Chiptune Works! - Random Events escrita por Shirodan


Capítulo 15
Track 14 - Thoughts Collide II




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A crueldade de uma conversa por telefone, a crueldade de um relógio que não para, a crueldade do tempo que é imparável. Nenhuma delas se compara à crueldade humana, que é tão grande à ponto de você ter que falar para as crianças não confiarem em estranhos, logo, não confiarem em estranhos. Sim, eu sei que esse caso pode ser visto como uma exceção, mas ele também é extremamente relativo. O estranho pro meu filho é você, o estranho pro seu filho sou eu. De forma geral, a desconfiança dos seres humanos para com eles mesmos é gigantesca.

A crueldade humana também pode ser exemplificada quando se houve o primeiro homicídio. Ou quando há qualquer homicídio, pra falar a verdade. Atentar contra a liberdade, direitos e vida de outro indivíduo é algo completamente irracional, pelo simples fato de que quem mata se acha um Deus. Sim, um Deus, com poderes sobre a morte dos outros, com uma tesoura pronta para cortar a linha da vida de outro alguém. O simples pensamento de que você tem a capacidade, em questão de habilidade e mentalidade, de matar alguém é horripilante.

Por fim, a crueldade humana também pode se mostrar em situações pequenas do dia a dia. Por exemplo, precisar olhar a marca d’água nas cédulas de dinheiro para ver se você não está sendo enganado. Ou, por exemplo, precisar por cercas elétricas ou de arame farpado pra espantar os ladrões. Ou, por exemplo, precisar criar uma porta.

As portas, ao meu ver, são o maior mal que a humanidade poderia ter criado. Quero dizer, elas trazem a discórdia completa. Uma conversa entre quatro paredes, com a porta fechada, pode trazer muita curiosidade à mente de um indivíduo. “Do que eles estavam falando?”, “Por que eles estavam falando?”, “Era de mim, não era?”. Também pode significar que certas pessoas não podem entrar. Também pode significar que é necessária a permissão pra que se entre no espaço guardado por aquela porta. Portas fechadas podem levar a mortes. Portas são assassinatos prováveis.

Vamos falar a verdade, muitas portas são inúteis. Irrefutavelmente inúteis. Por exemplo, portas de corredores. Elas são completamente inúteis, porque nós sempre as deixamos abertas. Seria uma complicação deixa-las fechadas.

Pensando bem, existem pessoas que caso fossem portas, seriam essas portas de corredores dentro de casa. É meio deprimente, patético e lastimável. Sério. Essas pessoas são aquelas que não adicionam nada para sua vida e te atrasam para escola. Como, por exemplo, pessoas que distribuem panfletos na rua ou pessoas que te param na rua e contam a história da vida delas, daí dizem que querem voltar para casa mas que não têm dinheiro para o ônibus e pedem 3500 ienes emprestados com a garantia de que elas irão pagar. Esse tipo de pessoa é completamente ignorável.

Mas também existem algumas portas que são úteis, tais como as portas de halls de entrada ou portões. Eles geralmente impedem que a sujeira entre em lugares de piso e ar limpo. Imaginem, aquele piso branco todo sujo porque não tinha uma porta barrando a sujeira? O pó que não ficaria no ar? Imaginem, o corredor que divide os apartamentos, dentro de um prédio, todo sujo porque não tem uma porta barrando as impurezas lá de fora? E não, infelizmente, não existem pessoas comparáveis a essas maravilhosas portas.

De qualquer forma, eu odeio portas que levam à algum lugar específico onde pessoas se reúnem. Eu odeio elas do fundo do meu coração.

As pessoas não mudam do dia pra noite. Além disso, as pessoas não mudam muito.

Eu duvido que algum dia eu poderei ser alguém completamente sociável, que consiga falar ao telefone e que consiga atender a porta de casa. O máximo que eu vou conseguir fazer será conversar com alguém que eu não conheço muito bem, mas conheço. E isso será depois de muito, muito tempo. Isso é, se eu tentar “melhorar” nesse aspecto. Sinceramente, eu não vejo motivo pra eu mudar mais do que já mudei. Mais do que Ayame Asuka me forçou a mudar.

Sim, ela me forçou a mudar. Eu não tinha escapatória. E é exatamente por isso que eu odeio pessoas como ela, pessoas que são difíceis de evitar e ignorar, pessoas persistentes e escandalosas que arruínam completamente com a sua vida com discursos sobre sofrimento e ajuda. Besteiras que na voz de outras pessoas pareceriam o que realmente são, não mais ou menos do que realmente é.

Eu sinceramente odeio ela e todos os antepassados dela.

Eu, que sempre desejei ter uma vida pacífica e pura, sem manchas causadas pelo convívio humano. Eu, que nunca me meti na vida de ninguém. Eu, que nunca fiz mal pra ninguém. Eu não merecia sofrer por isso e não mereço sofrer mais que isso.

Decisões que nós tomamos momentânea e levianamente jamais serão feitas por mim de novo. Eu sempre ponderarei as opções, eu sempre irei deixar as minha preocupações e desejos em primeiro lugar. Eu serei eu mesmo. Eu, Kuraragi Shion, juro isso por meu amor à música. E nada mais mudará. Não na minha vida.

E essa é a minha decisão final.

A decisão final de Kuraragi Shion, que se encontra na frente de mais uma porta.

Mais uma de muitas.


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