da cabeça.

“É, podemos” – disse Michonne, surgindo das sombras do corredor. – “Mas não tinha um walker se quer aqui. Não acha isso meio esquisito?” – ela falou, sentando-se na mesa junto a mim.

“As nozes, a chaleira. É como se alguém fosse voltar a qualquer instante” – eu disse, fitando os objetos conforme eu lhes apresentava. Por mais que tudo soasse confiável demais, eu não queria deixar aquela casa. Estava sedenta por normalidade.

“Tem razão. Mas não temos muita opção” – acho que Carl havia fincado em sua cabeça que, nos tempos atuais, não se tem muita opção. Era somente esse seu único argumento válido.

“Eu fico de guarda” – disse Michonne, saindo sem esperar que ninguém concordasse. Todos concordariam, de qualquer forma.

||

Nas próximas duas horas que se sucedeu, ninguém trocou sequer uma sílaba. Eu esperava que pelo menos houvesse algum assunto entre mim e Carl, mas ele parecia tão distante quanto antes. Rick precisava sempre estar descansando, e eu não o culpava – sem medicamentos, sua recuperação seria lenta e complicada. Tentei manter-me entretida descascando mais nozes, olhando para o fogo cujas chamas serpentavam na lareira; porém, quanto mais entediada eu ficava, mais assombrada pelo meu passado eu estaria. Eu queria evitar o máximo possível minhas lembranças, pois temia não suportar guardá-las para mim mesma. Eu não estou autorizada a falar nada, por mais que todos mereçam saber.

Resolvi ir fazer companhia para Michonne.

Ela estava sentada no banco de madeira, encarando o céu. Parecia tranqüila, feliz, mais precisamente.

“Ei” – eu disse, fazendo-me notar. – “Saudades das estrelas?” – olhei para cima, esperançosa de que encontraria pelo menos alguns pontos iluminados. No entanto, elas haviam desaparecido junto com o resto da humanidade.

Ela suspirou em resposta.

“Qual a sua história?” – finalmente perguntou, encarando-me nos olhos. Era exatamente esse tipo de pergunta que eu queria evitar.

“Depois que meu pai ficou em coma durante um ano por causa de um acidente de avião, ele perdeu o emprego. Ficou paranóico. Estávamos indo para Charleston na época, e há dois anos, ele cismou que tinha de ir à cidade fazer o que tinha de ter sido feito quando entrou em coma. Enfim, nunca passamos de Atlanta” – eu disse, dizendo a verdade e omitindo apenas alguns fatos, como o que queríamos encontrar lá.

“Ah sim. E sua mãe?” – fiquei feliz por ela não insistir em meu pai, já que minha mãe era um assunto tremendamente mais fácil de se lidar.

“Bom, ela casou com um francês quando eu tinha uns cinco anos. Ela ia nos encontrar em Charleston quando ocorreu o acidente, e depois que meu pai ficou em coma, ela nunca mais foi me visitar. Sei lá” – por mais que fosse mais simples por ser mais verdadeiro, ainda doía dizer aquilo tudo. Eu não sabia como as coisas estavam na França, mas provavelmente estavam tão ruins quanto aqui.

“Não tem nenhum outro parente?” – ela pareceu solidária. Achei que nunca a veria assim novamente, então tentei capturar a expressão de seu rosto o mais detalhadamente possível.

“Tenho o tio Eugene, irmão do meu pai. É inteligente, mas não sei dizer se está morto” – eu bufei, lembrando-me da inconveniência que Tio Eugene proporcionava aos convidados de qualquer e toda festa. Por mais que ele tivesse muito conhecimento interessante a ser passado, algumas vezes ninguém queria escutar. Só queria beber.

“Não seria esperançoso pensar que ele pode estar vivo?” – ela perguntou, com as sobrancelhas arqueadas.

“Talvez seja melhor deixar ao acaso. Se estiver morto, será mais um. Se estiver vivo, será ótimo. A vida me surpreenderá positivamente pela primeira vez, e isso será muito mais esperançoso” – eu disse.

“Concordo com você” – a voz de Carl propagou-se de repente, fazendo-me dar um pequeno salto no banco. Eu estava arrepiada, sem saber os motivos certos. Nervosismo? Apenas reação a um susto?

Virei o corpo para encontrar seus olhos, que apesar de azuis, pareciam luas negras que se misturavam na escuridão da noite. Estava de pé na varanda, encarando os próprios sapatos, o chapéu agora camuflava seu olhar sombrio.


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Notas finais do capítulo

Pra quem está acompanhando regularmente a série, sabe que eles estão tão próximos que até dói!! hauahuahhau
Beijos!!!



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