Chiptune Works! - Random Events escrita por Shirodan


Capítulo 2
Track 1 - Thoughts Collide




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A questão elementar aqui não é quem eu sou, quem eu fui ou quem eu serei. É conciliar o que os outros querem que eu seja com o que eu quero ser, afinal de contas, eu tenho cultura, logo, pertenço à uma sociedade.

Pertencer à uma sociedade significa agir de acordo com a moral dessa sociedade e com a ética da mesma. Enquanto a moral dita o que deve ser feito em que situação e julga o que é bom ou mau, certo ou errado, belo e feio; a ética reflete sobre a moral, sobre a essência onde a moral é questionável.

Ou será que eu estou errado? Provavelmente não. De qualquer forma, isso é algo que a moral e a ética devem julgar. Não é como se eu estivesse apto a fazer tal coisa, eu acho.

A partir do momento em que eu olho pra alguém e compreendo o que estou fazendo, o que ela está fazendo e o que isso tudo significa, eu posso dizer que vivo em sociedade. Mesmo se você vive como um recluso, um hikikomori, você faz parte da sociedade. Até porque, você só toma a decisão de se distanciar do convívio social porque você vem a conhecer o lado negro de um mundo que aparentemente tem só um lado: o lado real.

Se você entende as coisas ao seu redor, mesmo que a um nível baixo, você faz parte da sociedade como um todo. Você pode ser considerado como um ser humano.

Apesar de que isso é só pra filosofia e pra teoria. Na prática, alguém que não fala com os outros e que evita qualquer tipo de contato não faz parte da sociedade, de forma alguma.

Falando a verdade, eu nem deveria estar falando essas coisas. Eu, que se não tivesse meus meros quinze anos de idade, seria um NEET. E talvez um hikikomori também.

Não é que eu tenha medo de alguém. Eu só sei que sou melhor que eles em tudo o que eles fazem. Os testes pros quais eles tanto estudam, eu os faço sem estudar. E vou melhor que eles, obviamente.

Eu sei que eu não sou melhor que ninguém no geral, porque com toda a certeza existe alguém melhor que eu em algo, é só que... É difícil coexistir com as pessoas.

É simplesmente muito difícil entender o que elas querem, porque elas querem e qual será o resultado disso. É imprevisível demais. Não entra em nenhum padrão que eu possa criar ou entender, não bate com nada que eu tenha visto em até mesmo meus mais fantasiosos sonhos.

É como se todo dia fosse uma repetição do dia anterior, comigo não entendendo nada sobre os outros.

E assim, eu me vejo entre duas opções: continuar nisso ou abster-me disso.

Eu sinceramente estou mais inclinado à escolher a segunda, apesar de tudo. Se a minha vida vai ser entediante desse jeito, é melhor que ela seja feita por mim mesmo. Uma coisa chata que pelo menos tem a minha essência dentro.

Melhor do que ser essas pessoas que deixam os outros escolherem por elas, eu acho.

As pessoas se machucam e se ajudam, e isso se chama amizade. Muitas pessoas se veriam perdidas sem amigos, muitas pessoas estariam perdidas se não fosse por seus amigos. Mas, ter uma relação assim tão íntima é beneficial pra todos?

Quero dizer, se alguém souber muitas coisas sobre você, ela vai te ter na sua mão. Se você machuca alguém e é machucado, isso nunca vai sarar, nunca vai cicatrizar direito. Na primeira briga que você tiver com esse alguém, as mágoas e sentimentos supostamente enterrados serão trazidos à tona. Se você ajuda alguém, esse alguém fica em dívida com você e vice-versa.

Se parar pra pensar bem, as relações humanas são especialmente malignas. Mais como um lobo em pele de ovelha ou algo do tipo.

Enfim, simplificando o que eu tenho em mente, o ser humano é maligno em sua essência, por isso que ele acha que é bom.

É como uma pessoa que ajuda os pobres pra se lembrar de que tem gente me uma situação pior.

O ser humano é a personificação do egoísmo.

E sim, eu também me aplico à isso.

E, com tudo isso em mente, eu me encontro na frente da sala do Clube de Chiptune Music.


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Notas finais do capítulo

NEET: Do inglês, "Not currently engaged in Employment, Education or Training". Resumindo, um vagabundo.
Hikikomori: Alguém que se retira completamente da sociedade, geralmente entre 15 e 39 anos.
Chiptune: Música feita usando dos sons dos consoles e jogos da geração NES/Famicom/Dreamcast.



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