P.O.V JACOB

Se Jacob não estivesse distraído imerso aos seus próprios pensamentos provavelmente ele perceberia que algo estava errado. Não fazia muito tempo que Tobias estava em suas mãos e ainda não tinha conseguido nada do rapaz, o pior que quem começava a ficar abalado com toda essa conversa era o próprio Jacob.

Pensar no futuro daquela maneira era algo que nunca tinha feito. O que aconteceria com ele depois de toda essa confusão? Isso se ele conseguisse manter-se vivo até lá. O fato de que o Doutor poderia vir matá-lo apossava-se de sua mente corroendo certos pontos que, antes, já estavam decididos por Jacob. Ou seja, sua condição era péssima para arrancar algo de Tobias e por isso estava lá entre alguns soldados tomando um ar.

E com essa oposição de ideias e pensamentos lutando entre si deixava-o completamente desconectado dos acontecimentos ao redor. Tobias idiota. Doutor idiota. Vida idiota.

Era frustrante não conseguir raciocinar direito, não poder ter um caminho certo para si. Jacob sempre foi impulsivo, ele gostava de saber que o estava fazendo era o mais correto sem milhões de pensamentos o contradizendo.

Foi andando de um lado para o outro passando casualmente as mãos no rosto que um soldado tocou-lhe o ombro delicadamente.

— Ei, está tudo bem?

— Hã, sim. — Jacob leu o nome "Cooper" em seu uniforme — Só pensando.

— É Jacob, né? — assentiu como resposta — Bem, é só meio estranho você assim no meio da rua co m tudo isso acontecendo.

— Tudo isso? Como assim?

— Houve uma mobilização do governo federal — Cooper gesticulava com as mãos — E parece que, pelo o que um dos nossos trousse mensagens que afirmam ser de um importante a gente por aqui, que tem algo haver com o Dr. Zank e Chicago.

Jacob balançou a cabeça absorvendo a informação. Então eles tinham descoberto o que o Doutor estava fazendo à cidade? Se não, pelo menos desconfiava. Uma risada quis brotar dos pulmões dele, mas limitou-se a um sorriso irônico. Era só isso que faltava, problemas com o governo.

— Isso é ruim. — Jacob virou o rosto fingindo não perceber o questionamento de Cooper por causa de seu sorriso. — E o que o Doutor disse?

— Ele não se pronunciou oficialmente para nós, apena disse algo com os de escalão maior. — suspirou — Meu superior me disse alguns detalhes, meio em segredo. Ele disse que o homem parece abalado, talvez até nervoso.

— E por que está essa bagunça, então? — englobou a cidade com as mãos.

— O Doutor deu ordem direta para dar uma investigada básica em todos da cidade, porque pode haver algum oficial disfarçado entre nós ou entre a população. Só o básico mesmo. — sua última frase saiu sarcástica.

— Isso vai dar muito trabalho.

— Nem me diga. — rolou os olhos.

Jacob soltou um riso seco. Mesmo com as informações novas e que mereciam preocupação ele sentiu-se mais relaxado deixando sua mente distanciar-se dos problemas com o Tobias e com o Doutor.

— Cooper! Para de vagabundar e volte ao trabalho! — alguém gritou atrás deles fazendo Cooper pular de susto e colocar-se em posição.

— Sim, senhor. Desculpe, senhor. — falou as frases padrões com naturalidade.

Despediu-se de Jacob com um aceno rápido de cabeça que foi devidamente retribuído. Assim, ele decidiu sair do meio da rua e sentar-se e um banco vazio, fechar os olhos e esvaziar a cabeça.

...

Jacob decidiu, quase uma hora depois, dar uma volta por Chicago. Gradativamente ele foi percebendo como a movimentação dos soldados estava realmente afetada, entravam e saiam correndo de prédios com civis assustado gritando ordens prontamente. Jacob conseguia visualizar em sua mente eles entrando e jogando as coisas de civis aos ares, dizendo em seus comunicadores que não haviam encontrado nada e saindo sem dizer nada.

Nesse esvaziamento de ideias acabou por parar aonde ele e Meg encontraram com Caleb pela primeira vez, foi onde toda aquela reviravolta em sua vida tinha começado. Se alguém lhe dissesse naquela época que ficaria contra Beatrice a favor do Doutor provavelmente ele ria da cara da pessoa afirmando que esta não saberia sabe sobre sua vida, ou sobre ele. Talvez nem ele mesmo sabia quem era, e talvez nem tenha tanta certeza assim.

Naquele dia estava sentindo-se tão nostálgico, triste e confuso que se irritava consigo mesmo. Sua cabeça parecia funcionar como a de um adolescente de quinze anos de idade que não sabe o que quer da vida.

Jacob, por alguns minutos, imaginou como seria as coisas se aquilo ficasse apenas entre os dois e Caleb, pois assim talvez encontrassem Beatrice e talvez ela não conheceria Tobias, ou seja, não teria reais motivos para ficar em Chicago. Meg e Beatrice obviamente discordariam dessa opinião de Jacob, entretanto podia apostar que Caleb aprovaria.

Continuou andando até chegar aonde já foi a Abnegação. Reconheceu de imediato de várias casas igualmente sem graça.

Seguiu até onde havia uma picape militar estacionada, pois estranhou o fato de estarem lá. Entrou na casa cautelosamente pigarreando para anunciar sua presença.

— Jacob. — como sempre um dos soldados o reconheceu, virou-se a ele e sorriu de canto. Enquanto o outro apenas acenou com as costas da mão revirando uma caixa.

— O que estão fazendo aqui? — indagou com tom indiferente.

— Esse endereço específico... Parece que uma família importante morou aqui... Então pediram para os idiotas aqui revistarem a casa em busca de algo e procurar se há alguém se escondendo aqui...

— Sinceramente, não acredito que estamos aqui só por causa daquilo. — resmungou o soldado antipático.

— Tinham que colocar a culpa. Quem vão ser os bodes expiatórios? Os novatos, óbvio. Por que não?

Jacob riu nasalmente da interação dos dois. Não tinha interesse em saber no que aconteceu, por isso não perguntou nem eles comentaram nada. Observou como a casa estava bagunçada percebendo como ambos pouco importavam-se com lá.

— Encontraram algo? — perguntou curioso.

— A única coisa que encontramos de interessante foi um rádio bem antigo. — respondeu o antipático com um tom mais ameno.

— Conseguimos fazer funcionar, mas ninguém usa esse troço mais, portanto desistimos. — o outro apontou para uma caixa.

Jacob aproximou-se de uma caixa enorme onde lia-se "Natalie" escrito de caneta permanente, ele estranhou, afinal parecia ser algo recente e até onde soube-se aquele lugar, mesmo que bem cuidado, estava vazio a tempos.

Pegou o rádio e sentou-se de pernas cruzadas. Mexeu no aparelho intrigado, já havia visto alguns desses em feiras, entretanto nunca prestou sua devida atenção por falta de interesse em algo como aquilo. Mas naquele dia seria bom ter a algo a distrair.

Uma fita crepe estava colada na parte superior do aparelho retangular onde também se lia "Natalie". Jacob imaginava quem seria essa pessoa.

Após algum tempo mexendo e recebendo apenas barulhos chiados que começavam a decepcioná-lo. Provavelmente esse troço está quebrado, pensou bufando. Pensava seriamente desistir e deixar o aparelho de lado, no entanto considerava que esta era sua melhor opção a fazer no momento. Ali não tinha que se preocupar com nada, pois dificilmente alguém o acharia.

Mexeu mais algumas vezes naqueles botões, até uma voz sair baixa e chiada.

— Tem alguém aí? — não demorou e a pessoa repetiu.

Jacob se manteve em silêncio e um sorriso surgiu em seu rosto. A voz claramente era de Daniel, ele o reconheceria em qualquer lugar. Após algum tempo em silêncio outra voz entrou na jogada.

— Droga, será que estou fazendo certo? Ei, tem alguém ouvindo? Que merda é esta? Quem está aí?^

— Zeke? — desta vez uma voz feminina perguntou.

Jacob não era idiota para entender o que estava ouvindo, para entender a sorte que tinha naquele momento. Cobriu a boca com a mão para uma risada de felicidade. Aquilo era simplesmente incrível. Ponderou em responder, entretanto isso seria idiotice da sua parte.

Pegou o rádio e saiu. Iria para algum lugar longe o suficiente para ouvir as transmissões em paz. Iria decidir se ia ou não declarar sua presença dependendo da situação. Mas por enquanto certamente usaria aquilo a seu favor.