Ressurgente escrita por Let B, Muh


Capítulo 55
Capítulo 55


Notas iniciais do capítulo

Hey
Eu sei que demorou. O que aconteceu foi que no capítulo passado só uma pessoa comentou :(
Então desanima, né gente?


*DM, muito obrigada por comentar!!
* O capítulo estava até pronto faz um tempo, mas tinha esperança de mais gente comentar
Enfim, aproveitem!



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DIA 3

P.O.V CALEB

Munido de água, comida e uma arma, sim isso mesmo, uma arma, Caleb partiu para sua missão de encontrar Eleonor. Havia pegado uma das armas que tinham no departamento, mais por garantia. Esperava mesmo não ter que usá-la, até porque ele nem mesmo sabia se conseguiria. Uma vez, há muitos anos, sua irmã havia lhe ensinado a atirar. Mas não era como se ele tivesse passado todo esse tempo depois treinando.

Ele sabia que havia muitos soldados espalhados pela cidade. Mas Eleonor e Charles haviam conseguido, então porque ele não? Além disso, ele tinha a vantagem de conhecer a cidade. Saberia seguir os caminhos pelos quais não seria achado.

Viajar sozinho era bom. Ele poderia ter um tempo para pensar. Voltou a mente para a última conversa que teve com a irmã. Na maior parte do tempo, ela agiu como sempre agia depois que voltou. Mas então, no final, foi estranho. Será que ela se lembrava de algo?

Ele queria que ela lembrasse, mas ao mesmo tempo, tinha medo. Ela já sabia o que ele havia feito antes, mas se ela lembrasse, ele sentia que aquilo se tornaria concreto. E mesmo que ela o tivesse perdoado antes de morrer, será que ainda se sentiria desse jeito agora?

Ele entendia a raiva dela na época, no início  talvez não, era egoísta demais para isso. Ele achava que tinha motivos para agir do jeito que agiu, afinal, o lema não era facção antes de sangue? E desde que começou a compreender o mundo, ele percebeu que não pertencia ao lugar onde nasceu . Toda aquela gente que vivia em função dos outros, que não questionava, não tinha vaidade, não tinha nada, só o desejo de ajudar outras pessoas. Ele não. Ele tinha muitas coisas dúvidas, questionamentos, curiosidade, sede de conhecimento, egoísmo, e um ótimo talento para enganar os outros. E foi assim que viveu todo o tempo na Abnegação, mentindo e enganando, fingindo se encaixar nos ideais da facção. Era quase um desafio para ele, usar sua inteligência para fingir pertencer ao bando. Beatrice não tinha o mesmo dom, nem a paciência que ele tinha. Antes dela mesmo saber, ele já imaginava que ela não escolheria a Abnegação, apesar que o fato dela ter escolhido a Audácia foi uma surpresa e tanto para ele.

Lembrava como se sentiu na primeira vez que pisou na Erudição: enfim em casa. Cada momento era especial e novo para ele. Trabalhou duro e dava o máximo de si nas tarefas, ele não queria ser mais um, queria ser o melhor. Foi vaidoso e tolo. Acabou chamando a atenção de Janine, e o fato de ser filho de membros da Abnegação também ajudou, é claro. Ele seria capaz de fazer qualquer coisa pela sua facção, e de fato fez.  Ele estava embriagado em sua própria vaidade e certeza de que estava fazendo o certo. Demorou muito tempo para a ficha cair, só chegou a compreender realmente a extensão de tudo o que tinha feito depois que Beatrice se sacrificou. Mas aí, já era tarde demais para consertar. Agora ele tinha ganhado uma nova chance e sentia que estava estragando. Lembrando ou não do passado, sempre haveria o peso da traição entre ele e a irmã.

...

Durante o caminho, viu vários soldados. Não parecia ter tantos quanto ele imaginava, e pareciam tensos.

Quando chegou mais próximo, percebeu o porquê de haver tão poucos soldados pelo caminho. A grande maioria estava instalada no centro, seria impossível entrar sem ser visto. Analisou suas opções. Precisava descansar e pensar. A questão era onde.

 

P.O.V DOUTOR

— Senhor, considero prudente seguirmos as ordens recebidas do governo. – o doutor olhou entediado para o homem a sua frente. Ele era o capitão ou coronel ou general... Algumas dessas coisas. Essas coisas não importavam a ele.

O que importava a ele era a audácia do homem em ir até ali pressioná-lo. Mas ele tinha que manter a calma. Havia conseguido o apoio da maior parte dos soldados após a morte de Jacob. O boato que foi criado, e que ele alimentou, sobre o governo ter sido responsável pela morte de Jacob, foi um divisor de águas em sua relação com os soldados. Eram uns estúpidos em acreditar nesta história ridícula de um agente infiltrado.  Mas agora eles tinham um motivo pelo qual lutar, e isso era bom. Motivos eram inspiradores e levavam os seres humanos a lugares onde nunca chegariam sozinhos. Matar um dos comandantes, não deixaria os soldados felizes. E ninguém era suficientemente idiota para acreditar na mesma história de agente infiltrado, não duas vezes.

— Entendo sua preocupação, capitão. - Ele respondeu, tentando parecer pensativo. – Mas garanto que esta ameaça não passa de um factoide. Tenho estreitas relações com o governo e esta missão foi autorizada por eles. A senhorita Beatrice é uma criminosa perigosa ligada a o grupo anarquista conhecido como Revolução e uma ameaça à nação. Ela também sofre de graves transtornos mentais e tem delírios conspiratórios. Somando os dois fatos, ela pode ser considerada uma bomba relógio. É do interesse do Governo capturá-la.

— Na verdade, é tenente, senhor. Tenente Smith – respondeu o homem, um pouco ríspido pelo pequeno erro. – Mas foi Mitchell, o principal agente de segurança do presidente, quem deu a ordem.

— Irrelevante. – Zank respondeu como se espantasse um inseto irritante. – Esse homem deve estar agindo por algum interesse específico pessoal, mas garanto que não é pelo interesse do governo. Pense, tenente, se por acaso o governo quisesse parar isso, não mandaria um homem de recados, mandaria uma tropa.

O doutor percebeu que tinha pegado o tenente nessa. O militar se retirou, ainda preocupado, mas convencido.

De fato, dar um prazo para a retirada dos soldados era algo curioso. Isso significava que o presidente não queria criar um conflito aberto com ele, o homem o temia. Isso era bom para o doutor. Entretanto, ele não tinha certeza se desobedecer às ordens dadas pelo presidente fosse algo muito inteligente de se fazer. Isso poderia lhe render alguma acusação, e arruinar sua carreira e reputação.

Ele precisava resolver tudo isso o mais rápido possível, e deixar a cidade. Passar um tempo fora do radar e esperar a poeira baixar. Sim, sim. Era isso que ele precisava fazer.

...

Zank não era quem era sem razão. Ninguém nunca o chamaria de estúpido ou ignorante. Ele era um visionário. Era racional, engenhoso e argucioso. Tudo o que ele conquistou foi graças à sua inteligência acima do normal e seu brilhantismo. Por isso, pressentia quanto algo lhe parecia errado.

Ele sabia que um recado de Beatrice iria chegar, pois já havia sido prevenido por Charles. Charles, seu filho, não tão brilhante, mas dono de uma moral extremamente duvidosa. Mas era seu filho, tinha que confiar em suas palavras, não é?

Mas fora tudo tão certeiro, tal como tivesse programado.

E ele tinha que pensar em Beatrice também. Essa sim era alguém que poderia desafiá-lo quase igualmente em astúcia. Sua menina não era tola. Mas parecia estar agindo como uma. Primeiro, deixou Charles e a outra garota escaparem. Erro número um. Mesmo sabendo que Charles poderia ter chegado ao pai, não seria mais prudente mudar os planos? Erro número dois. Iria, segundo Charles, jogar um blefe no Doutor, subestimando sua inteligência. Erro número três. E depois, planejava se entregar em troca da cidade, caso seu blefe não surtisse efeito. Como se o doutor pudesse simplesmente sair da cidade daquele jeito e esperar que tudo fosse esquecido. Erro número quatro. Eram muitos erros, e ele não conseguia ver a garota esperta que ele, de certa forma havia criado, cometendo tantos erros. Não, não. Algo estava errado.

Estava ligeiramente curioso para saber exatamente o que diria nessa mensagem que a fez tão importante para Charles enfatizá-la. Talvez era o que faltava para livrar suas dúvidas sobre a sua menina. Porém, não podia esperar até isso acontecer, já que Charles não havia especificado alguma data.

Pensando nisso, ele havia chamado seu mais novo braço direito, Simons. Um ser fascinante. Tinha um grande apreço pela violência e felicidade em infringir dor nos outros. Era um das pessoas que tentam esconder seu lado sombrio, e arrumam empregos onde a violência era considerada um mal necessário, para suprimir livremente seus desejos mais profundos.

— Não sei se já disse, mas é uma honra estar trabalhando para o senhor, doutor. Admiro muito seu trabalho. - Simons começou, feliz como uma criança numa manhã de Natal. O doutor resolveu ignorar a bajulação.

— Ora, meu caro. Eu me sinto extremamente satisfeito por ter ao meu lado um soldado tão leal quanto você. - o doutor começou. Achou que aumentar o ego do homem seria extremamente útil. - Bom, preciso discutir com você sobre as ordens que te dei.

— Ah, senhor. Está falando do tal Tobias? Ainda não tive tempo, muitas coisas acontecendo, mas prometo interrogá-lo o mais rápido possível. - Respondeu nervoso.

— Ah, não. Esqueça isso. Tenho outra tarefa para você, muito mais importante. E bem, delicada.

— Entendo. - respondeu o homem abatido, imaginando que perderia sua diversão. Um verdadeiro sádico.

— Preciso que você interrogue outra pessoa. - o doutor suspirou, fingindo tristeza e vergonha. - Infelizmente sinto que uma pessoa muito próxima a mim esteja mentindo. Eu odeio ter que interrogá-lo e tratá-lo dessa forma, mas não posso permitir que isso aconteça. Preciso também de sua total discrição sobre isso. Como eu disse antes, é uma situação muito delicada e terrível para mim. Você entende, Simons?

— Sim, senhor. Serei discreto. Quem o senhor deseja que interrogue?

— É com pesar que digo que é Charles, meu filho.

Se o soldado ficou surpreso, não demonstrou.

O doutor pontuou o caráter emergencial da tarefa, o que basicamente queria dizer que ele queria que o outro fizesse isso agora. O soldado entendeu e levantou-se pronto a cumprir o que lhe fora delegado. Zank o acompanhou até a porta, e antes que ele saísse, frisou:

— Não sinta que deva pegar leve por ele por ser meu filho. Faça o que for necessário para descobrir o que ele está escondendo.

P.O.V ELEONOR

Se havia algo que Eleonor tinha aprendido no hospital era se esgueirar pelos lugares sem ser vista. E desde que ela havia chegado, começou sua exploração pelo lugar. Queria conhecer cada pedaço daquele prédio. Entradas, saídas, tudo o que pudesse descobrir, em caso de algo dar errado.

Alguns lugares eram um pouco inacessíveis para ela, como os aposentos do doutor. E também era assustador para ela só pensar em entrar lá, por isso mantinha certa distância segura do lugar.

Outro lugar que estava um pouco difícil conseguir acesso, era o quarto onde um prisioneiro, estava. Havia sempre alguém vigiando. Às vezes, ela via entrar um homem, provavelmente mais um soldado, na sala e sair rapidamente. Eleonor não gostou de cara dele. Não sabia bem o porquê, só sabia que havia algo de assustador e que fazia seus pêlos arrepiarem toda vez que o via.

Esgueirou-se lentamente até o quarto onde Charles estava. Gostava de manter um olho nele, por via das dúvidas. Seguiu pelo corredor, mas logo ao fazer a curva viu o homem que lha causava arrepios em frente à porta do quarto. Viu Charles o atendendo confuso e o deixando entrar.

Eleonor permaneceu imóvel esperando. Ela não fazia ideia do que ele poderia querer com Charles. Apenas quando ouviu, após alguns minutos Charles grunhindo de dor, que percebeu o que estava acontecendo. Merda, pensou.

Para que aquele homem estivesse torturando Charles, ele tinha obviamente autorização do doutor. Tudo bem que ela conhecia famílias disfuncionais, mas aquilo era abominável.

Eleonor precisava agir. Charles bancava o durão, mas no fundo,era um ratinho covarde e medroso. Ele acabaria contando tudo o que o homem quisesse saber, uma hora ou outra.

Ela precisava arrumar um jeito de sair dali o mais rápido possível. Mas para onde iria? Voltar para o departamento? Ela achava que conseguiria fazer o caminho de volta, sempre fora muito observadora, e podia lembrar do caminho. A questão era que de qualquer jeito algum soldado acabaria a encontrando.

Ela precisava da ajuda de alguém da cidade, alguém que conhecesse a cidade como a palma da mão, que soubesse quais eram os melhores lugares para se esconder.

Eleonor sorriu. O prisioneiro.

 P.O.V TOBIAS

Tobias tentava se concentrar em achar alguma coisa que fosse ajudar Zeke ou Beatrice. Mas assim que amanheceu a atmosfera do lugar parecia estranhamente diferente. Primeiramente, por não ter recebido a pequena porção que lhe davam ao amanhecer para não morrer de fome. Depois, o fato que Adam Simons passar direto por ele, sem nem uma checada. Mesmo não tendo o interrogado, era costume lhe lançar um olhar nada amigável.

Realmente queria que Zeke o resgatasse o mais rápido possível, pois podia ver pelos olhos de Simons que seus métodos de interrogatório não seriam  nada parecidos com os de Jacob. Não sabia o que queriam de informação com ele no momento, pois tanta coisa tinha mudado e ele não estava a par de praticamente nada. Deus, nem sabia qual era o plano de Beatrice para salvar a cidade.

Tobias mexeu um pouco no rádio para ver se Zeke e Beatrice estavam conversando ou chamando por ele. Tinha que desligar o aparelho com certa regularidade, afinal, se chamasse na hora que um soldado estava passando, certamente, teria problemas. Mas não achou nada.

Colocou a cabeça no travesseiro um tanto frustrado.

— Ei! — uma voz sussurrou atrás de Tobias, que virou-se rapidamente pelo simples fato de ser uma voz feminina.

Tobias se viu de frente de uma garota de olhos verde-esmeralda realmente chamativos. Ela estava abaixada e olhava para os lados, como se estivesse fugindo de algo. Ele não tinha ideia de quem era.

— Quem é você? — Tobias percebeu que deveria sussurrar também.

Ela pareceu hesitar.

— Uma... aliada, eu diria. Vou te ajudar a sair daqui.

Tobias semicerrou os olhos. De repente alguém aparecia ali para ajudá-lo a sair? Algum tempo depois de falar com Zeke sobre o assunto. Parecia uma extrema coincidência, não?

— Quem é você? — repetiu.

— Ah, droga. Eu estou com a... Revolução, sabe? Tô caindo fora enquanto dá, e se você está aqui preso não deve ser amigo do Doutor.

Aproximou-se da garota, cruzando os braços. Ela devia ser uma das pessoas que Beatrice havia citado como aliados, , entretanto, tinha que ser cuidadoso, não queria se meter em mais problema confiando em qualquer um. Você confiou no Jacob, idiota, pensou. Certamente, Jacob parecia muito menos confiável do que a garota. Mas aprendeu com amigas suas (e Beatrice, principalmente) que garotas com caras inocentes podiam ser bem assustadoras as vezes.

— Só aceita a ajuda. Está bem? E aí você me ajuda a sair desse prédio.

— Agora eu entendi. Ajuda mútua, então? — a garota assentiu. Ele ficou tentado a perguntar se ela conhecia Beatrice, mas talvez, fosse melhor falar sobre isso após saírem dali, isso é, se conseguissem. — Certo. Como planeja me tirar dessa cela?

— Eu andei por aqui um pouco e tem uma sala onde estava cópias de todas as chaves, por segurança acho. A sala estava trancada, mas não era nada que um grampo de cabelo não resolva. — ela ergueu uma chave pequena e sorriu. — Eu sou Eleonor.

— Tobias. — respondeu sorrindo enquanto a porta era aberta da maneira mais silenciosa que Eleonor conseguia.

Respirou fundo antes de dar um passo para fora de sua cela. Finalmente estava livre. Aquele lugar era apertado, desconfortável, fedido. Na verdade, Tobias mesmo não estava nem um pouco cheiroso por causa do tempo sem tomar um bom banho. Sem falar do seu hálito.

Ele esticou os braços e costas enquanto era observado por Eleonor. Então, de repente, uma ideia apareceu em sua cabeça. Seria sua ajuda para Beatrice e Zeke, para compensar o fato de ser aquele que teve que ser resgatado como uma princesinha.

— Espera. — disse a Eleonor a vendo começar a andar — Eu tenho que fazer uma coisa antes.

— O quê?? Não temos tempo para isso!

— É rápido, eu juro. Você tem papel e caneta? — a expressão irritada e confusa de Eleonor gritava “não” — Tudo bem. Tudo bem. Sabe arranjar um por aqui? A gente saí daqui em seguida, prometo. É importante.

— Não! A gente tem que sair a-go-ra. — ela cerrou os punhos.

— Então você vai sem mim. — cruzou os braços.

Eleonor arregalou os olhos e puxou os cabelos. Parecia que queria arrancar o pescoço de Tobias fora. Ele não podia culpá-la, óbvio, entretanto estava mesmo determinado a fazer esse favor aos amigos e se Eleonor soubesse onde encontrar papel e caneta (ou qualquer coisa que pudesse ajudá-lo) seria fácil e logo estariam fora.

— Que tal alguma coisa para eu escrever na parede? — Tobias colocou a mão no ombro da garota que foi empurrada drasticamente.

— Hã, um pedaço de chão talvez? Deve ter um por aí. — apontou com o queixo para a cela. Para Tobias, ela parecia um tanto misteriosa.

Sem hesitar ajoelhou-se no chão pra procurar um e logo achou um pedaço quase solto, o que fez ele ter que puxá-lo, mas nada que lhe desse trabalho. Foi bom Eleonor ter dado aquela ideia, afinal poderia escrever na parede onde todos podiam ver e com certeza o Doutor iria saber disso.

“Simples: só que eu estou aqui. E que pretendo invadir a cidade com tudo, se ele não desistir dessa insanidade. Tenho pessoas, armas, munições, estou pronta para ele. ”

Lembrou das palavras de Beatrice e escreveu em letras grandes em caixa alta quase da mesma forma. Fez questão de assinar no final, apenas para deixar a mensagem mais impactante, pois sabia que o Doutor iria saber muito bem quem era.

Eleonor observava tudo silenciosamente. E quando Tobias virou e voltou a olhá-la, sua expressão era surpresa.

— Beatrice, huh? — sorriu — Nós estamos do mesmo lado, afinal.

— Então você é uma das pessoas que chegaram ontem? Quem é você afinal?

— Sim, diria que sou uma amiga dela. Estamos juntas nisso tudo. Mas não sabia de você nessa equação.

— Nem ela até anteontem.  — Tobias parou lembrando da conversa que tivera com Beatrice. Lembrou que ela tinha dito que havia aliados dentro da cidade, ela queria alguém de olho no que o doutor estava fazendo. Mas se Eleonor estava ali, tentando fugir, algo tinha dado muito errado. — Você é a aliada que era responsável por Jacob morrer?

O silêncio se estendeu por um tempo. Ela deveria estar receosa em responder a pergunta. Não quis insinuar, nem acusá-la com aquela pergunta, era mais uma observação , mas vendo a expressão dela, arrependeu-se.

— Eu sou, hm, amigo dela também. — decidiu responder. Aquilo não importava.

Era mais fácil simplificar as coisas. Tobias não fazia ideia se Eleonor sabia ou não sobre o relacionamento entre ele e Beatrice, e perguntas eram tudo que eles não precisavam no momento.

Não precisaram de nenhuma palavra a mais para seguirem caminho, com Eleonor na frente, pois parecia saber onde tinha uma saída. Com passos cautelosos andaram alguns corredores, desviando de dois soldados distraídos.  Tobias percebeu que era o único prisioneiro ali, o que o surpreendeu, pelo fato de achar que o Doutor teria mais gente em suas mãos.

Não demorou muito para encontrar dois soldados a frente. Eles conversavam entre si, olhando para um quarto, estavam de lado para os dois. Tobias fez sinal com as mãos para Eleonor esperar ali e seguiu com passos cautelosos até os soldados.

Ele tinha que ser rápido.

Desferiu um soco na orelha do homem mais perto que virou surpreso, nisso Tobias esticou o braço para alcançar a arma presa em seu coldre. Rapidamente deu um passo para a esquerda e observou o outro soldado mirar a arma em direção as pernas dele, por isso, com a mão direita deu uma coronhada na nuca do soldado mais próximo e com a esquerda empurrou a mão do outro o fazendo atirar na parede.

Como um deles estava desmaiado, Tobias tinha as duas mãos livres para lutar contra o outro. Apresou-se para dar-lhe uma coronhada também, mas estava precavido e desviou de Tobias em uma velocidade impressionante. Então, Tobias esticou os braços e puxou-o pelo cabelo, movimentou-se para ficar por trás e aplicar um mata-leão, podendo desarmá-lo com a outra mão. Não demorou muito para o soldado desmaiar de falta de ar.

— Vamos! — gritou para Eleonor. Não adiantava mais permanecer em completo silêncio naquele lugar, quando um tiro já havia sido disparado. Eleonor aproximou-se correndo — Pegue isso. — deu-lhe uma das armas.

Ela apenas assentiu e seguiu em frente com Tobias não muito atrás. Eles tiveram que apressar o passo, pois sabiam que teriam soldados indo para onde o tiro veio. Já conseguiam até ouvir os passos apressados, que felizmente não vinham da direção onde eles iam.

— Nós estamos indo para a porta dos fundos, certo? Lá é menos vigiado. — disse Tobias, bem perto dela.

— Não. Vamos por uma saída um pouco mais escondida.

Ficou um pouco confuso, mas decidiu confiar nela e esperar para ver.

Tobias presumiu que a maioria dos soldados tinha ido na direção do tiro, pois não encontraram nenhum outro soldado até uma janela no fim de um corredor, onde Eleonor parou.

— Aqui. Tem uma escada velha e enferrujada, mas acho que aguenta a gente. E melhor: dá para um beco. — ela disse, sorrindo de uma forma meio orgulhosa.

— Nossa. Como você sabia disso daqui?

— Bem, eu andei muito por aqui enquanto podia. E apenas me lembrei de achar isso estranho, afinal esse prédio é aparentemente novo... Enfim, vamos?

Antes de assentir, Tobias ouviu passos apressados em sua direção e alguém gritando “Por aqui! Por aqui!”. Franziu o cenho, imaginando como sabiam para onde eles tinham ido. Pela expressão de Eleonor, ela também tinha percebido.

— Vai, vai. — falou Tobias.

Ela apressou-se a descer pela escada, meio receosa, pensando se a escada iria suportar o peso dela. Tobias esperou ela terminar de descer, enquanto olhava para trás, onde os sons dos soldados aproximando vinham.

Ouviu um sussurro vindo debaixo e soube que era a hora de descer, e isso o possibilitou de ver um soldado na esquina do corredor, que também o viu. Desceu de dois em dois degraus o mais rápido que pode, com o coração martelando no peito. Assim que pisou no chão segurou o braço de Eleonor e sussurrou “corra”, o que fizeram imediatamente.

Depois de poucos minutos, pararam em algum outro beco. Eleonor aparentava estar muito mais cansada e apoiou as mãos nos joelhos. Já Tobias estava feliz, extremamente feliz, finalmente estava fora daquele lugar. Agora era só fazer questão de não ser pego de novo.

— E agora? — perguntou Eleonor após um tempo recuperando o fôlego. — Eu não conheço Chicago. Nem sei onde estamos agora.

— Tudo bem. Deixa eu pensar.

Os segundos de silêncio foram interrompidos por um som surpreso saindo de Eleonor, fazendo Tobias encará-la e depois olhar para a mesma direção. Caleb estava parado em frente ao beco, olhando para eles de forma alternada, ele deveria estar passando pelo beco quando os viu.

Antes que Tobias pudesse dizer algo Eleonor foi ao encontro de Caleb o abraçando de uma forma bem íntima, fazendo-o estreitar os olhos. Trocaram um selinho demorado e voltaram a trocar olhares.Tobias entendeu tudo prontamente, mas ainda ficou com um grande ponto de interrogação na cabeça e cara de idiota.

— O que você está fazendo aqui? — pelo seu tom não dava para saber se estava feliz ou irritada.

— Eu... Bem, estava preocupado. — Caleb admitiu — Você simplesmente sumiu e não me contou nada.

Sabendo que estava prestes a presenciar uma DR, Tobias pigarreou chamando a atenção dos dois. O que diabos Caleb estava fazendo de volta em Chicago? Lembrava-se de Beatrice citar seu nome, falando que ele estava com ela. Será que ela poderia estar ali também? De repente, ter decidido vir para a cidade com o irmão? Pouco provável, entretanto, a ideia pipocou em sua cabeça.

— Tobias. — Caleb também parecia surpreso em vê-lo — O que está fazendo aqui? Quer dizer, o que vocês dois estão fazendo aqui?

Voltou a olhar para a mulher de olhos verdes com os braços em volta de si. Nenhum deles parecia saber como agir e o que dizer.

— Nós estávamos fugindo do Doutor. Eles estavam desconfiando de Charles, eu ouvi ele sendo torturado por aquele cara... Adam Simons. — Eleonor responde.

— Argh! Esse cara me dá nos nervos. Tem algo nele que simplesmente parece demais com o doutor.

— Sim, sim. Por isso eu saí de lá, não queria correr o risco, já que Charles não é durão para aguentar muito tempo sem contar nada. Então pensei em Tobias, que era um prisioneiro desconhecido até pouco tempo, para ajudar. E aqui estamos.

— Isso. Inicialmente, não tinha certeza que ela estava relacionada a Tris... e a você.

— Isso é incrível. Matar dois coelhos em uma cajadada só. — Caleb sorriu de canto — Que bom que estão bem.

Caleb prosseguiu a explicar um pouco do porquê estar ali: ele queria encontrar Eleonor e ajudá-la qualquer fosse a situação. Isso surpreendeu Tobias, o fato de Caleb estar finalmente sendo corajoso, e também por ele ter uma arma no cós da calça. Duas coisas que ele pensou que nunca veria tão cedo. Se Eleonor tivesse qualquer coisa para dizer ia deixar para depois, pois apenas balançou a cabeça, mordendo o lábio.

— Nós temos que voltar para o Departamento, então. Avisar aos outros que o Doutor já sabe e fazer outros planos. — Caleb sugeriu.

— Vocês estão no Departamento?! — uma ruga de dúvida apareceu na face de Tobias. Beatrice não havia mencionado isso, não que fosse de extrema importância, mas era extremamente interessante para ele imaginá-la naquele lugar por diversos motivos.

— Hã, sim. — Eleonor achou esquisita a reação dele, mas nada disse — Mas não podemos ir para lá! Os soldados estão no nosso pé. E se seguirem a gente?

— Mas não tem outro lugar para irmos. Vamos nos esconder em um prédio qualquer? E como vamos comunicar aos outros o que sabemos? — mesmo estando de fora dos reais acontecimentos e planos, Caleb agia como se soubesse de tudo.

Tobias estalou os dedos em um ato um tanto quanto dramático.

— Só tem um lugar que tem tudo que a gente precisa sem o risco de estragar tudo. — disse, sorrindo de lado — A Audácia, é claro.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam?
Só uma opiniãozinha já vai nos fazer bem felizes!
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