Rachel Berry poderia afirmar que sua vida era quase perfeita, amava seu trabalho, tinha uma carreira promissora, uma filha maravilhosa, a noiva era incrível e tinha uma família espetacular. Não poderia querer mais nada. Okay, talvez pudesse. Na verdade ela queria passar alguns dias no mesmo fuso horário da noiva e isso a frustrava muito.

“O que eu faço Kurt?” A morena jantava com o amigo após a apresentação da noite.

“Vai pra lá.”

“É fácil falar, mas não posso largar tudo aqui, tenho a Alice, a peça e vários outros compromissos. Não posso jogar tudo pro alto.”

“Não é assim também, não precisa jogar tudo pro ar, mas você pode ter uns dias pra você. Uma semana fora vai fazer mais bem do que mal. Não me interprete mal, mas você vai se dedicar mais à peça.”

“Eu não to fazendo boas apresentações?” Ela estava chocada. “Por que ninguém me falou nada antes?”

“Calma Rach, não é isso. Você é sempre impecável, a única coisa que percebo é que você não tem tanto brilho nos olhos, você não se entrega como normalmente faz.” Explica o designer, tentando acalmar a melhor amiga.

“Mas Kurt, isso é terrível. Não posso ser negligente no meu trabalho apenas porque sinto falta da minha noiva. Isso é falta de profissionalismo.”

“Não seja exagerada, você não esta deixando de ser profissional apenas por não se entregar como normalmente se entrega. Te garanto que ninguém notou isso.”

“Você notou.”

“Eu não seria seu melhor amigo se não tivesse notado.” Ele sorri para a morena.

“Obrigada.”

“Não precisa agradecer meu amor, apenas dê um jeito de visitar sua noiva maravilhosa e melhorar essa carinha.”

“Vou conversar com o diretor e ver se consigo uns dias.”

“Claro que você consegue. Fanny Girl com Rachel Berry é espetacular, mas com uma Rachel Berry feliz e sexualmente satisfeita é ainda melhor.”

“Kurt!” Bronqueia a morena, corando na hora.

“Ah Rachel, como se você não estivesse frustrada. Te entendo, Blaine já gravou fora e foi terrível. Posso ser completamente gay, mas até eu ficaria perdido se tivesse aquela loira só pra mim e fosse obrigado a passar longos meses longe dela.” Ele ri da cara da amiga, que estava passada com a declaração.

“Não sei se concordo ou brigo com você.”

“Concorde querida, mais fácil.” Ele ri e pega o celular que vibrava sobre a mesa.

“Você pode até fazer declarações sobre a minha noiva que questionam sua homossexualidade, mas esse sorriso ai é exclusivo do seu marido.” Ela provoca e dessa vez é o designer quem cora.

“O que eu posso fazer, o homem é maravilhoso.” Responde apaixonado. “Preciso ir querida, assim que definir o que vai fazer me comunique. Se quiser ir sozinha eu fico com sua versão mais fofa.”

“Hahaha.” Finge rir da piada e abraça o amigo que logo sai do restaurante. Poucos minutos depois segue em direção à casa de Shelby para buscar Alice, que vai para casa dormindo nos braços da mãe.

Como toda boa criança Alice dormiu durante todo o trajeto da casa da avó até a sua, mas despertou assim que Rachel a colocou na cama.

“Eu quero a mama.”

“Eu sei meu anjo, mas a mama tá trabalhando. Você precisa ter um pouquinho de paciência.” Quinn tentava falar com a menina todas as noites antes dela dormir, o que era bem complicado tendo em vista o fuso horário e a rotina de gravações.

“Mas mamãe...” A menina estava quase chorando.

“Não fica assim.” Ela tenta acalmar a filha, sentando ao lado dela na cama. “Podemos ligar pra mama amanha assim que você acordar, ela vai adorar falar com você.”

“Demora muito.”

“Não demora, meu anjo. Se você dormir vai passar rápido.”

“Mas eu quelo fala com a mama.”

“Amanhã. Quer dormir no quarto da mamãe?” A criança sorri ao ouvir a proposta. “Então vem.” Rachel pega a menina que vai para o colo da mãe segurando seu ursinho pela orelha.

A atriz coloca a filha próxima ao centro da cama, deixando um travesseiro ao lado, para evitar que rolasse para fora, já que na própria cama a menina tem uma proteção. Liga a televisão num canal de desenhos.

“Vou tomar banho, fica aqui, tudo bem?” Pergunta já percebendo o sono voltar nos olhos da menina, que colocou a cabeça no travesseiro de Quinn.

Não demorou muito para Rachel se preparar para dormir. O banho a fez muito bem e cumpriu uma de suas maiores funções, clarear a cabeça e ajudar a tomar decisões. Antes de deitar precisava resolver algumas coisas. Sentou na poltrona próxima a janela com o notebook no colo.

“Passagens aéreas, vamos lá.” Logo começou a fazer uma busca, 15 minutos depois estava com as passagens compradas.

A morena pegou o celular no criado mudo e esperou alguém atender do outro lado da linha.

“O que foi Berry?”

“Santana, minha querida amiga.”

“O que você aprontou?”

“Nossa, isso é jeito de atender uma ligação?”

“Você aprontou alguma coisa, to sentindo de longe.”

“Não aprontei nada, ainda.”

“Oh meu Deus. Fala logo, anã.”

“Preciso de um favor.”

“Não.”

“Como não, você nem sabe o que é.” A atriz estava indignada.

“Mas prevejo que vai me dar trabalho, então não.”

“Santana, por favor. Pela Quinn.”

“Não jogue baixo. O que você quer?”

“Vou visitar a Quinn.”

“E?”

“Vou amanha.”

“E? Continuo sem saber onde entro nisso.”

“O voo sai daqui as 6 da manha, não terei tempo de falar com o diretor da peça.”

“Nem pensar.”

“Mas Santana. Não aguento mais ficar longe dela. Vou ficar lá apenas uma semana.”

“Tá. Por que não falou com o Theo?”

“Você será mais persuasiva do que ele caso seja necessário.”

“Tá bom. Boa viagem Oompa loompa. Manda um beijo praquela branca azeda.”

“Pode deixar. Muito obrigada San.”

“Obrigada nada, pode ter certeza que vou cobrar isso.”

“Tá, tá.” Responde rindo. A latina logo desliga o telefone e então Rachel corre para fazer as malas.

Às cinco da manhã a morena, com a filha nos braços, observava enquanto o taxista colocava a ultima mala no carrinho do aeroporto.

“Muito obrigada.”

“Por nada senhora, faça uma boa viagem.” O homem agradece e as duas entram no aeroporto.

A hora de antecedência foi mais do que suficiente para despachar as malas e tomar um café. Alice estava eufórica em ver Quinn e Rachel não era muito diferente.

“Falta muito mamãe?” Elas haviam acabado de sentar em seus lugares no avião.

“Um pouco meu amor.” A viagem seria longa, a atriz teria que entreter muito a menina e não podia agradecer mais pela tecnologia, notebook e desenhos intermináveis que a filha adorava assistir. Ainda mais prevenida, Rachel já havia dado um remédio para enjôo para a criança, sabendo que a menina dormiria um pouco.

Nove horas de vôo depois, elas finalmente chegavam ao destino, era cerca de 21 horas em Milão, mas ainda estavam no fuso de NY, era estranho estar tão escuro às 15 horas.

“Onde tá a mama?”

“Acho que no hotel, vamos ligar pra ela?”

“Ebaaa.”

“Vou falar com a mama rapidinho, você fica quietinha pra gente fazer uma surpresa pra ela?” Rachel perguntou pra filha que balançava a cabeça positivamente.

Como a boa atriz que é a morena enrolou a noiva e confirmou sua localização, logo ela e Alice estavam num taxi em direção ao hotel.

“Buona sera, il mio amico è rimanere qui, ma vorrei fare una sorpresa per lei. Potrebbe chiamare qui?” (Boa noite, minha amiga está hospedada aqui, mas eu gostaria de fazer uma surpresa para ela. Poderia chamá-la aqui?)

Pelo menos duas das nove horas de vôo foram utilizadas para ensaiar umas poucas frases para tentar falar com Quinn.

“Buonanotte signora, io non sono sicuro lei ho potuto aiutare.” (Boa noite senhora, não tenho certeza de que poderia ajudá-la.)

“Basta chiamarequi, ioprometto che tiaspetto qui, non voglio sapereil numero della camera, solo chescendere.” (Apenas a chame aqui, prometo que espero aqui, não quero saber o número do quarto, apenas que ela desça.) Planejar para o caso de receber um não havia sido útil.

“Qual è il suonome?” (Qual o nome dela?)

“Quinn Fabray.”

“Un momento, signora.” (Um momento, senhora.)

O homem pegou o telefone e ligou para o quarto, trocou algumas palavras com a pessoa do outro lado da linha. Rachel percebeu que ele havia dito algo como ter uma entrega para a loira e que ela precisava descer para receber.

“Leista arrivando, signora.” (Ela está vindo, senhora.)

“Grazie, signore.” (Obrigada, senhor.)

Rachel sentou-se num sofá para aguardar a loira. Alice estava sentada ao seu lado com um ursinho nas mãos. Nenhuma das duas percebeu quando Quinn chegou ao balcão e recebeu a indicação de que a esperavam. Quando viu as morenas ela não podia acreditar. Agradeceu o homem e caminhou até o sofá.

“Rach?” A morena virou a cabeça tão rápido que quase ficou tonta.

“Quinn!” Levantou do sofá e correu os poucos passos que as afastavam para abraçar a noiva.

“Mama!” Alice correu também e abraçou as pernas da loira, que a pegou no colo assim que Rachel se afastou.

Enchendo a menina de beijos, Quinn voltou a abraçar Rachel.

“O que vocês estão fazendo aqui? Não que eu esteja reclamando, é claro.”

“Estavamos com saudade.”

“E o trabalho?”

“Você é mais importante que qualquer trabalho Quinn.”

“Vamos subir, levar essas malas. Eu ia sair pra jantar, mas se vocês quiserem podemos ficar aqui.”

“Não. Nós te acompanhamos, não quero atrapalhar seus planos.”

“Nenhum plano é mais importante do que estar ao seu lado.” Respondeu dando um beijo nos lábios da morena.

“Então vamos levar essas malas, sair pra jantar e voltar logo, porque preciso muito matar as saudades de você.” Afirma a morena, retribuindo o beijo.

“Amo muito vocês duas.” Quinn declara abraçando as morenas mais uma vez.