Facilis Densensus Averno escrita por Heosphoros


Capítulo 5
O Noivado de Herondale


Notas iniciais do capítulo

"À inspiração faltou o poder de prosseguir. Mas, então, o meu querer, qual roda obediente ao mando que a faz mover-se, pusera-se à vontade divina, esse Amor que move o Sol e as outras estrelas"

Dante, Paraíso.



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"É com um imenso prazer que anunciamos o noivado da princesa Teressa Gray, com o respeitável filho do Duque de Essex, William Herondale. A festa de noivado seguirá antigas tradições de ambas famílias, cuja comemoração dura duas semanas.

A família Morgestern, por sua familiaridade com a realeza, está convidada para o festejo. E o futuro príncipe da Inglaterra pede, particularmente, pela presença de Jonathan Herondale, filho adotivo dos Morgesterns, e seu irmão pelo sangue.

É aguardada uma resposta à esta carta para a próxima semana, no mais tardar".

E embaixo do borro de palavras confusas como seus sentimentos, Clary pôde ver o brasão da família Real junto da assinatura perfeita da Rainha, escrita da mesma tinta preta que o conteúdo da carta (que Clary leu por mais duas vezes antes de colocar sobre a mesa da sala).

– Você não vai – a voz firme de Valentim surgira.

Clary se virou bruscamente, encarando o pai nos olhos de forma que tinha que erguer a cabeça. Apesar de seus irmãos não precisarem inclinar o pescoço para olhar os olhos escuros de Valentim, nenhum deles já tivera coragem de fazê-lo.

Porque ela, e somente ela, puxou a Jocelyn Fairchild.

– Por que não? – ela perguntou, incrédula.

Valentim tinha o olhar duro e frio como o de uma rocha, apesar de um sorrisinho cruzar seus lábios. Um sorrisinho que Clary costumava ver em Jace; sarcástico e zombeteiro.

– Você não está em boas condições, não é Clarissa? – ele disse, recordando da impensada saída dela no chá com os Lightwood – ficará em casa essas duas semanas para se recuperar. E, melhor ainda, poderá pensar sobre como se comportou mal entre nossos convidados.

Clary franziu o cenho.

– Não pode estar me colocando de castigo... – começou a dizer, mas Valentim interrompeu:

– Posso sim! Sou o seu pai, mocinha, e é melhor se acostumar – Clary congelou, observando uma das poucas manifestações de fúria que via vinda de Valentim – e pode já se preparar, pois quando voltarmos do noivado da princesa, o seu será devidamente preparado.

Ele se virou e saiu, os passos ecoando de forma alta e rude contra o chão de madeira. Clary o observou se afastar, enquanto amedrontava-se de sua última sentença.

O noivado dela.

Não podia ser verdade! Ela era a filha mais nova e já haviam muitas noivas interessadas em Sebastian para que preparassem o noivado dele... E Jace! Por Deus, o que ele havia falado mais cedo? Perdeu uma conversa incrível sobre casamentos arranjados.

O dele também estava sendo preparado.

Será que aguentaria? Ver Jace se casando com outra pessoa? Tendo filhos? Ainda mais depois de terem se beijado? O que, aliás, só ajudou para que Clary se sentisse ainda mais culpada e imunda.

– Vai ser bom – disse uma voz atrás dela – no final das contas.

O coração dela deu falha nas batidas. E, ao se virar, encontrou Sebastian encarando-a da soleira da porta. Os cabelos prateados estavam bagunçados, caindo pela testa, e seus olhos escuros se mantinham fixos nos dela.

– O que vai ser bom? – ela perguntou, lutando contra a vontade de correr para não precisar olhar o irmão mais velho nunca mais em sua vida.

– Vamos ficar um tempo juntos, você e eu – explicou, dando de ombros – vai ser bom.

Clary sentiu que iria desmaiar.

– Você não vai ao casamento? – perguntou, boquiaberta.

– Não. Papai disse que precisava de alguém para tomar conta de você e mamãe... Sabe, alguém com exceção dos empregados. Ele ia chamar um dos Lightwood, mas eu me propus a fazê-lo.

Clary sentiu os dedos tremendo. Era como se ele tivesse dito que queria mata-la e só estava esperando o pai sair para isso! Ela não tinha ideia do que fazer. Sebastian dissera que pediria coisas dela, que não tornaria seus sentimentos fáceis... O que seu irmão faria que tornaria tudo pior do que já está?

Ela com certeza não queria saber.

– Por que está fazendo isso, Sebastian? – ela perguntou – não é culpa minha...

– É sim. – ele disse num tom baixo, porém rígido – é culpa sua. Não pode amar Jace dessa forma!

– Por quê?

Ele parou de falar. Seus olhos se perderam no rosto dela, como se estivesse lendo o texto de uma língua desconhecida e alguém estivesse pedindo para que traduzisse. Ele gaguejou, e Clary se surpreendeu ao vê-lo gaguejar, pois nenhum Morgestern gaguejava (com exceção dela, é claro).

– Não interessa – Sebastian falou, enfim – quero que passe no meu quarto mais tarde. Precisamos conversar sobre uma ajuda que você me dará.

Virou de costas, mas antes que desse um passo, Clary o chamou:

– Sebastian!

Ele se virou, confuso. Ela já estava chorando, com lágrimas que caíam desesperadamente de seus olhos vermelhos, mas o irmão não perguntou a razão para isso. Talvez pensasse que as lágrimas só eram para Jace.

Clary deu um passo na direção dele, depois mais um.

– Suas iniciais são SM? – ela perguntou, como havia perguntado quando tinha seis ou sete anos e estava aprendendo a soletrar tardiamente – de “Só Meu”?

Algo brilhou nos olhos escuros dele. Clary imaginou que ele não se lembraria, ou que sairia mesmo assim sem respondê-la. Na verdade, Sebastian ficou de costas para ela, e demorou tanto a responder que quase não o fez.

Então disse:

– Eu poderia responder isso com a primeira letra do seu nome – falou, tão baixinho que ela só escutou porque sabia o que ele iria responder.

– Como? – perguntou, tentando impedir o rio de lágrimas.

Com Certeza.

Clary sorriu, embora ele não pudesse ver. E antes de perguntar se ele ainda a amava (mesmo agora), Sebastian saiu rapidamente da sala. E ela ficou sozinha novamente, apenas com lembranças e sentimentos angustiantes.

Muito parecida com a mãe.

. . .

Mansão Morgestern, oito anos antes...

A garotinha com cabelos ruivos como fogo estava sentada na varanda da casa, observando os morros verdes como seus olhos serem banhados pelo brilho dourado do sol que se punha. Ela encarou por vários instantes, que pareceram segundos, antes de alguém sentar ao seu lado.

Era o irmão mais velho, Sebastian. Ele encarou o morro com ela, sério. Sebastian sempre estava sério, mesmo aos nove anos.

– Conseguiu soletrar o seu nome? – perguntou ele, curioso.

Clary lembrou-se que a mãe estava treinando isso com ela mais cedo, e que a pequena havia saído triunfante da atividade.

Sorriu para o irmão, radiante como o sol entre os morros.

– Consegui! – disse.

– É mesmo? – Sebastian podia estar sério, mas havia um sorriso divertido em seus olhos – mostra.

– C-L-A-R-Y – ela sorriu mais, chegando a revelar um buraquinho na gengiva onde deveria estar um dos caninos – Clary.

Sebastian fez uma cara pensativa.

– O que foi? – Clary perguntou, temendo que algo estivesse errado.

– Você não sabe soletrar seu sobrenome?

Clary balançou a cabeça.

– Mas sabe suas iniciais, não é? – Sebastian tornou a perguntar.

– Sim! – ela exclamou – CM!

– E as minhas são SM.

Clary pensou um instante.

– SM de “Só Meu”, certo? – perguntou rindo, pois desde pequena sabia que o irmão mais velho era o único na casa que não fazia questão de chateá-la. Ele e a mãe.

– Eu poderia responder isso com a primeira letra do seu nome – falou, meio que se gabando – duas vezes.

Clary ficou boquiaberta.

– Como? Como?

– Com Certeza – respondera.

Clary ainda checou para ver se o irmão tinha respondido certo. E de fato tinha. E ela não sabia o quanto ele gostava dela, pois Sebby nunca dava uma risada sequer. Ao contrário de Jace, que ria tanto quanto explodia de ódio, quando pequeno.

Ela resolveu perguntar.

– Seb.

– Hum?

Ela olhou para o morro.

– Você me ama?

A resposta sequer demorou.

– Claro!

Ela olhou para ele e sorriu. E jurou que viu uma leve curvatura nos lábios do irmãos.

– Claro com C, de Clary? – perguntou ela.

– Claro com C, de Clary – ele respondeu.


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Notas finais do capítulo

Assustei os Clace shippers com o título do capítulo?? kkkkk espero que não.

Bom, gente eu espero que vocês tenham vomitado arco-íris nesse cap que fiz com tanto carinhoooo