Toco a campainha da casa dos Grey totalmente frustrada.

O motivo? Bem... Tente se arrumar toda, se maquiar, colocar uma roupa estilosa que sua prima deixou em casa um dia desses, fazer um penteado bonito, ter tudo pronto para que quando o cara dos seus sonhos entrar pela porta, você o tenha na palma da mão, mas aí o cara dos seus sonhos não aparece, te deixa plantada na sala vendo Bob Esponja por 4 horas. 4 HORAS! Já se passa das seis e ele nem deu as caras.

Ninguém atende. Tento mais uma vez. Ninguém. Então desisto com o pensamento de que ele está me ignorando, me viro para ir pra casa tirar essa calça que está me apertando em lugares nada bons, mas antes de eu sair do quintal dos Grey eu ouço o barulho da porta sendo aberta.

–Jolie? – Uma voz sonolenta se fez presente, mas não era de Josh. Ah não. Me viro me deparando com um Brad sem camisa e com a cara amassada, provavelmente acordou com minha insistência na campainha. Ainda bem que eu não sou de ficar vermelha... Muitas vezes.

–Ah oi, o Josh está aí? – Ele esfrega os olhos e então me olha de cima a baixo. Droga, por favor, diga que eu não estou com a blusa da minha prima mesmo, me diga isso. Porquê o desespero? A blusa aperta tudo. TU.DO.

–Cristopher levou a família toda para algum lugar que não me interessa – Ele dá de ombros e eu suspiro aliviada. Ele não está me ignorando.

–E você não foi? – Pergunto e ele dá de ombros novamente.

–Eu ouvi que era tipo um almoço de comemoração porque o Trevor voltou e provavelmente não iam aceitar celulares lá do jeito que a tia Jasmine é, então eu preferi dormir – Ele diz dando de ombros, parece que ele adora fazer isso.

–Você tem que parar com o vício em...- as palavras dele começam a fazer sentido em minha mente. - Perai, você disse que o Trevor voltou?

–Aham.

–Oh – não dou muita importância já que eu nunca falei com ele e ele sempre foi esquisito pra mim, nada a ver com o irmão – Escuta, você gostou da Natalie? – Eu sei que eu perguntei isso de repente e que provavelmente peguei-o de surpresa, mas tá meio que na cara que ela gostou dele e eu sou maluca, ainda mais, eu já perdi a conta de quantas vezes ela já não tentou me arranjar um encontro, então é claro que eu vou servir de cupido.

–Amm... Ér...- ele fica meio desconcertado por alguns segundos, por fim dá de ombros outra vez e olha para os pés.- É, pode se dizer que sim – então ele olha pra mim – Por que?

–Nada demais, sabia que ela também gostou de você?- Gente, eu sou uma bela de uma FDP, mas isso é preciso. Ele arqueia a sobrancelha.

–Sério?

–É né, ela é doida, tantos garotos a disposição dela, tsc – balanço a cabeça fingindo decepção. Na verdade, até que eles dariam um casal bonitinho (N/A: Não pire Skye, o seu príncipe psicopata irônico viciado em celular irá aparecer rsrsrsrsrs) – Então, quer sair com ela?

Ele não diz nada por uns segundos.

–Quando? - Ele diz e eu dou um sorriso, ele aceitou! Eu sirvo como cupido afinal, UHUU!

–Esse sábado, às...Hmm... Sete e quarenta e três, está bom?

–Por que sete e quarenta e três?

–Porque ela não é pontual e demora um bom tempo com a maquiagem e esses paranauês infernais que eu não dou a mínima, então eu vou dizer que o encontro vai ser às sete e meia, e então ela provavelmente vai aparecer às sete e quarenta e três, ou seja, ela vai ser pontual sem saber – Ele arregala os olhos, creio que eu também fiquei maravilhada com essa minha "esperteza", vai lá, pode dizer, eu sou uma gênia ou não sou?

–Hmm... Ok.

–Então tá, AH, não diga pra ela que ela apareceu na hora, ok? - ele acena positivamente – Muito bem, meu trabalho por aqui está feito – Me gabo andando de volta à minha casa.

–Anh, Jolie – ele me chama e então eu me viro dando de cara com seu sorriso pervertido – No encontro, ela vai estar tão sexy quanto você?- Ele pergunta e eu devo estar com a expressão mais estranha do mundo agora pois ele apenas ri da minha cara e entra.

Babaca. Me cantando na maior cara de pau? Com certeza ele é uma segunda versão de Noah.... Só que menos sexy e inteligente.
Por favor, me diga que foi a Mila que disse isso e não a parte racional da minha cabeça. Por favor!

☆

–TU FEZ O QUE?- Natalie grita desnecessariamente já que eu estou na sua frente.

–Não precisa gritar.

–COMO VOCÊ PÔDE FAZER ISSO COMIGO?- Ela ignora meu comentário e continua gritando.

–Eu só...

–JOLIE, VOCÊ QUER MORRER? - Ela me corta e então eu a seguro pelos ombros e a chacoalho.

–PRA QUÊ ESSE DESESPERO MULHER?- paro de lhe chacoalhar e lhe dou um tapa, ela me olha como um dragão cuspidor de fogo – Ok, isso não foi necessário, mas é sério, você é Natalie Wikey, nunca ficou desesperada assim para um encontro – Ela bufa e se joga na cama, quicando e caindo no chão.

–Que merda, eu sempre esqueço dessa sua cama possuída!

–Não mude de assunto – Ela bufa outra vez e se senta na cama, tomando cuidado para não quicar de novo.

–Ah, sei lá... Ele é maneiro – ela dá de ombros e eu cruzo os braços – Ah, que foi? Eu não vou dizer que ele me faz sentir coisas que nunca senti com outras pessoas, seria muito ridículo, eu nem conheço ele direito, mas... - Ela deixa a frase morrer, mas eu sou muito chata.

–Mas...?- Ela olha pra mim com raiva, mas logo suspira e olha pra baixo.

–Mas seria a verdade – Ela suspira entediada e deita na cama com a cara no travesseiro. Deixo um gritinho de animação escapar e logo depois estou dançando feito uma retardada.

–Oh my god, oh my god, oh my god!– exclamo feliz – Você está apaixonada, é isso! Senhoras e senhores, eu ganhei a aposta – Paro de dançar e ouço Natalie bufar no travesseiro.

–Eu não tô apaixonada – Ela tira a cara do travesseiro e me olha, vejo seu rosto ficar vermelho e solto uma risada.

–Está sim e tá me devendo 100 pratas – Praticamente estou esfregando na cara dela que eu sou mais resistente que ela, mas isso é uma coisa pra se esfregar na cara mesmo. Você deve estar se perguntando que merda de aposta é essa, não? Então, há 2 anos atrás, nós fizemos uma aposta. Eu disse que ela iria se apaixonar um dia e ela negou, então apostamos 100 pratas nisso e eu GANHEI! IHAA.

–Eu não tô...

–Ah, para de palhaçada, você nunca ficou desse jeito com ninguém e acabou de admitir isso e eu ainda fui maneira o suficiente pra servir de cupido pra vocês, dá um crédito vai, eu tô precisando comprar umas roupas – Estendo a mão e ela apenas revira os olhos e tira do bolso sua carteira, pega de lá duas notas de 50 e me dá.

–Trato é trato, e eu sei que você não vai me dar sossego – Ela pega o celular, dá uma olhada e depois o guarda – Vou comprar um vestido para esse suposto encontro, se der errado você me paga – Ela aponta o dedo para meu rosto e sai. Ela sim consegue soar ameaçadora, ARGH! Coloco o dinheiro em uma gaveta da mesa do lado da cama, olho para a janela e vejo um cara olhando fixamente pra cá, mas espera um pouco... Eu conheço esse cara, eu sei que conheço...

PERAI! Abro a janela e grito:

–Trevor? - Ele abre a janela também dando um sorriso.

–Oi Jolie. - Alôô, minha cara é mais pra cimaa. Essa blusa tem lá seus efeitos.

–Meu Deus, é mesmo você? - Cara, o tempo foi generoso com ele... Tipo: Muito generoso. Cadê aquele garoto magrelo que usava um óculos maior que o rosto e usava o cabelo com muito gel? Aquele garoto que eu zoava pelas costas todos os dias? Cadê ele? Eu apenas estou vendo um cara muito gostoso escorado na janela, com os mesmos olhos verdes de Josh.

–É, sou eu mesmo – ele ri – Mas eu não fui o único que mudei, desde quando você usa roupas desse tipo? - Quando eu era criança, odiava usar coisas de garota do tipo vestidos, tiaras, lacinhos e etc, minha roupa geralmente se resumia em uma calça surrada, uma blusa qualquer larga e o famoso boné dos Yankees que meu tio me deu... E que minha mãe fez questão de queimar, mas é a vida, né?

–Ah, sabe como é... Adolescência, puberdade, coisas de garotas – Ele ri, até a risada dele está mudada agora.

–Entendo – ele hesita em falar algo, mas logo ele solta- E sua amiga? Como ela tá?- Ele pergunta sem graça, o que me faz rir. Desde quando eu comecei a andar com Natalie e a trazê-la pra cá, ele meio que gostou dela, entende?

–Está bem, na verdade, ela acabou de sair daqui. Você viu?

–Vi – ele coça a garganta – Ela parecia meio eufórica.

–É, ela é maluca – Dou de ombros e ele dá uma risada, então eu começo a rir também, mas minha mãe me chama do andar de baixo e acaba com a sessão de risadas com um gostoso – Tenho que ir, até mais – Digo colocando a mão na janela.

–Até – E então eu a fecho e desço encontrando minha mãe no pé da escada.

–Oi – Digo parando em sua frente.

–Sua tia ligou – ela pausa – Esse ano é a nossa vez de receber a família.

Arregalo os olhos.

–Como?

–A família do seu pai também vai vir – Ela despeja isso tudo como se não fosse nada, mas eu arregalo mais ainda os olhos e daqui a pouco eu fico sem eles.

–COMO?

–Eles vão vir esse final de semana – Eu não fiquei mais calma.

–Mãe, hoje é quinta!

–E daí?

–MÃE! CANCELA, POR FAVOR! - Me desespero. Cara, minha família aqui não, por favor senhor Deus, minha vida está começando a dar certo.

–Não posso, isso seria feio.

–Feio é a tia Felicia me perguntar sobre menstruação toda droga de jantar! - coloco as mãos no rosto – E agora são as duas famílias que vão vir? Isso não vai dar certo, mãe. Você odeia a família do papai e papai odeia sua família, é a mesma coisa com eles, os Olivers não se dão bem com os Mckylles! Porque vocês ainda cismam em fazer esse jantar em família, hein?

–Jolie, é melhor você ser educada esse sábado.

–Se não o que? Você tira a concha do feijão e joga em mim? - Ironizo e vou para a sala, enterro a cara no travesseiro e grito.

–Jo, o que é isso?- Pergunta minha mãe ligando a TV, ou seja, só perguntou por educação.

–Sou eu gritando com a cara em um travesseiro – a olho – Mãe, pelo amor de Cristo, você tem que cancelar o jantar. Dá a desculpa que você vai trabalhar até tarde, ou que viajamos, ou que morremos em um acidente e você é um fantasma que não atravessa objetos e que se comunica com humanos.

Ela revira os olhos.

–Sério Jolie?

–Se você falar isso para a tia Memphis ela vai acreditar – Olha, quero que vocês entendam meu desespero. Desde quando eu era pequena, minha família se junta uma vez no ano na casa de alguém para um jantar em família, e muitas das vezes isso é um saco,e agora vai ser a família da minha mãe e a do meu pai juntas! Já tentamos jantar todos juntos, mas NÃO DEU CERTO! Que droga!!

Agora eu vou fazer um gráfico das famílias, vejam se entendem:

Família do meu pai:

Adéllia Mckylle – mãe.

Claire Stonewood – irmã.

Holly Cooper – irmã.

William Mckylle – irmão.

Meu vô faleceu quando eu tinha uns 2 anos de idade, nunca me falaram o porquê.

Família da minha mãe:

Katherine Oliver – irmã solteirona.

Memphis Watson – irmã.

Felicia Stanley – irmã.

Fernanda Brody – irmã.

Marco Oliver – irmão.

Meus avós moram na Suécia agora, nunca fomos visitar eles e eles nunca vieram nos visitar.

Ok, família grande, não? Imagine com os filhos...

Meus primos por parte de pai:

Claire – Tomas. Livy.

Holly – Gabriel.

William – Tess. Rebeca. Evan.

Por parte de mãe:

Memphis – Loreine. Margo. Charlie.

Felicia – Alex.

Fernanda – Kyle. Jonny. Liam.

Marco – Amélia.

Ok, agora imagine todo esse pessoal na minha casa, criando barraco, trocando farpas, me humilhando, pegando meus biscoitos... Isso não vai prestar.

☆

Vou até o armário e Natalie vai para o dela. Faço a mesma coisa que sempre faço e quando me viro, levo um susto.

–Aahh – Dou um grito e ele tampa minha boca.

–Calma, sou só eu – Cara, por que esse estorvo está me atazanando? - Olha o que eu trouxe – Ele tira a mão da minha boca e tira do bolso um saquinho, nele está escrito com letras cursivas.

REMÉDIO PARA PULGAS E CARRAPATOS.

O olho com um olhar de peixe morto.

–Por que trouxe isso, seu babaca?

–Vamos colocar isso na bebida dela.

–Ideia tentadora, mas não! Não quero ir presa.

–Eu não comprei isso à toa, temos que colocar em algo.

–Ah é? Então por que você não coloca no cu? - Ele faz uma careta;

–Vish, está de TPM?- Ele pergunta cínico e eu suspiro.

–Não, é que minha família toda vai ir lá pra casa amanhã e eu tô meio estressada – Passo a mão no cabelo.

–É só por isso? Não deve ser tão ruim.

–Olha, estamos falando da minha família aqui, com certeza é ruim.

–Não é não, você está sendo dramática.

–Quer apostar? - ele dá de ombros – Tudo bem, 50 pratas que o jantar vai ser um desastre.

–Ah, assim não tem como, como eu vou saber que realmente foi um desastre?

–Fácil, você vai comigo.

–O quê? - O sinal toca.

–Amanhã. Às sete, lá em casa, ok? Leve 50 dólares já que você vai perder – Começo a me afastar, mas ainda estou virada pra ele e vejo que sua expressão de surpresa e confusão passou para uma divertida.

–Tudo bem então, nos vemos amanhã – Ele pisca e vai embora, me viro mas logo paro. Eu o convidei para jantar lá em casa com a minha família?! Como se ele fosse meu namorado?! Eles com certeza vão pensar isso e nem minhas negações vão funcionar, eles vão zombar de mim pelo resto da vida! O que foi que eu fiz???

Cara, eu tô muito ferrada.