Os dias em que estive na Capital pareceram séculos. Apesar de não ter sido cruelmente torturada igual Peeta e Johanna, Snow me fez ficar em uma cela da cor cinza, sem nenhuma iluminação. Ele não queria me ferir, e tinha me sequestrado apenas para atingir Finnick. Pensar sobre isso me deixava agoniada. Como alguém podia ser tão cruel?

Não tenho palavras para descrever o momento do reencontro com Finnick quando fui resgatada pelo Distrito 13. Mesmo em meio a todas aquelas pessoas vestidas de cinza, não demorei a achá-lo. Meu corpo preencheu-se de felicidade no instante em que olhei naqueles lindos olhos. Seus braços eram o lugar mais seguro e protegido do mundo. Éramos um só ser quando estávamos juntos, e ninguém poderia duvidar de nosso amor.

– Annie? Annie, por favor, fala comigo! – escuto a voz desesperada de Katniss enquanto abria lentamente os olhos.

– Katniss...

Ela me ajuda a levantar do chão e me dá um longo abraço. Minhas lágrimas começam a molhar a manga de sua blusa.

– Katniss, eu... não... Porque você não me falou antes? Eu... – diante de tamanho choque, nem falar direito eu estava conseguindo.

– Bom, eu até pensei em dizer, mas senti que deveria realizar o último pedido de Finnick exatamente como ele queria!

– Eu quero e ao mesmo tempo não quero abrir essa caixa, Katniss... ele...

– Annie, você sabe que pode contar comigo e com o Peeta, não é? Iremos abrir a caixa com você quando estiver pronta para enfrentar isso. Espere o tempo que quiser.

– Bom...eu acho que quero abrir agora. Talvez o Finnick tenha pensado que meu aniversário de vinte e cinco anos fosse a ocasião perfeita.

– Tudo bem, você é quem decide. Vamos abrir então! – diz Katniss, pegando a caixa de papelão do chão e fazendo sinal para voltarmos à minha casa.

Quando chegamos na sala, Katniss coloca a caixa na mesinha de centro.

– Peeta, é a hora! – ela grita, e em menos de um minuto ele aparece com Jake e Lily, ambos suados de tanto correr.

– Filho, o papai mandou um presente, você quer abrir comigo? – digo, pegando Jake no colo.

– O papai? O papai! Não acredito, quero abrir, vamos abrir agora! – os olhinhos dele começam a brilhar de felicidade, e não consegui conter a emoção.

Katniss pega Lily no colo e se acomoda no sofá. Peeta me oferece seu canivete para conseguir abrir a caixa mais facilmente, e em seguida senta ao lado de Katniss. Fico de joelhos em frente à caixa, com Jake ao meu lado, suas mãozinhas cerradas sobre seus lábios, não escondendo a ansiedade de finalmente receber algo do pai.

Antes de abrir a caixa, olho para cima e sussurro:

– Obrigada pelo presente, Finn. Eu sinto muito a sua falta.

Minhas mãos tremem enquanto eu corto a fita adesiva com o canivete. Enquanto abria, meu coração batia mais rápido que nunca.

Colado à tampa da caixa, havia um toca fitas, com um pequeno pedaço de papel escrito: “Aperte play”. Reconheci aquela caligrafia logo de cara. Dento da caixa, encontravam-se diversas cartas com envelopes de cores diferentes, cada uma com o nome de um mês do ano. Como meu aniversário era em maio, a carta desse mês estava no topo da pilha. Era um envelope roxo.

Ao lado das cartas coloridas, havia um pequeno tridente de metal. Estava um pouco gasto, mas logo reconheci que aquele tinha sido o tridente que Finnick tinha usado para aprender a pescar quando era pequeno. Em seu cabo, estava gravado em letras douradas: “Para o meu garotão”.

– Oh Jake, olha o que o seu pai mandou pra você! – digo, com lágrimas de felicidade e surpresa escorrendo por todo o meu rosto.

Ele imediatamente pega o tridente e o abraça com toda a força. Com os olhinhos molhados, diz baixinho:

– Obrigado, papai. Eu te amo.

A cena de Jake examinando o tridente me fez lembrar o tempo em que eu e Finnick éramos crianças, muito antes de irmos para os Jogos Vorazes. Eu perdia a noção do tempo nas inúmeras vezes em que o observava pescar na praia.

Peeta descola o toca fitas da tampa da caixa e me pergunta:

– Está pronta, Annie? – ele estende o pequeno objeto para mim.

Respiro bem fundo, e aperto o botão de play.