Harry sentiu seu corpo se chocar contra o chão frio de pedra, enquanto ouvia o pesado portão ser trancado. Sentiu alguma coisa embaixo de si. Pegou o objeto e soltou um gemido.

Agora além de estar preso e machucado estava sem os benditos óculos!

Merlin deveria o odiar.

Cambaleou até um canto onde tinha um cobertor ralo. Sentou-se nele e fechou os olhos. Estava ali naquele inferno a dois dias e sete horas - acredite, ele estava contando.

Depois de ter se entregado aos Comensais para salvar Lily, foi levado até a Mansão dos Malfoy, onde era o esconderijo de Voldemort (Harry pensou seriamente em dizer ao Lord que aquela ideia de se esconder na casa daquela família estava ficando ultrapassada).

Voldemort queria que Harry contasse os planos da Ordem, mas o menino se recusou. E por isso sofreu as piores torturas de toda a sua vida. Havia levado a maldição Cruciatus incontáveis vezes, teve a pele queimada por ferro quente, fora abusado sexualmente por alguns Comensais pedófilios, haviam arrancado um pedaço da pele de seu braço, já tinha sido espancado... e isso em apenas dois dias - e agora oito horas. Porém sempre estava pronto pra outra, graças as poções e os feitiços de cura que recebia.

Porém o que mais doeu em Harry foi ver Neville, um de seus melhores amigos, rindo de sua dor. Alice e Frank também estavam lá, gargalhando enquanto Bellatrix queimava a sua pele com um brilho maníaco nos olhos. Enquanto Draco, Lúcio e Narcisa olhavam aquilo horrorizados, quase a beira das lágrimas.

Realmente, aquele era um universo completamente diferente do seu.

Tinha acabado de voltar de mais uma sessão de tortura, elas aconteciam a cada uma hora. Respirou fundo e fechou os olhos, rezando para dormir e acordar em seu universo ao lado de Gina. Passaram-se alguns minutos, quando ouviu a porta ser aberta.

– Harry? - o coração de Harry acelerou. Aquela era...

– Hermione? - perguntou, se levantando com dificuldade. Mesmo com as poções e os feitiços, ele ainda estava dolorido.

– Ah meu Deus, Harry! - sentiu um corpo se chocar contra o seu, e quase caiu para trás.

– Mione, deixe ele respirar! - Não podia ser verdade, aquele era Rony! Estaria tendo alucinações? Tinha certeza que aqueles não eram Rony e Hermione do universo diferente, e sim os seus amigos.

– Ah, cale a boca. - ouviu Mione responder. Logo após, sua visão clareou. Hermione havia concertado os seus óculos. - Pronto, assim está melhor.
Mione sorria radiante, com lágrimas nos olhos. Rony acenou para ele, também sorrindo. Harry abriu a boca para falar alguma coisa, porém nada saia. Estava em choque.

– Você deve estar se perguntando como estamos aqui... - Rony começou a falar dando de ombros - ... é que Mione conseguiu descobrir como você havia sumido tão misteriosamente. Ela é incrível!

– Não temos tempo para isso. - Mione disse corando. - Precisamos tirar você daqui, Harry.

Ela apontou a varinha para Harry e murmurou alguns feitiços. Imediatamente ele sentiu seu corpo menos dolorido e mais leve.

– Agora você está com condições de lutar. - a garota disse. - Exceto pela falta de varinha...Enfim, vamos resgatar a sua.

Rony saiu da cela com cuidado. Atrás dele vinha Harry e logo após Mione. Os três caminharam silenciosamente até a escada que dava para a "Sala de Torturas", como Bellatrix gostava de falar.

– Muito bem Harry, é o seguinte. - Mione sussurrou. - Chegamos até aqui com feitiços de desilução. A Ordem está destraindo os Comensais, então vamos conseguir sair daqui sem muitos problemas. Aparatamos direto no escritório de Dumbledore, ele desfez o feitiço de anti-aparatamento por duas horas.

– Ok, vamos nessa.

Mione subiu as escadas devagar. Checou se não havia ninguém na sala, então subiu o restante dos degraus com os outros dois logo atrás. Estavam quase chegando na saída quando ouviram uma voz terrivelmente conhecida.

– Ninguém foge daqui. Deveriam saber disso.

Ao se virarem, fitaram Neville. Ele tinha o cabelo comprido como o de Sirius, vestes aparentemente caras e um olhar mortal. Era bem diferente daquele medroso e atrapalhado Longbottom.

– Neville! - Mione exclamou com os olhos arregalados.

– Ah, olá Granger. Vejo que você e seu sangue-ruim continuam poluindo o mundo bruxo. - Neville cuspiu. Rony ficou vermelho e apontou a varinha para ele.

– Não a chame de sangue-ruim! - o ruivo gritou. Mione apertou seu ombro, indicando que realmente precisavam ir.

– Porque não fazemos igual no primeiro ano? - Harry murmurou, recordando de como tiveram que petrificar Neville para conseguirem salvar a pedra filosofal.

Bons e tranquilos tempos.

– Petrificus Totalus! - Mione gritou, apontando a varinha para Neville, que com um balançar de varinha desviou o feitiço.

– Vocês querem me derrubar com um feitiço de criança? - ele gargalhou. Os três se entreolharam, Neville daria trabalho. - Vamos duelar de verdade.

Neville lançou um feitiço não verbal, que Hermione desviou. Então os dois começaram a lançar feitiços. Ambos eram muito bons, e não parecia que aquilo acabaria tão cedo.

Rony estava com a varinha em mãos, preparado para entrar no duelo a qualquer momento. Foi quando Harry focalizou outra varinha no cinto de Neville - era a sua varinha de pena de fênix! Ele só precisava arranjar um jeito de pega-lá (Mansão dos Malfoy, dar a varinha dos reféns para as crianças...Lord Voldemort precisava rever seus planos urgentemente).

Estava se preparando para correr em direção a ele e agarrar sua varinha, quando a porta atrás de Neville se abriu e Lord Voldemort apareceu.

Agora eles estavam realmente ferrados.