Dark Things Inside escrita por Angelic Power


Capítulo 3
O que nos resta na solidão




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/480218/chapter/3

Eu não havia dormido na noite anterior. As enfermeiras do internato vieram me buscar. Enquanto desciam as escadas comigo, várias das outras meninas saíram de seus quartos.

A maioria tinha uma expressão de horror estampada no rosto e outras olhavam minha partida satisfeitas.

Eu conseguia ouvir o que algumas delas falavam...

"Quem é essa?"

"É a novata, mas a professora Lewis me disse que ela esta possuída..."

"Que horror! Não quero essa coisa perto de mim"

"Não é uma coisa Joana! É um monstro..."

"Monstro! Monstro! Monstro!"

Então todas elas começaram a gritar e rir.

"Talvez eu seja mesmo um monstro" Pensei "Mas elas também são..."

Fui arrastada por corredores e salas enormes até que fui atirada ao chão.

Alguém puxou meu cabelo e começou a falar coisas que eu não compreendia.

La estava eu, na luz outra vez, mas não por muito tempo.

"Saia dai!' Berrou uma voz em minha cabeça.

"Não deixem que te façam mal, corra Ruby!" Aconselhou outra voz.

"Não... se eu fugir vão achar mesmo que tenho algo ruim"

As vozes se calaram. O resto da madrugada foi como um borrão. Jogaram água em mim várias vezes. Gritaram comigo e outras coisas que não prestei absoluta atenção.

Só sei que adormeci. Por um tempo enorme. E por uma razão ainda maior, eu não queria ver ninguém.

E por muito tempo, não vi.

Ás vezes a vida resolve responder às nossas piores perguntas.

Eu não sentia falta da minha mãe e do meu pai. Nunca sentiria falta da tia Marie e dos outros parentes. Eles nunca haviam gostado de mim. Mas eu os amava assim mesmo, mesmo com seus defeitos e principalmente os amo por seus anjos e demônios. As vezes temos de deixá-los sair.

"Ruby?" Perguntou uma voz. Era de Bob.

–Oi Bob -Respondi.

"Que lugar é este?"

Abri os olhos. Esse não era meu antigo quarto. Era ainda menor. A cama era mais simples. As paredes eram de cimento e a janelinha exibia uma grande parte da cidade.

–Acho que quiseram me deixar longe das meninas até que as "coisas ruins" saíssem".

Me levantei e peguei o colchão da cama. Coloquei-o no chão.

"O que esta fazendo Ruby?"

–Assim é melhor de conversar, não acha?

Bob soltou um grunhido estranho. Pensei que havia sido uma risada.

"O que acha que vai acontecer agora?"

–Não sei...

"Não se importa de estar aqui?"

–Bem, não é justo que eu esteja, mas o que é justo hoje em dia? Esse é nosso dia de sorte Bob!

"Mas veja onde estamos..."

–Tive que aprender a ver magia e esperança nos lugares perdidos. Você também aprenderá. Boa noite Bob.

"Boa noite Ruby" Respondeu ele por fim.

Encarei o teto cinza e sorri. Aquela seria uma nova aventura.

Como a quando tentaram me afogar. Ou me matar. Coisas ruins podem se tornar boas nos olhos de quem realmente aprendeu a ver.

E mesmo as lembranças ruins precisariam ser mantidas, pois as lembranças são o que nos resta na solidão...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!