Chiptune Works! - Random Events escrita por Shirodan


Capítulo 9
Track 8 - Realities Collide




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Acho que tinha um livro que dizia que nós podemos conhecer uma pessoa pelo seu riso. Se este for agradável, as probabilidades de a pessoa em si ser agradável é alta. Creio que isso não só se aplica aos risos como também aos sorrisos.

Quero dizer, existem pessoas que riem e aparecem no meio da multidão e existem pessoas que apenas sorriem, com o intuito de não se destacar. Às vezes, um sorriso silencioso é muito mais belo, instigante e intrigante que um riso gostoso. Não que o riso seja ruim, é só que o sorriso vem de um lugar metafísico, onde aquela pessoa e aquela pessoa apenas pode entrar.

Talvez, só talvez, pessoas consideradas como “queridas” ou “amadas” pela pessoa em questão podem entrar nesse lugar metafísico que chamamos de mente. Não é como se elas de fato entrassem ali, é mais como se elas soubessem um pouco sobre o seu padrão de pensamento. Ou algo do tipo.

Claro, também tem situações estranhas onde nada acontece e você compreende tudo o que se passa na mente de alguém. Momentos onde se está sozinho com alguém, por exemplo. Pra falar a verdade, o corpo como um todo é a expressão final de uma pessoa. E por corpo, eu digo expressões faciais e corporais, tal como ficar balançando as pernas muito rápido ou como uma expressão facial captável por um mísero segundo. A verdadeira faceta, a realidade, ela é mostrada inconscientemente.

Mesmo assim, o melhor jeito de se entrar no universo, no mundo de uma pessoa, é a música. A música de uma pessoa mostra como ela vê e como ela se sente sobre o mundo que rodeia ela. A música é a expressão mais pura e verdadeira da alma, porque ela expressa a melancolia, a euforia e a tênue mas existente linha entre elas. Uma variação em um acorde pode criar todo um novo universo.

Hoje foi o dia em que dois mundos colidiram e se juntaram, para nunca mais se separarem.

O sorriso de Kuraragi Shion ao olhar para seus instrumentos foi magnífico. Era como se o tempo começasse a andar pra ele, como se ele estivesse vivo de verdade. Era como se ele encontrasse o seu melhor amigo, o amor de sua vida, e a única coisa importante que lhe foi tirada. Ele parecia estar em uma genuína e pura paz, onde nada poderia irritá-lo. Era essencialmente belo.

E o mundo dele, o mundo de Kuraragi Shion, era assim como seu dono: belo, frágil e lúgubre.

Extremamente diferente da realidade. Levemente diferente do meu.

E, assim como o esperado, quando ele saiu da sua fortaleza de teclados, sua expressão era a de alguém que não queria mais viver, de alguém que queria que o mundo tivesse acabado antes de ela nascer.

Então ele se senta à borda de sua cama e me olha com desinteresse. Ou talvez ele estava me olhando da forma que ele olha tudo.

“Kuraragi... O que foi isso?”

“Isso não foi nada.”

“Kuraragi... É assim que você vê o mundo?”

Por um pequeno e quase imperceptível instante, ele se mostrou surpreso. Genuinamente surpreso.

“Esqueça isso. Saia da minha casa.”

É, essa reação é bem a cara dele. Eu acho.

“Eu acho que você esqueceu da verdadeira natureza da música, Kuraragi.”

“Cale a boca. Saia da minha casa.”

“Sabe, a música não foi feita pra uma pessoa só... Você é muito, mas muito egoísta, sabia?”

“Você não sabe de nada sobre a música. Saia da minha casa.”

“Todos os instrumentos possuem outro instrumento que os sustenta, assim como todas as pessoas possuem outra pessoa que as sustenta. Se você continuasse tocando sozinho, seria triste demais.”

“O que te levou à essa conclusão ridícula? Ah, e saia da minha casa, por favor.”

“Quadros de Uma Exposição do Mussorgsky fica bem melhor na versão orquestrada do que na versão pra piano, não?”

“Mas a melhor versão é a do ELP.”

Ah, ele esqueceu que quer que eu saia da casa dele.

“Achei que você ia me executar caso eu falasse isso.”

“Não há nada melhor que instrumentos eletrônicos. Absolutamente nada.”

“Eu tenho que concordar nisso.”

“Mas chiptune é chato porque as melhores partes são feitas usando de trackers e loops.”

“Eu tenho que concordar com você novamente.”

“Então porque você está no Clube de Chiptune Music?”

“Desde que o antigo presidente do clube se formou, a gente não fez mais nenhuma música.”

“Por conveniência, então?”

“Poderia se dizer que sim, poderia se dizer que não. O mais conveniente seria fazer como você, mas o menos pior é o que eu faço. Os humanos precisam um do outro e isso é inegável.”

“Não tenho um contra argumento pra isso.”

“Então, Kuraragi, que tal você criar um novo tipo de chiptune music?”

“Como assim?”

“Isso aí terá que sair de sua cabeça, porque eu não tenho nem ideia de como fazer.”

“Ah, pra quê?”

“Você é um membro do Clube de Chiptune Music, Kuraragi. Todos nós lá, incluindo o Kazuki-senpai, achamos que você é a peça que falta pra abrirmos todo um novo universo.”

“Eu não consigo tocar junto com os outros...”

“Me parece mais que os outros que não conseguiam tocar com você, Kuraragi. Mas, sabe de uma coisa? Eu sou uma baixista. Eu faço a banda e a música pulsarem. Por isso, eu te prometo que você poderá sempre contar comigo e que eu sempre farei bases boas o suficiente pra conseguir tocar junto de você. Eu e todos lá no clube fazemos música usando tudo que temos, e nós somos sérios sobre isso. Nós praticamos mais que o suficiente, nós estudamos mais que o suficiente. Então, de todas as pessoas, nós somos as únicas que podem te acompanhar. E, por último mas não menos importante, de todas as pessoas, Kuraragi, você é a pessoa que eu mais quero tocar junto.”

Ou era isso que eu queria ouvir da boca de alguém.

Quero deixar mais do que claro que eu não estou fazendo isso pelo clube ou pelo Kuraragi. Eu estou fazendo isso pra mim mesma, pra eu não me sentir pior do que eu realmente sou.

Uma ação completamente egoísta. Uma ação que eu queria que voltasse pra mim um dia.

E o olhar perplexo dele já não era mais imperceptível. Ele não esperava ouvir algo assim, e eu não esperava falar algo assim. Isso se chama ação momentânea. Isso se chama ser humano.

“Sua proposta é interessante, mas...”

“Shinjuku, do lado da Musical Centre. Vá até lá no sábado, ás 14:00 da tarde.”

“Mas...”

Pondo um dedo em seus lábios, eu faço ele ficar quieto.

E assim, eu fui até minha casa, do outro lado daquele pequeno corredor, naquele prédio normal onde famílias de duas, três pessoas geralmente moram.

Tudo ao nosso redor era normal, exceto por nós mesmos.

Mas eu acho que todo mundo é assim, né?


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