O quarto bimestre transcorria com a expectativa palpável dos alunos. Afinal, dali poucos dias o ano letivo teria fim, assim como o colegial. Cada um seguiria seu rumo, sem os exaustivos deveres de casa.

– Nunca mais fiz uma visitinha ao shopping – lamuriou-se Ino, enquanto abria os livros e cadernos na mesa de vidro centralizada na sala de estar.

Desde que a maratona de provas tivera início, as amigas marcavam de estudar na casa da Sakura todos os dias, onde felizmente havia mais conforto e era mais próximo do colégio. O silêncio não era garantido (já que por vezes Sasuke cismava de levar os amigos para jogar videogame), porém de uns dias para cá o Uchiha não mais irritava sua esposa com provocações do tipo.

Ino, Tenten e Hinata desconfiaram daquilo, no entanto mantiveram-se caladas. Nunca era bom meter o bedelho em brigas de marido e mulher, principalmente se estes fossem Sasuke e Sakura.

– É só nisso que você pensa, Ino? – Tenten revirou os olhos, debochando da típica futilidade da loira.

– Não fale de mim! – A Yamanaka sorriu maliciosamente. – Ao menos eu não fico com Neji Hyuuga na cabeça.

As garotas – exceto Tenten – gargalharam com gosto.

– Vocês são muito palhaças – a morena ficou emburrada.

– Você só está ofendida porque sabe que é verdade – Sakura deu-lhe uma piscadela, rindo em seguida.

A Mitsashi bufou, cruzando os braços sobre o peito com firmeza.

– E você e o Sasuke, Sakura? – perguntou Hinata, sutilmente interrompendo uma possível crise da amiga.

Sakura balançou o lápis entre os dedos, ansiosamente. Aquele dia na balada não saía de sua cabeça, mas Sasuke não fizera questão alguma de se desculpar pelas grosserias.

A rosada não demonstrou emoção, tampouco tocou no assunto. O moreno permaneceu taciturno como sempre e atipicamente calmo.

Talvez estivesse arrependido, ou simplesmente considerasse o silêncio a melhor opção.

– Estamos... Ótimos – Sakura sorriu forçadamente.

Ino franziu o cenho, astuciosa como sempre.

– Você não parece bem – sua voz foi quase pesarosa.

A rosada, no entanto, se manteve firme.

– Estamos do mesmo jeito de sempre, Ino – encerrou a questão, com uma perceptível impaciência. A Yamanaka encarou as demais garotas, silenciando-se em seguida.

Nada aconteceu, Sakura pensou.

E para Sasuke realmente não acontecera absolutamente nada.

Ele havia conquistado a filha de um dos rivais da família Uchiha, conseguindo informações importantes que seriam úteis para o futuro das empresas. Nada mais, nada menos.

Já a Haruno não parecia ter pensado da mesma maneira. Sem saber os fatos com precisão, agira por impulso e quase colocara tudo a perder. Sasuke detestava pensar na hipótese de algo ter dado errado (por mínimo que fosse) por culpa de sua enxerida esposa.

Naruto continuava tagarelando sobre como os professores eram injustos por passarem tantos deveres de casa e provas ao mesmo tempo, sem parecer notar a falta de interesse dos amigos naquele assunto entediante.

– Eles deveriam nos avaliar de outra forma! – o Uzumaki exclamou, usufruindo de um tom indignado.

Neji fez uma careta para a entonação de voz que o loiro utilizava, encarando-o com uma explícita impaciência em seu semblante.

– Naruto, quer calar a boca?

Naruto abriu a boca para retrucar, mas Sasuke não lhe deu chance. Terminou seu milk-shake e colocou a mochila sob o ombro.

– Estou indo – avisou displicentemente.

– Se eu fosse você, não faria isso – Neji alertou-o, soltando uma risadinha irônica. – As garotas estão por lá.

Sasuke arqueou as sobrancelhas, incrédulo com tal comentário.

– É a minha casa.

– Mas também pertence à Sakura – lembrou-lhe Naruto, dando de ombros. – E ela fica bem brava quando alguém interrompe seus estudos.

– Você tem medo da sua prima? – o moreno demonstrou desdém para com o amigo.

– Ela consegue ser assustadora quando quer – Naruto estremeceu, como se a mera lembrança dos gritos de Sakura com ele, pudesse materializá-la em sua frente.

Sasuke deu de ombros.

– Ela está mansinha agora – sorriu de lado. – Além do mais, eu consigo domar a fera.

– Pode até ser, cara – Naruto riu debochadamente. – Mas não quando ela está estudando com as amigas.

– Veremos – disse Sasuke, pegando as chaves de seu BMW e lançando algumas notas na mesa da lanchonete que pagasse a conta deles.

(...)

Abriu a porta de casa ouvindo risadas e vozes. Viu Ino, Hinata e Tenten conversando animadamente, sentadas no chão da sala com vários livros abertos diante delas.

Pararam de imediato ao verem Sasuke. Sorriram na mesma hora, de um jeito sem-graça.

– Olá Sasuke – Ino acenou.

– Sakura deixou vocês aqui? – perguntou o Uchiha, segurando a alça da mochila.

– Ela foi pegar uns livros lá em cima – Informou Hinata, indicando o primeiro andar da casa.

Sem dizer mais nada Sasuke subiu as escadas rapidamente.

– Não sei como a Sakura suporta ele – murmurou Tenten, franzindo a testa.

– Ela tem muita sorte em ter um homem desses, isso sim – Ino suspirou, recebendo uma cotovelada de Tenten. – Ai!

– Você é mesmo uma assanhada – A morena revirou os olhos. – Nem o Sasuke escapa de você.

Enquanto isso, Sakura apanhava alguns livros no armário do quarto, aliviada por Sasuke não ter aparecido para encher sua paciência. Felizmente, porque as provas teriam início no próximo dia e ela não poderia se estressar com seu marido insuportável.

Cantarolando baixinho e distraída em meio aos vários pensamentos, não percebeu quando Sasuke lhe cercou pelas costas.

– Quer ajuda?

Sakura soltou os livros de uma só vez. Fechou os olhos, tentando manter a paciência intacta.

Fora só pensar no diabo que ele apareceu.

– Engraçado como você fica nervosa perto de mim – provocou Sasuke, com um sorrisinho de canto.

A rosada virou-se.

– O que você está fazendo aqui?

Sasuke meramente arqueou uma sobrancelha.

– Essa é a minha casa, esqueceu?

– Você não ia jogar basquete com os amigos? Ou pegar outra patricinha metida que te desse mole?

Sorrindo com ironia, Sasuke se aproximou um passo.

– Você fica bonitinha quando está com ciúmes...

O tapa soou tão forte que Sakura assustou-se com seu feito, despertando de um tipo de transe vingativo e furioso. Piscou atordoada, ainda com a mão estendida. Sasuke levou a mão à bochecha esquerda tão incrédulo quanto ela.

Sakura o batera?

– Não vou mais cair nas suas gracinhas, Sasuke! – A rosada manteve o tom de voz firme mesmo que estivesse hesitante no fundo. – Leve o casamento mais a sério se quiser tanto as empresas.

Agachou-se para recolher os livros e um instante depois, já estava fora do quarto deixando uma nuvem de incredulidade e verdades no ar.

Sasuke conteve a raiva, sabendo que agira de forma errada e tinha de parar um pouco. Parar e pensar.

As empresas valeriam o esforço de não ir tão longe com Sakura. Ela parecia ter ficado realmente magoada com o que acontecera naquela balada, mesmo que no fim não passasse de fingimento do Uchiha.

Massageou o rosto, sabendo que estava vermelho e bufou por constatar que deveria evitar um novo conflito com a Haruno, ou acabaria morto.