Beatrice POV - Milwaukee

Já fazia quase um mês que Beatrice havia fugido de tudo, neste tempo ela havia atravessado o país. Nesse momento encontrava-se na cidade de Milwaukee, sentindo que estava cada vez mais perto do seu objetivo. Mas era apenas uma sensação. Ela havia visitado várias bibliotecas, mas não encontrou nenhuma referência a sua sonhada roda gigante. Alias não se encontrava muita informação sobre nada, como a Revolução havia lhe ensinado o Governo mantinha a população no escuro sobre quase tudo. Ela tinha meios de descobrir o que queria, mas sentia-se apreensiva de fazer um movimento em falso e acabar chamando uma atenção indesejável sobre ela.

Estava dirigindo pela cidade em um carro, que havia roubado quando chegou ao desinteressante estado de Illinois. Avistou um pequeno escritório, o lugar parecia interessante, meio sombrio. Para ela isso era bom. Talvez houvesse membros infiltrados da Revolução trabalhando lá. Era claro um grande risco. Mas estava cansada de rodar por ai sem descobrir nada, então resolveu arriscar.

Adentrou o pequeno recinto, e observou. Era uma recepção. O lugar onde deveria ter alguém para atendê-la estava vazio. Arriscou-se entrando mais pelo escritório, mas este parecia deserto. A não ser um homem jovem sentado confortavelmente em uma mesa parecendo estar absorto em um livro. Ela considerou suas opções: havia computadores ali e aquilo poderia ser útil. Entretanto o homem à sua frente não ser o tipo de pessoa que se esperava ver trabalhando para a Revolução. Porém o tempo estava passando, e ela não sabia mais quanto tempo conseguiria fugir.

Aproximou vagarosamente da mesa, sem deixar de analisar o local. Parecia limpo e estéril. Ao sentir a aproximação dela, o rapaz levantou os olhos do livro. Ela pode perceber um brilho de astúcia e malícia em seus olhos, isso a fazer sentir mais confiança.

– Bom dia! Procuro informações sobre um local. Será que você poderia me ajudar? – perguntou forçando um sorriso que ela esperava que fosse adorável.

– Em que eu poderia te ajudar? – respondeu o rapaz desinteressado.

– O tipo de informação de que necessito é um pouco complexa – sorriu esperando que o homem percebesse o sentido em suas palavras.

– Não temos esse tipo de informação aqui.- Respondeu grosseiramente o rapaz.

– Tem certeza? Eu pagaria bem pela ajuda. Além do que algo me diz que eu e você pertencemos ao um mesmo grupo – arriscou e levantou a manga da blusa. Em seu pulso havia uma tatuagem que era a marca dos membros da Revolução. Era a forma como todos poderiam se reconhecer em qualquer lugar do país. Era muito perigoso mostrar isso para um desconhecido, mas ela tinha uma suspeita de o que havia dito era realmente verdade: o homem a sua frente era da Revolução.

O rapaz sorriu e em gesto rápido levantou sua manga mostrando ter a mesma tatuagem que ela. Silenciosamente ele se levantou e seguiu em direção a um computador.

– Que tipo de informação exatamente você precisa?

– Como eu disse preciso encontrar um lugar. Pode parecer estranho e vago, mas preciso encontrar uma roda gigante – respondeu se sentindo meio estúpida.

– Uma roda gigante hein? Esse é um pedido um tanto excêntrico, quase não existe mais nenhuma por ai. Engraçado que, por acaso, eu já vi uma. Espere um momento – respondeu ligando o computador. – vou te mostrar. – Beatrice sabia que ele entraria em uma web diferente da usada comumente. Sabia que ela entraria em um tipo diferente de internet, uma que era clandestina e dirigida aos rebeldes. Digitou em busca experimento - Chicago - fotos, e pareceu procurar uma imagem em especial. Quando a encontrou, aumentou sua resolução e pediu para Beatrice se aproximar mais.

Quando se aproximou, Beatrice sentiu-se embasbacada. Lá estava ela, sua roda gigante.

– Onde fica esse lugar? O que é isso experimento Chicago? – perguntou fracamente ao rapaz.

– Como você deve ter concluído esse local fica na cidade de Chicago. Não é muito longe daqui. Quanto o que é, ou melhor, era, o experimento Chicago isso você terá de descobrir sozinha. Vou te dar as coordenadas. – Imprimiu uma folha e desligou o computador. Parecia querer encerrar o mais rápido aquela conversa. Entregou a ela a folha impressa, onde havia a imagem da roda gigante e as coordenadas para chegar ao local.

– Se é só isso o que você deseja, acho que podemos encerrar. Não estou expulsando você, mas como um membro da Revolução você deve saber que todo o cuidado é pouco. E logo mais pessoas devem chegar, imagino que você não queira chamar atenção.

– Entendo, obrigada. – retirou da bolsa algumas notas de dinheiro e entregou a ele. O homem levantou a mão em um cumprimento.

– Foi um prazer te conhecer...

– Beatrice. Meu nome é Beatrice. Também foi um prazer conhecer você. - Ele deu um sorriso de lado, e sucintamente respondeu:

–Prazer Beatrice, sou Peter. Boa sorte.

(...)

Christina POV

Havia se passado alguns dias desde que todos haviam descoberto sobre a aparente volta dos mortos de Tris. Christina ainda não sabia como se sentir em relação a tudo isso,muito menos como agir perto de Tobias. Resolveu evita-lo, não que ele percebesse já que parecia estar com a cabeça em outro lugar, ou talvez, em outra pessoa.

Um pequeno grupo havia ficado incumbido de procurar por Tris em locais que eram familiares para ela. Eles se dividiram para tentar abranger o maior número de locais possíveis. Percorriam pelo local começando pela manhã e quando chegava à noite voltavam para suas casas. Assim Tobias, Jacob e Zeke começaram a vistoriar o antigo complexo da Audácia. Ela, Cara e Meg se mantiveram no setor da Abnegação. Caleb, Matthew e Amah se dirigiam ao Departamento.

Era fim de tarde, e Christina estava cansada de andar vagando por aí, não gostava de reclamar, mas achava um absurdo todos eles pararem suas vidas para procurar Tris. Mas tinha medo de que se falasse algo, Tobias ficasse com raiva. Olhou para Cara, ela também parecia farta daquilo. A única que se mantinha animada naquele pequeno grupo era Meg. Ela parecia venerar Tris, de uma maneira estranha. Cara cortou seus pensamentos:

– Eu achei que esta fosse uma boa ideia no inicio, mas agora me parece simplesmente inútil. Não concorda Christina?

– Acho que não podemos desistir tão cedo, só faz uma semana... – Christina tentou responder, mas foi interrompida por Cara.

– Interessante você dizer isso. – respondeu irônica.

Meg pareceu perceber a ironia das palavras de Cara e lançou um olhar curioso sobre elas.

– Do que vocês estão falando?

– Eu apenas achei que Christina não teria muito interesse em encontrar Beatrice. Considerando que agora ela é a namorada de Tobias. Você não sabe Meg, mas antes da morte de Tris, ela e Tobias namoravam. Ele ficou desolado após o que aconteceu, acho que nunca superou totalmente. Se Tris voltar...

Christina se sentiu mortificada pelas palavras de Cara. Ela tentou tanto esconder esses sentimentos, e ali estava Cara colocando para fora todos os sentimentos que ela remoia dia-a-dia. Um silêncio que havia se instalado entre as três foi quebrado por uma sonora risada de Meg.

– Isso é verdade? Você está realmente preocupada com isso? Acredite em mim, Beatrice é uma pessoa totalmente diferente daquela que vocês conheceram. De forma nenhuma ela vai querer ficar com esse cara. Vocês não acreditam em mim? Ela namora o líder da Revolução, sabe. Tem uma vida inteira estrutura, e tem bastante dinheiro e poder. Acha que ela vai largar tudo isso para ficar com um cara que mora no fim do mundo? Temos que admitir que esse lugar é tão sem graça... Tão diferente dela. Quando a encontrarmos vocês vão entender.

(...)

Jacob POV

Eles estavam no antigo complexo da Audácia, pelo menos, foi assim que eles haviam chamado o local. Tobias e Zeke explicaram que por muito tempo a cidade foi mantida isolada das outras em um experimento sobre genes puros e danificados. Jacob já tinha ouvido falar desses experimentos, mas vê-los era outra coisa. Aquilo parecia errado.

Os três caminhavam em silêncio. Jacob sentia-se terrivelmente solitário naquele lugar, parecia incrível para ele que Beatrice havia vivido naquele mundo tão insípido, solitário e limitado.

– Espero que a encontremos antes do doutor, e também antes de Damon. – Jacob tentou iniciar uma conversa com os outros dois.

– Damon, você não tinha mencionado nenhum Damon. Quem é este? –Tobias perguntou subitamente curioso.

– Digamos que ele é, ou era, o namorado de Tris. – percebeu que Tobias enrijeceu ao ouvir essas palavras. – Ele é o líder da Revolução e não deve estar nada satisfeito com o sumiço dela. Ele deve estar furioso, duvido que não tente encontrá-la. Acho que ele é um pouco obcecado nela.

Jacob percebeu que Tobias e Zeke trocaram um olhar demorado. Parecia que o clima havia se tornado tenso.

– Por falar em relacionamentos, qual era o de vocês com ela? – Jacob perguntou tentando entender o que estava acontecendo ali.

–Ela era a minha namorada. – Tobias respondeu meio a contragosto.

– Humm, entendo. Mas agora você está com a morena não é? Christina, não é?- Tobias ficou visivelmente nervoso com a pergunta. Zeke lançou um olhar de advertência a Jacob.

– Acho melhor deixarmos esse assunto para depois – Falou Zeke.

– Bem, eu concordo com isso. Mas acho melhor avisar vocês logo: A Beatrice de agora não é a mesma de antes. É melhor vocês não criarem expectativas sobre ela.

– Tanto faz – respondeu Tobias tentando parecer indiferente.

– Não quero ser chato, mas talvez seja a hora de voltarmos. – disse Zeke fingindo não perceber a desconforto do amigo - Já está escurecendo... parece que não será hoje que Tris irá aparecer. Será que estamos esquecendo de procurá-la em algum lugar? Algum lugar que seja especial para ela?

Ouvindo isso, Tobias se deu conta de algo. Havia realmente um local onde eles não haviam verificado. Um local que certamente seria especial para Tris.

– Antes de voltarmos, gostaria de checar outro lugar. Só por precaução.

(...)

Como ele não havia pensado nisso antes? É claro que um dos lugares mais marcantes para Tris, seria a roda gigante. Ela se sentiu tão viva e vibrante quando a escalou. Naquele primeiro dia, da caça a bandeira, ele pode ver perfeitamente o quão corajosa, inteligente e especial ela era. Mesmo que ele estivesse com medo por cauda da altura, não pode deixar de se sentir totalmente fascinado por ela.

Os três seguiram até o local no carro de Jacob. Ainda ao longe Tobias visualizou uma forma na roda gigante. Parecia alguém a escalando, alguém que parecia ter a mesma destreza e determinação de Tris. Tobias sentiu seu coração começar a martelar dentro do peito. O carro foi se aproximando mais, e ele pode perceber que era uma garota loira que estava lá. Tobias olhou novamente, agora mais perto, e sentiu seus olhos lacrimejarem. Ele não podia acreditar. Lá em cima da roda gigante, imperava uma mulher forte e destemida. Ela sua Tris.