Facilis Densensus Averno escrita por Heosphoros


Capítulo 11
Breu Total


Notas iniciais do capítulo

"Uma coisa que você aprende à medida que se envelhece, é que quando as pessoas falam alguma coisa negativa a respeito de si próprias, geralmente é verdade"

Cassandra Clare



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– O que você fez para machucar essa garota?

Magnus Bane ainda não tinha ido embora. Estava parado na varanda, esperando que Sebastian separasse todas as moedas de ouro que prometera a ele por ajudar sua irmã. Faltava só algumas que colocou no bolso para completar com as que colocava na mão do curandeiro, mas ele parou o exercício para encará-lo.

– Não a machuquei – Sebastian respondeu, sabendo que era a maior das mentiras.

– Não perca seu tempo enganando a si mesmo, Morgestern – Magnus disse, sem sequer erguer os olhos para ele – escutei os berros da garota. Estava bem irritada com você... E a julgar pelo ferimento de bala na barriga dela...

Sebastian deu um passo para frente, a fúria esquentando todo o seu corpo. Seu olhar para Magnus Bane foi tão afiado quanto uma espada.

– Isso não é da sua conta.

Magnus apenas sorriu.

– Tudo é da minha conta... Mas não vou insistir nisso – então ergueu os olhos de gato, que exibiam um brilho levemente ameaçador – só saiba que se você destruir essa garota, o próprio Universo vai cuidar de você.

Sebastian tirou a última moeda e depositou nas mãos dele, os olhos negros também brilhavam em pura raiva.

– Isso é uma ameaça? – perguntou.

– Uma promessa.

Recolhendo seu pagamento, Magnus Bane virou de costas e seguiu seu caminho para o cavalo marrom que o esperava. Subindo em sua montaria com a postura de um príncipe, ele virou o rosto na direção de Sebastian, que residia imóvel na porta da mansão.

– Espero que façamos negócio de novo – Bane gritou, então saiu dali a rápidos galopes.

Bane – Sebastian murmurou entredentes, como se fosse um palavrão.

Entrou em casa. Os lábios ainda estavam formigando depois do selinho na irmã. Fora algo fraternal, simples e típico do que crianças costumam fazer quando possuem irmãos. Claro que, para ela, foi só isso também.

Ele suspirou. Tinha coisas para cuidar e pensar, aquele amor doentio não o levaria a lugar algum e era melhor que parasse de se doar tanto para ele. Dirigiu-se para a Sala de Jantar.

Em cima da longa mesa havia uma garrafa numa bandeja, junto com uma taça de ferro. Embaixo da taça, tinha um bilhete dos criados.

Senhor Sebastian, seu pai geralmente se encarrega disso, mas pediu para que você ficasse responsável essa semana para dar os medicamentos para a sra. Morgestern.

Apenas aquilo.

Sebastian rosnou. Por ele, Jocelyn poderia morrer sem aquele remédio ou ter quantos ataques de nervos fossem necessários. Tecnicamente, ela já estava morta para ele. Enterrada e soterrada no círculo mais profundo do Inferno.

Mas não para Valentim.

Essa insistência que o pai dele tinha em achar que aquela mulher um dia vai melhorar, que um dia vai amar os filhos, que um dia vai deixar de ser uma completa vadia mentalmente doente, era em vão.

Sebastian sabia que não era possível.

Obedecendo, mesmo assim, às ordens do pai, ele pegou a bandeja e subiu as escadas em direção ao segundo andar. Passou pelo extenso corredor, olhando com um peso no coração para o quarto de Clary e com ódio para o de Jace. Direcionou-se para frente, até a última porta.

Pegou a chave de ferro que estava na bandeja e girou-a na fechadura prateada. A porta rangeu ao ser empurrada para frente.

Lá dentro estava um breu total.

Como instruído, ele colocou a bandeja em cima da mesinha de cabeceira perto da porta.

Estava pronto para sair.

– Valentim? – uma voz sussurrou em algum lugar da escuridão do quarto.

Sebastian estremeceu. Nunca imaginou que ela ainda soubesse falar.

– Não. – respondeu.

Silêncio. Bem longo.

Enfim, a voz voltou. Sebastian podia ouvir a melancolia e o desgostos misturados na voz rouca e fraca de Jocelyn Morgestern.

– Sebastian?

Ele deveria sair. Tinha que sair. Mas não resistiu. Talvez aquela fosse sua única oportunidade de mostrar àquela mulher o quanto ele a odiava.

– Oi, mamãe – ele respondeu com amargura.

– Não quero esse remédio.

– Você precisa.

– Não.

Ele revirou os olhos. Não podia vê-la, mas a repulsa que sentia no fundo da garganta só em ouvir sua voz e saber de sua presença tão perto dele não se tornava menor. Encostou-se na parede, com toda a paciência do mundo, e esperou.

– Por que você dificulta as coisas, Sebastian? – ela perguntou.

– Eu dificulto as coisas? – ele elevou um pouco a voz – não sou eu quem se recusa a tomar a porcaria de um remédio...

– Você sabe que esse remédio não me faz melhorar, não sabe?

A respiração dele falhou.

– O quê?

– Você nunca me visitou – ela disse, a melancolia vencendo a amargura – nunca se preocupou com minha saúde...

– Por mim você poderia estar morta.

Silêncio.

Depois de alguns minutos, ela tornou a falar.

– Por que me odeia?

Ele piscou os olhos no escuro.

– Você me odiou primeiro! Esqueceu? – algo ardeu como água fervente em seu peito – Valentim me disse, que nem me amamentar você amamentou. Não me pegava no colo, não me beijava. Eu lembro quando Jace chegou... Era como se ele fosse o filho que você sempre esperava. O órfão. O coitadinho. E eu era só uma espécie de objeto para enfeite!

– Eu errei, Sebastian – ela disse – sei que errei. Tive depressão porque não amava mais seu pai. Comecei a odiar Valentim quando descobri quem ele era de verdade. Eu o odiei com tanta força que a felicidade que ele sentia ao te ver se tornou o oposto para mim. Quando Jace chegou, foi como se ele fosse algo à parte. Um filho que poderia ser só meu, se eu me empenhasse... Valentim não se alegrou e eu tomei seu desinteresse como um interesse para mim.

– Isso é doentio – Sebastian falou com nojo – espero que saiba.

Uma longa pausa.

– Sabe porque estou aqui? – ela perguntou.

– Por que a família era feliz e você queria que todo mundo se odiasse – ele arriscou.

– Não. Eu me apaixonei.

Foi como um tiro nas costas dele.

– Que?

– Sim, Sebastian. Clary tinha seus quatro ou cinco anos e eu conheci um homem. Amigo de seu pai, mas tão diferente dele. Gentil, compreensivo... Eu e ele começamos um caso. Quando eu estava pronta para sair da Inglaterra com você, Clary e Jonathan, Valentim descobriu...

Ela parou, como se falar doesse.

– Lucian foi encontrado morto no dia seguinte – completou.

– Lucian? O cara de confiança da Rainha Imogen?

– Não dela, mas do filho dela. O cunhado dele, que também morreu. Stephen.

– Pai do Jace... – ele sussurrou, então olhou para a escuridão – não pense que eu te odeie menos por causa dessa historinha, Jocelyn.

– Mas sabe que não sou louca, não sabe?

Sebastian hesitou antes de falar. Ao olhar para frente, só via a escuridão. Um breu gélido de um quarto repleto de lembranças ruins. Não deveria se intrometer, ou voltar lá, não importa o quanto aqueles instintos e sentimentalismos fracos o puxavam para dentro.

– Tome seu remédio, Jocelyn.

O choro dela a seguir foi alto e desesperador.

Ele ignorou.

Saiu do quarto.

A porta se fechou num baque surdo.


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Notas finais do capítulo

Acho que vou colocar um pouco de Clastian no próximo capítulo.. o que acham??? rs

Ah, espero que tenham gostado da participação da Jocie ;)