P.O.V TOBIAS

Tobias ainda estava na sala do seu apartamento aguardando Christina. Ele tentava não pensar em nada. Deixar a mente vagar para ele ainda era uma tortura, seus pensamentos sempre se voltavam para Tris. Ele recordava cada momento que havia passado com ela, e se crucificava por sua morte. Ele devia saber que ela se sacrificaria no lugar do irmão. Ele nunca se perdoaria por esse erro. Havia passado tanto tempo e mesmo assim ele se martirizava analisando cada decisão tomada por ele naqueles dias.

Pouco tempo após a saída de Christina a mesma retornou com uma expressão estranha no rosto. Parecia que transtornada com algo. Ele rapidamente considerou que Caleb provavelmente havia feito algo para deixá-la naquele estado. Ele tentava evitar, mas não conseguia perdoar Caleb e sempre esperava o pior dele.

— Tem duas pessoas aqui que querem conversar com a gente. Já chamei os outros. É algo sobre...Tris - disse Christina parecendo insegura. Ela devia saber sobre os sentimentos que ele ainda, inutilmente, guardava pela falecida namorada. Ele se sentia mal por deixar isso transparecer tão claramente a ela, não mais conseguia evitar. Tris sempre seria eterna para ele.

Tobias arqueou as sobrancelhas em dúvida:

— O quê? Como assim... que estória é essa? - ele respondeu obviamente confuso com tudo aquilo.

— Eu não sei o que é, mas parece importante.

Ele levantou tentando parecer calmo. Não podia perder a cabeça tão cedo, só por ouvir o nome de Tris. Christina não merecia isso. Seguiu Christina pelos corredores em silêncio, seguindo em direção ao que ele sabia ser o apartamento de Caleb. Chegando lá, ele constatou que Cara, Zeke e alguns outros, além do próprio Caleb se encontravam lá. No canto estavam duas pessoas que eram desconhecidas para ele, um homem moreno e uma mulher de marcantes cabelos vermelhos. Eles pareciam desconfortáveis.

— Bom, já posso começar o assunto que me trouxe aqui ou tem mais alguém que eu deva esperar ter a bondade de aparecer - o rapaz perguntou de forma sarcástica.

— Humm, acho que você já pode começar - respondeu Caleb em um sussurro. Caleb encarava Tobias como se não tivesse certeza se a presença dele era uma coisa boa.

— Bom antes de começar gostaria de contar a vocês sobre o Doutor. Do outro lado deste do nosso país há um homem conhecido como Doutor Zank. Tenho certeza que nenhum de vocês jamais ouviu falar sobre ele. E provavelmente nunca ouviriam se não fosse por este nosso pequeno encontro. Nem eu que o conheci sei muito sobre ele para falar a verdade. Ele é um homem que trabalha por trás dos panos e digamos é muito discreto quanto a suas ... atividades. - o rapaz começou a contar parecendo cada vez mais desconfortável com tudo isso. - Quando o chamamos de Doutor, pode parecer a vocês que ele se trata simplesmente de um simples médico, não acreditem, ele com certeza não é apenas isso. Ele é um médico sim, mas também é um pesquisador. Bem não sei exatamente com defini-lo, mas digamos que ele lida com experimentos, ele lida tanto com o corpo, quanto com os cérebros dos indivíduos com os quais ele lida. Mas os experimentos são com certeza sua maior especialidade e prioridade. Ele recebe um alto valor do Governo para manter esses "experimentos", mas não sabemos o quanto o Governo realmente sabe sobre os experimentos dele. Estou sendo claro? - ele perguntou analisando cada rosto a sua frente. Tobias sentiu o nervosismo aumentar, ele queria saber logo o que Tris poderia ter haver com aquilo tudo que ele estava contando. Antes que ele próprio pudesse se manifestar, Christina o fez respondendo em um tom de voz ríspido:

— Estamos, nós não somos um bando de burros. Mas acho que todos queremos saber o que tudo isso tem a ver com Tris.

— Bem como eu disse antes da morena bonita me interromper, Doutor Zank é principalmente uma pessoa obcecada com seus experimentos. A maioria dos experimentos é questionável. Vocês já devem ter ouvido falar sobre a questão dos genes defeituosos. Isso é só algo que o bom Doutor analisa. Mas existem outros experimentos que conseguem ser piores, acreditem. O que vou falar agora pode parecer loucura, vocês com certeza vão ter muita dificuldade em aceitar. Mas eu garanto que tudo o que vou dizer é verdade, por mais estranho que seja. – ele respirou parecendo não ter certeza se deveria continuar com suas revelações. –Digamos que um dia o doutor quis brincar de ser Deus, ele acreditou que poderia desafiar a morte. Ele quis criar a vida onde havia a morte. Tentar trazer de volta a vida, pessoas que haviam falecido, através da ciência. Não sei como escolheu suas cobaias, mas sei que ele viu nessas pessoas características que o interessavam.

Todos ainda estavam em silêncio, mas Tobias percebeu nos olhares confusão e incredulidade. Ele próprio estava achando aquilo tudo uma grande farsa, uma mentira cruel. Em vez de nervoso Tobias agora estava se sentindo enfurecer com toda aquela estória. Mas pareceu que o rapaz não percebeu, ou não se importou, com os olhares e continuou:

— Sei que tudo é difícil de acreditar, mas não estou mentindo, nem sou louco. Não sou um cientista, não posso dizer como ele acreditou que poderia fazer isso. Posso apenas dizer, que ele tentou durante muito tempo fazer esse experimento dar certo. Também sei que ele procurava pessoas que haviam morrido a pouco tempo. O tempo neste caso é uma questão muito importante. Ele teve vários fracassos em seus testes, mas não desistiu. Estudou, analisou e desenvolveu o experimento. Até obter êxito. Não sei como ele fez, mais o importante agora é que ele conseguiu. Seu primeiro
êxito ele nomeou de indivíduo zero. Mas acreditem ele não parou por aí. Ele continuou com os experimentos. E na maioria dos casos ele novamente conseguiu. Não sei se vocês entenderam, mas quando eu disse que ele conseguiu, quero dizer que ele realmente conseguiu trazer essas pessoas de volta a vida.

As pessoas estavam cada vez mais incrédulas e olhavam para o rapaz como se ele estivesse louco. Tobias entendia os outros, aquela era uma estória completamente maluca. Até mesmo Caleb parecia achar aquilo tudo ridículo.

— Esses indivíduos, como são chamados pelo Doutor, ficaram trancafiadas em um "hospital" onde o Doutor pudesse escondê-los e analisá-los. Eles tiveram a memória apagada e eram controlados pelo Doutor. Mesmo assim, digamos que alguns desses experimentos conseguiram fugir do "hospital" e do controle do Doutor. Uma das fugitivas é minha amiga. Ela é o experimento zero, o primeiro que deu certo, o Doutor sempre teve uma obsessão por ela. Já faz anos que ela foi reiniciada, sempre se mantendo longe do alcance dele. Até dois meses atrás, quando ele finalmente a encontrou. Ele não fez nada, por isso podemos ter considerado que ele iria deixá-la em paz. Mas ela sumiu, na verdade fugiu, há alguns dias e estamos muito preocupados com isso. Depois que ela sumiu invadi o hospital e roubei a ficha dela, acreditem isso não foi nada fácil. A única referência ao passado dela era este lugar. Por isso estamos aqui. – o rapaz interrompeu a fala durante alguns segundos, voltando a analisar o rostos das pessoas. - Não posso garantir que ela realmente tenha nascido ou morado aqui. Não sei se analisar um passado da qual a própria não se lembra me ajudará a encontrá-la.

—Você não parece saber muitas coisas - Tobias enfim de manifestou deixando escapar em suas palavras toda a fúria e descrença que ele sentia. ainda não entendia o que tudo aquilo tinha a ver com Tris, mas não estava gostando nada do rumo da conversa. A pergunta de Tobias pareceu tirar os outros do torpor que se encontravam, todas as pessoas pareceram começar a falar ao mesmo tempo. A maioria ria e debochava.

— Você ainda não disse o que toda essa sua estória ridícula e falsa tem a ver com Tris. - Caleb interrompeu o falatório.

— A garota do qual falei se chama Beatrice, e eu desconfio que a Beatrice de vocês e a nossa é a mesma pessoa.