Era previsível que todos em Konoha High School ficassem sabendo do noivado repentino. Entretanto, Sakura não poderia ter imaginado que Ino fosse tão eficiente, fazendo com que até os professores, soubessem do fato nada histórico.

Todos, sem exceção, olhavam para o mais novo casal do colégio. No entanto, Sakura só conseguia distinguir uma pessoa em meio à multidão, e essa a olhava com uma expressão confusa. Em seu olhar havia raiva, surpresa e indignação.

E a Haruno sabia como se sentia em relação a isso. Duvidava muito que Karin iria deixá-la em paz e não gostava de ser o centro das atenções, e mais do que nunca, desejou virar um avestruz.

– Sorria meu bem. - Sasuke murmurou entredentes, mostrando os dentes falsamente para todos. Era realmente um bom ator. Só agora Sakura percebera que ele segurava sua mão, conduzindo-a. Realmente, quem o visse, diria que estava completamente satisfeito com o noivado.

E realmente estava. Se pudesse escolher, não se casaria justo com Sakura, entretanto se essa era a única saída para ter a empresa, acataria tudo sem reclamar.

Ele a deixou na porta da sala do 3º B e cochichou perto de seu ouvido.

– Já volto. Vou resolver umas coisas. - E então a beijou. Um leve encostar de lábios, que a arrepiou toda. Ficou tão surpresa que Sasuke já havia ido embora, mas estava ali parada ainda sentindo o frio de seus lábios.

Balançou a cabeça negativamente e entrou na sala, ignorando os olhares de todos. Não se deixaria levar pelo Uchiha. Tinha de falar com Gaara, e era isso que importava nada mais. Sasuke poderia até ser bonitinho e atraente aos olhos de muitas, mas Sakura sabia que no fundo, o moreno não possuía nenhum valor.

Sentou-se à frente, o mais longe possível de onde o Uchiha sentava. Logo, Naruto chegou à sala com Gaara, Kiba e seus colegas do time de basquete. Sakura colocou-se de pé para falar com o ruivo, no entanto, ao vê-la, o garoto falou algo relacionado a “tenho que ir para minha sala” aos amigos, e saiu.

O coração da Haruno apertou-se de uma forma que a entristeceu.

– Prima! - Naruto foi até a rosada, escandaloso como sempre.

Muitos olhares se voltaram para Sakura, mais do que o normal. A garota começava a se sentir realmente mal com aquilo.

– Você e o Teme conversaram?

– Mais ou menos.

– Como assim "mais ou menos"? - perguntou o Uzumaki, confuso.

Naquele instante, Sasuke entrou na sala, com a mochila no ombro e uma expressão que indicava insatisfação. Pelo jeito, ele não havia conseguido resolver seus problemas.

– Depois a gente conversa - Sakura empurrou Naruto, que a encarou fazendo bico. - Vai logo pra lá! – E saiu correndo da sala de aula, deixando um primo confuso para trás.

Dando de ombros, o Uzumaki seguiu até Sasuke, que já sentara em seu lugar e parecia estar com os pensamentos longe dali.

– E aí, futuro marido da minha prima? - brincou Naruto, sentando em seu lugar.

– Diga logo o que quer para eu tirá-lo da minha frente - Sasuke apenas direcionou seus olhos para o loiro, que fez uma careta.

– Credo, acordou de bom-humor, hein?

– O que você quer?

Naruto abaixou a voz, ficando sério de repente.

– Como estão às coisas entre a Sakura e você?

– Pergunta pra ela – O moreno não se deu o trabalho de acrescentar mais nada, ou de até mesmo encarar o amigo.

– Minha querida irmã não quis dizer - bufou o Uzumaki, parecendo morrer de curiosidade.

– Não se preocupe que ainda não perdi a paciência com aquela irritante – desdenhou Sasuke, embora permanecesse sério.

Naruto caiu na risada, divertindo-se com a situação.

– Putz, mal se casaram e já estão brigando? Não quero nem ver quando já forem marido e mulher.

Sasuke ignorou aquele comentário e continuou pensando.

– O que aconteceu? Você é estranho, mas hoje está bizarro! - observou Naruto, com o olhar crítico.

– Não é nada que te interesse - Sasuke permaneceu com o olhar direcionado para frente.

– Tô vendo que hoje todo mundo resolver me dar patada! - reclamou Naruto, fechando a cara.

– Bom dia, turma! – Gai, o professor de Educação Física, entrou na sala como um maratonista. - Prontos para exercitar o poder da juventude?

– Nãão! – O coro de alunos foi mais do que desanimador, e a indignação tomou conta do semblante do professor.

– Larguem de preguiça! Vamos dar cem voltas pela quadra hoje!

– Eu dou duzentas voltas! - exclamou Rock Lee, o fascinado por esportes.

– Então se mate sozinho! - gritou Tenten, revirando os olhos com frustração.

Gai ignorou os protestos e seguiu com a turma para a quadra no interior do colégio.

(...)

Sakura odiava exercitar o "poder da juventude". Preferia ficar na sala de aula a ter que correr milhares de vezes pela quadra.

Sorte que para as garotas, Gai deu um desconto e naquele dia, ele diminuiu o número de voltas para vinte.

Logo que terminou o exercício, a garota saiu da quadra e foi até seu armário pegar uma garrafa d'água e dinheiro para comprar um lanche.

Ouviu passos indicando a proximidade de alguém, e por instinto fechou a porta de ferro ao seu lado, lacrando seu precioso conteúdo das vistas de qualquer um.

Ao vê-lo, sentiu o peito apertar-se mais uma vez naquele dia. Lembrou-se de não ter conseguido encontrá-lo, e de como percebera a indiferença e decepção no olhar do ruivo quando o vira mais tarde.

– Sakura – murmurou Gaara, colocando as mãos nos bolsos de sua calça.

– Gaara – a Haruno deu um passo a frente, hesitante. – Temos que conversar...

– Eu sei. – o ruivo suspirou pesadamente. – Não precisa me explicar nada, Sakura.

A rosada franziu o cenho, temerosa com as palavras do garoto.

– Gaara, eu não amo o Sasuke! – insistiu a garota, querendo explicar-se de qualquer forma.

– Sakura – pediu ele, e a jovem se calou. – Naruto me explicou tudo. Sei que é sigiloso e já entendi a treta que está acontecendo entre os Uzumaki, os Uchiha e a tal da Darkshel...

– Se sabe, então entende que fui obrigada a isso! – exclamou a rosada, esganiçada. – Eu não queria ter de me casar com Sasuke! Preferia morrer a isso!

– Aí que está Sakura. – Gaara balançou a cabeça em negativa. – Não posso conviver com isso. Sei que você não tem culpa, e sei que está fazendo isso por sua família – Sakura assentiu com acenos de cabeça, ansiosa. – Mas... Eu amo você! Minha eternidade se resumia a você até tudo virar de cabeça para baixo. E agora, eu tenho que repensar em tudo, porque sei que você não vai estar mais comigo daqui a pouco.

A rosada conteve o choro, tentando não ser a fraca e inútil da história, que acabava por chorar depois de levar um “fora”. Respirou fundo.

– Você quer terminar comigo – deduziu, tentando parecer abalada, sem que conseguisse um efeito “menininha” demais. – E eu entendo Gaara. Entendo seu lado, entendo que seu moral foi ferido – Os orbes verdes se voltaram para o ruivo. - Só que eu pensava que você pudesse me ajudar...

– Te ajudar com o quê, Sakura? – Gaara aproximou-se, segurando-a pelos ombros. – A fugir, e deixar seus tios? Que vida teríamos longe daqui? Você veio para Tóquio na intenção de fugir dos seus pais malucos. Agora não é hora de sair do seu conforto para fugir novamente.

Sakura mordeu os lábios, e o que recebeu foi um cálido beijo na testa. Gaara soltou seus ombros, e sorriu brevemente.

– Pelo menos você vai se casar com o Uchiha, não com o pobretão aqui – disse ele, afastando-se a passos ágeis, no entanto calmos e frios.

A tristeza assolou os pensamentos da rosada, de uma forma que a deixou zonza por breves instantes.

Gaara já não era mais seu namorado... Agora teria de se casar com Sasuke... O que mais poderia piorar em sua vida?

– Uzumaki! - Karin surgiu, caminhando pelo corredor a passos firmes e uma expressão nada amistosa em seu rosto. Estava só, o que era um milagre.

– O que você quer? – Sakura virou-se, arqueando uma das sobrancelhas para a ruiva, tentando ao máximo ocultar a derrota que sentira instantes atrás.

– O que você pensa que está fazendo ficando com o meu Uchiha? - Karin colocou as mãos na cintura. Um brilho sanguinário tomava conta de seu olhar, e provavelmente teria afastado Sakura se a mesma já não estivesse acostumada com as ceninhas típicas da rival.

– Como se te interessasse – retrucou à rosada, e deu as costas para Karin, iniciando seu caminho pelo corredor.

No entanto, antes que pudesse dar mais dois passos, Sakura sentiu um forte puxão em seus cabelos. Karin a segurou pelo pescoço com a outra mão e a prendeu contra a parede.

– Cuidado com suas palavras - murmurou ela, entredentes.

A Haruno lutava contra o aperto em seu pescoço, que estava deixando-a com uma terrível falta de ar.

– Você pode ter conseguido o Sasuke como seu marido, mas duvido que o satisfaça da mesma forma que uma mulher como eu - Karin sorria contente com o efeito que suas palavras causavam na rosada. - Faria.

Sakura começava a sentir sua cabeça doer, sintomas de um possível desmaio. Felizmente, Karin a soltou antes que isso pudesse acontecer.

– Felicidades - murmurou a Uzumaki, com um sorriso maldoso nos lábios, antes de sumir pelo corredor, quase saltitando a cada passo que dava.

Quando aquele inferno teria fim?

Ao invés de retornar para a aula de Educação Física, Sakura foi até seu armário novamente. Pegou o caderno de capa preta, escondido no fundo, submerso por blusas, livros e outros objetos.

Abraçou-o, pensando no tempo que não escrevia e em como as coisas pareciam piores sem que ela o fizesse.