Voltaire era um homem impiedoso, sua crueldade ia além dos limites imaginados.

Kai já o amara, um dia... Ele já amou o avô de forma incondicional, mas foi traído. Voltaire havia mentido todo esse tempo, havia enganado o neto que na época era apenas um garotinho de sete anos.

 

Nesse dia Kai parou de acreditar que pudesse haver bondade no ser humano. Ele foi mandado para a Abadia onde seria preparado, moldado para se tornar o melhor, perfeito, o mais forte!

 

Sentimentos eram para os fracos, os incapazes, covardes...

 

Kai era forte, embora fosse apenas uma criança não tinha mais a doce inocência, não sorria, não brincava... Ele sabia que tinha um único propósito: Lutar e vencer. Foi o que fez... Durante os anos que viveu na Abadia.

 

Mas um dia depois de um incessante e cansativo treino ele resolveu que era hora de testar sua força. Então enquanto todos os outros continuavam a lutar e a eliminar os fracos, Kai foi para sala de testes e pegou a Black Dranzer.

 

Era um projétil recentemente desenvolvido, Kai viu a demonstração de poder da beyblade e ficou fascinado, ela era perfeita... Sincronia, giro e ataque... Ela deveria ter um mestre a altura da sua perfeição e Kai se julgou capaz!

 

Ele  pegou a beyblade e a lançou ali mesmo, tinha certeza que poderia controlá-la!

 

Pobre criança estava muito enganado! Um brilho forte ofuscou-lha a visão e derrepente tudo explodiu!

 

Ele não viu nada, só sentiu seu corpo ser lançado para fora da cuia, um estrondo forte causado pela batida e uma luz vermelha circundando ao redor de seu corpo! Ele desmaiou em seguida, a ultima coisa que ouviu foram gritos dos demais internos que corriam desabalados para a saída, os monitores tentando salvar documentos e uma voz conhecida perto de si:

 

-Ele está aqui!

 

Quando acordou estava em um quarto branco e tinha soro entrando em suas veias, ainda se sentia tonto. Olhou ao redor, mas não viu ninguém, também nem deveria esperar por visitas, não tinha família ele não tinha ninguém.

 

Uma semana depois recebeu alta e foi para casa do avô, a Abadia teria de passar por algumas reformas antes de ser reativada. Fazia alguns meses que não via seu avô, Kai se lembrava de que gostava dele! Fora Voltaire quem o criou desde que  a mãe morreu e o pai o abandonou, ele era um homem exigente sim, mas naquele dia Voltaire revelou que nunca fora quem Kai pensara.

 

O garoto sofreu muito desde que passou a viver com ele, o primeiro dia foi evidentemente um dos piores de sua vida.

 

Kai foi trancafiado em um porão, preso a correntes e Voltaire o chicoteou como um animal que deveria ser adestrado. Os gritos e suplicas do menino eram agoniantes!

 

Kai implorava por perdão, mas não obteve resposta, os golpes se tornavam mais fortes e dolorosos. Rasgando a pele infantil do menino e deixando a marca da dor e da violência na alma e no corpo deste!

 

Quando saiu de lá, tinha realmente mudado, o medo o invadia toda vez que olhava para o avô!  Voltaire se tornou seu carrasco, Kai não se atreveu a questionar qualquer ordem dele, sempre obedeceu cegamente. Os anos passaram Kai cresceu e amadureceu, mas apenas características físicas pois dentro dele ainda existia o garotinho assustado e obediente que conheceu a enorme brutalidade da pessoa que ele achava que o amava de verdade!

 

Foi então que se desvencilhou um pouco de Voltaire, Formou sua gangue e passava mais tempo na rua do que em casa! Participou de muitos campeonatos e ganhou o titulo de campeão regional, estadual... Mas nunca foi para o mundial.

 

Até que Voltaire lhe deu uma nova  ordem:

 

-Vai me trazer as feras-bits! Eu quero o poder delas, assim meu neto nós seremos os soberanos desse mundo!

 

Kai sabia que isso era arriscado, E também sabia que seu avô nunca gostou de dividir, se ele se apossasse do poder dos bits iria reduzir o mundo a escravos e Kai não seria melhor do que eles!

 

De início Kai obedecia sem questionar, não queria ver Voltaire frustrado! Ele traiu seus amigos para executar a ordem que lhe foi imposta.

 

Mas descobriu que não era o que queria para si.

 

Foi aí que jogou tudo para o alto, se rebelou contra Voltaire! Não se importava com mais nada.

 

Sua equipe venceu o mundial, eles levaram o titulo... Agora deveriam estar comemorando felizes e aconchegados com suas FAMÌLIAS, contando como fora a viagem, os obstáculos que enfrentaram e as vitórias que conseguiram!

 

Kai os invejava, enquanto eles aproveitavam a vida felizes ele estava ali acorrentado tento seu corpo dilacerado, seu sangue espirrava das feridas. E aquela tortura não parou, Kai sentiu em CADA golpe que recebia a raiva, o ódio e o desprezo do avô. O ultimo golpe foi o mais violento, Kai sentiu como se tivessem arrancado um pedaço de seu corpo!

 

Sua respiração estava ofegante, seu rosto encharcado de lágrimas! Voltaire segurou seu rosto entre os dedos e sorrindo disse:

 

-Eu avisei a você, mas você não quis ouvir! Agora está pagando pela sua rebeldia!

Ele se afastou em direção a porta, mas antes de sair disse:

 

-Vai ficar aqui essa noite para pensar no que fez!Amanhã veremos se você vai ou não voltar a me obedecer!

 

Em seguida saiu fechando a porta!

 

Agora Kai sentia a dor das feridas abertas, seus braços já estavam dormentes ele estava cansado sentiu que não conseguiria manter-se acordado por mais tempo.

 

Ele percebeu que estava enganado, lembrou-se do pedido que fez ao senhor Dinckenson para deixá-lo ficar em outro lugar. Mas não conseguiu convencer o diretor da ALB. E aqueles que se diziam seus amigos? Poderiam ajudá-lo?

 

-Não!-Foi a resposta que deu aos próprios pensamentos! Ele não tinha mais nada...

 

Seu espírito estava enfraquecido assim como seu corpo, a única coisa que lhe restava era arrependimentos!

 

Ninguém jamais seria capaz de romper essas correntes!