Com todas as minhas forças joguei aquele maldito celular no chão, ele se quebrou em vários pedaços, fez um barulho tão alto que todos olharam pra mim. Mas naquele momento não era o que importava, coloquei minha bolsa em volta do meu corpo e saí em passos apressados pela cafeteria. Quando cheguei a porta me atrevi a olhar pela última na direção daquele cara tão estúpido, assim como todos os outros ele estava paralisado me olhando. Soltou o guardanapo e a caneta que estavam em sua mão e veio correndo em minha direção. Mas eu apenas abri a porta e saí correndo pela calçada enquanto sentia as lágrimas caírem dos meus olhos. Fui impedida por alguém que me segurou por trás e me levantou do chão, fiquei chutando o ar e me debatendo.

–Me solta! Me solta-gritei furiosa. Ele me soltou mas segurou meu antebraço.

–Violetta o que foi?-parecia perplexo, apenas me sucumbi a imensa raiva que sentia e comecei a esmurrar seu peitoral com força.

–Seu idiota, mentiroso, traidor!-fui impedida por suas mãos que seguraram meus pulsos.

–Violetta dá pra você se acalmar e me dizer o que eu fiz?

–Você não fez nada! Nada!-aproveitei um momento de distração da sua parte e lhe dei um empurrão. Saí em direção a rua e comecei a agitar a mão desesperadamente para que um táxi parasse. Poucos segundos depois um deles atendeu meu pedido. Abri a porta rapidamente, mas antes que eu pudesse entrar, ela se fechou novamente, e eu percebi uma mão atrás de mim que havia a fechado.

–Violetta o que deu em você?

–Pergunta pra Lara-só me virei antes que ele pudesse me impedir e entrei no táxi. Pelo vidro percebi que ele me olhava totalmente confuso-Washigton Square por favor.

O táxi assentiu e começou a dirigir tranquilo. Escorei a testa no vidro e comecei a observar o trânsito caótico de Nova York, mas meus pensamentos estavam longe.

Bom agora posso contar que é a tal Lara: Lara Baroni é uma atriz, cantora e modelo espanhola conhecida mundialmente conhecida por estrelar filmes norte-americanos da Fox. Isso de acordo com a Wikipédia é claro. Na verdade Lara Baroni é uma cadela desprezível, ela e León já fizeram um comercial de uma rede de hóteis juntos. Desde o começo fiquei com o pé atrás, e isso se intensificou depois de eu conhecê-la pessoalmente, ela aparecia em todas as competições do León e ele eram ''grandes amigos". Sempre houveram boatos de que os dois tinham algo mais. Ela podia ser muito bonita, mas por dentro era cruél, podia ver nos seus olhos o desejo que ela nutria por León, e eu estava certa. A bomba estorou em março do ano passado, quando vazaram na internet fotos dos dois se beijando em uma balada em Manhattan. Era a notícia mais quente de todas, não se falava em outra coisa além do suposto romance de León Vargas e Lara Baroni. Foi a maior dor que eu senti na vida, me magoou muito. Reporteres não paravam de me ligar implorando entrevistas, era a pior experiência da minha vida!

Eu e León terminamos. Após alguns meses implorando de joelhos eu o perdoei e nós voltamos, mas com a promessa de que eles não manteriam nenhum tipo de contato. Mas depois de reatarmos, nada era mais como antes, a desconfiança prevalecia, e eu não parava de receber cartas e e-mails ofensivos de garotas malucas que se denominavam Leonaras, para elas eu era um empecilho para os dois pombinhos. Agora com aquele telefonema estava mais que claro que os dois continuavam se falando.

Quando chegamos a universidade, eu paguei o taxista, e em silêncio me dirigi até o prédio onde estava o dormitório das garotas. Pude perceber que haviam mais estudantes do que de manhã, todos estavam retornando aos poucos. Assim que cheguei ao quarto bati a porta com força, escorada na porta, deslizei até o chão. Ao pegar meu celular vi que haviam dez chamadas perdidas dele. Fechei os olhos com força e simplesmente me entreguei a imensa vontade de chorar que tomava conta de mim.

***

Eu tentava a todo custo prestar atenção na leitura do livro que estava a minha frente, mas era praticamente impossível ouvindo Ludmila matracar no telefone com a Naty. Sim, para minha infelicidade ela havia chegado agora a pouco e pendurava um vestido rosa-choque(afff!) no cabide enquanto segurava o celular entre o queixo e o ombro.

–Você está falando sério? Cara quem é que usa um all star com um vestido?-eu me irritei com aquele comentário, eu usaria, roupas não eram minha propriedade-Mentira!-ela olhou pra mim de olhos arregalados-Pode deixar, já vou ver-ela encerrou a chamada e jogou o vestido de qualquer jeito no chão. Correu até sua cama e ao abrir o notebook(rosa também, e coberto de strass), digitou rapidamente algo. Aproveitei pra tentar voltar a ler o livro mas fui interrompida mais uma vez pela sua voz-Violet querida! Eu acho que tem uma coisa que você gostaria de ver.

–O que é Ludmila?-perguntei em um tom irritado fechando o livro e tirando os óculos.

–Eu sinto muito-ela fez um biquinho e se sentou na beirada da minha cama me entregando o notebook. Eu estranhei mas ao ler o que estava escrito meu coração doeu:

''Parece que o casal mais falado do momento está com problemas. O piloto de MotoCross representante da Honda León Vargas, e a estudante universitária Violetta Castillo, foram vistos hoje pela manhã no aeroporto de Buenos Aires. Os dois não perderam tempo e logo pela tarde foram fraglados aos beijos na cafeteria Starbucks em Nova York. Mas o estranho é que logo após, de acordo com nossa fontes, houve uma discussão acalorada entre eles. Será que acaba de surgir mais uma oportunidade para que León e atriz Lara Baroni assumam o romance? Lembrando que Lara foi o pivô da separação do casal no ano passado. É, parece que nossa querida Violetta não está com as coisas correndo a seu favor''.

Senti lágrimas de ódio se reunirem nos meus olhos após ver logo abaixo da matéria a foto que eu mais odiava na vida, em que León e Lara se beijavam. Fechei a tela do notebook e o entreguei para Ludmila, que se aproximou e colocou a mão no meu ombro.

–Eu tentei te avisar Villu, gente pra ele não é pra gente como você-fechei os olhos com força pronta pra dar uma bofetada na cara dela.

–Ludmila você não tem nada melhor pra fazer do que ficar se metendo na vida dos outros não?

–Ai Violet calma! A culpa não é minha se o León se cansou de você.

Cerrei o punho, eu nunca cheguei tão perto de arrancar aqueles seus cílios postiços ridículos no tapa(e olhei que já cheguei bem perto). Mas respirei fundo tentando me recompor.

–Quer saber Ludmila, você merecia uma boa surra, de verdade, mas não vai ser eu quem vai te dar, porque eu jamais me rebaixaria ao seu nível entendeu?-tirei sua mão do meu ombro enquanto ela me fuzilava com os olhos. Me levantei e calcei meus sapatos enquanto ela me encarava sem saber o que dizer-Bom, eu vou sair pra dar uma relaxada. Você pode ficar aqui mesmo, especulando a vida dos outros em sites de fofoca mixurucas, já você não tem uma própria não é mesmo? Passar bem.

Dei um sorrisinho irônico enquanto via seu rosto assumir um tom vermelho. Saí do quarto me sentindo vitoriosa por ter segurado a onda e conseguido sair por cima na situação.

***

Olhei pro velho relógio de parede da biblioteca quase que deserta. Vi que já estava meio tarde, então marquei a página em que parei, fechei meu livro e me levantei em silêncio.

–Oi senhorita Angélica-cumprimentei a bibliotecária sorrindo.

–Olá Villu! Quanto tempo.

–Um mês!

–Isso, e como foram suas férias?

–Normais-falei querendo dizer que foram chatas.

–E como vai o León?

–Bem-cocei a nuca sem-graça-Se a senhora não se importa eu vou descansar, porque já está meio tarde não é?

–Claro querida, até amanhã então?

–Sim, amanhã dou uma passadinha por aqui. Até dona Angélica.

–Até Villu!-ela voltou sua atenção para o livro de Agatha Christie que tinha nas mãos. Me retirei, e suspirei ao me lembrar daquele idiota. Ele já tinha me ligado umas mil vezes desde de tarde, mas eu simplesmente desliguei meu celular, León pensava que me enrolaria?

Enquanto caminhava pelos corredores me lembrava de como tudo começou, e me arrependi amargamente pelo dia em que eu decidi ir embora mais cedo da pizzaria:

FLASHEBACK

''Guardei minhas coisas na bolsa, coloquei ela de lado e me aproximei do balcão onde papai estava.

–Papai eu já vou indo tudo bem?

–Claro querida, só tome cuidado.

–Pode deixar-dei um beijo na sua bochecha e saí da lá respirando enfim o ar da liberdade. O dia tinha sido bem calmo, o movimento tinha sido meio fraco e passei a maior parte dele desenhando como quando fazia nessas ocasiões. Tirei os meus fones da bolsa e comecei a escutar Give Your Heart A Break. Meio que saí da realidade, nem prestava muita atenção a minha volta, apenas cantarola o refrão baixinho-Give your heart a break, let me give your heart a break, your heart a break.

Foi então que senti algo me molhar. Na hora tirei o os fones assustada, vi um cara numa moto parar depois de passar por uma poça de água e descer enquanto eu olhava pro estrago que ele havia feito no meu uniforme. Quando se aproximou e tirou o capacete fiquei meio boba por alguns instantes, ao encarar seus olhos verdes, seu cabelo castanho meio bagunçado, ele era um gato!

–Me desculpa, eu não vi você!

–Olha só o que você fez, não olha por onde anda?

–Ei nervosinha, eu já pedi desculpas-ele segurou meu braço. Quando me tocou, mesmo seus dedos estando cobertas pro aquela luva de couro, senti uma corrente elétrica percorrer meu corpo. Mas logo puxei meu braço irritada.

–Quer saber, esquece. Tchau-me virei e saí pisando duro, mas ele do nada pulou na minha frente.

–Espera, eu sou o León.

–Espera, eu não te perguntei.

–Por que essa marra toda?

–Não te interessa, agora me deixa em paz.

Passei do seu lado o empurrando, mas ouvi sua voz pela última vez:

–Prazer em conhecê-la Violetta-parei e me virei o olhando confusa, como ele sabia meu nome? León deu um risinho, colocou seu capacete e subiu na moto. Foi só então que eu me lembrei do meu crachá me sentindo uma tonta.''

Não podia deixar de rir do jeito desagradável em que nos conhecemos. Apesar de achar que nunca mais veria aquele idiota na vida, aconteceu o contrário:

FLASHEBACK

''-Violetta tem um cliente na mesa 14, pode atendê-lo por favor?

–Claro Olga-desci do banquinho e peguei o bloquinho para anotar o pedido. Me aproximei da mesa com um cara esquisita cobrindo o rosto com o cardápio-Boa tarde pizzaria... Você de novo??? O que faz aqui???-o que aquele idiota estava fazendo ali com aquele sorrisinho irônico no rosto?

–Oi, você por aqui?

–Não se faça de tonto, o que veio fazer aqui?-ele olhou pros lados.

–Bom, aqui é uma pizzaria então eu provavelmente vim comer uma pizza não é? Eu sou cliente e você tem que me atender bem-bufei de raiva.

–O que você quer?

–Uma pizza a portuguesa média por favor.

–Só?-perguntei anotando seu pedido.

–Sim.

–Já volto-me virei sentindo o olhar daquele cínico sobre mim. Me dirigi até a cozinha e gritei do balcão-Pai, uma portuguesa média!

Ele apenas acenou com a cabeça, me virei e vi que o bobão me olhava com um sorrisinho de canto de boca. É claro que ele tinha vindo só pra me provocar, ai que ódio! Enquanto seu pedido ficava pronto, comecei a servir outras mesas e limpar outras, eu sabia que ele me observava mas apenas o ignorei.

Quando meu pai tocou o sino de balcão avisando que já estava pronta, me dirigi até lá e levei a pizza até sua mesa. A coloquei por cima da mesa com cuidado junto com um prato.

–Obrigado-ele falou em silêncio.

–De nada-murmurei me virando, querendo ir embora o mais rápido possível.

–Espera, você acha que eu vou conseguir comer essa pizza gigante sozinho?-me virei confusa, ele estava com um olhar de desgosto no rosto-Se eu tivesse alguém com quem dividí-la e que me fizesse companhia enquanto eu comesse-rolei os olhos e me virei soltando uma risadinha.

–Espero que você encontre alguém.

–Você me entendeu Villu-ele segurou meu braço ainda sentado.

–Pra você é Violetta.

–Tudo bem Violetta, é que eu fiquei chateado com o jeito que você me tratou ontem, então resolvi te dar uma segunda chance de desfazer aquela primeira impressão-eu olhei incrédula, ele estava falando sério?

–Você é muito abusado sabia?

–É por isso que as garotas me amam-se fez de charmoso.

–Garotas surdas e cegas?-perguntei rindo.

–Haha engraçadinha. Agora é sério, nem por um decreto eu consigo comer isso tudo sozinho!-eu não sei o que deu em mim, só sei que olhei pra cozinha e vi meu pai distraído.

–Tudo bem, eu posso te fazer esse favor-me sentei do seu lado enquanto ele sorria de orelha a orelha. Meu Deus, por que eu fiz aquilo? Ele era um completo estranho! Eu só sei que uma coisa muito forte me atraia nele.

–Pensei que seria mais difícil.

–Então eu posso ir...-falei me levantando mas ele meio que desesperado me segurou.

–Naninanão, agora a senhorita é minha por algum tempinho-só ri e me sentei.

–Nossa que possessivo.

–Bom, vamos começar de novo? Prazer sou o León-ele estendeu a mão e eu a apertei.

–Prazer sou a Violetta.

–Me fale sobre você Violetta...-me olhou pegando um pedaço de pizza.

–Tenho 17 anos, moro aqui em Buenos Aires e só.

–Só?

–Por enquanto só, mas agora é sua vez.

–Eu tenho 19 anos, moro em Nova York, mas estou passando as férias com meu pai aqui em Buenos Aires.

–Você é de Nova York? Que legal! Meu sonho e conhecer lá.

–Se você for eu posso te mostrar a cidade pessoalmente quem sabe...-eu dei um sorrisinho tímido. Era tão estranho como conversávamos como se nos conhecêssemos a muito tempo. Ele ficou meio bobo me encarando.

–O que foi? Eu disse alguma coisa errada?

–Não, não, é só que você lembra que me perguntou o por que de eu estar aqui? Bom, tem outro motivo-ele deslizou a mão por cima do forro e colocou ela sobre a minha-É que fiquei sabendo que aqui ficava a garçonete mais linda do mundo.

Corei na hora completamente envergonhada. Apenas com a mão que estava livre tirei do bolso do meu avental um papel dobrado. Ele franziu o cenho e o desdobrou, mas sua expressão mudou pra um lindo sorriso. Eu abaixei a cabeça envergonhada por ser um desenho seu que havia feito, mesmo só tendo o visto uma vez. Estavam muitas coisas diferentes, mas se pareciam. Eu percebi a burrada que tinha feito e tirei o papel de sua mão.

–Me desculpa, você deve me achar maluca, é que eu...

–Não eu gostei! De verdade Violetta-eu sorri encantada.

–Pode me chamar de Villu.

Seu sorriso dobrou de tamanho, eu estava em transe o observando. Mal sabia eu que aquele seria o primeiro de muitos desenhos que eu faria dele, e que o dono daquele sorriso lindo mudaria minha vida completamente.''

Sacudi a cabeça tentando reprimir aquelas lembranças, você devia estar com raiva Violetta! Quando percebi estava bem próxima da porta do meu quarto, apenas me aproximei e a destranquei. Tirei meu casaco o colocando em cima da escrivaninha. Liguei a luz do abajur, e logo gritei com o susto que tomei.

–Aaaaa!-cobri a boca, enquanto León se levantava da minha cama e vinha em minha direção.

–Violetta me desculpa eu...

–O que você faz aqui??? Saia já do meu quarto!-estava furiosa apontando para a porta.

–Não senhora! Primeiro nós vamos conversar...