Amor de Maroto escrita por Helena Prett


Capítulo 10
Problemas No Paraíso


Notas iniciais do capítulo

Nesse cap eu foquei um pouco mais na Carol e na Anna,
espero que gostem!



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Capítulo 10 - Problemas No Paraíso

Doze dias já tinham se passado desde que os seis chegaram a Hogwarts. Nesse período de tempo foi possível deixar Pedro Pettigrew, o quarto maroto, a par de todas as novidades que ele acabara perdendo por ter ido viajar com os seus pais. A escola inteira já sabia que Tiago não estava mais disponível, o que irritava boa parte das garotas.

— O que ele viu nela? - uma grifinória invejosa (aka recalcada) pergunta quando Tiago passou de mãos dadas com Lily na sua frente.

— Ela é ruiva - a amiga responde com desgosto.

— Ela é ruiva e eu sou loira! Cabelos louros são bem mais bonitos do que ruivos! - reclamava, arrumando a cabeleira.

Lily já não se incomodava mais com os olhares tortos das alunas para ela. Quando voltara a Hogwarts eles a frustravam intensamente, mas acabara se acostumando com os mesmos, apenas os ignorando. Tiago fazia questão de sempre andar segurando a mão de sua nova namorada, assim podia ter certeza de que ela era apenas dele e de ninguém mais.

Carol e Remo andavam na mesma, sem problema algum. Claro que quando começaram a namorar várias meninas lançavam olhares frios para a loira, mas como já estavam juntos há algum tempo as alunas acabaram se conformando que Remo estava se relacionando com ela. No início, frases como “Aposto que se ele me conhecesse melhor largava essa aí bem rápido”, “Tenho certeza que esse namoro não vai durar dois dias” ou “Ele só gosta dela porque a loira deve passar tanta maquiagem para esconder as imperfeições que Remo acaba achando ela bonita” eram comuns, mas nenhuma delas intimidava Carol.

Anna não tinha esse problema de olhares para ela, já que quase ninguém sabia que ela e Sirius ficavam de vez em quando por causa da discrição dos dois, não atraindo opiniões negativas. Depois do Ano Novo eles não se falaram mais, deixando um clima esquisito quando seus olhares se cruzavam sem querer nas aulas. Parecia que Sirius a evitava, o que encorajou Anna e evitá-lo. Toda vez que alguém tocava no nome da garota, Sirius rapidamente desviava o assunto, rumando a conversa para algo totalmente sem noção. A morena não falava mais sobre ele, sempre fugindo do tema quando mencionado. Ninguém entendia o motivo pelo qual os dois pararam de se falar, mas de qualquer jeito não davam muita importância, uma vez que já sabiam que os mesmos eram totalmente imprevisíveis.

— Ela que não fala comigo há dias - Sirius respondeu Tiago que lhe perguntou diretamente o porque ele não falava mais com Anna. - Eu não fiz nada. Estou apenas agindo normalmente - deu de ombros, se jogando em sua cama. Tiago não retrucou, apenas ignorou a atitude pueril do amigo.

No dormitório das meninas o assunto não era muito diferente, atormentando Anna, que se recusava a dizer o real motivo.

— Ele não fala comigo, eu não falo com ele. Fim da história - justificava seus atos. - Eu não vou simplesmente correr atrás dele. Não é de meu interesse - mentiu, se sentando em sua cama, fazendo a ruiva revirar os olhos.

— Você mente muito mal - Lily disse depois de ouvir todo o drama da amiga. - É sim de seu interesse e você sabe muito bem disso. E qual é o problema de correr atrás dele? Não é como se ele fosse recusar qualquer coisa vinda de você.

— O que fez vocês pararem de se falar do nada? - Carol entrou na conversa/discussão. - Desde que pegamos o trem para Hogwarts que eu não vejo os dois trocarem uma palavra. Tem que ter um motivo.

— Não tem motivo porque não tem nada acontecendo. Só isso. Não estamos com nenhum problema ou qualquer coisa do tipo. Apenas paramos de nos falar - respondeu as amigas, olhando para a esquerda.

— Você olhou pra esquerda, o que significa que está mentindo pra cobrir algum acontecimento - Lily apontou no comportamento da morena. - Anna, nós somos suas amigas. O que aconteceu na casa do Tiago que você não quer nos contar?

— Aconteceu algo a mais que você já deveria ter nos contado? - Carol suspeitou, tentando dar uma indireta.

Anna de início não entendeu o que as duas queriam dizer, mas ao compreender corou, logo se explicando.

— Não, não aconteceu isso que vocês estão pensando - como as duas ainda pareciam estar confusas, Anna explicou com as palavras mais claras possíveis: - Nós não transamos.

— Não? - Lily perguntou.

— Não somos tão pervertidos assim Lil - ela exclamou. - Quer dizer, eu não sou, já pelo Sirius não posso garantir muita coisa… - falou mais seriamente, olhando para o chão.

— Anna, o que aconteceu? - Carol tornou a perguntar, agora querendo saber o significado da última frase da amiga.

— Na véspera de natal eu dormi no meu quarto com o Sirius, mas não é como se a gente fosse simplesmente dormir de imediato ao chegar no cômodo. Quando entramos, ficamos conversando por um bom tempo aí ele meio que estava com dúvida em um certo tema. Eu achei estúpido ele achar aquilo, então disse que ele não me conhecia. Sirius então cogitou a possibilidade de me conhecer melhor e ao eu perguntar por onde ele queria começar, pensando que o animal fosse fazer alguma pergunta, e ele disse que queria começar pela minha boca. E vocês já podem imaginar que nisso começaram alguns beijos… alguns amassos… e eu acabei tirando a camisa dele - ela falava rapidamente por conta da vergonha. - Não me pergunte por que, pois não sei responder isso nem a mim mesma. Aí ele ficou por cima de mim e tirou minha regata - disse cuidadosamente. - Antes de falarem algo, pensem que na mesma semana eu tinha ficado de bikini na frente dele, que é bem menos tecido que um shorts e um top - observou a morena, retomando o foco. - É possível dizer que os beijos ficaram um tanto mais… intensos e digamos que ele começou a passar as mãos nas minhas costas e parou em cima do fecho do sutiã, dando uma puxadinha de leve…

— Ele o quê?! - Carol perguntou, um tanto atônita.

— E foi nesse momento que eu literalmente parei tudo - Anna continuou a narrativa, fingido não ter ouvido a amiga. - Eu não queria que acontecesse. Nós nem namoramos, ia ser superficial, falso. Não seria certo. E não faria sentido.

— Por que não faria sentido, Anna? - Lily perguntou, tentando entendê-la. - Vocês já tem dezesseis anos, não é pouca coisa. Vocês já tem a autonomia para fazer isso e não estarem fazendo algo errado - a ruiva disse, tentando melhorar a situação da amiga. - Agora, se você prefere namorar para deixar isso acontecer é uma outra história, só não julgue como algo impróprio.

— Eu me sinto uma vagabunda às vezes. Eu me entrego tão facilmente à ele, tão rapidamente… Isso não é certo. E de qualquer jeito nós não combinamos nem um pouco - a morena declarou, colocando a cabeça entre as mãos. - Todo esse acordo não tem nexo.

— Claro que tem! - Carol se manifestou. - Os dois se gostam, tem sim nexo - concluiu.

— Ele está afim de outra - Anna soltou, lembrando da conversa que ouvira e tentara esconder das amigas.

———(flashback on)———

— Eu prefiro mil vezes ela - Sirius declarou.

Anna passava pelo corredor no começo da semana quando estava rumando para a Sala Comunal. No meio do caminho escutou algumas vozes e não conteve sua curiosidade, indo mais perto para bisbilhotar. Quando estava mais próxima, pôde perceber que quem conversava era Sirius e Alice, uma amiga do maroto e das meninas que namorava Frank Longbottom. Ela sempre fora muito próxima de Sirius, uma vez que se conheceram um tempo antes de irem para Hogwarts cursar o seu primeiro ano, sendo assim muito amigos.

— Então conte a ela - Alice o encorajou.

— Mas eu não posso ferir os sentimentos da sua amiga - ele retrucou. “Que amiga?” Anna se perguntou.

— Mas isso é inevitável Sirius! E você nunca se importou em ferir o coração de ninguém, por que isso agora? - questionou Alice.

— Ela é diferente - assegurou o maroto. - Eu já tive vários momentos com a sua amiga, assim fica difícil de simplesmente falar que eu gosto de outra e não dela, como ela devia estar acreditando até agora - aclarou, tentando arranjar um meio de resolver tudo aquilo. - Eu não quero continuar com a proximidade que eu tenho dela. Eu quero me afastar da sua amiga, pois, caso contrário, não conseguirei ficar com a menina que eu gosto, entende?

———(flashback off)———

— E depois que ele falou isso, eu fui pra Sala Comunal, me recusando a ouvir o resto - Anna declarou, fingindo não dar importância. - É por esse motivo que eu parei de falar com ele. Não inteiramente por esse fato, mas é como se fosse. Não foi por causa da tentativa dele.

— E daí que ele disse isso? - Lily perguntou. - Talvez você tenha entendido errado - supôs.

— Lil, nós somos amigas da Alice - começou a falar. - Eu e o Sirius já tivemos muitos ‘momentos’ e nós três achávamos que tivesse alguma possibilidade de existir um ou outro sentimento. Aí estão as provas. Concluindo: ele gosta de outra menina e tem medo de me magoar. É isso. Não tem outra explicação - pela face de Anna rolou uma lágrima, que foi rapidamente removida pela garota. - Não tem outra explicação - repetiu, caindo no choro.

——

— Os pergaminhos deverão ser entregues até amanhã. Tenham um bom dia! - e com isso a classe foi dispensada da aula de Transfiguração.

— Um texto de duas mil palavras sobre como transfigurar animais em cálices de água? Só pode ser brincadeira! - Tiago reclamou ao sair da sala, rumando para o Salão Principal. - É um simples feitiço! Não existe uma explicação lógica pra ele. É só falar Vera Verto e pronto.

— É claro que existe uma explicação lógica - Lily o interrompeu. - Primeiramente, o feitiço… - ela não pôde continuar a explicação, uma vez que todos reclamaram quando ela começou a falar.

— Acabamos de sair da aula, por favor! - Anna pediu, assim todos foram almoçar.

Com a proximidade das provas, tudo começou a ficar mais corrido (quer dizer, ainda faltavam dois meses, mas isso para Lily era a mesma coisa que uma semana). A ruiva só vivia na biblioteca estudando tudo o que podia em todo o seu tempo livre. Não fazia uma pausa sequer. A cada dia que passava ela ficava cada vez mais impossível de conviver, por conta do seu foco excessivo. Quando suas amigas falavam, ela simplesmente fingia não ouvir, olhando seus livros. Quando Sirius fazia uma piada ou outra, ela apenas o ignorava. Tiago então ela nem dava bola. Todos tinham cautela com Lily nessa época, pois a mesma era muito imprevisível.

— Não, mas eu ainda não acabei de ler essa página sobre Runas Antigas - replicou quando lhe pediram para parar um pouco.

— Lílian, eu preciso falar com você - Remo disse, mostrando-se muito sério. A menina nunca o vira daquela forma, tão rígido e decidido. Ela marcou a página em que estava com um guardanapo de papel e o acompanhou para fora da Sala Comunal.

— O que foi Remo? Aconteceu alguma coisa? - perguntou receosa.

— Eu sou seu melhor amigo, Lil - ela assentiu com a cabeça, fazendo-o prosseguir. - Por favor, pára com isso. Você acaba deixando todos frustrados e com medo de você ter um ataque ou coisa do tipo. Qual foi a última vez que você falou com as meninas? - ele indagou encarando-a.

— Hoje - respondeu, como se fosse óbvio. - Agora pouco aliás.

— Qual foi a última vez que vocês conversaram? - ele se corrigiu. Como não obteve resposta, pôde presumir que ela não se lembrava, então partiu para outra pergunta - Qual foi a última vez que você riu de uma das piadas bestas do Sirius? - mais uma vez silêncio. - Lily, qual foi a última vez que você beijou o Tiago? Pense bem.

— Hmm… - ela ponderou - três dias depois de voltarmos para Hogwarts?

— E fazem quantos dias desde então?

— Quinze? - perguntou, se dando conta de suas atitudes. - Ah, Merlin! - exclamou. - Eu não falo com Tiago há quinze dias! - ela começou a se desesperar mais e mais, já tendo as mãos na cabeça. - O que eu faço? - pediu ajuda, aflita.

— Primeiro de tudo, peça desculpas por ter agido assim e, como ele tem um coração mole, não vai se lembrar de nada no segundo seguinte. E depois converse com as meninas, que provavelmente estão sentindo a sua falta.

— Remo, você é o melhor amigo que alguém pode ter - ela disse, o abraçando.

Com isso os dois foram voltaram para a Sala Comunal, em que a primeira coisa que Lily fez foi dar um beijo em Tiago, o abraçando em seguida. O maroto a segurou contra o peito, aproveitando o momento. - Eu sou uma péssima namorada - ela murmurou, ainda de olhos fechados envolta pelos forte braços do grifinório. - Desculpa por tudo isso - pediu, já chorando.

— Ei, - ele disse, puxando delicadamente o queixo dela para que seus olhares se encontrassem - não me importa que você estude demais, o que me interessa é saber que você ainda é minha - e com isso enxugou suas lágrimas, dando um selinho em seguida. Lily o abraçou forte, ficando feliz por ele ter entendido.

Com Lily sob controle (por enquanto), os sete puderam fazer mais coisas juntos, de conversar mais até fazer picnics na beira do lago negro. Tudo estava muito calmo… Calmo demais para ser verdade.

— Anna? Carol? - Lily chamou ao entrar no dormitório. Não tinha ninguém à vista, só podiam ser escutados alguns sons vindo do fundo do cômodo. Como não houve resposta, a grifinória se aproximou, com a varinha em mãos, mas logo a abaixou, ao ver que Carol estava sentada no chão encostada na beira da cama. Ela segurava um pedaço de pergaminho e não usava o colar que Remo lhe dera, que agora estava no chão ao lado dela. Lily achou estranho, uma vez que Carol nunca tirava o relicário. Lágrimas desciam pela face da loira, fazendo com que Lily ficasse preocupada - Carol, o que aconte… - ela não terminou a frase, pois a amiga lhe estendeu o pedaço de pergaminho que tinha em mãos não falando nada. A ruiva leu e não entendeu, olhando para a amiga exigindo explicações.

— Nós não estamos mais namorando, é isso - declarou brevemente, buscando conter as lágrimas, uma tentativa que foi em vão, pois as mesmas teimavam em cair. - Ele me deu um fora - disse amargamente - e nem se deu o trabalho de falar comigo propriamente. Apenas me mandou uma carta que nem foi ele que escreveu, foi uma pena de repetição rápida, dá pra ver pela letra.

— Talvez ele esteja fazendo algum tipo de piada - Lily sugeriu, mas nem ela mesma acreditava, muito menos Carol.

— É, porque é tão engraçado - ela respondeu friamente.

— Ele gosta de você, - Lily tinha certeza disso. - Remo gosta de você.

Ela se ajeitou, sentou propriamente e encarou a amiga. Tinha olhos inchados, rosto molhado e uma expressão de quem está segurando o choro.

— Aparentemente não - respondeu fracamente, dando um leve e falso sorriso. Ela buscava fingir que estava tudo bem, mas todas suas tentativas fracassavam.

— Mas não pode ser! Ele sempre foi tão amoroso e gentil com todos… Eu o conheço muito bem há muito tempo, ele nunca faria algo assim.

— Todo garoto parece ser bom, até ele não ser - essa foi a coisa mais fria que Lily já tinha ouvido Carol falar. Ela estava magoada, sua voz carregava arrependimento.

Carol apenas não entendia o que tinha acontecido. Eles nunca tiveram nenhum problema, nunca discutiram, nunca brigaram… Por que ele terminou com ela assim, sem mais nem menos? E por que por uma carta? Ele não tinha coragem o suficiente para dizer tudo aquilo pessoalmente à ela? Ele era um grifinório! Qual era o sentido em tudo isso?

Mais lágrimas rolaram. Lily se sentou ao lado dela e a abraçou. Ela ia tirar aquela história a limpo, nem que tivesse que entrar dentro do dormitório dos meninos para isso.

— Eu tenho certeza que deve ter acontecido alguma coisa, não sei, um engano ou algo do tipo - a ruiva tentou consolá-la, sem sucesso.

— Um engano? A carta está endereçada para mim, tem o nome dele como remetente, nela ele fala diretamente comigo começando por ‘Carolina’. Não pode ser um engano, Lil - ela fala, pegando o papel. - Olha só - chama a atenção da amiga e começa a ler um trecho - “Todos estavam certos: você não vale a pena”.

Para Lily tudo aquilo estava errado. Não podia ter sido Remo a escrever aquela carta. Simplesmente não podia.

Antes que a ruiva pudesse defender de novo o amigo, Anna entrou no quarto e não estava com a melhor expressão do mundo.

— O que aconteceu com você? - Lily perguntou, se levantando. O choro de Carol havia cessado, porém os tremores não.

— O que aconteceu foi que o Sirius é um completo idiota - ao dizer isso, se sentou em sua cama. - Um completo idiota - repetiu, colocando o rosto entre as mãos. Suspirou e levantou a cabeça - Eu não sei por que eu ainda tenho esperanças nele. Hoje é sexta. Ele não pode ter simplesmente esquecido disso.

— Qual é a diferença de hoje ser sexta? - Lily perguntou, sem entender.

— Toda sexta ele me mandava em uma das aulas um bilhete dizendo a hora e o local que a gente ia se encontrar, só pra ninguém perceber que a gente tem um “caso”, pois levantaríamos muitas suspeitas se fossemos juntos - explicou. - Eu pensei que ele tivesse esquecido, mas se ele esqueceu hoje, a memória dele não está muito boa, pois ele vem “esquecendo” disso desde que chegamos da viagem. Eu ainda teimo em ainda ter esperanças nele - disse amargamente.

— Mas você não estava o ignorando? - a amiga questionou, lembrando dos acontecimentos dos dias anteriores.

— Sim… - confessou - Mas mesmo assim!

— Ele não pode ter simplesmente ter se olvidado de você, isso é impossível.

— Também achava que fosse, até eu passar pela Sala Comunal e ele estar em pé em um canto com uma menina, sussurrando coisas no ouvido dela. Quando passei, ela me encarou, Sirius lhe disse alguma coisa me fitando e a vaca soltou algumas risadinhas - relatou Anna, mas irritada do que nunca. - Mas o que eu esperava realmente? Ele é um maroto - disse, suspirando em seguida. - O Sirius não vale a pena. Como todos dizem, ele não vale a pena.

Os olhos de Carol se encheram d’água novamente quando ela ouviu as duas últimas frases da amiga, que a fizeram lembrar da carta. As lágrimas começaram a descer novamente. Ela correu para o banheiro e se trancou lá, querendo chorar sozinha.

— Mas o que…? - Anna se virou para Lily, sem entender nada. A amiga logo explicou a situação dando ênfase na frase que Carol citara para ela e no trecho da fala de Anna - Você também está com algum problema com Tiago, ou teve sorte? - perguntou, se referindo aos marotos. Como não houve resposta, ela continuou - Aproveite, porque pelo que me parece os marotos são sinônimos de problema - alertou a amiga, em seguida indo para o banheiro tentar fazer com que Carol saísse de lá, deixando Lily absorta em seus pensamentos.

——

Na manhã de sábado, Carol recusou sair da cama, resultando que Lily e Anna foram para o café-da-manhã sozinhas. No Salão Principal as duas encontraram Tiago e Sirius que estavam vestidos em trajes de quadribol para o treino. Pouco antes de chegarem à seu encontro Anna parou, virando-se para a amiga.

— Eu acho que perdi meu apetite - disse. - Vou fazer companhia para Carol, até daqui a pouco - declarou, voltando para a Sala Comunal, deixando a ruiva sozinha.

Poucos passos depois, Lily se encontrava perto dos meninos e logo se sentou ao lado de Tiago, que prontamente lhe deu um beijo na bochecha.

— Bom dia, Lírio - ele desejou-a.

— Bom dia pra os dois - ela disse. Sirius lhe respondeu com um gesto, em seguida tomando um gole de seu suco de abóbora.

— A Anna desistiu de comer? - Tiago a perguntou, achando estranho ela ter dado meia volta na metade do caminho.

— É, ela… - Lily disse a primeira coisa que lhe passou - não estava se sentindo muito bem.

— Nossa, mas alguma coisa aconteceu?

— Não, acho que foi momentâneo. Ainda hoje ela fica melhor - falou rapidamente, mundano de assunto em seguida. - Vocês vão treinar hoje? - indagou ao ver as vestes que eles trajavam.

— Com licença - Sirius pediu, se levantando. Ele andou apressadamente e saiu pela mesma porta por onde Anna saíra.

Lily encarou Tiago, como se pedisse uma explicação, mas o mesmo não tinha entendido nada. Os dois deram de ombros e voltaram a comer, conversando sobre como tinha sido a semana deles.

——

Sirius ao sair do Salão Principal correu o mais depressa que podia. Precisava alcançar Anna. Ele ficara preocupado com ela quando Lily disse que a morena não estava se sentindo bem. Mesmo a amiga tendo garantido que não era nada demais, ele queria se certificar por ele mesmo.

Quando estava perto das escadarias que levavam aos dormitórios da grifinória, Sirius viu uma menina o olhando. Aquilo o intrigou. Não que isso nunca tivesse acontecido (pois episódios assim eram bem frequentes para o maroto), mas o que chamou sua atenção foi a aparência da garota. Ela era linda. Seu encanto era incomum, porém cativante. Ela era bela como nunca tinha visto alguém ser. Quer dizer, já tinha sim, em uma única menina apenas e toda vez que ele a via esquecia-se de quem era e do que estava fazendo, pensando apenas na grandiosidade da moça. Quando recuperou a consciência, ela tinha desaparecido, mas logo se tornou visível andando apressadamente para longe dele.

— Anna! - ele chamou, tentando alcançá-la. Ela fingia não ouvir, deslocando-se cada vez mais rápido. - Anna! - tentou novamente, mas ela não se virou, avançando velozmente. - Anna Prett! - nesse último chamado, ela não podia mais pretender que não o escutava, virando-se lentamente.

— Ah, Sirius - falou sem graça, sorrindo falsamente. Estava prestes a desmanchar em lágrimas, mas se conteve.

— Você está bem? - perguntou assim que a alcançou. Ele estava ofegante.

— Hmm, sim, estou ótima aliás - mentiu, ajeitando o cabelo. - Por que a pergunta?

— Não, é que Lily disse que você não estava se sentindo bem e…

— Aah… - ela entendeu que a amiga tinha mentido por ela - sobre isso, eu só preciso ficar um pouquinho no dormitório e já passa. E de qualquer jeito eu tenho que cuidar da Carol, então acho melhor já ir andando… - ela fez menção de se mover, mas Sirius foi mais rápido e pegou seu braço gentilmente.

— Cuidar da Carol? - indagou, mostrando mais preocupação ainda maior perante a melhor amiga.

— Aaah… - Anna esqueceu que ela tinha pedido para não comentar com ninguém - ela está… quer dizer, ela não estava bem hoje de manhã para ir ao café, então vou ver se ela melhorou.

— Mas é alguma coisa séria?

— Ela disse que estava com um pouco de dor, mas eu e a Lily estamos fazendo de tudo pra ajudar - respondeu, olhando para o chão.

— Dor de quê?

— Sirius, eu preciso ir - disse seriamente, tentando dar um sorriso no final, sem sucesso. - Até mais! - com isso ela saiu correndo pelos corredores de Hogwarts, sumindo rapidamente do campo de visão do maroto.

——

— Não é isso, Tiago - Lily tentou explicar. - É que enquanto elas estão com problemas, eu estou aqui, curtindo com você. Não é justo pra elas.

— Mas você tem um namorado pra isso, Lírio. E elas tem os respectivos delas pra isso também - retrucou. - Eu queria muito passar um tempo com você depois do treino - Tiago tentou fazer bico, mas nem isso a convenceu.

— Falou bem: “queria”, no passado - ela se levantou, ainda de mãos dadas com ele. - Eu realmente preciso ir.

— Ok - disse contragosto. - Mas só se você me conceder um pedido.

— Que pedido? - perguntou já se sentando de novo ao seu lado. Tiago não respondeu, apenas se inclinou e beijou-a, fazendo-a esquecer o motivo pelo qual queria ir embora.

——

Anna entrou chorando no dormitório e, antes que Carol pudesse falar algo, disse:

— Não pergunta, por favor - pediu, sentando em sua cama e fechando as cortinas. Não queria falar com ninguém. Não queria falar sobre ninguém. Queria apenas se isolar do mundo.

Meia hora depois, Lily entrou no quarto e estranhou ao ver que o dossel de Anna estava fechado. Ela se virou para Carol.

— O que aconteceu com ela? - questionou.

— Ela pediu para eu não perguntar - jogou as mãos para o alto, demonstrando que não sabia de nada.

Anna, ainda confinada em seu esconderijo, falou alto para as amigas o que aconteceu quando voltava para o dormitório. Nada surpreendeu-as, aliás ele sempre agia assim.

— Ele olhou pra mim como se soubesse que ontem foi sexta, ou seja, ele esqueceu de mim propositadamente.

Lily e Carol reviraram os olhos. Já estavam começando a se cansar do drama de Anna com Sirius. Os dois estavam evidentemente apaixonados um pelo outro, porém nenhum deles queria admitir. Os dois ficavam fingindo não sentir nada, prejudicando à si próprios.

Carol abriu o dossel, e desatou a falar.

— Olha só, você tem a oportunidade perfeita. Não vale a pena fingir que não se importa, porque todos sabem que você gosta dele e ele de você. Nunca se sabe se vai ou não valer a pena, mas isso só se descobre se você tentar. Engole esse orgulho, corre atrás dele e aproveita. Eu me arrependo de não ter curtido tudo que eu podia ter feito com o Remo, mas eu não posso lamentar depois de ele ter terminado comigo - disse, indignada. Ela ainda estava mal por causa do (aparente) ex-namorado - Poxa, Anna, o Sirius te ama e só você que não quer enxergar isso.

A morena refletiu um momento e assentiu com a cabeça. Carol tinha razão: ela precisava correr atrás dele, pois, se não o fizesse, era capaz de Sirius não se tocar nunca.

Anna se levantou e respirou fundo. Ela era uma grifinória, ela tinha que ter coragem.

— Eu vou - disse por final, fazendo as meninas comemorarem. As amigas a ajudaram a fazer uma maquiagem leve, escolher um perfume agradável e arranjar uma roupa simples, porém bonita. No final, Anna apenas passou de maquiagem (além do básico) duas camadas de rímel e gloss transparente, para parecer o mais natural possível. Ela vestiu um par de calça jeans skinny escura, sua costumeira regata cinza colada e sapatilhas dourada (que parece bege) com bico e alguns brilhinhos. Anna amava aqueles calçados e só os usava para ocasiões especiais; essa lhe parecia ser uma destas. Colocou no pulso a pulseira que ele havia lhe dado que ela não usava há mais de uma semana. Depois de muita cerimônia, Anna saiu do dormitório.

Ao chegar na Sala Comunal, encontrou Tiago, que estava voltando para seu quarto. Quando perguntou onde Sirius estava, o amigo o olhou torto, achando estranha a pergunta.

— E vocês voltaram a se falar desde quando? - questionou.

— Nós não voltamos a nos falar, pra falar a verdade. Mas eu preciso encontrá-lo - respondeu.

— Da última vez que o vi, ele estava no corredor leste do quinto andar, acho… - Tiago mal acabou de falar e Anna já não estava mais lá.

Anna percorreu corredores e mais corredores até chegar perto de onde Tiago lhe dissera. Quando se aproximou do local, ela diminuiu o passo. Podia ouvir vozes. Uma delas era de Sirius, o que fez o coração de Anna pular de ansiedade. Mas essa ansiedade logo morreu ao perceber que tinha outra voz… feminina.

Os dois estavam bem perto um do outro. Ela já esperava pelo pior, quando a menina ficou na ponta dos pés e o beijou. Aquilo foi uma tortura para Anna. O pior foi que percebeu que a menina em questão era a que ficou dando risadinhas com o Sirius na Sala Comunal na sexta. Sirius, ao se separar dela, virou-se de repente. Então ele percebeu que Anna estava os observando. Uma única lágrima escorreu pelo rosto dela, que fechou os olhos e mexeu levemente a cabeça de um lado para o outro, se sentindo estúpida, dando meia volta em seguida. Como pôde pensar que daria certo?

Quando já estava no final do corredor, ouviu Sirius a chamar repetitivamente, mas nenhuma das vezes ela deu atenção. Continuava a andar, sem ver mais nada. As lágrimas a tinham cegado, fazendo com que as imagens que eram captadas pelos seus olhos fossem de mínima utilidade. Ela intentava se livrar dele, mas não conseguia. Ele continuava a segui-la, tentando alcançá-la.

Anna olhou para trás, sem parar de se locomover, para verificar a que distância Sirius estava dela. Tropeçou em algo e sentiu seu corpo desabar, batendo a cabeça em alguma coisa. E de repente tudo escureceu.


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Notas finais do capítulo

Oq vcs acharam?? comentem!