Placebo escrita por Miaka


Capítulo 4
Conciliação


Notas iniciais do capítulo

Gente, que absurdo, mas já tem quase 1 ano que não postava um capítulo!
Fiquei envergonhada quando vi! Mas agradeço a todos que estão acompanhando! Realmente me surpreendi porque achei que seria muito rejeitada a ideia do 'masja' e a possível traição. XD

Peço que leiam também minha nova fic em andamento, Escape, também de Magi e pela primeira vez eu estou fazendo um AU de Magi! ^__^

Muito obrigada a todos que lêem, acompanham, comentam!!!!



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Correu o máximo que pôde.

Na verdade, o máximo que suas pernas conseguiam, bambas. Enquanto sua visão turva pelo álcool fazia com que as luzes da iluminada noite de Sindria fizessem rastros que ofuscavam os olhos verdes.
Caminhou pelas ruas agitadas até chegar à praia. Suas pernas já fraquejavam quando o estômago revirou mais uma vez. Entregou-se deixando os joelhos baterem na areia e despejou o vazio que havia em seu estômago e era ocupado apenas pelo álcool.

Perguntava a si mesmo quando havia se sentido tão mal em sua vida. Seu keffiyeh caiu na areia enquanto vomitava. Lutava para manter o fôlego sentindo o gosto amargo subir por sua garganta.

Levantou-se com os olhos lacrimejando, suas bochechas ardiam enquanto encarava o mar.

Não tinha como voltar para o palácio. Não tinha como voltar para Sinbad.

Havia destruído tudo. Absolutamente tudo. Anos de devoção e amizade que ele havia destruído em um surto de ciúme que ele mesmo não entendia. Afinal, estava acostumado a ver Sinbad cercado por mulheres. Naquele momento só queria… desaparecer.

Cambaleou até à margem sentindo as ondas que vinham e refrescavam seus tornozelos. Mais alguns passos e a água cobria seus os joelhos… Seguiu caminhando zonzo em direção àquele azul infinito.

– Sin… O que eu fiz? Por que… - ele sentia uma onda mais forte lhe puxar e lhe afastar da margem. - Por que não me ama?

Assim que sentiu a maré lhe levar, lembrou-se mais uma vez das mulheres que cercavam aquele que tanto amava. Que preenchiam não só seu colo, mas sua cama. O cheiro insuportável de sexo nas manhãs quando acordava o rei. Por mais que a água estivesse tão fria, sentia seu corpo arder.

– JA’FAR-SAN!!!

Os olhos verdes mal encararam quando o fanalis aparecia correndo com seu keffieyh nas mãos. Devia ter encontrado no caminho.

– Me desculpa, Sin...

Masrur só conseguiu ver quando uma forte onda praticamente engoliu Ja’Far. Não pensou duas vezes antes de se atirar no mar. Mergulhou enfrentando a correnteza atipicamente forte naquelas águas, tendo um pouco de dificuldade nos poucos segundos em que demorou a encontrar o corpo desacordado que afundava. Nadou até o albino e o capturou facilmente, trazendo-o de volta à superfície.

– Oe! Ja’Far-san!

O fanalis tentou reanimá-lo, mas não teve sucesso. Nadou de volta até à margem trazendo Ja’Far em seu ombro para deitá-lo na areia e apoiar as mãos, uma em seu nariz a outra em seu queixo antes de se inclinar para tocar seus lábios nos dele. O ruivo teve de se concentrar em realizar a respiração boca-a-boca, sentindo o corpo se arrepiar ao estar praticamente beijando o albino. Repetiu aquele procedimento mais três vezes para que Ja’Far reagisse. O albino tossiu, cuspindo mais água e ofegar.

– S-Sin… - ele chamava desorientado, os olhos cerrados.

– Vou te levar até ele, Ja’Far-san! - Masrur acariciou o rosto tão bonito.

Não conseguia reagir. Quem falava com ele? Era Sinbad, não era? Aquele que sempre estava ao seu lado quando precisava.

Sentiu-se afagado em braços fortes. Protegido. Precisava tanto dele. Por que não podia tê-lo? Por que tudo… tinha que ser assim?

x-x-x-x-x-x

Nos portões de palácio estava um aflito rei que andava de um lado para o outro.

Após aquele escândalo, o festival havia acabado e Sinbad se encontrava angustiado. Seu coração doía. Ja’Far parecia tão magoado, tão frustrado, tão… ferido. Ele agora era alvo dos olhares preocupados e um tanto quanto condenadores de seus generais que estavam ali ao seu lado, igualmente preocupados com o rapaz.

– Não se preocupe, majestade! - Sharrkan tentou acalmá-lo. - O Ja’Far-san está bem!

– Tsc, Masrur está demorando muito! - Sinbad olhava para todos os lados. - Melhor irmos...

Foi quando o par de olhos dourados encontraram um encharcado Masrur que trazia um inconsciente Ja’Far em seus braços. Ao vê-los, Sinbad interrompeu a si mesmo para correr em direção a ambos.

Encontrou o albino desacordado com as roupas desalinhadas e grudadas ao corpo, os fios alvos molhados sobre a fronte. Parecia tão… frágil.

– Meu Deus! Ja’Far! - encarou o mais alto. - O que ele tem?!

– Encontrei ele no mar. Quase se afogou.

– Oe, Ja’Far! - Sinbad bateu de leve em seu rosto. - Ele está quente! - alarmou-se. - Rápido! Levem-no aos meus aposentos e chamem um médico!

x-x-x-x-x-x

Corria pelos corredores que nem de longe pareciam os animados e iluminados corredores do palácio de Sindria. Seu coração palpitava. Não conseguia encontrar ninguém. Absolutamente ninguém. Só podia procurar por aquele que era seu porto seguro.

– Sin!!!!

Escancarou as duas portas dos aposentos do rei para então ver a enorme cama rodeada por seus amigos, companheiros de tantas aventuras, subordinados daquele que decidiram seguir o mesmo sonho. O murmúrio e o choro audível dos muitos ali, incluindo alguns criados, fez Ja’Far arregalar os olhos, mas não tanto quanto quando passou por Yamuraiha, que consolava Pisti em seu abraço. Naquele momento, Ja’Far viu o corpo ensangüentado sobre a cama, um punhal fincado no centro do peito. Não… Não era real. Sinbad era um homem poderoso, nunca seria assassinado de uma maneira tão… patética.

– C-como… - ele cobriu os lábios com as mãos se aproximando em passos rápidos da cama.

– O-oe, Ja’Far! - Hinahoho se aproximou e tocou os ombros do albino por suas costas. - Acalme-se!

– É MENTIRA! - ele urrou virando-se de frente para o homem robusto. - O SIN JAMAIS SERIA ASSASSINADO POR ALGO TÃO RIDÍCULO ASSIM! - ele tentou sorrir, riu enquanto as lágrimas caiam. - Pa-parem de brincadeira…

– Ele estava desprevenido! Uma das odaliscas foi comprada por um reino inimigo da Aliança, ela o apunhalou… Ele não teve chance de se defender!

Era a concretização de um dos piores medos de Ja’far. Sinbad se entregava completamente àquelas concubinas, às odaliscas que se ofereciam. Era tão fácil matá-lo, mas não. Sinbad era invencível. Poderoso. Ele tinha confiança de que ele jamais fraquejaria. Sinbad era um ser imortal aos seus olhos.

– É MENTIRA!!! - Ja’Far urrou novamente voltando-se a Sinbad. - É MENTIRA!!!!

O albino foi até a cama e então segurou um Sinbad inerte que, se não fosse pela imensa quantidade de sangue ao seu redor, qualquer um poderia dizer que estava dormindo. Sacudiu com força o corpo do moreno.

– OE! SIN! SIN! CHEGA DE MENTIR! ABRA OS OLHOS, SIN!

Ja’Far tremia, as lágrimas escorriam enquanto ele gritava esperando aquele par dourado se abrir, lhe encarar. Mas nada acontecia. Não podia ser real.

– Acalme-se, Ja’Far! - Hinahoho e Spartos tentavam segurá-lo.

– É MENTIRA! É MENTIRA!!!!! SIN!!! SIIIIIIINNN!!!

x-x-x-x-x-x

– SIN!!!!

Os olhos verdes se abriram no mesmo instante em que ele se levantou por impulso. Ao menos tentou, pois foi contido por duas mãos fortes que seguraram seus ombros. Ofegava quando retomou o foco e enxergou ele. Sentiu o alívio consumir seu peito ao mesmo tempo em que lágrimas preencheram seus olhos.

– Como se sente, Ja’Far?

Sinbad perguntou apreensivo. Ficara ali a segurar a mão do albino desde que ele começara a lhe chamar em murmúrios.

– S-Sin… - gaguejou tentando se levantar novamente.

– Fique deitado! - ordenou preocupado. - Não deve se levantar, está fraco!

– O que… o que aconteceu? - ele perguntou levando uma mão à cabeça que latejava.

O moreno suspirou. Era melhor que ele realmente não se lembrasse.

– Digo… depois que saí daqui…

– Ele sabia bem o que havia feito. Aquilo sim Ja’Far queria se esquecer.
– Masrur te achou na praia! - explicou encarando os olhos verdes que o evitavam. - Você se afogou! Se não fosse por ele… - Sinbad parecia inquieto.

– Masrur… - Ja’Far ficara pensativo.

– Ja’Far, eu sei que não é o momento, mas… - o moreno segurou a mão do mais jovem. - eu quero conversar com você! Quero que se abra! Me preocupei muito com você, com… - ele desviou o olhar. - o que disse. E… o que estava fazendo no mar? Você pretendia… - Sinbad não tinha coragem de falar. Era difícil acreditar que alguém tão forte como Ja’far cogitara o suicídio.

E lá estava ele, encurralado pelo questionamento daquele que não conseguia desvendar seus olhares, suas atitudes, seu coração. Não havia nada o que fazer. Quando a noite caísse, Sinbad estaria sendo servido por mais uma prostituta. “Como se você se importasse, rei Sinbad” - ele disse em sua mente.

– F-foi tudo efeito da bebida, Sin. - o albino se forçou a se levantar e abaixou a cabeça. - Peço minhas sinceras desculpas.

– Ja’Far… - Sinbad abaixou a cabeça entre as pernas abertas antes de voltar a encará-lo. - Quando ficamos tão distantes assim?

O albino soltou um riso de deboche.

– Distantes? - perguntou sem vacilar. - Sin, apenas temos uma relação normal entre rei e subordinado. Estou cumprindo bem meus serviços?

– C-claro, mas é claro, Ja’Far! Como sempre você faz seu trabalho de uma forma tão efici…

– É isso o que importa.

A mão apertou firmemente o lençol que o cobria até a altura da cintura. Aquele pequeno gesto não passou despercebido sob os olhos atentos do perspicaz Sinbad.

– Ja’Far, não… não é apenas um subordinado meu! Somos amigos!

Amigos… O albino balançou a cabeça, estava tão farto de tudo aquilo. Por que não desapareceu no mar? Nunca mais precisaria… encará-lo.

– Eu já estou bem, Sin! - ele disse afastando as cobertas. - Peço desculpas por ter te preocupado e, pior, não devia ter me colocado aqui no seu quarto! - Ja’Far colocava as pernas para fora da cama.

– O-oe, eu pedi para que o trouxessem para cá porque queria tomar conta de você e, Ja’Far, volte pra cama, ainda…

Sinbad se alarmou e rapidamente tentou amparar o albino que cambaleava um pouco ao sentir o corpo dormente.

– Não se preocupe!

Ja’Far tentou afastá-lo, mas só fez piorar a situação.

Acabou se desequilibrando e dependendo daqueles braços fortes que imediatamente o ampararam. Com o movimento rápido, o perfume do moreno exalou mais forte e entorpeceu Ja’Far que, zonzo, ergueu o rosto para encarar aquele par dourado tão preocupado.

– Não deve se levantar ainda!

E sem a menor cerimônia, Sinbad tratou de pegá-lo em seus braços, tão ágil que não houve tempo para protestos de Ja’Far, que se via tão enfraquecido diante daquele homem tão… poderoso.

– S-Sin, me leve então para meus aposentos! Por favor! - ele quase implorava.

– Só ficarei longe de você quando tiver certeza de que está completamente recuperado!

Ja’Far foi depositado cuidadosamente de volta à cama. Sinbad o cobriu de volta analisado pelos olhos verdes que o encaravam com repúdio. Mas o melhor era se calar e permanecer em sua posição. Era o melhor.

– Vou pedir que tragam algo para você comer.

Sinbad tomou a intimidade de afagar os fios alvos de seu amigo, como costumava fazer carinhosamente, mas assim que o fez, Ja’Far afastou sua mão com agressividade, encarando-o com frieza. O moreno piscou desentendido diante daquela atitude.

– Me… me desculpe… - Sinbad, cabisbaixo, desviou o olhar. - Vou deixar que descanse. Vou pedir para lhe examinarem e trazer sua comida, ok? - a voz do moreno parecia um sussurro.

– Não precisa sair daqui. É seu quarto. Eu que não devia estar aqui!

O moreno suspirou pesado e massageou as têmporas antes de encarar aquele que havia lhe dado as costas.

– Eu… eu não sei o que está acontecendo, mas… por favor, descanse.

Sentindo-se angustiado e de mãos atadas, Sinbad se dirigiu até à porta, de onde ouvia um burburinho que alarmou até mesmo àquele que estava na enorme cama de seu rei.

– Não percebe que hoje tivemos um problema grave?

O albino piscou e olhou por cima do ombro ao ver Sinbad abrir a porta e dar de cara com o moreno que argumentava com uma das concubinas.

– Mas hoje é MINHA NOITE de ficar com o Sinbad-sama, Sharrkan-sama! - a moça de pele alva e longos e ondulados cabelos castanhos batia o pé.

– O que está acontecendo aqui? - Sinbad não estava em seu melhor humor.

– Ah, Sinbad-sama! - ela arregalou os olhos azuis que eram delineados de preto abrindo um largo sorriso. - Pensei que tinha se esquecido! Hoje está combinado que dormirei com a majestade, não éééé?

Sinbad suspirou mais uma vez. Encarou um constrangido Sharrkan que não sabia como agir. Era de sua alcunha evitar que uma concubina não autorizada fosse assim até os aposentos de seu rei, mas quem cuidava disso era Ja’Far e ele não sabia como lidar com a mulher e sua teimosia.

– Tsc, me perdoe. Não poderá ser hoje. - o moreno mal a encarava.

– Por quêêêêê??? - ela cruzou os braços indignada.

– Não seja por isso.

Foi quando a voz que veio do interior do quarto chamou a atenção dos três. Ja’Far já estava de pé, mesmo com dificuldade, com os ombros cobertos pelo lençol que outrora o cobria.

– Ja’Far! - Sinbad se alarmou ao vê-lo de pé. - Eu já disse que…

– Sinto muito por ocupar o lugar de sua concubina na sua cama até agora, Sin-sama.

Sinbad sentia calafrios, para não dizer que odiava quando Ja’Far usava honoríficos quando falava com ele. Era como se abrisse um imenso vale de distância entre ambos.

– Você vai dormir aqui hoje, Ja’Far, e isso é uma ordem! Não ouse desobedecê-la! E quanto à senhorita, por favor, peço que retire-se! - ele foi categórico ao se voltar à moça. - Se não sabe as concubinas só tem autorização para andar na ala de aposentos meu e dos meus generais acompanhadas do próprio Ja’Far quando as traz aqui.

– Mas, Sinbad-sama, é que estava acordado que essa noite, eu…

– O REI AQUI SOU EU! - ele vociferou, assustando até mesmo Sharrkan e Ja’Far.

– Me-me perdoe. - a mulher se curvou, a vergonha consumindo seu ser.

– Não se incomode, Sin! Eu já estou ind…

– VOCÊ VAI FICAR BEM AQUI! - Sinbad se virou para o albino. - Por favor, Sharrkan, retire essa moça imediatamente daqui! E, por favor, peça que tragam o jantar para o Ja’Far e que um médico venha vê-lo!

– S-sim, majestade! - gaguejou o moreno que se apressou a conduzir a concubina dos aposentos de seu rei.

A porta se fechou e Sinbad teve de respirar uma, duas, três vezes antes de se voltar a Ja’Far, que permanecia sem saber como reagir. O grande rei dos sete mares, conhecido por ser mulherengo e luxurioso, realmente havia abandonado sua noite com uma mulher por ele?

– O que está fazendo aí de pé? Vá se deitar! - ordenou.

– Eu vou… nos meus aposentos. Não quero atrapalhar sua… orgia.

– Tsc, já disse que minha prioridade é cuidar de você!

– E o que importa?! - Ja’Far retrucou. - Uma noite? Por uma noite vai se preocupar comigo? EM COMO ME SINTO?!

Os olhos dourados se arregalaram. Seria possível? Aquilo não havia sido efeito da bebida? Ja’Far estava insinuando o que ele realmente achava?

x-x-x-x-x-x

O fanalis aguardava pacientemente observando o luar ao lado de uma aflita Yamuraiha que andava de um lado para o outro. Logo chegaram naquela varanda o espadachim e a concubina que apertava as poucas roupas em suas mãos, trazendo consigo uma expressão preocupada.

– E então?! - a maga logo se adiantou.

– Bem, se esse foi o teste final do rei, acho que ele passou! - Sharrkan ria.

– É, mas agora ele vai ficar com raiva de mim! - o moreno cutucou a moça.

– Ora, sem essa! Se estiver na seca passe a noite comigo ou com o senpai, não...

As palavras de Sharrkan foram interrompidas quando ele foi acertado na cabeça pelo cajado de Yamuraiha, nitidamente enciumada. A bela mulher se recolheu envergonhada quando o fanalis que a encarava não esboçou nenhuma reação.

– Está louco? Masrur é uma peça importante em nosso plano! Imagina se o Ja’Far-san sabe que ele passou uma noite com uma mulher?

– Anh? Será que ele se apaixonou de verdade pelo senpai? - Sharrkan se alarmou.

– Nãããão, seu burro! - Yamuraiha ralhou, impaciente. - É que já conseguimos fazer o Ja’Far-san finalmente declarar o que sente, mas pressionado pelo Masrur.

– E eu não vejo a hora disso acabar… - o fanalis dizia despretensioso. - Não gosto de enganar o Ja’Far-san… e estamos usando o Sin-sama. - concluiu.

Senpai, você sabe que era a única forma que tínhamos para tirar o Ja’Far-san e o Sinbad-sama do zero a zero! - Yamuraiha explicou com um sorriso nos lábios. - E parece que já conseguimos pela demora do Sinbad-sama com ele… - ela riu.

– Só não sei porque teve que ser eu a dar em cima do Ja’Far-san

– Ah, Masrur, você é o único que o Ja’Far-san nunca viu com uma mulher e vocês se conhecem há muito tempo, tinha tudo pra dar certo! - Sharrkan gargalhava.

– É, só não levamos em conta se o Sin-sama realmente ama o Ja’Far-san… Lembrando que ele vive cercado de mulheres e…

– É claro que ele o ama. Só não teve abertura ainda porque o Ja’Far-san vive escondendo! - o moreno interrompeu Masrur.

– Bem, o que pudemos fazer está feito. - Yamuraiha bocejou. - Vou dormir porque amanhã a Pisti estará louca me acordando para saber as novidades! - ela se espreguiçava.

– Também vou para meus aposentos. Foi uma noite muito longa. - Masrur disse estalando os ombros.

x-x-x-x-x-x

– Ja’Far… o que disse na festa…

– Era tudo efeito do álcool, Sin! Por favor. - Ja’Far desviou o olhar incapaz de encará-lo.

– Olhe pra mim!

Sem saída, o albino teve seu queixo segurado por Sinbad, que perfurava sua alma com aqueles olhos que pareciam mais duas gemas de ouro. Com a mão livre o moreno lhe segurou pelo ombro para ter certeza de que ele não tentaria fugir.

– S-Sin… - gaguejou. - Eu estou exausto. Por favor, me…

– Por que não tem coragem de me encarar? Está magoado comigo? Decepcionei você? - questionava um aflito Sinbad. - Me responda, por favor! Você me evitar é… é algo muito doloroso. - ele dizia sem pensar.

Ja’Far arregalou o par de esmeraldas e o fitou sutilmente. Sentia a mão que apoiava em seu queixo e a que se mantinha firme em seu ombro tremerem. Não era do feitio de Sinbad vacilar assim.

– Não… não tem razão especial, Sin… - era terrível mentir olhando no fundo daqueles olhos. - Eu só… preciso descansar. Devo estar trabalhando demais como diz… Não tenho me sentido bem, só isso.

– Não tem se sentido bem? E não me disse nada? Está sempre soterrado com trabalho e o executando tão bem! Eu jamais…

– Não se preocupe. - a interrupção constatava sua mentira, mas ele não conseguia sustentar nada inverossímil daquele homem tão poderoso. - Só… me deixe descansar…

– Responda minha pergunta! Eu… - o toque firme que ele mantinha no queixo do albino enfraqueceu e se tornou uma leve carícia com a ponta de seu polegar e seu indicador. - Eu estou olhando pra você! Como você disse que nunca fiz! Notando quem é você, Ja’Far. Me diz… - o coração de Ja’Far começava a palpitar ao ouvir aquelas palavras. - Te incomoda me ver com as concubinas?

– N-não, é claro que não! Estou cansado de te ver cercado de mulheres e… que loucura! - Ja’Far sorriu ironicamente, estava tremendo tanto. - Somos dois homens! Por que eu me incomodaria?

Um sentimento de desolação preencheu o coração do rei de Sindria.

Sim, era como ele suspeitava.

Ja’Far o via como um companheiro. Era efeito da bebida realmente.

Devia ter presumido, afinal, eram dois homens e era um tanto quanto óbvio, após mais de quinze anos lado-a-lado, que Ja’Far não se interessaria por alguém do mesmo sexo. O que o levara a pensar naquela possibilidade? Talvez sua arrogância em se considerar especial. Tolo. Por pensar ser tão poderoso, cogitara que qualquer um caísse aos seus pés.

Se existia alguma convicção que devia ter era que, mesmo com todo seu poder, conquistas e posição, havia algo que ele jamais poderia ter. E aquela realidade cruel que abria um vão por baixo de seus pés era a confirmação que jamais imaginaria ter. Aquela que ele relutava enxergar se entregando a inúmeras mulheres, numa vida fútil e desregrada. Tudo para quê? Para chamar a atenção dele.

Com tantas em seus braços, esperava ansioso o momento em que Ja’Far esboçaria sua indignação. Que reclamaria seu lugar. Mas não. Aquilo nunca aconteceu.

E naquela bebedeira e no surto que seu subordinado sofrera naquela noite, um pequeno raio de esperança surgira em seu coração. Mas agora, ao ver Ja’Far rindo como se fosse óbvio demais ser impossível se apaixonar por um homem, ele tinha certeza de que aquilo era um absurdo. Devia estar louco, pensou.

– E-Entendo… Não… não tem como mesmo. - Sinbad forçou o riso. Soltou Ja’Far rapidamente como se houvesse invadido um espaço que não lhe pertencesse e, de fato, não lhe pertencia. - B-bem, já que foi tudo esclarecido, acho melhor que descanse enquanto a comida não vem.

Ja’Far notara a decepção estampada no rosto de seu rei. Parecia que aquele brilho tão forte que transmitia tanta vida e energia que havia nos olhos de Sinbad havia sido sugado por uma tristeza sem proporção. Ficara simplesmente sem reação ao vê-lo tão perdido. Será que… havia o decepcionado de alguma forma? Não, era claro que não. Apostava que estava triste porque não ia para a cama com a concubina. Era assim que as coisas eram, não eram?

– Eu… eu vou tentar dormir um pouco. - Ja’Far se dirigiu à cama.

– Eu também… - Sinbad assentiu, ainda tentando disfarçar com um grande sorriso.

O albino se sentou e levou os pés para cima da cama quando viu o moreno se deitar no sofá próximo à cama.

– Por que está deitando aí? - Ja’Far questionou, o peito apertava.

– Não quero incomodá-lo. O sofá é bem confortável. Você sabe, eu… eu vivo tirando cochilos durante o trabalho aqui, hahahaha! - a risada de Sinbad era tão falsa que não enganava nem Ja’Far.

– Tsc, - ele estalou a língua. - pare com isso! Só vou dormir aqui se dormir ao meu lado! A cama é enorme! - “Cabe quantas você quer em suas orgias”, Ja’Far completava em pensamento. - Venha logo! Não vou esperar muito!
Sinbad então se levantou e caminhou até à cama. Sentia-se tão estranho.

Geralmente tão confiante ao estar ali na companhia de qualquer uma e agora sentia-se um menino virgem ao se deitar com aquele que amava tanto. Durante tantos anos mantendo aquele segredo, após tantas desventuras de seus sentimentos, era estranho dividir o mesmo leito que Ja’Far.

– Parece até que nunca dormimos juntos antes! - Ja’Far tentava parecer descontraído.

– É que… é diferente agora… - Sinbad sussurrou ao se deitar ao lado do albino.

– Como assim diferente? - Ja’Far, já deitado, apoiou-se de lado para encarar o moreno.

– Não é mais como quando… éramos crianças ou adolescentes. - Sinbad prosseguiu não vacilando ao encará-lo também.

– E por quê? - Ja’Far ousou questioná-lo.

O silêncio precedeu a resposta que era entregue com o olhar do rei de Sindria.

– Porque eu não consigo mais me controlar.

E após sussurrar aquela resposta, Sinbad levou sua mão até o rosto tão macio de seu subordinado. Não, Ja’Far era muito mais do que isso. Era seu melhor amigo, seu companheiro e… a pessoa que ele mais amava no mundo.

O coração do ex-assassino falhou uma batida ao sentir aquele toque e ver o moreno se aproximar, debruçando-se sobre seu corpo e cerrar os olhos.
E então um desejo de tantos anos se concretizou quando os lábios aveludados do rei de Sindria tocaram os seus. Beijou-o de uma forma tão doce que Ja’Far era incapaz de relutar. Como se pedisse permissão que foi logo concedida quando o albino abriu a boca permitindo a passagem de seu rei, àquele a quem jamais poderia negar seus sentimentos.

Era o início de uma noite que eles jamais se esqueceriam.

Tão ansiada e, ao mesmo tempo, tão temida por ambos.

Mas eles já estavam prontos para se entregar àquele sentimento e se perderem nos braços um do outro. Ou ao menos eles pensavam que estavam e arcariam com as consequências daquele ato que envolvia tanto desejo e paixão.


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Notas finais do capítulo

Eeeee era tudo um plano dos generais para Sinbad e Ja'Far pararem com essa picuinha e ficarem juntos de uma vez. Mas... será que isso funcionou? Nosso casal finalmente terá seu final feliz? Não percam o próximo capítulo e, como sempre, comentários, críticas, sugestões sempre são bem vindos! ^__^ Muito obrigada por acompanhar!