Ressurgente escrita por Let B, Muh


Capítulo 54
Capítulo 54




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DIA 2

P.O.V CALEB

Caleb já havia revirado o lugar pelo avesso a procura de Eleonor. Ele estava tentando não pirar, mas quando viu que Charles também não estava mais onde deveria estar, seu objetivo foi para o ralo. Algo tinha acontecido de grave. Será que Charles havia conseguido fugir e sequestrado Eleonor? Mas se fosse assim, porque tudo estava tão calmo? Será que ninguém havia percebido? Impossível.

Foi até um dos homens que estavam vigiando Charles para tentar descobrir que raios estava acontecendo. O cara soltou um riso de lado e apenas respondeu: " Pergunte a sua irmã. Peraí, Beatrice é sua irmã, não é?"

Quando ouviu a resposta, sentiu o sangue subir. Se Beatrice estava envolvida, boa coisa não poderia ser.

Encontro-a no refeitório que havia no local. Era um espaço grande e luminoso demais. O lugar estava cheio, um pouco dos malucos do hospital, alguns dos não totalmente malucos do hospital, os caras da revolução. Pensando bem, todos ali pareciam meio malucos.

Ouviu a risada de Beatrice. Ela estava em uma mesa, acompanhada por Christina, Meg, Daniel e Damon. Aproximou-se. Meg estava com o rosto tão vermelho quanto os cabelos, Daniel ria solto junto a Beatrice, Christina tentava desesperadamente não rir e Damon... Bom, apenas estava sendo Damon. Sorriso sarcástico, parecendo entediado e perigoso ao mesmo tempo. Ou seja, estava com a mesma cara de sempre.

— Junte-se a nós, Caleb. - Christina chamou quando o viu. Ele desconfiou que ela houvesse o chamado apenas para cortar o assunto que havia deixado Meg tão envergonhada.

Ele sentou-se à mesa de frente para a irmã. Era uma mesa grande e branca. Ao invés de cadeiras, tinha dois grandes bancos.

— Beatrice, onde está Eleonor? E Charles? - todos na mesa calaram-se, observando os dois. Caleb sentiu como se todo mundo soubesse de algo, menos ele.

— Interessante, você me perguntar isso. Por que eu saberia? - Ela respondeu brincando. - Ora, então Eleonor não te contou? Achei que ela diria, já que vocês dois estão bem grudados...

— Me contar o quê? - Caleb perguntou nervoso.

— Ela e Charles foram dar um passeio até a cidade. - Beatrice viu a cara de Caleb se transformar. - Brincadeirinha, eles não foram passear, foram numa missão.

— Como assim numa missão?

— Ah, você sabe. - Ela respondeu despreocupadamente, ao mesmo tempo em que passava uma geleia em um pedaço de biscoito. - Se infiltrar, ver o que está acontecendo lá, manipular um pouco o Doutor, seguindo o plano.

— Plano? Não sabia que tínhamos um plano que envolvesse mandar Eleonor para uma possível morte. E Charles? Não sabia que agora confiávamos nele.

— Não é uma questão de confiança, é mais uma questão de pessoas se unindo para destruir um mesmo inimigo em comum. Você já leu A arte da guerra? Talvez devesse. - Caleb sentia a raiva aumentar, como assim inimigo em comum? Beatrice bufou, percebendo a dúvida de Caleb. - Charles odeia o pai, a velha história do garotinho ignorado pelo pai, esse é clássico. Então, temos o momento em que finalmente um se vira contra o outro. A grande tragédia da traição em família? Mas isso eu não preciso explicar, você entende muito bem sobre o assunto.

Caleb levantou-se furioso, e furioso não era algo que ele costumava ser. Sem pensar, tentou partir para cima da irmã. Mais tarde, ele pensou que aquilo não era ele, e sim, a raiva falando mais alto. Os outros da mesa levantaram rápido, já preparados para agir.

O que ele esqueceu por um momento era que Beatrice fora membro da Audácia, onde ela aprendera a lutar, e depois fora membro da Revolução, e ele preferia nem pensar o que ela havia aprendido lá. Antes que qualquer um dos outros pudessem se mover, ela puxou um dos braços de Caleb torcendo para trás com uma mão, enquanto a outra foi até sua nuca, empurrando a cara dele contra a mesa. Ele ainda tentou mexer o outro braço que estava livre, mas estava imobilizado. Outro detalhe que Caleb havia esquecido no meio da raiva: ele não era um cara que sabia como brigar.

— Da próxima vez que você tentar fazer isso, mato você, entendeu? - ela rosnou furiosa. - Já está mais calmo? Vamos sair daqui para podermos conversar.

Ela o soltou, indo em direção da saída do refeitório. Antes de sair, ele viu a cara de deboche que Damon fez para ele. Caleb nunca havia se dado bem com Tobias, mas nunca imaginou que ela pudesse arrumar outro namorado que ele pudesse odiar ainda mais.

Quando saiu, apenas sentiu o puxão da irmã, fixando o braço no pescoço dele.

— Que merda foi aquilo? - Ela perguntou baixo, mas ainda com raiva.

— Eu só queria saber...

— Onde está Eleonor, é, eu já entendi. E como eu disse ela saiu daqui para cumprir uma missão, com um objetivo. Ela está lutando da forma que pode para ajudar essa merda de cidade que ela nem conhece, como todos os outros aqui. Ela deveria ter falado com você antes, mas isso não é problema meu. Charles por enquanto está seguindo o plano, mas se algo acontecer, tenho certeza que ela saberá como lidar com ele.

— Ela pode morrer lá, você a mandou para lá sabendo disso. Por que ela? Você está fazendo isso para se vingar de mim?

— É, meu objetivo na vida é ferrar você. Se toca, idiota. O mundo não gira em torno de você. E eu não a mandei para lá. Nós conversamos e elaboramos o plano juntas. Ela quis ir, ela o conhece melhor que os outros, e ela não é burra. E bem, não sei se você percebeu, mas todos nós podemos morrer, esse é um risco que todos nos dispomos a correr.

Caleb ficou calado. Realmente, tudo o que ela havia dito fazia algum sentido, ele não podia negar. Mas não conseguia parar de se preocupar com Eleonor.

— Sabe o que é mais triste nisso tudo? Eu sempre estive disposta a me sacrificar por você, porque você era meu irmão e eu te amava. Nossos pais também. Mas isso nunca chegou a importar de verdade para você. Só você e sua ciência estúpida importavam. E agora você pira por causa de Eleonor. Você gosta mais dela do que da sua própria família. - ela disse baixinho, afastando-se dele e saindo. Ele poderia jurar que havia tristeza na voz dela. Mas aquilo não fazia sentido. Essa Beatrice não se lembrava e não se importava com sua família. E a forma que ela havia falado, as coisas que ela havia dito... Era quase como se ela lembrasse, era quase como se ela fosse a mesma de antes, não a mesma, mas talvez mais próximo do que como ela era antes.

E o pior é que tudo o que ela disse era verdade. Como ela sabia?

Queria pensar mais sobre isso, entender o que estava acontecendo com a irmã, mas no momento ela estava ali segura, enquanto Eleonor estava com os inimigos. Caleb não era o cara que salvava pessoas e se sacrificava por elas, mas ele não poderia ver isso acontecer sem fazer nada. Ele sentia que tinha que ir, que precisava garantir que Eleonor estava bem.

Para um cara que sempre havia sido o covarde, ele até que estava se arriscando muito ultimamente.

P.O.V MEG

— Beatrice, posso falar com você um minuto? -Meg perguntou ao cruzar com Beatrice no corredor.

— Ah Meg, por favor. Se for parar reclamar da brincadeira de Daniel fez com você hoje de manhã, não, desculpa, mas não estou afim. Você precisa relaxar.

— Relaxar? Aquilo foi horrível! Ele não pode ficar me perguntando essas coisas pessoais. Para que ele quer saber se já transei com um homem? Que diferença isso faz? Sabe o que isso é? Preconceituoso. E para piorar, tinha que ser na frente de Christina?

— Ok. Ele foi um pouco babaca. Mas eu não entendo porque isso incomoda tanto você, sua sexualidade, digo. Você é lésbica é daí? Qual o problema? Às vezes, parece que você tem vergonha disso.

— Não é vergonha. É só que eu passei minha vida toda ouvindo provocações e piadinhas. Minha mãe... ela não sabia lidar muito bem com isso. Então, eu apenas parei de falar sobre isso. Não é da conta de ninguém o que sou ou o que não sou. E essa piada de Daniel é tão ridícula, só porque eu nunca transei com um cara, não quer dizer que eu não saiba o que eu quero. Eu não preciso experimentar tudo para saber do que eu gosto. E porra, na frente da Christina? Você sabe o quão mal eu me senti?

— Ah, então o problema real é a Christina. Problemas no paraíso?

— Não, é só que ela tem passado tempo demais com Daniel, e ele sempre fica dando em cima dela...

— Ah, então é ciúmes? – Beatrice perguntou rindo.

— Talvez, um pouco. E também... Bem, é bobagem. Eu já me envolvi com outras mulheres como ela, garotas que só querem experimentar um casinho com outra mulher e depois cair fora. E então ela passa tanto tempo com Daniel, eu fico pensando, se Christina não é mais uma dessas.

— Não posso dizer nada sobre isso, mas eu não acho que seja assim entre vocês duas. Daniel gosta de flertar com quase todas as mulheres que passam na frente dele, não leve a sério isso. E quanto Christina passar tempo demais com ele, bem... Isso é compreensível, já que atualmente você anda com um cara de quem acabou de chupar um limão. Até eu se fosse sua namorada, ia querer ficar um grande tempo longe de você.

— Você acha mesmo isso? – Meg perguntou insegura.

— Acho. Pare de ciuminhos e vai falar com ela, e tire essa cara azeda da cara. Ora, ora, quem diria que eu tenho talento para consultora amorosa. É só isso? – ironizou.

— Na verdade não. Não era isso que eu queria conversar com você para começar. Noite passada, eu perdi o sono. Então resolvi ir checar o rádio. Damon estava de mau humor de ter que ficar vigiando aquilo, que eu pensei que não custava nada, eu ir até lá para que ele pudesse dormir.

— Humm. – Beatrice ficou quieta, parecendo que já sabia onde Meg queria chegar.

— Eu não tinha a intenção de ouvir nada. – Meg continuo, um pouco encabulada, pela confissão de estar ouvindo a conversa dos outros. - Eu só não vi vocês e acabei ouvindo vocês conversando. Sei que isso não deve ser da minha conta, mas Beatrice que acordo você e ele fizeram?

— Não é nada demais. Esquece isso. Temos coisas mais importantes para lidar agora.

— Beatrice... É algo ruim, não é mesmo?

— Eu meio que fiz um acordo com ele. Eu pedi que ele fizesse uma coisa por mim, e então ele me pediu algo em troca.

— O quê?

— Um ano. Que eu volte para a revolução por um ano. Depois eu posso voltar ou fazer qualquer coisa que eu quiser da minha vida.

— Mas por quê? Humm, entendi. Ele acha que se manter você próxima a ele, e longe de Tobias, as coisas vão voltar a ser como eram antes. Que você vai acabar esquecendo o Tobias, e ficando com ele.

— É, imagino que deva ser algo assim. – Beatrice respondeu enrolando os cabelos loiros entre os dedos. Era uma mania que ela tinha quando ficava nervosa ou preocupada.

— E você pretende cumprir mesmo esse acordo?

— Não sei, eu não quero. Mas eu prometi a ele, e ele já esta fazendo tanto por mim. Mesmo depois do que fiz a ele. Não sei se consigo magoar ele de novo. E afinal, um ano passa rápido

 

P.O.V ZEKE

Deveria ser de madrugada, afinal o sol não tinha nascido ainda, quando Zeke ouviu seu nome ser chamado incisivamente. Ele tinha dormido perto do rádio, logo após falar com Beatrice e Damon. Em algum momento, tinha ouvido a voz de Beatrice, entretanto, como uma voz baixa respondeu, Zeke decidiu ignorar, pensando ser Damon e ela discutindo algo. Como estava sonolento, não reconheceu a voz.

Esfregou os olhos dando uma rápida olhada do quarto, estava vazio.

— Zeke! — a voz saiu do rádio em um tom fraco.

Por um momento, Zeke pensou que ainda estivesse zonzo de sono. Aquela voz não poderia ser de Tobias. Não tinha como. Ele estava nas mãos do Doutor e onde quer que estivesse não teria como ter acesso a um rádio.

Mesmo assim ergueu-se para aproximar-se do rádio e pegar o microfone.

— Tobias? — questionou, hesitante.

— Finalmente, cara — Tobias respondeu — Pensei que tinha morrido aí.

Zeke arregalou os olhos e sorriu.

— Ai Meu Deus! Tobias! — exclamou — Como assim? Quer dizer, você não tem como... É que tipo.... Eu achei...Cara?! Como assim?

Tobias soltou uma risada leve.

— É, eu sei. Jacob me deu esse negócio para conversar com você e Beatrice. — Zeke fez uma careta com a informação. Jacob deu o rádio para ele? Não fazia sentido — E antes que pergunte eu já falei com ela. Ah, também ouvi a conversa de vocês.

— Jacob? — foi a primeira coisa que decidiu perguntar.

— Exatamente. Ele meio se redimiu no final, antes de morrer me deu o rádio e ia me ajudar a sair daqui. Bem, ele queria que eu o ajudasse a sobreviver também. — suspirou — Mas enfim, era uma boa sair daqui.

Zeke passou a mão no cabelo. Jacob queria ajudar, hein? Ele realmente não esperava por isso. Provavelmente, ele só queria ajuda de Tobias e não tinha intenção de ser uma boa pessoa, pensou.

Balançou a cabeça. Jacob não importava mais.

— Onde você está? Eu tenho que tentar te achar. — Zeke disse, com um pouco de urgência — A gente bola um plano e consegue fácil. Os soldados estão muito espalhados, por onde eu vi. Vasculhando um monte de casa, revistando qualquer civil que podem, etc. Mas na cidade inteira, então se a gente pegar o caminho certo...

— Não sei, Zeke. Talvez essa não seja a melhor opção, estrategicamente falando. Não podemos arriscar gente assim.

— É bem melhor deixar que ele te use contra Beatrice e o mini-exercíto dela, né? E contra nós aqui também, Tobias. — respondeu sarcasticamente — Eu vou com George ou Amah, ou quem sabe. Só duas pessoas é o suficiente.

Ouve um momento de silêncio.

— Hm, não sei se vai ser tão fácil quanto diz.

— E além disso, você é meu amigo. Vou fazer isso. — Zeke cruzou os braços, mesmo sabendo que Tobias não podia vê-lo — Você pode ajudar, sabe. Veja o que consegue descobrir daí, talvez turno de guardas.

Tobias suspirou.

— Tudo bem. Daqui a dois dias, ok? É tempo o suficiente para nós combinarmos tudo e para você dar sua mensagem ao Doutor.

— Ah, é. Ainda não sei como fazer isso. — admitiu. — Enfim, me diga onde está para eu descobrir tudo o que posso.

— Certo. Deixa eu ver como explico... — demorou um pouco até responder — Sabe o cruzamento que tem um centro comercial azul com verde? Com aquela loja de roupas enormes que você passou para comprar um presente para a Shauna?

—Hm, mais ou menos.

— Ok, acho que era super caro e você reclamou comigo o tempo inteiro. — Tobias soltou um suspiro — Tem uma loja de armas do lado da de roupas, eu acho.

— Ah, sei. Cara, por que você vai lembrar logo da loja de roupas?

— Enfim, tem um prédio antigo na frente meio amarelado e logo atrás é onde estou. É o prédio com cara de mais moderno, lembro de ver muita coisa de vidro na entrada.

Zeke soltou um “uhum” e pegou um bloco de notas e uma caneta para escrever tudo, pois tinha uma grande possibilidade de esquecer segundo depois.

—Então, daqui a duas horas nos falamos?

—Vejo o que consigo. — Tobias respondeu.

 

Assim, Zeke saiu do quarto para chamar alguém para cuidar do rádio por ele. Tinha que iniciar sua pequena “pesquisa”.

POV Mitchell

Mitchell voltava para a pequena pousada em Evanston, cidade próxima à Chicago, onde estava hospedado. Ele havia novamente rodeado a cidade para verificar se algo havia mudado.

Apesar de ter dado um prazo de cinco dias, ele acreditou que as tropas e o doutor deixariam Chicago o mais rápido possível. Para sua surpresa, isso não aconteceu, e ele começava a duvidar que eles de fato fossem deixar a cidade em no máximo cinco dias. Talvez, eles não tivessem levado a sério o aviso. Isso não era nada bom. Mitchell desejava resolver a situação da forma mais rápida e pacífica possível. Tinha um pressentimento que não seria assim.

Ou talvez, Mitchell estive sendo pessimista demais. Talvez houvesse algum motivo importante pelo qual o doutor não havia saído da cidade. Era possível. De qualquer jeito, ele teria que ligar para o presidente, para informá-lo de como as coisas estavam.

Quando chegou a seu quarto, desapertou a gravata que usava. Ele odiava esse estilo de roupa formal que era inerente ao cargo em que trabalhava. Mitchell havia sido um soldado no passado, e sentia falta de seu antigo uniforme. Gostava de seu atual trabalho, mas sempre sentiria saudades dos velhos tempos. A vida costumava ser bem menos complicada na época.

Serviu-se de um pouco de uísque, preparando-se para falar com o presidente. Sentou na velha e decadente poltrona que havia do lado do telefone, igualmente antigo. Mitchell gostava de coisas antigas, achava-as reconfortante. E também mais duráveis. Pertencia a um passado onde o tempo era concreto. O presente era líquido e parecia escapar pelas mãos quando se pretendia segurar.

— Bom dia, Mitchell. Como está nosso problema? - Perguntou diretamente o presidente ao atender. Mitchell gostava dessa característica da personalidade do homem. Não era um homem que perdia tempo com coisas frívolas.

— Nada mudou. - Ele respondeu, suspirando desanimado. - Senhor, tenho um mau pressentimento de que não será tão fácil como imaginei.

— Humm...- O presidente calou-se por alguns segundos, analisando. - Mas ele ainda está dentro do prazo, não é? Ainda há tempo. Mas eu confio em você, e quando você me diz que está com um mau pressentimento, acredito que eu deva levar a sério. O que você sugere?

— Não sei. Posso estar sendo pessimista e talvez tudo se resolva. Mas... - Mitchell disse. - Acho que devemos começar a nos preparar para o pior.

— Isso não me parece bom.

— E não será, senhor.

— Então, acredito que já seja hora de mandar o reforço. Vou pedir para preparem nossa equipe tática de resolução de conflitos, alguns homens da segurança nacional e um avião para levá-los. Você possui espaço para aloca-los onde está?

— Na verdade, não. – Respondeu Mitchell, olhando o quarto pequeno da pousada onde estava. - Mas não se preocupe darei um jeito nisso. E nossos homens já enfrentaram situações piores. Vão se adaptar. Mas e depois?

— Você deu um prazo ao homem e cumpriremos com nossa palavra. Quando a equipe chegar, mantenha os homens observando a cidade, apenas por precaução. Apenas se algo acontecer antes do prazo é que vocês entrarão em ação. Afinal, ainda é possível que tudo isso se resolva sem uma interferência direta do governo.

— Sim, senhor presidente. Vou preparar alocações para os agentes.

— Mitchell, mantenha os olhos bem abertos. Não vou deixar um doutor megalomaníaco causar mais problemas do que já temos no país. - e desligou.

P.O.V DOUTOR

— Senhor, considero prudente seguirmos as ordens recebidas do governo. – o doutor olhou entediado para o homem a sua frente. Ele era capitão ou coronel ou general... Algumas dessas coisas. Essas coisas não importavam a ele.

O que importava a ele era a audácia do homem em ir até ele para pressioná-lo. Mas ele tinha que manter a calma. Havia conseguido o apoio da maior parte dos soldados após a morte de Jacob. O boato que foi criado, e que ele alimentou, sobre alguém do governo ter sido responsável pela morte de Jacob, foi um divisor de águas em sua relação com os soldados. Eram uns estúpidos em acreditar nesta história ridícula de um agente infiltrado. Mas agora eles tinham um motivo pelo qual lutar, e isso era bom. Motivos eram inspiradores e levavam os seres humanos a lugares onde nunca chegariam sozinhos. Matar um dos comandantes, não deixaria os soldados felizes. E ninguém era suficientemente idiota para acreditar na mesma história de agente infiltrado, não duas vezes.

— Entendo sua preocupação, capitão. - Ele respondeu, tentando parecer pensativo. – Mas garanto que esta ameaça não passa de um factoide. Tenho estreitas relações com o governo e esta missão foi autorizada por eles. A senhorita Beatrice é uma criminosa perigosa ligada ao grupo anarquista conhecido como Revolução e uma ameaça à nação. Ela também sofre de graves transtornos mentais e tem delírios conspiratórios. Somando os dois fatos, ela pode ser considerada uma bomba relógio. É do interesse do Governo capturá-la.

— Na verdade, é tenente, senhor. Tenente Smith – respondeu o homem, um pouco ríspido pelo pequeno erro. – Mas foi Mitchell, o principal agente de segurança do presidente, quem deu a ordem.

— Irrelevante. – Zank respondeu como se espantasse um inseto irritante. – Esse homem deve estar agindo por algum interesse específico pessoal, mas garanto que não é pelo interesse do governo. Pense, tenente, se por acaso o governo quisesse parar isso, não mandaria um homem de recados, mandaria uma tropa. Mas é mais crível, que este homem esteja agindo sozinho ou em parceria com algum grupo de rebeldes?

O doutor percebeu que tinha pegado o tenente nessa. O militar se retirou, ainda preocupado, mas convencido.

De fato, dar um prazo para a retirada dos soldados era algo curioso. Isso significava que o presidente não queria criar um conflito aberto com ele, o homem o temia. Isso era bom para o doutor. Entretanto, ele não tinha certeza se desobedecer às ordens dadas pelo presidente fosse algo muito inteligente de se fazer. Isso poderia lhe render alguma acusação, e arruinar sua carreira e reputação.

Ele precisava resolver tudo isso o mais rápido possível, e deixar a cidade. Passar um tempo fora do radar e esperar a poeira baixar. Sim, sim. Era isso que ele precisava fazer.

...

Hendrick Zank não era quem era sem razão. Ninguém nunca o chamaria de estúpido ou ignorante. Ele era um visionário. Era racional, engenhoso e argucioso. Tudo o que ele conquistou foi graças a sua inteligência acima do normal e seu brilhantismo. Por isso, pressentia quanto algo lhe parecia errado.

Ele sabia que um recado de Beatrice iria chegar logo, pois já havia sido prevenido por Charles. Charles, seu filho, não tão brilhante, mas dono de uma moral extremamente duvidosa. Mas era seu filho, tinha que confiar em suas palavras, não é?

Mas sua chegada, tudo o que ele havia dito, fora tudo tão certeiro, tal como estivesse programado.

E ele tinha que pensar em Beatrice também. Essa sim era alguém que pudesse desafiá-lo quase igualmente em astúcia. Sua menina não era tola. Mas parecia estar agindo como uma. Primeiro, deixou Charles e a outra garota escapar. Erro número um. Mesmo sabendo que Charles poderia ter chegado ao pai, não mudou os planos. Erro número dois. Iria, segundo Charles, jogar um blefe no Doutor, subestimando sua inteligência. Erro número três. E depois, planejava se entregar em troca da cidade, caso seu blefe não surtisse efeito. Como se o doutor pudesse simplesmente sair da cidade daquele jeito e esperar que tudo fosse esquecido. Erro número quatro. Eram muitos erros, e ele não conseguia ver a garota esperta que ele de certa forma havia criado, cometendo tantos erros. Não, não. Algo estava errado.

Estava ligeiramente curioso para saber exatamente o que diria nessa mensagem que a fez tão importante para Charles enfatizá-la. Talvez era o que faltava para livrar suas dúvidas sobre a sua menina. Porém, não podia esperar até isso acontecer, já que Charles não havia especificado alguma data.

Pensando nisso, ele havia chamado seu mais novo braço direito, Simons. Um ser fascinante. Tinha um grande apreço pela violência e felicidade em infringir dor nos outros. Era uma dessas pessoas que tentam esconder seu lado sombrio, e arrumam empregos onde a violência seja considerada como um mal necessário para suprimir livremente seus desejos mais profundos.

— Não sei se já disse, mas é uma honra estar trabalhando para o senhor doutor. Admiro muito seu trabalho. - Simons começou, feliz como uma criança numa manhã de Natal. O doutor resolveu ignorar a bajulação.

— Ora, meu caro. Eu me sinto extremamente satisfeito por ter ao meu lado um soldado tão leal quanto você. - o doutor começou. Achou que aumentar o ego do homem seria extremamente útil. - Bom, preciso discutir com você sobre as ordens que te dei.

— Ah, senhor. Está falando do tal Tobias? Ainda não tive tempo, muitas coisas acontecendo, mas prometo interrogá-lo o mais rápido possível. - Respondeu nervoso.

— Ah, não. Esqueça isso. Tenho outra tarefa para você, muito mais importante. E bem, delicada.

— Entendo. - respondeu o homem abatido, imaginando que perderia sua diversão. Um verdadeiro sádico.

— Preciso que você interrogue outra pessoa. - o doutor suspirou, fingindo tristeza e vergonha. – Infelizmente, sinto que uma pessoa muito próxima a mim esteja mentindo. Eu odeio ter que interrogá-lo e tratá-lo dessa forma, mas não posso permitir que isso aconteça. Preciso também de sua total discrição sobre isso. Como eu disse antes, é uma situação muito delicada e terrível para mim. Você entende, Simons?

— Sim, senhor. Serei discreto. Quem o senhor deseja que interrogue?

— É com pesar que digo que é Charles, meu filho.

Se o soldado ficou surpreso, não demonstrou.

O doutor pontuou o caráter emergencial da tarefa, o que basicamente queria dizer que ele queria que ele fizesse isso agora. O soldado entendeu e levantou-se pronto a cumprir o que lhe fora delegado. Zank o acompanhou até a porta, e antes que ele saísse, frisou:

— Não sinta que deva pegar leve por ele por ser meu filho. Faça o que for necessário para descobrir o que ele está escondendo.


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