Chiptune Works! - Random Events escrita por Shirodan


Capítulo 7
Track 6 -People Collide II




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Sempre me perguntei sobre o que as coincidências realmente são. Talvez, elas sejam realmente eventos e fatos aleatórios que nossa própria cabeça cria pra acharmos assunto ou nos interessarmos por algo. Talvez, elas sejam um meio de disfarçarmos um medo ou uma culpa. Ou, talvez, elas sejam coisas que fazemos com um fim. É definitivamente relativo.

É estranho como as coisas mais impossíveis se mostram possíveis em certas situações.

E esse conceito se aplica à tudo, absolutamente tudo. Pessoas com gostos iguais, que estavam no mesmo lugar, na mesma hora. Pessoas com opiniões iguais, pessoas com rostos iguais, pessoas com nomes iguais. Pessoas que pensavam que nunca mais iriam se ver, se encontram após muito tempo e descobrem que estão morando perto uma da outra. Pessoas com a vontade de matar uma a outra.

Sim, tudo pode ser visto como uma grande coincidência.

Isso inclui você nascer e se apaixonar por alguém. Foi por coincidência, não porque você quis.

Foi porque o destino quis, isso é.

Obviamente, eu não tenho nem ideia do que seria o destino em si, até porque ele faz parte do numinoso, aquilo que causa terror, fascínio e júbilo ao mesmo tempo. É aquilo impossível de ser predicado. É o inexplicável, é o que não é. Até porque, não se pode dizer que Deus é alguma coisa. Ele é tudo e nada ao mesmo tempo, ele é o começo e o fim e, por fim, ele é infinito. Não se tem a capacidade explicar tais coisas, não se tem a permissão pra se explicar tais coisas.

Mesmo assim, tem algumas coisas aleatórias e infelizes que podem ser boas, em uma visão mais geral.

Como, por exemplo, os caminhos de Kuraragi Shion e Ayame Asuka se encontrarem quando eles vão pra escola.

Como, por exemplo, a única loja de instrumentos musicais do bairro pertencer à família de Kuraragi Shion.

Como, por exemplo, o restaurante favorito de Kuraragi Shion ser o mesmo de Kazuki Makoto.

Como, por exemplo, o parque onde Kuraragi Shion brincava na infância ser o mesmo que Fukukawa Shiori frequentava com seus amigos até 4 anos atrás.

Ou, até mesmo, Fukukawa Shiori e Ayame Asuka gostarem do mesmo tipo de homem, lugar e situação.

Claro, tem coisas muito estranhas e extremamente desconfortáveis, tal como a porta da residência Kuraragi estar ao lado da porta da residência Hiyori. Falando melhor, ambas as portas se encontram na frente uma da outra naquele corredor do sexto andar do Edifício Haruta, à quatro quadras do Colégio Teikoku.

Ás vezes é legal falar de si mesmo em terceira pessoa, sabia? Parece que você é importante, mesmo sabendo que você é um espaço vazio ocupado por nada na sociedade.

Mesmo que eu não tenha feito isso, é claro.

Hoje teve a entrada de um membro interessante no Clube de Chiptune Music. Seu nome é Kuraragi Shion, ele é aparentemente um multi-instrumentista, e também é, aparentemente, um gênio musical. Apesar de ele ter praticamente dito que apenas nos usaria como um meio para um fim, creio que aquilo não seja o que ele realmente queira. Talvez seja apenas uma armadura que ele usa pra se distanciar dos outros. Ou, talvez, ele realmente não goste das pessoas.

Claro, dá pra ver que ele está assustado. Como se tivessem matado alguém frente dele.

Provavelmente eu matei alguma coisa dele, sim. O estilo de vida dele, creio eu.

Eu posso ser indiferente à certas coisas, mas não com relação ao clube. Quem está pra entrar não me interessa, quem está pra sair não me interessa. Mas eu quero ter um bom relacionamento com quem está, oficialmente, nele. Até porque, é a única coisa que eu preciso nesse mundo. Um lugar onde eu posso ter amigos e coisas do tipo.

Falando a verdade, essa situação é extremamente aleatória. Quer dizer, toda vez que eu saia pra escola, eu via aquela plaquinha com o nome Kuraragi. Sempre pensei que “esse nome é legal”.

Mas, no momento em que eu vi aquela plaquinha, eu pensei na possibilidade de Kuraragi Shion morar naquela casa. É claro, porque Kuraragi é um nome incomum e praticamente inexistente no Japão, e provavelmente no mundo também.

Obviamente, acreditei que a melhor aproximação para com aquela pessoa seria a mesma que a Ayame-senpai usou. A de chegar sem pedir licença, de fingir que não está escutando as refutações dele.

E assim, ele abre a porta e parece que teve um infarto do coração. Inclusive, ele está suando.

“Ah, Kuraragi-kun! Então você mora aqui!”

“A-Ah, sim...”

Um silencio monstruoso se instaurou e ele continuou olhando pra baixo, com a mão agarrando a porta como se aquilo fosse um mastro onde ele poderia se segurar e não morrer. E o pior de tudo, é que ele estava parcialmente certo.

Após um minuto que pareceu uma eternidade, eu percebo que tenho que tomar uma ação, se não ele simplesmente vai fechar a porta na minha cara. Sem dúvidas.

“Então, Kuraragi-kun! Eu moro aqui no apartamento da frente, e já que somos colegas de clube, pensei que poderíamos conversar... Quer ir lá em casa?”

“Então porque você trouxe um baixo pra cá? E não, muito obrigado, mas não quero ir na sua casa.”

Ele parece outra pessoa! É como se aquele Kuraragi tivesse morrido e o Kuraragi de hoje à tarde tivesse tomado conta do corpo dele... É quase como uma segunda personalidade... E o pior de tudo é que ele presta atenção demais aos detalhes das coisas, como se estivesse analisando uma partitura o tempo inteiro...

Mesmo assim, sinto que preciso fazer isso. Não é como se eu tivesse um motivo realmente bom além de que eu realmente quero ver como o Bit Wizard tocaria junto com a banda do clube.

“Ah, você me pegou, Kuraragi-kun! Sabe, na verdade eu queria tocar alguma coisa junto com você...”

Ele se mostrou surpreso com essa frase, como se não esperasse algo do tipo ou como se tivesse visto algo muito aleatório, estranho e repentino em sua frente. E, por um instante, mostrou uma expressão de dor. E voltou a usar sua máscara de seriedade e hostilidade social.

“Não, agradeço a sua oferta, mas recuso-a.”

Enquanto eu ele fechava a porta, eu insisti mais uma vez.

“Por favor, apenas ouça o que eu tenho pra te mostrar. Garanto que você não se arrependerá.”

Tendo falado isso, eu começo a tirar meu baixo do case. Ao tirar ele, eu bato uma tarraxa na parede, sem querer. Nada demais, mas... Mal sabia eu do “erro” que estava cometendo.

“Guarde! Agora! Pelo santo amor de Deus, não tire ele assim! Entre aqui! Agora!”

Isso realmente me pegou se surpresa. E parece que ele também estava constrangido. Quero dizer, ele estava berrando num corredor que faz eco, por um motivo completamente estranho.

E assim, eu entrei na casa dele.

Era uma casa particularmente normal. Na sala, o set de sofás era suficiente pra oito pessoas se sentarem, com uma mesa mais pra trás, perto da cozinha. Virando à esquerda, tinha um corredor com 3 quartos. Aparentemente, quatro pessoas moram na residência Kuraragi. Ele, sua irmã e seus pais.

Parece que a irmã dele é mais nova que ele, pela plaquinha do quarto dela. Ah, sim, o nome dela é Shiina. Kuraragi Shiina.

Falando a verdade, eu sempre achei estranho esses irmãos que têm nomes parecidos. Shion e Shiina. Verdadeiramente estranho.

De qualquer forma, eu estou insanamente constrangida. Quero dizer, eu nunca entrei na casa de um garoto, e ainda pior: estou entrando no quarto de um! Eu sempre quis que a primeira casa de garoto que eu entrasse fosse a casa do meu marido! Me sinto essencialmente impura, traindo parte do meu sonho de ser uma esposa fiel e competente desse jeito!

Mesmo assim, eu não esperava que o quarto dele fosse tão impressionante.

Seria praticamente um estúdio, se não tivesse a cama e o armário dele.

Quero dizer, tem isolação acústica, mesa de som e computadores. Três amplificadores e dois microfones.

Isso sem falar nos instrumentos. Um baixo Rickenbacker 4001 cor creme, duas guitarras, uma Gibson ES-175 e uma Les Paul ’71, além de um violão. Uma bateria como a do Carl Palmer, que era feita de aço inoxidável e provavelmente era projetada pra fazer não só os sons normais, mas os sons de uma bateria eletrônica também. Uma flauta doce e uma flauta transversal, sem falar no saxofone ali no canto. Um violino, um alaúde e um violoncelo também eram visíveis. E, por último mas não menos importante, os instrumentos de tecla. Pelo jeito que o sintetizador Moog, o órgão Hammond B-3, o Mellotron MK-IV e o Fender Rhodes dele estavam posicionados, ele provavelmente toca do mesmo jeito que o Rick Wakeman e o Vangelis, usando de todos eles em períodos de tempo muito curtos.

E o pior de tudo é que o quarto dele não era tão grande assim. Era grande mas não era gigante, é claro, mas o jeito que ele organizou os instrumentos dele é que é impressionante. Ele fez de forma que os tipos de instrumentos ficassem juntos e que ele não perdesse nenhum deles, além de economizar espaço, fazendo pilhas com os cases.

E sim, dá pra andar no quarto dele.

Ele fez um sinal de que eu poderia me sentar numa cadeira ao lado do amplificador pra baixo. Enquanto eu tirava meu baixo e plugava ele no amplificador, Kuraragi se deixa em sua cama e fecha os olhos.

Eu começo meu groove, Kuraragi está ouvindo atentamente. Até que eu toco uma transição de partes.

“Pare. Dissonância não combina com essa linha, que é harmônica e dançante o suficiente pra eu querer dançar um pouco. Ao invés de mudar de D pra C, mude de D pra F e então pra A, aí você volta com uma sequência de G - E - C e aí você termina a transição com uma sequência C - D# - G, como se estivesse tocando um acorde ou como se estivesse tocando violão. Fica bem melhor, eu acho.”

É, eu não entendi nada.

“Não entendi...”

“Eu realmente não presto pra ouvir música...”

“Como assim?”

“Tente me acompanhar, Hiyori.”

E então, ele se levantou num pulo e se sentou entre os teclados.

O que aconteceu a seguir foi um ponto de mudança na vida.

Não só minha, mas na dele também, eu acho.


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