Kai acabara de acordar, a pouca claridade e a luz do sol entrou pela pequena abertura que deveria ser uma janela iluminava um dos cantos daquele tenebroso lugar. Kai já nem sentia os braços, sua cabeça girava e doía muito.

Sua visão ainda estava turva e seu corpo latejava.

Kai olhou ao redor a procura de Voltaire, mas este não estava por lá.

O menino sentiu sua garganta seca, mas mesmo que tentasse não tinha como sair dali.

Momentos mais tarde a porta foi aberta e uma Luz forte ofuscou a visão do garoto, Voltaire entrou e foi até onde Kai estava preso!

Kai levantou o rosto com certa dificuldade, Voltaire sorriu, gostou de ver a expressão de derrota estampada no rosto do neto:

-E então espero que tenha refletido sobre as suas ações meu menino!

Kai ficou quieto abaixou a cabeça desviando os olhar, Voltaire puxou o rosto dele forçando-o a encará-lo:

-E então moleque? Responda-me. – Kai ficou calado, Voltaire o soltou das correntes.

O tempo foi passando e assim às coisas na casa mudaram, Kai mudou...

Kai já havia saído do porão, as feridas estavam cicatrizando envolta em bandagens e medicamentos, mas se dependesse de Voltaire o garoto iria apodrecer lá embaixo!

Faltava pouco mais de um mês para se dar início as aulas quando Kai recebeu a noticia!

Era uma manhã quente de verão, Kai estava no quarto não saia de lá para nada. Queria manter o máximo de distância de Voltaire, mas sua tranqüilidade durou pouco quando Albert bateu á porta:

-Jovem mestre!-Ele chamou pelo menino antes de entrar.

-Entre!-A voz de Kai soou de dentro do cômodo!

Albert abriu a porta e viu Kai que estava deitado com a mão sobra a cabeça observando o teto. Mas ao notar que Albert estava ali se virou dizendo:

-O que quer?

O mordomo que o olhava como se estivesse hipnotizado voltou a realidade:

-O mestre Voltaire o está chamando!

Kai olhou o homenzinho a sua frente, Albert fora quem cuidou de suas feridas quando ele fora levado para o quarto. Kai se levantou e sentiu os locais atingidos pelo chicote arderem, mesmo se recuperando a dor ainda incomodava muito. Ele se sentou na cama e soltou um suspiro desanimado.

Depois do que aconteceu a última coisa que ele queria era olhar para Voltaire.

Ele se levantou e foi em direção a porta, Albert ficou ali parado olhando  quando Kai se virou mais uma vez para ele e perguntou:

-Ele disse o que queria?

-Não! Apenas me mandou vir chamá-lo, ele está no escritório!-Respondeu o mordomo de moda simpático!

Kai saiu dali deixando Albert sozinho, o mordomo se virou e viu em cima do criado-mudo um porta retrato virado. Ele o pegou na mão e aproximou-o do rosto para enxergar melhor, viu a foto que estava ali era de um garotinho que aparentava ter uns cinco anos! Estava no colo de um homem de meia-idade, os dois sorriam!

Albert sorriu e voltou a pousar o retrato ali em pé, saiu do quarto em seguida.

A luz do sol que entrava pela janela aberta iluminou o criado-mudo e foi refletida pelo porta-retrato, na foto se encontrava Kai e Voltaire!

Já na porta do escritório do avô Kai sentiu-se estranho a mesma sensação de medo e raiva que se apossou dele quando se reencontraram depois do campeonato.

Ele bateu na porta e a resposta veio logo, de dentro da sala uma voz  áspera:

-Entre!-Voltaire estava lendo alguns documentos quando Kai entrou fechando a porta atrás de si! O homem levantou os olhos para olhar para o garoto, Kai não parecia muito a vontade ali.

O menino ainda se recusando a encarar o avô disse:

-Queria falar comigo?-Sentia que sua voz estava mais “gentil”, mas ainda ele não era capaz de esconder o desprezo e a raiva que guardava.

Voltaire olhou-o como se reprovasse alguma coisa que ele tivesse dito! Mas não comentou nada, apenas indicou a poltrona a frente da mesa e disse:

-Sente-se!-Kai foi até lá, a cada passo mais próximo do avô o fazia tremar de raiva. Se pudesse o mataria ali mesmo.

Ele se sentou e Voltaire foi direto ao ponto:

-Te chamei aqui para entregar-lhe isso!-E deu a Kai o um folheto, o garoto leu e olhou para o avô. De início não disse nada mais depois de alguns segundos em silêncio:

-O que quer dizer com isso?

Voltaire o olhou com certa impaciência:

-Isso é óbvio! Você vai estudar nesse Colégio!

Kai ainda queria entender o porquê de Voltaire chamá-lo só para dizer isso!

Voltaire viu que ele estava agindo de modo indiferente então decidiu acrescentar:

-Uma das melhores instituições de ensino, e você terá essa privilégio. Embora não

mereça!

Kai não esperava receber algum tipo de elogio ou incentivo daquele homem, por isso não se importou com o comentário.

Já cansado de ficar ali resolveu perguntar:

-Tem mais alguma coisa?

-Não!-Respondeu Voltaire de modo indiferente- Mas eu vou avisando Alexander, ao menos nos estudos você vai se destacar! Não quero saber de reclamações suas, Caso contrário já sabe o que lhe aguarda! Eu fui claro rapaz?

Kai não respondeu de imediato, ficou pensando em como sua vida seria daquele momento para frente, Voltaire continuava a encará-lo esperando por uma resposta satisfatória. Até que com muito esforço, e engolindo o orgulho Kai respondeu:

-Sim, senhor!-Voltaire olhou nos olhos do garoto e sabia que agora tinha o menino em suas mãos.  

-Vá para o seu quarto e não saia de lá entendeu?-Kai achou que aquilo já estava passando dos limites, mas não retorquiu, e concordou a contra-gosto!

Saindo de escritório em seguida!