TERÇA-FEIRA 06:27PM

–Oi. – ela não sabe bem como agir, pois é, faz uma semana que não se falam – Posso? – pergunta querendo saber se pode entrar.

–Oi Mary – Molly tem um sorriso discreto no rosto – Claro que pode sua boba.

Essa resposta deu a confiança que faltava a Mary de uma longa e direta conversa.

–Como está? Faz uns dias que não nos vemos.

–Bem! – Molly responde, realmente bem, para o espanto de Mary, que deixa sua surpresa transparecer – Não acredita não é?!

–Sinceramente...

–Eu sei. Como também sei que esperava me ver triste, acabada, desanimada, me desfazendo em lágrimas pelo episodio passado. – Molly está calma, com um sorriso discreto mais sincero, as duas estão sentadas de frente, e Molly só deixa Mary mais confusa ainda.

–Admito, principalmente depois da nossa última conversa, e logo aviso que não tive coragem de esbofeteá-lo.

Ela consegue arrancar uma risada de Molly que logo responde.

–A propósito me desculpe pelo meu jeito alterado ao celular na segunda passada, eu estava completamente enfurecida com ele. – se refere a Sherlock, abrindo um espaço para Mary se pronunciar a respeito.

–Então... Você não está mais – não foi lhe dado tempo de concluir a pergunta, pois Hooper logo se precipitou.

–Sim eu ainda estou chateada, é – Molly suspira conformada – não consigo ficar com raiva dele por muito tempo, por mais que eu deseje profundamente, não consigo, simplesmente. Mais ainda me incomoda o que aconteceu e tão cedo não quero vê-lo.

–Não vai ser bem assim porque – mais uma vez é interrompida.

–É eu sei. Mais cedo ou mais tarde ele irá aparecer no laboratório, rezo para esse dia demore o quanto puder para chegar, mas sei que não irá demorar um reencontro.

–E não é só isso. – Mary é direta – Logo ele virá atrás de você. Por isso vá juntando paciência, o máximo que der.

–O que? – Ela não expressou bem uma raiva, e sim uma incredulidade e confusão em seu olhar – E porque ele viria atrás de mim? Agora o que ele mais deve querer é distancia de mim!

–Esqueceu porque John e eu voltamos da lua de mel?

–Não, mas não precisavam se prestar a esse papel de pedir a ele que se desculpe Mary.

–Bom, não foi fácil – Mary da uma risada – mas conseguimos e ficamos muito felizes, principalmente por ele ter deixado a raiva que estava de mim de lado.

Mary fala com um tom de piedade o que arranca uma risada, disfarçada em vão, de Molly.

–Fico feliz, e você como está? Como vai o meu futuro afilhado? Ou afilhada né?!

–Pois é, vamos muito bem obrigada, fiz um trato com John de trabalhar apenas três dias por semana por isso hoje tive o dia livre, ainda bem que você também, porque o tédio estava me matando.

–Ah então eu sou só um passa tempo – Molly disse brincando – Obrigada pela parte que me toca, fico feliz em ser útil – arranca boas risadas da loira.

–Vocês são tão dramááticooos, meu Deus! – Mary fala ainda rindo – Bom – cessa a risada - pra falar a verdade, eu vim mesmo foi falar do Sherlock – Mary percebe o incomodo da amiga – pois é vocês não vão poder se ignorar para o resto da vida, vocês precisam conversar e cada tem de ter já sua ideia formada sobre o que vai dizer e sobre o que sente, afinal... Dormiram juntos né?!

–Eu sei Mary, eu sei, mas que escolha eu tenho se não a de aceitar que não vai haver nada entre agente? O que quer que eu faça? Faça-o ficar comigo a força? Na marra? Bem que eu queria, mas não seria o ideal!

Mary queria gritar aos quatro cantos do mundo sobre o conteúdo da ultima conversa que teve com ele, principalmente queria falar para Molly sobre a decisão dele. Mas havia prometido que não comentaria isso com ninguém, ninguém.

–Calma – tentava dar esperanças a Molly, mas sem indicar nada – Você tem esperado tanto o que te custa esperar mais uns dias até ele vir falar com você?

–E o que eu devo esperar? Que ele venha todo arrependido, pedindo perdão e querendo formar um relacionamento comigo? Melhor! Que ele venha com carinha de cão abandonado me pedir que o dê uma chance de se redimir ou sei lá o que namorando ele? Maryy! Qual é?! Tá zuando com a minha cara, só pode.

–Não – Mary está contendo a risada – A qual é?! Tudo é possível não?!

–Descobri que não no mesmo dia em que soube da existência dele.

–Tá mais me fala, ainda gosta dele não gosta?

–O que você acha? – Molly dá a entender que é uma pergunta retorica.

–Então, ainda lutaria pra ter algo com ele?

Hooper fica quieta e com o olhar vazio por alguns segundos diante dessa pergunta.

–Hooperllyyy? Alôôu? To falando com você! – Mary a tira de seus devaneios.

–Desculpa – ela volta a si – é que essa sua frase me fez refletir, lutar pra ter algo com ele, foi isso.

–E o que tem a frase?

–Se deu conta do que você acabou de me perguntar? – Mary ainda está se perguntando aonde Hooper quer chegar com isso – Luta. Eu lutei até hoje por esse homem e se for pelo amor que sinto eu ainda me vejo lutando por ele.

–E o que tem de tão anormal nessa frase? Nessa situação? De lutar por um amor.

–Eu estou lutando por ele e pelo amor dele, só que contra ele, o meu adversário é ele – Mary finalmente percebeu a ironia da situação – E sabe o que é pior? – O olhar dela ficou triste – Eu tô perdendo – sua voz expressa dor e um desespero abafado – Eu tô perdendo Mary. E você ainda quer que eu continue? Isso é humilhante!

–É difícil – Mary fala soltando uma respiração pesada, como se a estivesse prendendo há certo tempo – Mas se você achou algo de bom nele para suportar aquele chato idiota e muitas vezes imbecil, mas que eu amo, até hoje, meu Deus Molly, não pode aguenta-lo só mais um pouquinho? Hum?

–Você sempre consegue – Molly abre um sorriso modesto, acompanhada de uma voz acanhada – Eu amo ele Mary, amo, amo, mas... Não sei se, agora, ter a chance de iniciar um relacionamento com ele seria realmente o ideal.

–Que? Eu pensei que isso fosse o que você sempre desejou! O que houve?

–E é, mas e se ele tiver motivos fortes para fugir de um relacionamento? Se o provável medo dele de iniciar um relacionamento amoroso for fundamentado? E se eu for a errada nisso tudo?

Mary se lembra das palavras de Sherlock, quase pode jurar que Molly já sabia.

–Porque acha que ele tem propriamente medo?

–É a única solução cabível que encontrei! E também a única que mais favorece o meu lado né?!

–Ou talvez ele tenha medo de magoar você.

Molly estava de cabeça baixa mais com a suposição se surpreendeu e levantou-a encarando Mary.

–Me magoar? – Hooper soa irônica, o que até certo ponto Mary considera aceitável – De novo? – Mary se mantem calada, sente a mágoa se expressar na fala de Molly, o desprezo de Sherlock ainda doía profundamente – E o que ele acha? Que as coisas ruins atiradas em minha direção tomam rumo próprio? Que elas passam despercebidas assim como acontece com ele? Ele acha que tudo o que ele fez não me magoou? – A voz de Molly começa a dar sinal de sua fraqueza emocional, e uma lágrima rola o rosto dela, que fecha os olhos e suspira controlando a raiva que logo é percebida por Mary através do rosto vermelho da legista – Ele é um idiota, isso sim!

–E acha que se ele pudesse evitar te magoar mais ainda, não o faria?

–...

–Molly ele não é um monstro, e você sabe disso mais do que ninguém – E mais uma vez Mary estava dando uma de supermãe, essas crianças... – Você como aquele homem é por dentro, sabe como é o jeito dele de se expressar e de agir. É difícil? É. Dá vontade de esbofeteá-lo? Ah dá sim! Mais se você quer esclarecer tudo seja paciente, eu sei que você tem sido a pessoa mais paciente do universo quando o assusto é lhe dar com Sherlock. Então, por favor, não desista dele, não desista.

–... – Os olhos de Molly estavam lacrimejantes, mas ela se conteve.

–Se você, sendo quem é e sentindo o que sente por ele, desistir, quem mais vai lutar por ele? Quem mais vai conseguir muda-lo por dentro? Quem?

–E se eu falhar? E se eu fraquejar?

–Se for o caso, vai ser assim e pronto – Mary falou curto e seco.

–Que? Como assim vai ser assim e pronto? Mary serão meus sentimentos, será o meu coração, vai ser minha dor. – Molly fala gesticulando com as mãos, pondo-a por fim sobre seu peito, sem entender a loira.

–Você poderá dizer que tentou, que usou do ultimo recurso, que fez o possível, não posso mentir ou te iludir dizendo que se você for lá e tentar de novo, dessa vez vai dar certo, seria maldade da minha parte. Mas me fala o que você sentiu quando ele te deu um fora pela primeira vez?

–Raiva, dor, incompetência, foi terrível.

–E você conseguiu superar isso, tanto que ate tentou de novo.

–Claro naquela época eu era nova e mais tola que agora.

–Não, não foi por isso não, foi porque você sabia que ainda tinha com o que tentar, sabia que poderia conseguir se insistisse e deu no que deu né?! E eu não tô falando da parte ruim ok?! Mas não é esse o caso, o que quero que veja é que a rejeição machuca e dói sim, dói muito, mas sabe de uma coisa?

–Hum?

–Passa! Isso não vai te martirizar para o resto da vida, e saber que você tentou de todas as maneiras vai te servir de consolo e impedir que pensamentos como “Ah, se eu tivesse feito isso, se tivesse sido assim, se não fosse por isso ou por aquilo que eu fiz ou que não fiz...” tome de conta da sua cabeça.

–Quer saber, chega, se você acha que o melhor é que eu espere e o ouça, o faço, no final das contas quem vai levar a pior vai ser eu mesmo, pra que fugir disso né?! Já passei por tanta merda e to firme e forte até hoje. Que custa ter uma ceninha ridícula a mais no meu caderninho de Humilhações Anuais? Né!? – Hooper está incomodada, não esconde isso, mas prefere aceitar logo tudo o que está por vir, ou pelo menos o que ela acha que está por vir – Agora, por favor, cheeeeega de Sherlock – ela abre um sorriso mando embora toda a tensão dessa conversa – Chega, chega, pelo amooor de Deus, não agueeento mais. Vamos falar de outra coisa ok?

–Claro – Mary abre um sorriso sengo contagiada pelo, agora, bom humor de Molly.