A beautiful mess escrita por Mari, Ari Dominguez


Capítulo 15
Contradição


Notas iniciais do capítulo

Opa, cheguei cedo né? Pensaram que tinham se livrado de mim? Naninanão. Bom, eu vou ser breve hoje, já que adianto que o capítulo está gigantesco e peço desculpas, mas muitas coisas precisavam rolar, e olha que deixei um pouco de fora hein? Um agradecimento especial pra minha coleguinha com super bom gosto literário Mih Blanco Mellark Everdeen que favoritou u.u Muito obrigado flor, esse vai pra tu. Prontas? Boa leitura!



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Ignorando meu completo desespero, a música não havia cessado, suas batidas harmoniosas e contagiantes ainda ecoavam pelo salão; para agravar mais ainda meu estado deplorável, a enorme bola de espelhos refletia e irradiava aquela cor sintética e metálica. Tudo isso combinado com o calor do momento, fazia meu coração bater descompassadamente e me deixava com os nervos à flor da pele.

Depois de recobrar a clareza dos meus sentidos me virei para encarar Francesca, que me observava com um ar preocupado e curioso.

Foi quando me dei conta da minha situação, e de que se não desse o fora dali em alguns minutos, eu estaria em uma enrascada. Comecei a tatear desesperadamente pelo sofá de couro a procura da minha bolsa.

–Pre-preciso ir embora daqui – gaguejei pateticamente.

Meus movimentos foram impedidos por duas mãos que agarraram meus ombros firmemente.

–Não. – ela disse dura. Nossos olhares se encontraram e pude notar a determinação que ela transmitia. – Você não pode deixar aquela vaca te vencer de novo Violetta. Já chega de fugir, está na hora de você tomar uma atitude.

Me desvencilhei de suas mãos sentindo os olhos ficarem marejados só de imaginar os dois, juntos, na minha frente.

–O que você sugere que eu faça então? – perguntei em um tom amargurado.

–Eu já disse e vou repetir: você precisa lutar, por ele.

–Francesca, em que mundo você vive? Ele não me quer mais!

–Pára de mentir pra si mesma! Você sabe muito bem que ele ainda sente coisas por você.

Apoiei os cotovelos na minha coxa, pressionando o rosto contra as palmas das mãos, tentando conter as lágrimas.

–Não sei, eu... estou tão confusa.

–O que seu coração está te mandando fazer? – perguntou erguendo meu queixo delicadamente para que eu a olhasse nos olhos.

–Meu coração está tão confuso quanto eu.

–Pois eu tenho certeza de que ele sabe muito bem do que você precisa – Se aproximou do meu ouvido para sussurrar: – E a única coisa da qual você precisa se chama León Vargas. – Fechei os olhos com força. Sim, ela estava certa. Sem que eu percebesse, algo quente atingiu minha bochecha; Fran tratou logo de enxugar aquela lágrima ternamente. – Por favor, pense no que eu te disse.

Apenas assenti com a cabeça. Sem mais nada dizer, ela se levantou dirigindo-se para a entrada principal.

Uma música meio lenta se iniciou, com uma melodia ritmada e suave. Aquilo serviu para me acalmar um pouco. Enquanto todos permaneciam compenetrados naquele ritmo tranquilo, minha mente estava focada, apenas tentando imaginar mil e uma formas de como aquele momento crucial e inevitável aconteceria.

Ele estava vindo. Ela também.

A última que tinha visto Lara fora a alguns meses – seis meses pra ser exata – na festa de encerramento do Campeonato Internacional. Ela havia tido a petulância de aparecer na festa um mês depois de León e eu termos reatado após aquele escândalo que a envolvia. Foi com um vestido preto muito justo, que ia até seus pés, com uma fenda que deixava sua coxa esquerda totalmente à mostra. Obviamente para me provocar, e ela conseguiu. Depois de quase termos nos atracado em público após uma acalorada discussão, saiu vitoriosa e triunfante por ter me tirado do sério e roubado a cena. Pra acabar de completar aquela noite perfeita, Diego me atacou no estacionamento bêbado enquanto eu esperava do lado do carro pacientemente León falar com alguns jornalistas. Não preciso nem narrar o que ocorreu logo em seguida, certo? A única coisa relevante é que nós ficamos brigados por duas semanas, duas longas semanas.

Me lembrar de como nosso relacionamento era conturbado antes foi estopim para que eu agarrasse minha bolsa e me levantasse. Mas assim que o fiz, a música cessou de repente, sendo substituída pela voz do DJ:

–Pessoal, acabaram de me informar que o nosso aniversariante acaba de chegar. Ele está lá fora, por favor, façam silêncio.

Todos se calaram obedientemente e o local ficou tão silencioso que um simples suspiro atrairia toda a atenção.

Meu coração parou, meus músculos enrijeceram, e o tremor voltou a acometer minhas mãos.

Sem que eu tivesse tempo de pensar em mais nada, as enormes portas de vidro foram empurradas revelando aquele baixinho de cabelo bagunçado enganchado no braço da Francesca com a boca aberta de maneira descomunal. Todos explodiram em uníssono num único e estrondoso grito:

–FELIZ ANIVERSÁRIO MARCO!

Uma algazarra geral se iniciou e todos começaram a gritar e pular. Sem perder tempo, o DJ iniciou uma versão hip hop muito bizarra de ''Parabéns pra você'' que todos acompanharam.

O desespero me acometeu mais uma vez e comecei a olhar desesperadamente em todas as direções procurando a saída.
Depois de algumas cotoveladas consegui chegar a alguns metros da entrada, perto o suficiente para ver Marco ainda boquiaberto e catatônico encarando toda a agitação a sua frente, enquanto Francesca sorria que nem uma bobona cantando junto com todos.

Meu pobre coração que já não aguentava mais nada parou de maneira definitiva ao perceber aquelas duas silhuetas que eu reconheceria a mil metros de distância paradas ao lado dos dois. Meus olhos se estatelaram e simplesmente paralisei feito uma estátua, sendo empurrada de um lado para o outro por aquela multidão enlouquecida, eu não reagi de forma alguma, o ar sumiu e comecei a me sentir enjoada.

Ele estava absurdamente lindo com uma calça jeans e a clássica camiseta xadrez, dessa vez verde musgo, coberta por uma jaqueta de couro preta. Seu cabelo estava perfeitamente bem arrumado naquele topete charmoso que me fazia delirar. E pra acabar de vez com minha lucidez e compostura, a barba estava por fazer dando-lhe um ar másculo e arrebatador. Ele sorria observando a felicidade e surpresa do amigo, só então me dei conta de como seu sorriso era lindo e de como havia sentido falta dele.

Mas meus olhos logo se chocaram com aquele figura alta e imponente ao seu lado, e um calafrio percorreu meu corpo ao perceber o quanto ela estava linda. Com um vestido vinho muito justo que cobria até sua coxa inferior, com alças pequenas e quase imperceptíveis que deixavam seu busto e uma parte das suas costas a mostra. Isso junto com os seus cabelos jogados para o lado direito presos por uma espécie de presilha e com os lábios de um vermelho intenso e escuro, a tornavam simplesmente fabulosa. Segurava o antebraço dele com uma postura e elegância exemplares, encarando o mar de gente a sua frente com uma arrogância transparente, como se não fossem dignos dela.

Eles ficavam muito bem juntos, e formavam um belo casal. León finalmente tinha encontrado uma namorada a sua altura. Senti uma leve pontada de dor e melancolia se alastrar gradativamente pelo meu peito após presenciar aquela cena.

Foi muito doído perceber que eu não chegava nem aos pés dela.

***

Durante a meia hora seguinte procurei me manter o mais insignificante possível, me dispersado no meio da multidão mantive-me afastada e me preveni para não ser vista por ele, ou por ela.

Comecei a perceber que talvez o meu plano pudesse dar certo, eu só precisava me manter invisível pelo resto da noite, já que não tinha carona pra casa – havia combinado de ir embora com a Francesca e dormir na casa dela –, não me restava nada a fazer além de esperar o resto da noite passar e recorrer a minha sorte.

Foi a sensação mais terrível de todas passar o tempo todo escondida que nem um rato os observando atônita.
Permaneceram o tempo todos coladinhos um no outro de mãos dadas seguindo fielmente Fran e Marco que se desdobravam em mil pra agradecer calorosamente todas as considerações que os convidados lhes expunham pelo ‘’novo ano de vida’’ do Marco. A única coisa que conseguia me distrair por poucos segundos era observar a felicidade dos dois, e invejá-los por terem um relacionamento tão sólido e concreto (o que não diminuía o ódio que eu sentia da Francesca e as poucas e boas que ela ouviria quando chegássemos em casa).

Senti um alívio tremendo quando o casal 20 – ''Leonara'' – se afastou deles, tomando rumo ignorado por mim. Pensei cá com meus botões que talvez tivessem ido embora, afinal, pelo pouco que eu sabia, ele teria que embarcar num voo pela manhã.

Segundos depois senti meu celular vibrar.

''Sabia que você é ridícula?''

Era a minha linda amiga me dando a maior força.

''Cara, o que foi que eu fiz dessa vez?''

''Por que você fica se escondendo feito um bichinho assustado? Acha que vai conseguir ficar assim até o fim da noite?''

''Bom, esse era o meu plano.''

''Dá pra você pelo menos vir desejar parabéns pro Marco? Ele perguntou de você, sabia?''

Bufei irritada, ao me dar conta de que sim, eu estava sendo ridícula agindo daquele jeito.

''O.K.''

Limitei-me a responder.

Fui abrindo caminho por entre a multidão até alcançá-los, visto que estavam num canto do salão.

–Ora, ora, vejam se não é verdade que a Castillo veio a uma festa! – Marco disse ao me notar abrindo os braços. – A Francesca me falou que você estava aqui, mas eu precisava ver com meus próprios olhos.

Quando cheguei perto dele o abracei, ignorando momentaneamente o fato de todos conhecerem minha fama de ''rabugenta''.

–Feliz aniversário engraçadinho! – exclamei assim que nos soltamos sorrindo.

–Valeu Vilu! – Dividiu olhares desconfiados entre mim e a sua namorada que estava parada ao lado dele. – Você sabia, né?

–Sim, me desculpe, mas uma surpresa teve muito mais graça, não é mesmo?

Ele sorriu abobado, lançando um olhar terno e apaixonado para a italianinha. Mas para minha infelicidade, voltou a me encarar com aquele seu ar sereno e tranquilo.

–Mas enfim, onde a senhorita se meteu durante esse tempo todo? – Engoli um seco meio constrangida bolando uma desculpa para o meu sumiço.

–Bom, é que eu... Na verdade, eu estava...

–O ponche está quase acabando sabia? – fui cortada por aquela voz gritada que veio detrás de mim, e mesmo com a música Radioactive do Imagine Dragons tocando a todo volume, eu sabia perfeitamente quem era. Quase que involuntariamente, o meu pescoço deu um giro de 360º para encará-lo. – Também, quem manda colocar um monte de bêbados na lista de convi... – parou no meio da frase assim que me viu.

Sua boca se entreabriu e ele arregalou os olhos, claramente surpreso, e quase deixou os copos vermelhos com ponche que mantinham suas mãos ocupadas.

Lembram-se daquelas borboletas no estômago? Então, elas voltaram a voar freneticamente para se libertar; meu coração acompanhou o ritmo delas e cheguei por um minuto cogitar a possibilidade de que ele pularia do meu peito a qualquer momento.
Parecia surreal, ele estava ali, a três metros de mim.

–Oi – disse num fio de voz sentindo meus pés quase ganharem vida própria e saírem correndo dali.

–Vi-vi-o-letta? – gaguejou.

Quando escutei meu nome sair da sua boca, foi quase mágico. Tudo a minha volta sumiu, depois dos segundos infindáveis em que ficamos nos secando, quase derreti ao ver os cantos da sua boca se voltarem para cima, e a medida que suas lindas covinhas se aprofundavam, meu coração desacelerava o ritmo, batendo mais devagar.

–Eu não esperava que você estivesse aqui. – falou sem desfazer o sorriso.

–Bom, então estamos kit’s. – girei por sobre os calcanhares o resto do meu corpo, agora sim estávamos cara a cara. – Eu também não achei que você viesse. – Lacei-lhe um sorrisinho tímido e sem-graça.

Depois encarei Francesca, a fuzilando com o olhar; a mesma estava com um sorriso de orelha a orelha, observando toda a cena. Me voltei para León novamente, os seus olhinhos ainda me fitavam atentamente, só então pude perceber que eles irradiavam um brilho sincero e encantador. Minhas forças se esvaíram e percebi que não aguentaria ficar ali, perto dele, nem mais um segundo sequer.

–Me desculpe, mas eu... preciso ir ao banheiro.

Sem esperar uma resposta, dei as costas e me embrenhei na enorme multidão. Abri caminho entre as pessoas até chegar ao banheiro. Entrei rapidamente batendo a porta atrás de mim.

Sim, eu estava fugindo, só não sabia do que.

Suspirei ao perceber que aquele lugar estava vazio e silencioso, um pouco de paz afinal. Indo até a pia, apoiei as mãos na bancada do banheiro encarando meu reflexo distraída, lembrando-me do que havia acabado de acontecer.

–Vejam só como o mundo é pequeno! – Rapidamente olhei para o canto do espelho, dando de cara com a imagem dela, escorada na porta do box do banheiro com os braços cruzados na altura do peito.

–Lara?! – senti-me patética ao ver como minha voz saiu amedrontada.

–Eu mesma. – Lançou mão de um sorrisinho petulante e presunçoso. Parou diante da pia e imitou minha postura colocando as mãos sobre ela enquanto encarava meu reflexo. – Quanto tempo, não?

–Seis meses.

–Ui, ela até contou! – Soltou uma risada diabólica.

–O que você quer?

–Só gozar um pouquinho da sua cara.

Senti meu sangue ferver.

–Eu tenho cara de palhaça por acaso?

–Nem vou falar do que você tem cara. Só queria dizer que você está sendo ridícula.

–A única que está sendo ridícula aqui é você.

–Dói Castillo? Lembrar que eu te avisei? – não obtendo uma resposta minha prosseguiu: – Eu te disse que uma hora ou outra ele seria meu.

–Você fala dele como se fosse um objeto, sabia? - perguntei incrédula.

–Sim, um objeto, que me pertence.

–Você é doente. – disse olhando indignada para sua expressão tranquila e abusada.

–Você achou mesmo que conseguiria me provocar?

–Do que você tá falando?

–Não se faça de tonta! Você acha mesmo que eu não sei que você veio só por causa dele?

–Olha aqui minha filha, eu só vim porque pensei que ele não viria, muito menos que te traria a tira colo.

Seu sorrisinho sumiu, e uma expressão de fúria assassina assumiu seu lugar naquele rostinho de boneca.

–Continue se fazendo de santa, ok? Só vou te dar um aviso: fique longe dele. – pronunciou a última frase devagar.

–Dele quem? – me fiz de cínica. – Está falando do León? – Abri um sorrisinho sacana, era minha vez de provocar. – Olha queridinha, fique tranquila, não estou interessada nele. Além do que, não há mais nada entre nós.

Passei por ela em direção a porta, mas quando eu a abri ela se fechou com tudo, e pude notar a mão atrás que havia feito isso.

–Eu já te avisei Violetta, pode se fazer de burra a vontade, mas nós duas sabemos muito bem o que está acontecendo.– Me fuzilou com o olhar e pude notar o tom vermelho que o seu rosto assumia. – E se eu fosse você, ficaria bem longe dele.

–Eu já disse Lara, olha pra mim, eu não sou uma ameaça pra você. – Abri a porta com tudo. – Mas sinceramente, você deveria confiar mais no seu taco.

Dei uma piscadela e quando ela parou de bloquear minha passagem, saí de lá imediatamente. Assim que estava do lado de fora e voltei a escutar a música que identifiquei como sendo Walking On Air e o som das pessoas gritando, minha postura confiante sumiu, segurei na parede olhando pro chão tentando encontrar o real significado por trás das suas palavras. ''Nós duas sabemos muito bem o que está acontecendo''. Se já estava confusa antes isso agravou mais ainda a minha capacidade de raciocinar e entender do que ela estava falando.

–Preciso de ar. – sussurrei para mim mesma.

Logo em seguida, atravessei mais uma vez o salão até a direção oposta, onde se localizava a saída de incêndio. Aquela saída dava direto pro estacionamento do clube a céu aberto.Lá fora o ar estava gélido e cortante, mas comparado as situações embaraçosas que eu tinha passada lá dentro, não era absolutamente nada. Quando eu respirava aquela fumacinha saía pelas minhas narinas, então me perguntei como lá dentro poderia estar tão quente. Mesmo com o calor tão aconchegante de lá, eu não voltaria nem que me pagassem. Assim que consegui me livrar de todo aquele barulho, de toda aquela agitação, foi quase o paraíso.

Fiquei meio sem rumo, sem saber pra onde ir. Encarei o mar de carros a minha frente, de todos os tipos, cores, estilos e tamanhos. Estavam formando duas fileiras, passei pelo meio delas abraçando meu próprio corpo como uma tentativa inútil de me aquecer. Dei alguns passos e senti quando quase tropecei com meus enormes sapatos de salto. Me apoiando com uma das mãos num Volvo, ergui um dos pés tirando o sapato e massageando a sola.

–Bem melhor. – Não estranhe, é do meu feitio falar sozinha.

Repeti a mesma ação com o outro pé, e carregando os sapatos pelos saltos com as pontas dos dedos, voltei a caminhar por aquele cenário mórbido sem nenhuma indicação da presença de pessoas.

Era do que eu precisava, paz pra espairecer as ideias e organizar os pensamentos.

Depois de passar pela extensas fileiras de carros, cruzei um gramado já coberto pelas gotas do orvalho, pisar na grama molhada foi relaxante. Fechei os olhos absorvendo a calmaria. Mas escutei um barulho de algo duro como lataria se chocando contra o chão. Por puro instinto e sem me dar conta, quase dei um pulo e abri os olhos olhando pra direção de onde o som veio. Não havia ninguém, mas lá estava, uma lata de lixo caída. Ela definitivamente não tinha caído sozinha.

Comecei a sentir um pouco de tensão, e alargando os meus passos cruzei o gramado sem olhar pra trás com medo de que um maníaco psicopata sádico estivesse me seguindo.

Foi de grande surpresa, depois de sair da área ajardinada, descobrir um local com três piscinas alinhadas uma do lado da outra, a primeira mais rasa e com alguns escorregadores, oviamente para crianças, as duas seguintes eram praticamente iguais. O local estava completamente vazio e os quiosques que as rodeavam, estavam abandonados. Francesca havia me contado que aquele local era um clube, que de vez em quando alugava o salão para festas, mas não havia dito que era um clube literalmente.

Algo dentro de mim assumiu o controle me fazendo dar alguns passos na direção das piscinas. Depois de me aproximar da borda da piscina do meio, olhando bem para aquelas águas tão puras e límpidas, uma sensação das mais estranhas se apoderou de mim. Encarando o jeito como elas se moviam calmamente, me dei conta que era daquela calma da qual eu precisava. Me agachei e após imergir a mão direita nas tais águas hipnotizantes, pude constatar que eram extremamente mornas e deliciosas, provavelmente graças a um sistema de calefação. Saí de mim e só percebi quando já havia atirado os meus sapatos longe e estava sentada na borda, com a água cobrindo até meus joelhos. Sentir aquela sensação foi maravilhoso, era tudo tão tranquilo, paz como não havia tido a certo tempo.

Olhando fixamente para o fundo da piscina, onde os azulejos azuis transpareciam claramente, cada segundo da noite tão conturbada pela qual eu tinha passado veio à tona e tomou conta dos meus pensamentos. Em especial os segundos em que o vi, quando aquele tom de verde tão estupendo me mirou de forma tão encantadora. Mas essa lembrança era esmiuçada e destruída depois da imagem dos dois juntos, a noite toda, como um verdadeiro casal. Aquilo me deixava confusa e abismada, mesmo os vendo juntos daquela maneira, de mãos dadas e aparentemente felizes, aquele brilho nos seus olhos ao me ver ia totalmente contra isso. Não entendia claramente, mas alguma coisa dentro de mim sussurrava que ele talvez não havia esquecido completamente de mim ou do que tivemos, ou até mesmo na melhor das hipóteses, que nutria um resquício de sentimos por mim. Mas logo em seguida, eu mesma ria da minha patetice e inocência, e do fato de eu ficar iludindo a mim mesma e imaginado coisas.

Eu sabia a muitas semanas o que se passava, mas só encarando a imensidão a minha frente tive coragem de admitir internamente que ainda o amava, como antes, ou ainda mais.

Saber que esse sentimento era platônico era o que mais doía, uma dor quase física.

Sentindo os olhos ficarem marejados, os fechei com força tentando reprimir as lágrimas, obrigando-me a não demonstrar minha fraqueza por meio daquilo.

Posso resumir tudo isso que sentia em poucas palavras: me sentia arrasada, derrotada, acabada.

Basicamente era isso.

–Bu! – Senti leves apertões nas laterais da minha cintura, dei um pulo ainda sentada.

–Ah! – gritei apavorada me virando para trás. Quase me atirei dentro da piscina ao ver quem estava parado atrás de mim agachado soltando um gargalhada deliciosa. – Isso não tem graça! Você quase me matou de susto! – exclamei colocando as mãos por sobre meu peito que ainda arfava, tentando conter o nervosismo e manter a compostura.

–Me desculpe, você estava aí, tão distraída, eu não resisti. – Sorriu mais sedutor e encantador do que nunca, exibindo seus dentes perfeitos.

Levantou-se, e em movimentos rápidos tirou os sapatos e dobrou a barra da calça até as panturrilhas.

Naquela noite eu tinha chegado várias vezes à beira de um colapso nervoso, mas posso afirmar com certeza que quando ele se sentou do meu lado e pude sentir o jeans da sua calça roçando no meu joelho além de sentir o cheiro inebriante da sua colônia e perceber que aquilo não era um sonho ou fruto da minha imaginação, cheguei perto, mas muito perto mesmo de ter um heart attack.

–O que você tá fazendo? – perguntei piscando diversas vezes surpresa e aturdida.

–Me sentando do seu lado bobinha! – falou batendo com a ponta do dedo indicador no meu nariz como se eu fosse uma idiota.

Meus ombros relaxaram e não pude conter um sorriso diante do ar descontraído que a situação assumiu.

–Eu já te disse que você é um idiota?

–Já – olhou para frente pensativo –, tipo, umas mil vezes!

–Pode contar mil e uma: Vargas, você é um idiota! – Brincalhona, dei-lhe uma cotovelada na barriga. Mas instantaneamente parei de sorrir quando me dei conta de algo. – Espera aí, era você com as latas de lixo lá atrás? – perguntei indignada, mesmo sem falar nada, o seu sorriso lerdo indicava que sim – Você estava me seguindo!

–Não, eu não estava te seguindo; só estava te escoltando a distância para garantir que você ficaria segura.

Olhei com certo encantamento para ele.

–Bom, obrigado pela consideração.

–Por nada. – Piscou para mim, mas logo em seguida assumiu um tom sério: – Mas nunca mais saia sozinha desse jeito numa festa como essa repleta de bêbados cuja alguns deles podem muito ser estupradores em potencial. – Não me aguentei, e soltei uma longa risada da atitude metade fofa, metade esquisita dele. Mas parei quando percebi que ele permanecia sério.

–Tudo bem, prometo.

–Bom mesmo mocinha. – Olhando para frente esfregou as palmas das mãos para se aquecer. Mas logo que seu olhar se voltou para mim, então tirou a sua jaqueta colocando-a por sobre meus ombros.

–Não precisa! – retruquei tentando impedi-lo sem sucesso.

–Claro que precisa! Olha só como suas mãos estão geladas! – disse pegando minha mão por entre as suas; era como se fosse a primeira vez que ele me tocasse. Ao senti-lo pressionar suas mãos quentes e macias contra as minhas foi como se uma corrente elétrica percorresse meu corpo. Aproximando a concha formada pelas suas mãos e as minhas do rosto, inclinou a cabeça depositando um beijo delicado em minhas mãos. Quase delirei com aquele contato inesperado com seus lábios, aquilo sim era o céu. Soltou uma risadinha deliciosa ao se distanciar delas. – Você está tremendo. – falou com um sorriso abobado encarando minhas mãos enquanto as acariciava.

Eu ri tentando disfarçar o vermelho nas minha bochechas, ele pensava que aquilo era por causa do frio ou simplesmente fingia não perceber o efeito devastador que ele tinha sobre o meu corpo.

–Senti sua falta – disse de súbito apertando minhas mãos de leve.

Naquele momento uma guerra se iniciou dentro de mim, haviam duas partes de mim, duas Violettas; uma que gritava pra que eu fugisse e me lembrava de tudo que ele havia me feito, mas a outra Violetta, me mandava ficar já que por mais que eu mentisse pra mim mesma, ainda continuava o amando. E foi por esse segundo lado meu ao qual sucumbi:

–Também senti sua falta. – falei com doçura acariciando seu rosto.

Por alguns segundos ele me olhou meio chocado, acho que não esperava que eu fizesse isso (na verdade nem eu esperava). Mas logo assumiu um sorriso sarcástico.

–Você é tão contraditória! Primeiro diz que a melhor coisa que poderia ter feito é se afastado de mim, e agora que estamos tão perto um do outro diz que sentiu minha falta.

–Eu sou contraditória? – Soltei uma risada. – Você me liga e diz que não sente mais absolutamente nada por mim, e depois de semanas, liga de novo e diz que precisa de mim. E agora, deixa a sua namorada sozinha pra seguir sua ex-namorada por aí. Eu acho que isso sim é ser incoerente.

Ele fechou os olhos e respirou fundo.

Um sinal de alerta soou dentro de mim, esse momento era crucial, eu deveria sair correndo de lá sem olhar pra trás. Mas uma força maior que eu, fez com que eu ficasse lá sentada, incapaz de me mover.

Depois de um minuto em silêncio olhando para os nossos pés imersos na água com a mente claramente distante, ele voltou a me olhar, de uma maneira que me consumiu por dentro. Tinha um olhar triste e indecifrável, eu sabia que o que viria a seguir seria arrebatador, mas nunca consegui imaginar o efeito que as palavras que ele diria em seguir teriam sobre mim:

–Tudo bem, você está certa. – Inspirou fundo antes de prosseguir: – Eu admito, sei que fiz uma burrada atrás da outra e agi feito um idiota, mas eu cometi um erro entendeu? Vários erros aliás. Mas agora me arrependi, me arrependi muito, por tudo, por ter te deixado, por não ter confiado em você, por pensar que era seu dono depois de tudo que aconteceu, mas me arrependo acima de tudo por ter te feito sofrer e te magoado. Eu jamais almejei isso. – Eu pude sentir um calafrio percorrer meu corpo. Ele se aproximou mais ainda até ficarmos próximos o suficiente pra que sentíssemos a respiração um do outro. Com delicadeza colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha. Depois, olhando profundamente nos meus olhos, de um jeito como nunca fez antes, de maneira que me deixou pasma, continuou seu monólogo: – Mas algum tempo decidi que iria parar de mentir pra mim mesmo, de repetir que estava bem e que havia te esquecido, já que definitivamente nenhuma dessas coisas é verdade. Eu sempre quis só quis cuidar de você, te proteger, só quis o seu bem. É por isso que eu decidi que se você me xingar e me mandar embora agora, eu vou te deixar em paz, porque você merece alguém bem melhor do que eu. Mas se disser que as coisas entre nós não acabaram, e que ainda me dá uma chance, uma chance de te fazer feliz mesmo eu sendo o idiota que sou, largo tudo entendeu? Largo tudo, por você. – O brilho costumeiro dos seus olhos começou a aparecer, a medida que meu coração parava e eu prendia a respiração, incapaz de dizer algo ou me mover. O que senti foi tão intenso, acho que beirei a perda da lucidez, ter aquela visão com que tanto havia sonhado nos últimos meses era quase que irreal. – Então o que você me diz? – perguntou, ainda paciente, depois de eu ter permanecido em silêncio.

–León, você não entende não é? Não entende o quanto tudo isso me deixa confusa e desnorteada. – Afastei suas mãos do meu rosto. – Só me dá um bom motivo pra acreditar que você está sendo sincero, que você realmente sente tudo isso que diz, e que não é só da boca pra fora.

Depois de me puxar pela cintura para mais perto dele, olhou sereno para mim.

–Eu não posso fazer nada, você simplesmente precisa confiar em mim.

Sem conseguir mais controlar meus impulsos, me atirei nos seus braços, o abraçando com tanta força que quase senti como se fôssemos um só. Em momento nenhum o ouvi protestar, pelo contrário, enquanto eu começava a soltar os primeiros soluços e encharcar sua camiseta ele afagou os meus cabelos esfregando minhas costas com ternura.

–O que está acontecendo com a gente León? – indaguei me soltando de seu abraço e esfregando a ponta do nariz.

–Não faço a menor ideia Violetta, eu só tenho certeza de uma coisa: eu quero você, aqui, agora, nesse exato momento.
Me senti enjoada. Nas palavras que ele havia proferido anteriormente deu a entender que ainda me queria, mas agora ele havia dito isso explicitamente, sim, eu estive certa, ele ainda me queria.

–É isso que o seu coração te diz?

Ele sorriu cínico.

–Tem muito tempo que meu coração está me mandando te agarrar aqui mesmo e te beijar, só ainda não o obedeci porque sei que isso te deixaria furiosa.

Arqueei a sobrancelha travessa e sorri maliciosa.

–Eu ficaria furiosa se você não me beijasse.

Ele me olhou incrédulo e sem conseguir conter um sorriso de orelha a orelha.

–Bom, o que estamos esperando então?

Entrelaçou a minha cintura com força me olhando ternamente, sem conseguir me conter, agarrei o colarinho da sua blusa e foi eu quem o puxei. Nossos lábios se chocaram um contra o outro e o gosto doce dos dele me invadiu por completo. Movimentei meus lábios rapidamente meio desesperada, eu vinha esperando por aquilo a meses. Quando pediu passagem com a língua eu prontamente senti, e enquanto sua língua explorava todos os cantos da minha boca, comecei a me sentir flutuando como se estivesse voando. Foi então que percebi que era ridículo continuar negando o fato de sentir algo, eu realmente sentia, muitas coisas aliás.

Dois ex-namorados se agarrando as escondidas bem debaixo do nariz da namorada atual de um deles.

Sim, aquilo era uma baita contradição, mas eu não ligava nem um pouco.


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Notas finais do capítulo

E... O que acharam? Aprovada?
Bom, eu não vou dizer mais nada, porque você deve estar com as vistas cansadas já depois desse capítulo imenso. Só agradeço aos fantasminhas até então desconhecidos que se manifestaram anteriormente a meu pedido, foi muito importante pra mim flw? E obrigado a você se teve a paciência de ler até aqui. Não estranhem se eu demorar atualizar essa fic, pelo contrário, aproveitem pra tirar umas férias de mim =P
Bom, esse capítulo foi muuuito trabalhoso, então se chegou até aqui não custa nada deixar um review né? Beijos! *-* ♥