Ressurgente escrita por Let B, Muh


Capítulo 56
Capitulo 56


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que já faz um tempo, tipo muito muito tempo, que a fic não é atualizada. Sorry gente!
Tive alguns problemas de saúde, e foi acontecendo outras coisas e não conseguia nem pensar no que escrever para a fic.
Não vou prometer data para o próximo, pq vem chegando época de trabalhos para entregar, mas não demoraremos mais tanto tempo assim.

Bom vamos ao capítulo!



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DIA 4 - parte 1

P.O.V ZEKE

Zeke coçava a cabeça e mexia na caneta com os dedos, impaciente. Já tinha organizado um time, que consistia apenas dele e Amah, para a pequena operação de resgatar Tobias das garras do Doutor. Porém ele queria ir hoje. Queria ir nesse exato segundo.

Podia quase achar cabelos brancos desapontando em sua cabeça, causados pelo estresse que sofria desde que aquele homem surgiu em Chicago. Queria que as coisas voltassem a ser como eram antes, antes de Beatrice voltar, quando as coisas já estavam de volta nos trilhos, quando todos já haviam esquecido como é estar com toda aquela adrenalina no corpo e com o sentimento de perigo... Ele odiava isso, e o fato de não ter Tobias como companheiro era um fator que piorava tudo.

Ele suspirou. Deveria ir dormir para se preparar, entretanto tinha medo de algo acontecer e Tobias contatá-lo. Mas não poderia fazer muito se estivesse quase desmaiando de sono. Nesse dilema, mal percebeu a porta ser aberta de forma extremamente delicada. 

— Nossa, esse lugar está fedido, hein. Quanto tempo você não toma banho? — o tom de brincadeira e o leve riso que se seguiu eram impossíveis de não serem reconhecidos.

Zeke sorriu, soltou a caneta na mesa, que rolou até a beirada; mas não caiu. O homem a sua frente parecia estar cansado, mas feliz. Um sorriso maroto pairava em seu rosto enquanto observava a expressão surpresa de Zeke.

— Tobias? — Perguntou como se estivesse confuso, sem saber se aquela visão era real ou não.

— Pois é. Aconteceu algumas coisas depois que a gente conversou... muitas, na verdade. — ele divagou com a mão.

— O quê? — Zeke indagou um tanto eufórico. — Você estava lá com o Doutor há tão pouco tempo e agora... está aqui.

— Eu sei. — riu — Tive ajuda de uma nova amiga, eu diria.

— Ah, eu tenho que avisar ao Amah! A gente ia amanhã te resgatar. — ele ignorou um pouco o que o amigo falou até se dar conta do que ele tinha falado — Amiga? Que amiga?

— Eu já falei com o Amah vindo para cá, não se preocupe. E foi Eleonor que me ajudou a sair, ela estava meio infiltrada lá com o filho do Doutor, mas descobriram ela e o resto é história.

— Certo. — assentiu — E suponho que Beatrice tenha algo a ver com isso.

— É, claro.  — deu um suspiro cansado. — Ah, e Caleb está aqui também. Ele veio atrás da Eleonor, eles estão namorando ou algo assim.

— Caleb? — Zeke levantou uma sobrancelha.

Tobias riu da expressão de Zeke, que agora começava a imaginar coisas.

— Vai descansar, Tobias. Depois nos falamos.

Tobias assentiu.

— Você também. — e saiu da sala.

....

— Foi por isso que Jacob morreu então. — Zeke balançou a cabeça.

Eleonor tinha acabado de contar todo o esquema que ela e Beatrice tinham armado para enganar o Doutor e causar a morte de Jacob. Também contou sobre o fato de estarem torturando Charles para saber o real plano deles, e que isso que a fez decidir cair fora.

— Você fez bem. — Caleb puxou-a mais perto com uma expressão carrancuda, abalado ao saber que Eleonor havia corrido risco de vida.

— Isso significa que não podemos mais contar com o plano de Beatrice para salvar a cidade. — Zeke tinha pesar na voz.

O silêncio que se seguiu não foi nem um pouco reconfortante.

— Talvez Charles não conte. — Caleb disse, um pouco hesitante.

— Por favor — Eleonor revirou os olhos — Aquele lá não é homem para essas coisas.

Zeke segurou o riso. A situação era séria demais para isso.

— Nós vamos ter que falar com Beatrice. Não podemos fazer muito daqui.

— Na verdade, é mais fácil fazer algo daqui do que de lá. — Eleonor diz — Já que o Doutor espera que Beatrice faça algo.

— É verdade, porém ele está de olho em nós também. —Tobias argumentou.

— Mais ou menos. — Zeke disse coçando a cabeça — Eles meio que nos deixaram em paz depois que pegaram você.  Quer dizer, os soldados sempre dão uma passada por aqui, mas dá para nos locomovermos em grupos pequenos e silenciosamente.

— De qualquer forma, é melhor falarmos com Beatrice antes. Ela e Damon não vão ficar muito felizes se fizermos algo sem consultá-los. — Caleb pontuou; todos assentiram silenciosamente.

— Sobre isso, Eleonor, você faz parte da Revolução? — Zeke indagou curioso. Ela se encaixaria no tipo de pessoa que ele imaginava fazer parte do movimento.

Eleonor pareceu extremamente desconfortável, assim como Caleb, e Tobias encarava-a também com curiosidade. Zeke começou a sentir-se muito mal pela pergunta, não queria deixá-la tão desconfortável assim.

Ela suspirou profundamente, e olhando para baixo disse:

— Não, eu... eu era... estava no hospital... Como Beatrice.

— Como ela? Ah...

O silêncio mais uma vez não foi nada confortável, e Zeke sentiu vontade de sair dali. Ele pensava que todos que saíssem daquele lugar não poderiam ser boa coisa — afinal, o chefe era um dos homens mais loucos que Zeke já vira — como Beatrice, entretanto, Eleonor não parecia ser como ela. Várias dúvidas surgiram em sua cabeça. Talvez se ele nem soubesse de onde ela tinha vindo nem mesmo acreditaria na história dela sobre o Doutor e o filho dele.

— Hãã, bem...

— Tudo bem — ela sorriu — Não precisa dizer nada.

Tobias levantou-se atraindo a atenção a si.

— Você tem um rádio, certo, Zeke? — Zeke balançou a cabeça — Pois bem, eu e Eleonor vamos falar com Beatrice, —antes de Caleb abrir a boca, virou-se para ele — é melhor que sejamos nós. E vocês podem descansar.

— Por mim tudo bem. — Zeke prontificou-se — Estou morrendo de sono e tem a Shauna e uma cama quentinha me esperando.

Zeke disse a eles onde o rádio estava e avisou a Caleb que ele poderia dormir em um canto qualquer, mas ele mal o escutou, pois estava muito ocupado dizendo que também queria participar dessa conversa.

Zeke balançou a cabeça. Deixaria tudo nas mãos de Tobias por enquanto. Confiava nele.

P.O.V DOUTOR

— Estamos cobrindo todo o perímetro, mas até agora não conseguimos localizar o fugitivo. Os fugitivos. Como não sabemos a hora exata em que ocorreu a fuga, temos que considerar a possibilidade de que eles tenham uma vantagem em relação a nós, e podem já está fora do perímetro. – o soldado respirou para continuar. – O Sr. deseja que realizamos uma busca completa na cidade? Talvez o fugitivo tenha voltado para onde estava antes.                                                                                                                                                   

 - Não. – o doutor respondeu mostrando desdém. – Esse tal de Tobias foi ideia de Jacob, e nesse tempo todo em que esteve aqui, não teve nenhuma utilidade. Pode voltar para seu posto, soldado. – Após a saída do soldado, o Doutor fixou sua atenção no bilhete deixado pelo rapaz. O bilhete enviado por Beatrice. -O que acha disso, Simons?                               

— Bem, talvez essa Eleonor tenha sido mandada por Beatrice para libertar o rapaz. Charles não falou nada sobre isso, mas é possível que ele não soubesse desse detalhe. – Simons voltou sua atenção ao bilhete. – Isso já era previsível, só não sabíamos como o bilhete apareceria aqui.                                                                                                                                        

— Pode ser. Mas acho que o fato deles terem fugido enquanto você conversava com meu filho, possa trazer uma outra possibilidade. Acho que Eleonor foi mandada para cá junto com Charles para vigiá-lo. Se for isso, ela pode ter visto você com ele, e conhecendo a fraca moral de Charles, achou melhor fugir. – Simons balançou a cabeça concordando. – Tobias pode ter sido só um efeito colateral. Já que ela fugiria mesmo, por que não o levar junto?

Ah... Eleonor essa coisinha, pensou. É boa em passar despercebida e é esperta. Deveria ter prestado mais atenção nela. Sempre se arrastando pelos cantos para não chamar atenção.

 – De toda forma, agora já sabemos o plano de Beatrice e sobre os outros. Preciso fazer algo para virar esse jogo. O que você acha, Simons?                                              

— Parece-me que a intenção dessa senhorita fosse criar uma armadilha. – O soldado respondeu triunfante e orgulhoso da atenção que recebia do doutor. – Mas tem outra coisa importante. Acho que talvez ela tivesse a intenção de nos tirar da cidade, para que havendo um combate, seria em um lugar neutro, onde não houvesse tantos civis.                

— Interessante. – Ele já havia considerado essa ideia, mas não conseguia entender porque Beatrice estaria preocupada com pessoas que lhe eram desconhecidas. – Então, o melhor a fazer no momento é destruir essa pequena pretensão dela. Trazermos Beatrice para cá.    

— E como faremos isso?                                                                                                                          

— Acha que conseguiria alguns soldados de sua confiança e discretos, para uma pequena missão? Não precisa ser um número muito grande, mais que um, mas menos de cinco. - O doutor elaborou rapidamente um plano em sua cabeça.                               

— Sim, senhor. Mas qual seria a missão?                                                                                             

— Ora, meu caro, trazê-la para cá.                                                                                                       

— E por que ela se entregaria se a intenção dela era irmos até ela? - Ele perguntou preocupado, sem entender as intenções do doutor. - E os outros? Como um número tão baixo de soldados poderia lidar com toda essa gente?           

 - Tudo depende do incentivo certo – o Doutor sorriu. – Não precisa se preocupar com os outros, Beatrice virá de boa vontade. Eles só levarão uma mensagem para ela.

— Qual? – perguntou Simons.

— Diga a ela, que se ela não voltar acompanhada pelos soldados, eliminaremos todo esse povo que mora aqui, começando hoje. Um por hora de atraso até a chegada dela. Ela não está tão preocupada com essas pessoas? Então deixe nas mãos dela as vidas deles. - Zank sorriu, satisfeito consigo mesmo. - Vá resolver isso, Simons. O quão mais breve, melhor. Nosso tempo está se esgotando.                       

P.O.V CHRISTINA

Mesmo que já fosse manhã, muitos ainda dormiam. E era a vez de Christina ficar encarregada do rádio. Tudo estava bem monótono, nem Zeke ou Tobias falavam nada há horas.

Ela não estava sozinha, Meg cochilava em um canto do quarto e o ressoar da sua respiração era a única coisa que podia ouvir. Christina queria ir deitar-se ao seu lado e se aconchegar nela, mas sabia que a relação das duas andava meio estremecida. Meg não estava bem. O modo como agiam uma com a outra, deixava Christina um tanto desconfortável e triste, principalmente, pelo motivo de não entender exatamente o que estava acontecendo.

Daniel era uma das poucas coisas boas no momento. Ele era sempre engraçado com seus flertes bobos e gracejos que a faziam esquecer momentaneamente toda a loucura que estava acontecendo ao seu redor. Há menos de uma hora ele estava lá, fazendo o trabalho de cuidar do rádio menos entediante.

Christina cutucou um dos botões desatenta. Com isso, o rádio soltou um som estridente. Isso assustou-a, fazendo ela pular da cadeira, quase caindo. E acabou acordando Meg.

tudo bem? — Meg arrastou a voz sonolenta, mas com um tom de preocupação.

Christina suspirou.

— Sim, desculpa te acordar.

— Ah. — Meg olhou envolta passando a mão no cabelo — Cadê o Daniel?

— Foi falar com o irmão, acho. Faz tempo já.

— Certo. — Bocejou.

— Pode voltar a dormir. — sorriu para ela carinhosamente.

O silêncio instaurou-se e Meg não voltou a dormir, permanecendo em silêncio. Christina perguntava-se o que ela deveria estar pensando naquele momento, encarando o vazio, e sentiu vontade de questioná-la. Contudo, se contentou em dirigir sua atenção para suas unhas levemente roídas.

Meg levantou sutilmente, chegando perto dela. Sentou-se do seu lado acanhada.

— Christina? — falou hesitante.

— Hm?

— Eu... — suspirou — Eu...

Meg mordeu o lábio e olhou para o lado por uns breves segundos. Ela movia-se parecendo incomodada. Lembrava um pouco como ela agia quando ainda elas estavam no campo da amizade.

— Desculpa. — Meg disse finalmente, após outro suspiro. Christina relaxou na cadeira e segurou um sorriso que teimava escapar. Felizmente, Meg pareceu não perceber isso.

— Pelo o que exatamente? — indagou ingenuamente.

— Por... tudo. Por como as coisas estão indo entre nós. — Meg passou as mãos nos olhos para depois cruzá-las — Não sei bem como te dizer isso.

— Tudo bem. — dessa vez Christina não segurou o sorriso para incentivá-la a falar.

— Eu estava com ciúmes, ok? Do Daniel. Do jeito que vocês interagem... conversam. — Assim que percebeu que Christina estava prestes a falar continuou — Antes que você diga que é paranoia minha, eu quero que você entenda. Eu já tive mais de um relacionamento com mulheres que só queriam experimentar um casinho com outra garota, só para ver como é, e assim que aparecia um homem no meio, elas caiam fora. E no começo, elas tinham certeza que gostavam de mim, que não era só curiosidade, entre outras coisas. Não que eu pense que você faria isso comigo... Só estou explicando o porquê que ver você e o Daniel juntos me fez surtar. E talvez, eu tenha imaginado que a mesma história poderia repetir-se...

Toda a fala de Meg deixou Christina um tanto atordoada, sem saber exatamente o que dizer. Fazia perfeito sentido tudo que ela havia dito, porém, isso não impedia um sentimento pesado de instaurar-se em seu peito.

— Eu achei que você estava se afastando aos poucos, para ser sincera. Daniel é um ótimo amigo, ele é engraçado e tem servido de um ótimo apoio para mim nessa bagunça toda. Todos os meus amigos estão em Chicago correndo risco enorme, e me sinto um pouco sozinha. É bom rir as vezes. — sorriu torto — Mas ele é um amigo. E eu gosto muito, muito mesmo de você.

Meg engoliu a seco.

— Desculpa. Eu realmente surtei, né?

— Não, eu entendo. Eu acho que eu deveria me desculpar por dar um pouco de bola para o Daniel, mesmo que seja de brincadeira.

— É só parar. — Meg fez bico.

Christina riu e esticou o braço para acariciar o de Meg, fazendo-a sorrir de canto e esticar a outra mão para acariciar sua bochecha. Foi Meg que quebrou a distância beijando Christina como não fazia há algum tempo.

— Eu também gosto muito de você, sabia? — Meg sussurrou e encaixou sua cabeça no pescoço dela.

— Ah, é?

As duas ficaram daquele jeito por um tempo, até um chiado começar a sair do rádio, seguido por uma voz.

— Ei! Alguém?

— Tobias. É bom ser importante. — Christina disse amargamente.

— Hmmm, atrapalhei algo? — ele ria.

— Tobias, me dá isso. — Christina estava ficando doida ou tinha ouvido Eleonor?

— Eleonor? O que está fazendo aí com Tobias? — Meg questionou.

— É uma longa história. Enfim, estão todos aí?

— Só eu e Meg.

— Chame Beatrice e Damon, eles realmente vão querer ouvir isso.

Christina já estava correndo, indo procurar os dois quando ouvir soar a distância uma voz robótica, chamando pelo nome de Beatrice.

— Esperem! Tem algo acontecendo! Estou ouvindo algo. – Disse nervosa.

P.O.V BEATRICE

Ela devia ter sido a primeira a ver os homens se aproximando, imaginava. Já não dormia bem há dias, e nesse não havia sido diferente. Entediada, sentou-se numa pequena área aberta que havia no prédio, distraída, pensando em como havia se metido naquela confusão. Ou melhor, como ela havia metido todos naquela sua confusão.

Foi quando viu três homens se aproximando, lá longe. Soldados, logo percebeu. Loucos, ela imaginou. O que poderiam querer? Seu recado já deveria ter sido dado ao Doutor. Será que eles vieram entregar a resposta?

Eles pararam há alguns metros do prédio, e um dos homens buscou algo dentro da mochila que carregava nas costas. Sacou de dentro, um megafone. Taí uma coisa que ela não via há muito tempo, mas extremamente útil. Ele aguardou com o aparelho nas mãos, enquanto outro procurava algo nos bolsos. Sacou algo que parecia um papel. A distância, era difícil ter certeza.

— Senhorita Beatrice Prior, trazemos uma mensagem mandada pelo Doutor Zank e os demais comandantes para você. - Ele começou a falar, após testar vacilante o aparelho por alguns segundos. - Eles pedem que a senhorita se entregue pacificamente, para ser julgada por seus diversos crimes. - Beatrice sorriu. Seus diversos crimes? De quais exatamente ele estaria falando? - Aguardaremos algumas horas até a senhorita se entregar e nos acompanhar até a cidade. Mas sua rapidez é fundamental nesse momento, já que por cada hora perdida, sem sua chegada, um civil será executado, por causa de sua teimosia e pretensão de acreditar que poderia fugir da justiça.

Beatrice gelou. Aquilo era uma sandice, eles só poderiam estar blefando. Tentou acreditar nisso, mas sabia que o Doutor não blefava. Achava surpreendente que soldados treinados que serviam ao governo pudessem compartilhar daquele ultimato ridículo que colocava a vida de civis inocentes em jogo, apenas para prender uma "criminosa", que apesar de não ser nenhuma santa, não era procurada por nenhum crime tão grave assim.

Ela tentou pensar em uma solução, não queria se entregar. Sabia perfeitamente o que aconteceria se fizesse isso, mas não conseguia ver nenhuma solução que não envolvesse pelo menos a morte de uma dezena de pessoas. Pessoas que morreriam porque ela trouxe esses monstros para cá. Que escolha ela tinha? Era tão egoísta ao ponto de ignorar isso?

Talvez, no passado, sim. Mas agora, ela lembrava-se de quem um dia havia sido, de quem realmente era no fundo de seu ser. A garota idealista e altruísta brigava dentro de si com a versão que havia aprendido, na marra, a se virar, capaz de fazer qualquer coisa para se manter viva. Como ela poderia viver o resto de sua vida, depois de ter deixado pessoas morrerem por sua omissão?

Guardando lágrimas nos olhos, ela caminhou perdida, em direção ao quarto, para pegar uma arma para levar. Era inútil, é claro que a revistariam, mas precisava tentar. Escondeu uma pequena faca de cabo curto, dentro da bota que usava.

Ao descer, viu outros correndo em sua direção. Meg chegou ofegante:

— Beatrice! Você não pode ir agora! Tobias e Eleonor estão no rádio, Tobias fugiu. Você precisava ouvir o que eles têm a dizer! Parece que o Doutor tem um prazo...

— Esse prazo acaba dentro de uma hora? - Beatrice cortou-a, mesmo ignorando o que a outra dizia. - Porque se não for, não importa muito, não é?

— Mas... - Meg tentou.

— Você sabe que preciso fazer isso. Sabe que não tem outra solução, no momento. - Ela sorriu tristemente, tentando disfarçar o quanto suas mãos tremiam. - Eu vou com eles agora, mas vocês vão me resgatar. Não há motivo para preocupação. Tudo acabará bem. - mentiu.

Seguiu em direção ao portão. Damon estava parado, encostado. Ele não disse nada, sabia que não adiantaria. Era incrível a forma como Damon conseguia notar as pequenas mudanças que ocorriam nela, ele sabia que tempos antes ela não teria tomado essa decisão. E, principalmente, ele mais que ninguém sabia o preço que ela teria que pagar ao escolher isso. Ela conseguia ver nos olhos dele que ele já imaginava o que iria acontecer com ela, mesmo que no fim eles a resgatassem. Ele havia lido o caderno.

— Ei!- Ela chamou a atenção dele, ao cruzar a porta- Não se esqueça do que me prometeu. Estou contando com isso.

Saiu para encontrar seu destino. Talvez, ela ter revivido, no final, tivesse sido apenas um erro, que estava só aguardando o momento para ser resolvido.

Ela já tinha saído, e por isso, não ouviu o que aconteceu depois. Não ouviu quando Damon disse a Christina e Meg:

— Vamos lá falar com Tobias. Acho que eu e ele precisamos ter uma conversinha.

P.O.V TOBIAS

Tobias estava com as mãos trêmulas. Estava conversando com Meg enquanto Christina correu para procurar por Damon e Beatrice, e contava-a sobre o prazo de cinco dias que o Doutor tinha, quando Meg pediu-lhe para ficar em silêncio para ouvir o que estava acontecendo. Depois disso, Meg disse que já voltava parecendo desesperada e saiu correndo. E até agora nada dela voltar.

Eleonor estava ao seu lado igualmente incomodada, respirando pesadamente.

Tobias prendeu a respiração quando começou a ouvir movimentações novamente.

— Hã... oi? — começou — Está tudo bem?

— Ah, Tobias — era Meg — Desculpa sair assim, não queria te deixar preocupado. Eu só tinha que... tentar.

— Tentar o quê? — indagou.

— Ah, bem, sobre isso... — Christina deixou a voz morrer. Aumentando o nervosismo dele.

— Beatrice se entregou para o Doutor. — Tobias reconheceu prontamente a voz impaciente de Damon. Umedeceu os lábios, e por um momento pensou que tinha ouvido Damon errado.

— O quê?

— O Doutor disse que a cada hora que ela não se entregasse mataria um civil. Três soldados apareceram por aqui e a levaram.

— Oh. — Tobias estava um tanto em choque, trincou os dentes. O seu coração batia descompassado de preocupação com Beatrice, no entanto, estava um tanto orgulhoso dela, por vê-la importa-se tanto com o povo de Chicago. Isso até o lembrava de quando Tris fez algo parecido e estregou a si mesma para a Erudição ,mesmo com Tobias sendo completamente contra.

Um sorriso apareceu com a lembrança. Eleonor olhou-o atravessado, mas não disse nada.

— O que faremos? — Tobias tentou soar o mais sério e calmo possível, sem ter certeza se estava conseguindo ou não.

— Nós vamos salvá-la, é óbvio. — Christina disse, distante.

— Eu sei. Mas vocês têm um plano? Combinaram alguma coisa com ela?

— Não. — disse Damon — Não tivemos tempo para conversar, sabe. — seu tom era sarcástico.

— Isso faz muito tempo? Talvez a gente consiga chegar neles antes. São só três soldados. — Eleonor sugeriu.

— Tem uma pequena possibilidade que vocês tenham tempo. — Damon suspirou — Mas não podemos fazer isso. O Doutor vai matar civis se ela não aparecer, vocês sabem que ele vai. Beatrice não gostaria nem um pouco disse. — a última frase saiu tão amarga que Tobias revirou os olhos.

— É verdade. Temos que arranjar um jeito de resgatá-la, mas depois que resolvermos o problema com os civis. — Tobias disse.

O silêncio era sinal de que todos pensavam em como fazer aquilo.

— Teria algum jeito de evacuarmos a cidade?

— É impraticável com o número de pessoas que temos, o número de soldados e o número de civis. — Tobias pontuou — Além disso, temos que ser rápidos. Como disse a Meg há pouco tempo, o governo deu um prazo para o Doutor de cinco dias para sair de Chicago e acredito que estejamos no terceiro ou quarto dia.

— O governo? — Damon questionou com desdém — O exército do Doutor não é do governo?

— É, mas imagino que ele não tenha a aprovação do presidente e sim de algum senador ou governador. Lembro de Jacob comentando algo sobre o governo não estar totalmente ciente sobre, hm, as pesquisas dele.

— Então vão invadir Chicago? Ótimo. O Doutor vai querer sair assim que Beatrice chegar em suas mãos.

Tobias trincou os dentes com força. Droga! Ele não tinha ponderado que o Doutor podia ir embora tão cedo.

— Quantos objetivos impossíveis nós temos aqui. — disse Damon — Sinceramente, eu não me importo com os civis de Chicago, mas se isso parece tão importante para Beatrice, imagino que possamos nos aliar ao governo, eles devem conseguir nos ajudar e nós ajuda-los de alguma forma já que temos tanta informações.

— Aliar-se ao governo? — agora a voz desdenhosa partira de Tobias — Você? O grandioso líder da Revolução?

Damon ri.

— Claro que você cuida de entrar em contado com eles, e eu cuidado do resto.

— Vou ver como faço isso. — Tobias estava surpreendentemente confortável conversando com Damon, e o sentimento parecia ser mútuo. — Parece que somos parceiros agora, hein?

— Pois é, mas não fique todo animadinho.

P.O.V MITCHELL

Como todo dia, desde que havia chegado naquele lugar, Mitchell foi até a barreira para vigiar como estava a situação. Pela primeira vez, ele teve uma grande surpresa, quando surgiram três soldados, um com um megafone, mandando uma garota se entregar e avisando-a que se ela não fizesse exatamente isso, pessoas iriam morrer.       

Logo após, a garota seguir com eles. Mitchell observou a agitação que tomou conta do lugar. Ele não sabia quem era aquela garota e ainda não sabia o que de fato estava acontecendo. Mas de uma coisa ele tinha certeza: havia chego o momento de ele agir.


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Notas finais do capítulo

A fic tá acabando, então os fantasminhas podiam aparecer para dar um olá, né?
bjs e até o próximo