Glimmer

Eu odeio a vida. Eu odeio a Ali. E eu me odeio.

Esse era um resumo fiel da minha vida nesse momento.

É domingo e por conta dos acontecimentos recentes eu teria que ficar no meu quarto até meu aniversario de quarenta e cinco anos. Ao menos era o que minha mãe havia prometido. E pra deixar ainda pior todas as vezes que eu me olhava no espelho havia curativos no meu rosto para me lembrar de como eu sou idiota e realmente estúpida.

Minha mãe nunca me perdoaria, muito ao contrario do que aconteceu com Ali. Seus pais simplesmente irão diminuir a mesada dela para duzentos dólares por mês. Mas usar isso para convencer minha mãe não tinha ajudado, só ajudou a convencê-la de não me deixar sair tanto assim com Ali. Isso deveria ser uma coisa boa, mas Ali é a garota mais popular do colégio e não se deve simplesmente abandonar uma das mais populares do colégio, nem mesmo sendo Glimmer Rambin.

Isso é uma droga. O mundo é uma droga.

Os ponteiros do relógio se demoravam de mais, e o dia era cada segundo mais agonizante. Me sentia uma pessoa errada, eu sou horrível. Sempre lembrava do que eu tinha dito a minha mãe antes de pular pela janela e ir até a casa de Ali como um cachorrinho assustado.

Era para Ali ser minha melhor amiga, então porque ela sempre me metia em encrenca? Ela sempre fez isso, sempre me colocava sem situações difíceis e no outro dia olhava para mim como se nada tivesse acontecido e como se eu fosse uma maluca. Queria poder confiar mais nela, queria poder falar sobre como eu me sentia feia na maior parte do tempo, queria poder contar que não sei se algum dia alguém realmente vai gostar de mim de verdade.

Não posso falar isso com a minha mãe, porque isso não é o tipo de coisa que você tem coragem de falar com a sua mãe. Esse é o tipo de coisa que você fala para sua melhor amiga e não tem medo de ser julgada. Lembro do jeito que Ali tinha olhado para mim no dia em que falou que tinha nojo de bulimia. Foi como se ela tivesse falado “ Se você faz mesmo isso querida, é melhor ficar bem longe de mim.”

O que aconteceria se eu falasse isso pra Alison? Ela me desprezaria? Ela riria? Ela tentaria me ajudar?

Vindo de Ali? Pode esperar qualquer coisa.

...

Effie olhava para o horizonte com o típico olhar: Eu estou apaixonada, não me perturbe.

–Quem é o cara? –pergunto, ela olha confusa para mim.

–Que cara?

–O cara em que você esta pensando agorinha mesmo? –rio.

–Não estou pensando em ninguém! –ela franze o cenho. –Tenho prova e não estudei, só isso?

–Qual é? Desde quando provas são tão atraentes? –cruzo os braços olhando para ela. –Pode falar, sabe que não sou fofoqueira.

Ela morde os lábios grossos que estavam pintados de rosa, como na maioria das vezes.

–Sabe que se fosse importante contaria a você, não é Glim? –diz finalmente.

Ela suspira. E eu conheço esse suspiro.

–Qual é Effie? Que suspiro foi esse? Eu posso sentir o cheiro de problemas. –seguro seus ombros impedindo que ela continuasse andando.

Effie revira os olhos, mas estava hesitante ao falar.

–Glim, juro que se tiver um problema você vai ser a primeira a saber. Agora, simplesmente não tem um problema.

O sinal toca e Effie se afasta, e sinto que esta realmente se afastando de mim.

Ando até a sala de filosofia com a cabeça abaixada. Tinha tanta coisa passando em minha cabeça que eu tinha medo de que mais alguém pudesse ver tudo o que se passava dentro dela. Isso é bobo.

Bato em alguém na porta da sala. Olho para cima e encontro o olhar zangado de Cato.

–Olhe por onde anda. –resmunga e foge para as cadeiras perto da janela assim como sempre faz.

Essa foi a primeira coisa que escutei ele falar depois de ter ficado zangado comigo. Cato era esquisito, a única pessoa com quem eu vi chegar perto foi de Clove, já que os dois estavam fazendo o trabalho de geografia juntos. Tirando isso ele sempre fica pelos cantos em total silencio apenas observando todo mundo, era fácil esquecer que ele existia.

Sento-me no meio da sala ao lado de Marvel. Nunca falei muito com ele. Ele era o tipo que era amigo de todo mundo, mas ao mesmo tempo de ninguém. Estava em todas as festas, só ficava com garotas de fora. Acho que ele e Cato fariam uma boa dupla. Os invisíveis bobocas.

Ignoro-o e ele me ignora.

Encaro a pagina em branco de meu caderno. Ela não deveria estar em branco, já que eu devia ter feito a lição, mas é obvio com que com toda a pena que eu sentia de mim mesma, achava que era melhor eu não fazê-la. Minha mãe não ligava, eu não ligava.

O professor entra na sala e explica o que iríamos fazer hoje. Eu tinha desligado no momento em que ele disse “Oi alu...”. Mas sou acordada novamente quando Marvel chuta minha canela.

–Ai! –exclamo olhando mais do que feio para ele. –Que merda foi essa, Quaid?

–Não escutou o que temos que fazer, idiota? –rebate ele. Deve ser obvio que eu não sei já que ele explica logo em seguida. –Temos que fazer um trabalho sobre o padrão de beleza imposto pela sociedade e o modo que ela afeta as pessoas, e tragicamente você é minha dupla.

–Quem foi o idiota que teve essa ideia? –bufo. Isso era tudo o que eu precisava mesmo.

–Onde você estava? –ele revira os olhos. –Foi a sua amiguinha. Alison.