Ana escrita por Valentine, yashiichan


Capítulo 3
Três


Notas iniciais do capítulo

Oba, oba, hoje é dia de capítulo novo! Aqui é a Valentine, que escreveu esse capitulo betado pela Yashi. A partir de hoje, postaremos regularmente às segundas e sextas, e aqui está mais um capítulo. Um super obrigado ao pessoal que está lendo e comentando, muito, muito obrigada e continuem assim! Se estiverem gostando da história, favoritem e comentem, afinal, quanto mais divulgada for, mais animadas ficaremos em postá-la. Sei que por enquanto tudo ainda está confuso e intrigante, mas esse é o objetivo. A cada capítulo, novas pistas do caso Meyer serão dadas e vocês poderão chegar sozinhos à verdade. Continuem lendo, comentando, e, obrigada! Beijos!



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O meu quarto, aparentemente maior do que é hoje, havia se tornado um lugar assustador naquela noite. Corri para o corredor a abri lentamente a porta do quarto de meus pais. Minha baixa estatura me permitiu ver apenas os seus pés estirados na enorme cama de casal.

– Querida, o que faz acordada a essa hora? - Ela perguntou ao me ver entrar em seus aposentos.

Caminhei até a cama e me deitei ao seu lado, sentindo o cheiro do perfume de meu pai no travesseiro.

– Tive um pesadelo. - Sussurrei e chequei o relógio em cima do criado mudo que marcava três e quarenta e seis da manhã.

Ela piscou os olhos sonolentos e sorriu.

– Está tudo bem, Ana.

– Posso dormir com você hoje? - Perguntei sem jeito.

– Você já tem nove anos, mocinha, tem de aprender a dormir em seu quarto.

– Mamãe, por favor! O papai só chega de viagem na próxima semana mesmo.

Ela suspirou.

– Tudo bem. Com o quê você sonhou?

Aconcheguei-me na cama e enfiei minhas pernas magras por baixo do pesado cobertor.

– Foi com o Tom. Ele estava batendo em um homem. E tinha uma arma na mão.

– Ana! - Minha mãe resmungou. - Quantas vezes já disse que não quero você assistindo esse tipo de filme?

– Mas eu não assisti nada, mãe. Era tudo tão... real.

Pisquei os olhos rapidamente, desfazendo as imagens e flashes do passado que insistiam em invadir minha mente. Não conseguia acreditar que tudo aquilo rondava meus pensamentos mais uma vez.

– Oi, mãe. - Cumprimentei-a ao fechar a porta de entrada da casa.

– Oi, filha, tudo bem? Chegou tarde, estava com o William?

Afirmei ao balançar a cabeça. Ela adquiriu uma expressão preocupada.

– Não se preocupe, está tudo bem. - A tranquilizei de imediato. - Vou subir e tomar um banho, desço depois para jantar.

Corri para cima, subindo dois degraus por vez. Joguei minha mochila no tripé atrás da porta e liguei o chuveiro, me despindo em tempo recorde. A água quente que escorria em meus cabelos e rosto me obrigou a fechar os olhos, alcançando cada vez mais memórias passadas.

Meus pés não alcançavam o carpete do chão. O homem de casaco de cashmere sorria amigavelmente enquanto meus olhos percorriam a decoração fechada do consultório.

– Oi, Ana, tudo bom? - Ele sustentava o sorriso na face. - Meu nome é William Plummer, mas você pode me chamar de Will se quiser. O que está acontecendo com você?

Franzi os lábios, ainda insegura em me abrir para o psicólogo que acabara de entrar em minha vida.

– Eu não aguento mais, Sr. Plummer. - Minha mãe disparou ao psicólogo antes que eu pudesse dizer qualquer coisa. - Desde que a Ana começou a ter um sonho com nosso vizinho, que também é babá dela de vez em quando, ela não fala de outra coisa. Todas as noites ela me acorda por causa do mesmo sonho, e o garoto nunca faria algo assim!

– Ana! - Ouvi o grito de minha mãe. - Desliga esse chuveiro e vem comer!

Abandonei de vez os meus devaneios e entrei no quarto novamente. A janela do lado direito permitia uma visão ampla da casa ao lado. A luz incandescente que saia da janela da cozinha iluminava a rotina dos Smith, a família que passou a habitar aquela casa após o incidente dos Meyers, não conseguindo expulsar o fantasma de Tom da minha vida.

Ele costumava brincar comigo nos jardins de nossas casas. Para um adolescente de 16 anos, Tom parecia gostar, como se cuidar de mim fosse não só um meio de conseguir um dinheiro extra, mas uma diversão. Talvez toda aquela simpatia tenha sido o principal motivo dele ter sido o meu primeiro amor de infância. Um amor tão puro e inocente que não conhecia o seu segredinho. Não até todo o inferno começar, até eu ter aquele sonho pela primeira vez.

Não importa quantas vezes eu sonhe com isso, sempre vai ser assustador, sempre vai me fazer perceber que eu, de alguma forma, previ o que iria acontecer. Minha mãe provavelmente achou que eu estivesse louca ou algo do tipo, afinal, ela também considerava Tom Meyer o garoto mais fofo do mundo. Mas, depois de alguns meses, quando meu bairro estava cercado de viaturas e eu vi o meu vizinho ser acusado de coisas perversas, até eu achei que tinha algum poder especial. Mas eu não tinha. Essa foi a única vez em que isso aconteceu, eu não tenho poder nenhum, apenas interpretei subconscientemente que Tom fosse quem era. Pelo menos é o que William justifica até hoje.

Nos dias que se seguiram eu tentei recuperar o que havia perdido na aula de química e inglês por causa do invasor de meus sonhos. Não havia sido muita coisa, nada do que eu já não estudara antes. Nas poucas vezes em que nos cruzamos nos corredores ele não me dirigiu a palavra. Provavelmente não me reconheceu ou não me notou em meio a tantas pessoas. Mas, o mais irritante era admitir que e sempre o notava. Era impossível não notá-lo.

Na semana seguinte, eu respirei fundo antes de entrar no laboratório de química, afinal, ele estaria lá. Bingo.

Pensei em não sentar ao seu lado, mas, dane-se. Aquela era a minha habitual bancada e eu estava sentada lá primeiro. Senti seu olhar sobre mim enquanto eu caminhava até o seu lado, mas ignorei, sentando-me sem cumprimentá-lo.

– Que ótimo, a stalker vai ser minha parceira hoje. - Ele sussurrou, olhando para o quadro.

– Desculpe, o que disse? - Fingi desentendimento e ignorei seu comentário.

– Aposto que você ouviu muito bem, já que está me seguindo desde a semana passada.

Gargalhei ironicamente.

– Só em seus sonhos. - Respondi. - Tenho muito mais o que fazer do que perseguir você por aí.

– Tipo pesquisar sobre psicologia e subconsciente? - Arqueei uma sobrancelha ao perceber o quanto ele se lembrava da semana passada. - Não parece algo que a maioria das pessoas pesquise numa biblioteca. Pelo menos não num mundo onde existe uma coisa chamada Google.

Revirei os olhos e fixei meu olhar no quadro. O professor entrou na sala e eu pude apreciar o instante de silêncio entre nós.

Alguns minutos depois, a tradicional chamada antes da aula foi iniciada e uma serie de "presentes" foi dita.

– Nicholas Cole? - O professor chamou, mas o garoto ao meu lado parecia longe demais enquanto olhava para a janela.

– Você precisa dizer presente. - Comentei, tentando trazê-lo para a realidade.

– Nicholas Cole! - Seu nome foi chamado pela segunda vez.

Toquei o seu braço, fazendo-o dar um pulo na cadeira. De alguma forma, ele parecia em outro mundo.

– Presente. - Ele finalmente respondeu, logo voltando-se para mim. - Então você sabe o meu nome.

– O quê? - Perguntei, surpresa com minha própria burrice.

– Nunca lhe disse o meu nome, o que mais sabe sobre mim? O número de minha identidade?

– Pare de pensar que estou interessada em sua vida, porque não estou. O que aconteceu na biblioteca foi uma coincidência, nada mais do que isso. - Exclamei. - E essa é a minha bancada, eu estava sentada aqui antes de você chegar e sua presença não vai me fazer sair.

A aula finalmente começou e nós nos calamos. Enquanto eu ignorava a existência do garoto ao meu lado e tentava ouvir o professor, rabiscava em meu caderno. Tenho uma séria mania de escrever o meu nome no rodapé de todas as folhas. Quando não havia mais espaço, comecei a desenhar no apagador e, logo depois,na bancada de granito.

– O que está fazendo? - Nicholas Cole sussurrou ao meu lado enquanto observava meu fútil ato de rebeldia. - Você sabe que isso é tinta permanente, não sabe?

– Do que está falando? E claro que não! - Respondi, passando o polegar na bancada de granito e não obtendo sucesso algum.

O desespero me invadiu e eu me imaginei sendo suspensa por vandalismo no patrimônio escolar.

– Droga! - Resmunguei baixo enquanto esfregava o punho no granito manchado.

Ao meu lado, o garoto ruivo ria de minha desgraça e eu me sentia completamente estúpida. De repente minha mente passou a funcionar e eu percebi que um pouco de álcool seria suficiente para limpar minha bagunça. Procurei o vaso de álcool com o olhar dentre as demais substâncias sobre a bancada, mas ele foi mais rápido. Antes que pudesse perceber, Nicholas agarrou o vaso e escondeu-o dentro de sua mochila, mantendo o riso na face.

– Quantos anos você tem? Cinco? - Perguntei irritada. - Me devolva!

– Parece que você gosta de escrever seu nome por aí, porque apagar então?

– Nicholas, por favor. - Implorei antes que o sinal tocasse e minha derrota se concretizasse.

Ele revirou os olhos e me entregou a garrafa escondida. Derramei o líquido sobre a bancada e vi a tinta se dissolver, despertando o meu alívio.

– Pra quê tanto desespero? - Ele perguntou.

– Isso poderia me render uma suspensão. Não que eu ligue para minha ficha escolar ou algo do tipo. Mas eu tento não me meter em problemas desde... - Parei, me dando conta que estava prestes a tocar no assunto proibido.

– Desde?

– Deixa pra lá. Eu só... tento não me meter em problemas.

– Nossa, como você é descolada. - Comentou, com uma expressão irônica na face. - Posso sentar com você no almoço?

– O quê? - Perguntei, confusa.

– Foi uma piada. - Ele explicou, surpreso. - Em que mundo você vive?

– Desculpa, mas você não está mais na Califórnia. Aqui as piadas são outras. - Respondi indiferente.

Nicholas arregalou os olhos e só então eu percebi que citar a Califórnia não foi uma boa ideia.

– Você está começando a me assustar. - Ele disse, guardando o caderno na mochila.

– Porque está guardando o material? A aula nem... - O sinal tocou, interrompendo minha fala.

O ruivo riu e levantou-se do banco.

– Até mais, stalker.

Resmunguei baixo, odiando o apelido ridículo que acabara de receber.

Enquanto caminhava para casa, percebi que pela primeira vez em todo o Ensino Médio, eu quase falei do caso Meyer com outra pessoa. Talvez tenha sido sua aparência absurdamente parecida com a de Tom, mas, conversar com Nicholas Cole era diferente de conversar com a maioria dos outros alunos. Era empolgante, mas também preocupante. Era impossível olhá-lo e não lembrar de Tom. E, sinceramente, eu me pergunto se isso é bom ou não.

...

Os ventos sopravam um ar congelante. Era o mesmo cenário, a madrugada de Seattle, o beco mal iluminado, o homem sendo assassinado. Os ruídos e gemidos pareciam mais altos dessa vez, como se a vitima sofresse mais do que nunca. Ele o chutava, lhe dava socos no rosto, o chão estava sujo de sangue. Ele estendeu a arma e atirou várias vezes. Eu gritei. O homem se virou em minha direção e seus olhos verdes me invadiam e me prenderam como em uma hipnose.

– Porque, Tom? Você não precisava disso! - Gritei entre soluços. - Não precisava!

Ele piscou os olhos e a luz fraca que iluminava seus cabelos castanhos de repente os tornou ruivos, transformando o assassino em outra personalidade conhecida.

– Até mais, stalker.

Acordei com um pulo, sentando na cama e pisando no chão gelado de meu quarto. Respirando descontroladamente, me dei conta do que estava acontecendo. Eu não podia me aproximar de Nicholas. Quanto mais contato tínhamos, mais eu me envolvia novamente no problema de Tom. Mas é difícil. É muito difícil negar o fascínio que esse garoto está me despertando.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? Dê sua opinião! A história ainda está sendo formulada, então, é muito importante ouvir o que têm a dizer, inclusive seus palpites. Continuem conosco, beijão, aguardo seu comentário!



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