Chiptune Works! - Random Events escrita por Shirodan


Capítulo 11
Track 10 - Wishes Collide




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Parando pra pensar bem, os seres humanos são as coisas mais interessantes e irracionais de toda a natureza. Quero dizer, enquanto as outras espécies simplesmente se preocupam em sobreviver, os seres humanos se preocupam em imperar uns sobre os outros, em viver com mais do que é necessário e em ser mais do que os outros. É uma tola corrida da raça humana.

Quero dizer, o ser humano é tão irracional que ele divide suas necessidades em outras coisas, como obrigações, desejos, sonhos e objetivos. A única coisa com a qual nós realmente devemos nos preocupar em na nossa sobrevivência e, mesmo assim, nós nos preocupamos com coisas fúteis e banais. Mas, eu acho que isso é parte de ser humano.

O ser humano complica a vida de uma maneira onde há leis pra qualquer tipo de ação, de maneira que todos sejam ranqueados em inteligentes, medianos ou burros, vencedores ou perdedores, certo ou errado. Isso tudo é muito relativo. Mas, de novo, isso é parte de ser humano.

Se as culturas são relativas, o que as forma também é. Logo, o ser humano e suas perspectivas são relativas. Com relação à mesma coisa, duas pessoas terão perspectivas distintas. E isso está correto, porque o ser humano quer ser diferente do que ele realmente é e do que os outros são. Todo mundo quer ter uma coisa pela qual as pessoas lembrarão dela. Isso inclui a mim, Kuraragi Shion.

De forma ou outra, todas as músicas que eu componho são formas de não deixar minha existência passar em branco, mesmo que eu negue completamente e mostre uma explicação racional, eu sou um ser humano em primeira instância. Claro, eu abdico a convivência com os outros, mas isso foi uma escolha própria. Porque eu me basto.

Mesmo assim, eu me pergunto. O que eu desejo? Qual é o meu sonho? Quais são meus objetivos?

Claro, meu único desejo é continuar assim. Meu único sonho é ter uma morte jovem. Meu único objetivo é não ter um, por mais paradoxal que isso pareça. Ao fazer isso, eu imponho uma distância entre minha existência e a dos outros. Assim eu não me machuco e não me prejudico. Não tenho meu tempo ou felicidade roubados.

Tudo o que eu preciso é de uma fuga. Toccata e Fuga em Ré Menor, Bach. Grande Fuga, op. 133, Beethoven.

Mas, sinceramente, eu me pergunto o que desejos, sonhos e objetivos são pras outras pessoas. Não é que eu me importe com como elas se sentem, mas sim que eu me importe com como elas agirão. E, como seres racionalmente irracionais, os seres humanos têm um gosto por agir baseado em suas emoções. E emoções vêm de motivos relacionados à sonhos, objetivos e desejos. Afinal de contas, a frustração vem da negação. A negação das responsabilidades, de uma vida amorosa, de um projeto, de uma vida. São vários e infinitos motivos, creio eu.

Então, o que é um desejo, se não a incorporação da insatisfação e da infelicidade? Quero dizer, não consigo pensar em nada mais carnal de um desejo. O desejo incontrolável de ir pra casa, eu conheço isso muito bem.

Os sonhos são aspirações tolas e improváveis, por isso são completamente descartáveis.

Por último mas não menos importante, os objetivos. As metas. Não diria que elas são descartáveis, mas também não diria que são indispensáveis. São só um meio de passar o tempo sem se entediar, creio eu.

Obviamente, o nível de importâncias dessas três coisas, na minha vida, é o mesmo de eu saber que a minha mãe não é virgem: nulo.

Mas, mesmo eu estando consciente do que sou e do que quero, tem esse desconforto que não sai do meu peito desde que eu acordei. Quero dizer, é um sábado e eu acordei às sete da manhã. Provavelmente são dez da manhã, e tudo o que eu fiz foi olhar pra cima, pensando em nada. Só com esse desconforte irritante dentro de mim.

Não, não pode ser por causa daquele ensaio que a... Como era o nome dela mesmo? Hitori? Hikori? Ah, sei lá, não me interessa. Enfim, eu não vou naquele ensaio daquela banda. Me recuso. Desde o momento em que ela citou ele, eu já sabia que não iria.

Quero dizer, eu vivi minha vida normalmente por toda essa semana. Mesmo com aquela garota do meu lado na sala, eu nem mesmo peguei as borrachas e lapiseiras que caíam constantemente da mesa dela. Pra falar a verdade, eu sentia uma vontade incontrolável de chutar as coisas que caíam da mesa dela. Mas chutar pra longe mesmo, só pra ela sair de perto de mim.

Um barulho de porta se abrindo me traz pra realidade, nem que seja um pouco.

“Shion-nii, pare de ser um vagabundo e faça alguma coisa produtiva!”

Ah, minha irmãzinha, Shiina. Que pé no saco. Já ouvi uns retardados falarem que o sonho deles era ter uma irmãzinha, e eu acho que é exatamente por eles não terem uma que eles acham que seria bom. Mas não. É um inferno. Elas se tornam a princesinha da família e te humilham em uma base diária, quase como se fosse uma obrigação fazê-lo.

“Cale a boca e saia do meu quarto.”

“Você não vai no encontro hoje?”

“Que encontro, Shiina?”

“O seu encontro com a Hiyori-san, do apartamento da frente.”

“Fique quieta e saia do meu quarto.”

“Se você fingir que está tão fundo assim no poço da vida, você deixará a mãe preocupada, Shion-nii.”

“Fique quieta, Shiina.”

“Você realmente acha que está fazendo a coisa certa?”

Como se eu precisasse de certo ou errado.

“Tanto faz.”

“Você deveria valorizar mais as pessoas à sua volta.”

“Não me diga o que fazer, pelo amor de Deus.”

“Por favor, não escolha ser sozinho, Shion-nii.”

“Fique quieta, Shiina.”

“A vida é sua, Shion-nii.”

Claro que é.

E assim, eu volto a ficar sozinho no meu quarto, olhando pro teto e pensando em diversas coisas.

É, eu definitivamente não vou naquele estúdio.


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