POV Mariana Leite

Eu não acredito nisso. Eu realmente beijei o cara mais gato e mais babaca que eu conheço? Sim, beijei. E, não contente em beija-lo uma vez, o beijei duas, três, quatro ou quantas vezes foram no total.

Rafael realmente estava me impressionando e me fazendo mudar o meu conceito sobre ele. Me impressionou quando me beijou na sexta a noite, me impressionou quando me ajudou com meu irmão, me impressionou falando que eu não era só mais uma, me impressionou quando se preocupou comigo no jogo de handebol. Não sabia que ele podia ser assim, tão cavalheiro.

Devo admitir que fiquei um pouco enciumada quando vi todas as minhas amigas darem em cima dele antes e durante o jogo. Elas não pararam de falar no quão gato ele é, ou o quanto elas queriam dar pra ele. Sim, essas foram suas exatas palavras, "dar para ele".

Mas me senti um pouco melhor quando vi que ele também ficou com ciúmes com tantos caras me olhando jogar handebol. Ele é, no mínimo, ciumento comigo. Eu considero isso como um ponto positivo.

Acordei mais cedo hoje só para me arrumar um pouco mais para ir ao colégio. Não sou o tipo de garota que só sai de casa de estiver super produzida. Normalmente (ou quando eu tenho tempo), só passo uma camada de rímel para ir ao colégio. Mas, sei lá, quero chamar mais a atenção do Gutenberg.

Merda, eu to parecendo uma menininha insegura enfrentando a primeira paixonite boba. Mas não é assim, porque eu não sou uma menininha insegura, e essa definitivamente não é minha primeira paixonite boba. Não posso dizer que estou apaixonada pelo Rafael, mas também não é como se ele fosse indiferente para mim. Gosto de quando ele é educado comigo. Ta bom, no geral, eu gosto dele. Mas é só isso, por enquanto.

Não me importo realmente se vamos mesmo ou não namorar. Eu só não suporto me sentir usada. Não queria que ele me beijasse simplesmente por beijar. Não queria ser uma Jéssica da vida.

Acabei de me arrumar, coloquei a camiseta do uniforme e desci para a cozinha, onde encontrei meu pai, sentado na bancada, tomando café preto e lendo o jornal.

– Bom dia, pai. - dei um beijo em sua bochecha e coloquei café puro para mim em uma garrafa térmica

– Bom dia. Não vai comer nada?

– Não dá tempo. Estou atrasada. Até mais tarde.

– Boa aula, filhote.

Meu pai pegou essa mania de me chamar de "filhote" desde que meu irmão foi para o exército. Eu não tenho certeza do motivo do apelido, mas gosto dele.

Saí de casa com meus fones de ouvido. Meu celular tocava "Empire" da Shakira. Essa música era meu mais novo vício. Em menos de 24h, eu já tinha aprendido a letra inteira. O que é um problema, porque eu começo a cantar junto e acabo de esquecendo de que tem pessoas ao meu redor e que essas pessoas talvez não gostem de ouvir uma adolescente cantar em plena segunda-feira de manhã.

Like the empire of the world unite

We are alive

And the stars make love to the universe

You're my wild fire every single night

We are alive

Meus pensamentos me dominam sempre que estou sozinha. Canto automaticamente, porque já não presto atenção no que estou fazendo. Até um par de mãos me assustar, me fazendo dar um salto. Olhei para o lado e vi o idiota, alto, moreno, de porte atlético que me assustou.

– Caralho, Gutenberg. Tem merda na cabeça?! - briguei com ele, tirando meus fones

O hipócrita riu da minha cara. Um riso encantador, mostrando todos aqueles dentes alinhados e brancos.

– Foi mal, Mari. - ele sorriu e se inclinou para me beijar, mas como eu não sou uma pessoa com um gênio fácil, eu desviei e continuei a andar, ainda ouvindo música - Ei, volta aqui!

Ele foi atrás de mim e segurou minha cintura, me fazendo virar e bater contra aquele peitoral forte e definido dele.

– O que? - perguntei, na maior inocência

– Eu quero um beijo.

Beijei sua bochecha e me afastei para olhá-lo nos olhos de novo, com um sorriso no rosto enquanto ele franze as sobrancelhas.

– Mariana Leite, é melhor você me dar um beijo decente, senão...

– Senão o que?

– Não, não tem opção. Vai me dar um beijo decente e ponto. - ele sorriu, malicioso

Eu ri e lhe dei um selinho. Me afastei novamente e ele soltou minha cintura, segurando somente minha mão e voltou a andar, me puxando atrás dele.

– Bom mesmo. - ele comentou e eu ri de novo

Chegamos ao colégio de mãos dadas. Todos nos olhavam. E, quando eu digo todos, eu quero dizer todos mesmo! Literalmente, todo mundo que passava pelo nosso caminho, virava o rosto para nos olhar.

Quando chegamos à sala de aula, achei que eu morreria fuzilada pela expressão de Jéssica. A garota encarava a minha mão na mão dele, e me fuzilava. Se estivéssemos em uma HQ, sairia fumaça da cabeça dela e seus olhos soltariam raios para cima de mim. Me sentei em meu lugar e Rafa foi para o lugar dele. Cintia me olhava, praticamente quicando no lugar. Aliás, a sala inteira me olhava. Alguns com indeferença, outros com ciúmes e a maioria, incrédula. O professor de literatura logo chegou e pediu silêncio, então todos se viraram para frente.

– Turma, é o seguinte, temos vários autores para estudar ainda, então pensei em acelerar o processo. Quero que vocês formem duplas e pesquisem sobre o autor que eu vou sortear. Nada de bagunça. Vocês tem cinco minutos para decidirem seus parceiros e juntarem as carteiras.

Então ele se sentou e a zona começou. Foi "Rafinha, meu lindo, faz comigo?" pra um lado, "Cala a boca vadia, ele é meu" pra outro... Dava pra entender. O Rafa podia não ser um aluno prodígio, mas ele é um dos melhores em literatura.

Eu mesma escutei vários "E aí, Mari, ta afim de formar dupla comigo?". Não aceitei nem neguei ninguém. Estou esperando a resposta do Rafa pra esse bando de garotas. Olhei para ele e ele me olhou ao mesmo tempo. Sorrimos juntos. Ele fez um gesto, mandando eu me aproximar. Minhas pernas agiram sozinhas, porque não lembro do meu cérebro ter mandado elas irem. Logo em seguida, já estava sentada do lado dele, olhando em seus olhos verdes e sorrindo feito uma idiota.

– Quer fazer dupla comigo, Leite?

– Adoraria, Gutenberg.

Sorrimos um para o outro e começamos a organizar como o trabalho seria feito. Temos uma semana para escrever a biografia de Aluísio de Azevedo e um mês para ler O Cortiço.

– Quer ir na minha casa hoje a tarde? Para começarmos a fazer o trabalho... - ele me convidou

– Tudo bem. - sorri novamente

Eu ando muito sorridente esses dias. Especialmente quando ele está do meu lado. Gosto do jeito que ele me faz sorrir. Do jeito que ele me faz esquecer de tudo e simplesmente viver o momento.

O restante das aulas passaram tranquilamente. Não ficamos grudados no intervalo. Eu fiquei conversando com as garotas e ele só estava sentado ao meu lado, falando com o Gabriel.

O último sinal bateu e todos se levantaram, indo em direção à porta. Saí da sala e esperei por ele do lado de fora. Assim que ele me alcançou, voltei a andar ao seu lado. Sua mão alcançou a minha e entrelaçamos nossos dedos. Sorri e vi, pelo canto do olho, que ele sorriu também.

– Só preciso passar em casa antes de ir pra tua, ok? - falei

– Ok. Teu pai ta em casa?

– Não, eu vou deixar um bilhete avisando onde fui. - ele assentiu e voltamos a andar em silêncio

Chegamos na minha casa e eu abri a porta, o deixando entrar, e a fechando atrás de mim.

– Fique a vontade, só vou levar um segundo. - falei e subi para o meu quarto

Larguei minha mochila na cama e troquei a camiseta do colégio por uma outra mais confortável. Escrevi um bilhete para o meu pai, dizendo que ia para a casa do Rafa, fazer um trabalho e que à noite eu voltaria. Passei meu perfume antes de descer e fui ao encontro dele na sala de estar. Coloquei o bilhete na bancada da cozinha.

– Vamos? - o chamei

– Claro. - ele se levantou prontamente e andou até mim

Saímos da minha casa e andamos até a sua. Ele abriu a porta para mim e eu entrei, esperando que ele passasse por mim para que eu o acompanhasse.

– Tem alguém aqui? - perguntei

– Não, mas minha mãe vai chegar em uma hora, mais ou menos, com a Miranda.

Assenti. Eu nunca tinha ficado sozinha com ele, na casa dele antes.

– Vem, vamos pro meu quarto. - hesitei e ele percebeu - O computador está lá. A não ser que você não pretenda fazer a pesquisa... - ele me olhou malicioso, e eu corei

– Vamos logo. - falei, tentando esconder minha vergonha

Subimos as escadas, que deram em um corredor comprido com algumas portas, dos dois lados. Seu quarto é a segunda porta do lado direito. Entramos e senti seu cheiro me invadir com tudo. Aquela mistura meio amadeirada, meio cítrica que eu adoro. Um objeto encostado no canto me chamou a atenção.

– Você toca? - perguntei, andando até o violão

– Aham. - ele respondeu, meio distraído

– Posso?

– À vontade. - sorri e peguei o violão, me sentando na cama e o apoiando no meu colo

Toquei algumas notas e sorri. Sinto falta das minhas aulas de violão às quintas à tarde.

– Canta pra mim?

– Hum?

– Canta algo pra mim, Mari.

– Ah, não gosto de cantar em público.

– Você não está em público. Só estou eu aqui.

– Você já é um público e tanto. - sorri amarelo

– Vai, Mari. Por favor. - ele se sentou ao meu lado - Vamos fazer assim, eu toco e você canta, está bem?

– Ta.

– Qual música?

– Hum... - pensei um pouco e lembrei de uma que aprendi há um tempo atrás - Sabe tocar "Somebody Else" do Mario com a Nicki Minaj?

Ele assentiu e afinou o violão.

Wish I never loved you

I never saw the day coming that you would ever want to leave me

Baby, you say no matter what your heart would always be for me

Always be for me, baby

Now I'm all alone

Since you want to be ghost

I don't really like it, but I got to take it

Damn damn damn boy

When are you coming back?

So you're never coming back, yeah

I don't believe that, but right now I got to say

You left me for somebody else, now

You left me, baby you left me

Now, I wish I never loved you

You left me for somebody else, now

You left me, baby you left me

Your beauty made me feel like you were my everything

Made me think it was worth it

I got issues

Like you were any better

Said you would always be there

But I just lost my boy

Now I'm all alone

Since you want to be ghost, yeah

I don't really like it, but I got to take it

Damn damn damn boy

When are you coming back?

So you're never coming back, yeah

I don't believe that

But right now I got to say

You left me for somebody else, now

You left me, baby you left me

Now, I wish I never loved you

You left me for somebody else, now

You left me, baby you left me

How would you've learned if I ain't leave?

I guess I was way too naive

I should've been checked you

But I let you get mad, disrespectful

You couldn't be serious, was you?

Looking at my new man, wish he was you

But you're dead now

Sign of the cross on your chest and your head now

Guilty is what you pled now

Left Queens, hit Brooklyn

I'm on the belt now

Stupid is what you felt now

When you see me on TV have a meltdown

Bombs away

Trying to sneak tip hit me when slimes away

Rollie on but I ain't got time or day

Time will tell, Chanel

Get that Lagerfeld

You left me for somebody else now

You left me, baby you left me

You left me for somebody else, now

You left me

Now I'm all alone

Since you want to be ghost

I don't really like it, but I got to take it

Damn damn damn boy

When are you coming back?

So you're never coming back, yeah

I don't believe that

But, right now I got to say

You left me for somebody else

I wish I never loved you

You left me, baby you left me

Now, I wish I never loved you

You left me for somebody else, now

You left me, baby you left me

– Eu nunca vou te deixar.*- ele falou quando eu acabei de cantar

Encostou a mão na minha bochecha e acariciou meu rosto. Inclinei na direção da sua mão e fechei os olhos, aproveitando o calor que ele me transmitia. Senti seus lábios nos meus e deixei que eles me curassem momentaneamente de qualquer dor que eu pudesse ter. ________________________________________________________________ * o Rafa disse isso porque "you left me for somebody else" significa "você me deixou por outra pessoa"