Allany estava junto de Kai, os dois já haviam conversado sobre a nova situação deste. E agora estavam sentados quietos olhando para o nada, até que Kai com um suspiro quebrou o silêncio. Allany se virou para o irmão e perguntou:

 

-O que foi? Está sentindo alguma coisa?

 

Ele a olhou um tanto zangado, ele estava sem poder andar e ela pergunta se ele sentia “alguma coisa”.

 

-Bom, da cintura pra cima para baixo não sinto NADA mesmo!

 

Ao se dar conta da bobagem que havia perguntado e da resposta malcriada que ele deu ela quis se redimir:

 

-Desculpa... Não quis te....

 

-Eu estava pensando Allany. –Disse ele a interrompendo. – Será que o vovó já descobriu que me tiraram do hospital?

 

Ela o encarou um tempo, e desviando o olhar para a decoração do quarto disse:

 

-Com certeza Kai! A essa altura ele deve estar arrancando os cabelos. –Ela riu, Kai também esboçou um sorriso tímido.

 

-Será que ele vai tentar fazer alguma coisa? Será que vai... Tentar ferir você e o nosso pai para me levar de volta?

 

Ele tinha um tom de preocupação na voz. Allany tentou então tranqüilizá-lo:

 

-Não se preocupa, o papai tem um bom advogado. Ele vai dar um jeito de tirar sua guarda do  Voltaire, ai você vai ficar aqui em casa comigo e com o papai.

 

-As coisas são tão simples pra você. -Disse Kai, apesar de ainda muito rouco já conseguia falar normalmente.

 

Os dois conversaram por algum tempo, até que Klaus entrou no quarto com uma bandeja na  mão:

 

-Almoço! – Allany se virou ao ouvir a voz do pai.

 

Klaus se aproximou da cama colocando a bandeja perto de Kai:

 

-Seu tio disse que tem que se alimentar direito, portanto pedi para que fizessem algo especial para você.

 

Kai olhou para o prato mais colorido do mundo, a quantidade de verduras e legumes era espantosa, ele mexeu com o garfo de um lado para o outro separando o que ele iria comer. Até que Klaus segurou a mão dele e o olhou com ar de sorriso:

 

-É pra comer tudo!- Kai fez uma careta e Allany riu. Klaus então se virou para ela dizendo:

 

-Desça para almoçar também, eu vou logo depois que dar comida na boquinha desse bebê. –Ele estava de gozação com Kai e o menino não gostou nada daquilo:

 

-Eu posso me virar pai, não precisa ficar me pajeando. –Klaus olhou pra ele como se desconfiasse de algo:

 

-Tudo certo, então vamos filha. E quando eu voltar,quero esse prato limpo. Entendeu rapaz?

 

-Sim pai.- Disse Kai fazendo uma careta ao olhar para a beterraba.

 

Klaus saiu do quarto acompanhado de Allany rumo à sala de jantar.

 

Depois de meia hora Allany voltou e encontrou o prato de comida de Kai limpo, lógico que ela desconfio que tinha algo errado ali.

 

-Muito bem, onde você enfiou as verduras?-

 

- No meu estomago onde mais?- respondeu Kai colocando a mão semi engessada no colo.

 

- Pra quem mal pode segurar o garfo você comeu rápido e tudo. -  respondeu ela olhando para o irmão que ignorou o comentário.

 

- Então? Comeu tudo?- questionou Klaus entendo e se assustando ao ver o prato de Kai totalmente limpo. – Muito bem, vou acreditar que você comeu. -

 

- Mas que coisa, eu moro aqui a menos de uma semana, como vocês conhecem tão bem os hábitos alimentares de alguém que ate ontem só podia comer por uma sonda?- questionou Kai irritado.

 

- Muito bem, ele venceu, mas no jantar eu vou fazer questão de ficar te pajeando pra saber se isso é verdade- disse Klaus saindo.

 

- Se ferrou.

 

- Allany, minha querida Irma...-

 

- Que foi?- ela recebeu uma almofada no meio da cara. - Você vai se arrepender disso!-

 

Allany se jogou na lateral da cama de joelhos acabou com as mãos segurando as do irmão, mas ela estava em desvantagem, apesar do gesso ele ainda era muito forte e mesmo não podendo se mexer muito conseguia a empurrar. Mas quando ela decidiu puxar um pouco ele pro seu lado acabou por descobrir o ponto fraco de Kai, ele não tinha equilíbrio nem um se seu tronco não estivesse apoiado. Ele acabou caindo pra lateral da cama , quase fora.

 

- Kai, você esta bem?-

 

- Com uma Irma dessas quem precisa de inimigos- Fala ele tentando levantar, mas sem conseguir, Allany acabou por o ajudar. – Se eu me machucar posso morrer de hemorragia interna sem sentir nada antes da febre.

 

 - Não precisa ser tão trágico. Prometo que não vou mais fazer isso.- disse o abraçando,Kai correspondeu levemente.

 

- Certo, me larga.-

 

-Chato. Que foi?-

 

-Nada, da pra você ir?-

 

-por que?-

 

- eu quero dormir. -

 

-Ata. Tchau. – assim que ela saio Kai se deitou e puxou as cobertas ate seu pescoço, não estava com sono, mas queria ficar um pouco sozinho.

 

Enquanto isso no hospital Kaius estava recebendo uma visita  um tanto indesejada.

 

- O que você quer aqui?- questionou ríspido olhando o  homem a sua frente.

 

- E assim que recebe seu próprio pai Kaius? Esperava isso de Klaus, mas não de você. – disse Voltaire sentando-se na frente do filho caçula. – Vou ser rápido: Por que diabos você deixou Klaus tirar Kai do hospital?

 

- Deixa eu ver... Por que ele me aprestou a documentação de guarda provisória e por que você esta sendo processado por tortura? O que alias eu o Klaus podemos confirmar que você faz mesmo. – disse Kaius calmo olhando o pai levemente irritado.

 

- Vocês dois vão se arrepender de tudo que estão fazendo.- respondeu Voltaire se levantando. – Se eu sou o monstro da família, seria eu a ter te empurrado...será que os dois estão tão bem assim protegidos com Klaus, Kaius?-

 

- Ate o momento sim. -

 

- Você vai se arrepender amargamente disso. - disse Voltaire saindo batendo a porta.

 

- Por que eu não podia ter nascido numa família normal?- se questionou suspirando.

 

Mais tarde na casa de Klaus, Allany estava lendo na biblioteca da casa quando seu pai entrou subitamente lá.

 

- Você não deveria estar com o seu irmão?-

 

- ele disse que queria dormir e me expulsou do quarto. -

- Já esperava, bem, vou acordá-lo ele tem que comer. E eu faço questão de confirmar mesmo que ele não esta mentindo- disse Klaus saindo.

 

Dentro de alguns minutos Klaus estava no quarto de Kai

 

- Kai? Esta acordado?-

 

- Sim – respondeu ainda rouco Kai.

 

Klaus se aproximou da cama e deixou a bandeja no criado-mudo antes de ajudar Kai a sentar.

 

- Como eu disse, vou ficar aqui, conheço as tramóia da sua irmã para se livrar das verduras e duvido que você não tenha as suas.- disse ele sentando-se na beira da cama e cruzando as pernas depois de dar a bandeja a Kai.

 

- Tudo bem. – disse Kai voltando a separar as coisas no prato, Klaus olhou aquilo intrigado, ele colocava as coisas de um lado para o outro no prato separando tipos de comida, não o que ia ou não comer. Ele colocou os legumes juntos como as verduras e misturou todo o aros com o pouco feijão e colocou a carne no canto do prato pra ai começar a comer.

 

- Você faz isso sempre?- questionou Klaus olhando para a janela.

 

- Hun sim - Murmurou Kai sem levantar a cabeça. Klaus olhou o filho novamente, por ele não optar falar nada, mesmo sendo de falar pouco, enquanto comia, isso queria dizer que ele estava acostumado as refeições com Voltaire, no diga nada e não encare ninguém.Depois de 20 minutos Kai tinha terminado o prato sem reclamar.

 

- Tudo certo. - disse Klaus pegando a bandeja. - Qualquer coisa que precisar é só chamar.-

 

- Ta.- disse ele puxando as cobertas.

 

Ele ficou sozinho por algum tempo ate que Allany apareceu com duas tigelas de mouse nas mãos.

 

- Gosta de chocolate?- questionou ela dando uma das tigelas pra ele.

 

- Um pouco. -

 

- um pouco? Você tem problemas ou o que?-

 

- Apenas não gosto muito de coisas doces- disse ele.

 

Já mais tarde Klaus andava devagar por entre os corredores de um local subterrâneo.

 

- Senhor Hiwatari...

 

 

- Quero boas noticias dessa vez.

 

O homem se virou para o monitor dos diversos computadores e começou a digitar algo enquanto falava:

 

-Os últimos testes não deram certo! Perdemos mais duas cobaias ontem, pelo que parece a consistência entre o corpo e o espírito é muito fraca, provoca fortes efeitos colaterais irreversíveis.

 

Klaus olhou para as imagens mostradas e disse:

 

-Mas não obteve mais nenhum progresso desde então?

 

-Bem. – O homem se virou para Klaus, era pouco mais baixo que este tinha os cabelos verdes- Da penúltima vez que tentamos a cobaia sobreviveu, mas as lesões causadas foram....

 

Ele não terminou de falar a abriu uma das telas mostrando imagens um tanto perturbadoras.

 

-Ele fez tudo isso depois da experiência. –Klaus observava o tamanho estrago causado, uma corrente que estava partida alguns cantos da sala estavam roídos e havia marcas de sangue por todos os lados.

 

-O que ele era?-Perguntou Klaus calmo.

 

-Um leopardo, ele agia como um gato selvagem até sua anatomia mudou-Respondeu o homem dando um Close com a câmera em um canto especifico daquele cômodo. Encostado a parede com correntes nos braços e pescoço, parecia semi-morto. Seus olhos não eram normais eram esverdeados e a Iris era ofídica, em algumas partes de seu corpo havia pelos e suas unhas eram enormes como garras.

Klaus estava estarrecido com aquela visão:

 

-Você chama isso de progresso? Antes tivesse morrido como os outros. –Bradou ele furioso.

 

-Sinto muito senhor, juro que da próxima vez obterá resultados satisfatórios.

 

-Para seu próprio bem Ivan eu também espero!-Ele segurava o homem pela gola do jaleco, seu olhar era ameaçador que Ivan sentiu a alma gelar. Klaus o soltou dando mais uma olhada para o monitor e disse:

 

- Acabe com o sofrimento desse infeliz de uma vez. –A ultima palavra ecoou como uma ordem, Ivan imediatamente pegou o celular a pronunciou uma ordem de execução.

 

- Senhor, talvez apenas os...

 

- NEM PENSAR!- berrou Klaus olhando para Ivan. – Antes de sequer pensar em fazer algo com eles consiga resultados melhores.

- Sim senhor... A mais uma coisa, se queremos fazer algo quando tudo estiver certo, os dois tem que estar com plena saúde.

 

- Vão estar. Trate de conseguir o que eu quero antes. - e com isso saiu.