Kai volta para casa, Voltaire como havia dito já o esperava.

Entrou, nem teve tempo de se trocar. O avô o chamou. Kai foi para o bendito Escritório aturar aquela baita bronca.

Voltaire estava em pé próximo a janela, Kai entrou ficou em pé também.

- Definitivamente eu não sei o que fazer com você. Cansei disso!-Ele se virou para o menino- Mesmo com todas as ameaças que te fiz, você insiste em me desafiar!

Kai abaixou a cabeça e não respondeu:

-Olhe para mim quando estiver falando com você!-Disse ele em tom austero.

Kai ergueu imediatamente a cabeça e passou a fitar aqueles olhos violetas tão idênticos aos seus.

- Por que tem que ser tão insolente? Anda me responda!

Kai ficou calado por breves dois segundos e enfim disse assumindo seu tom arrogante de sempre:

- Do que está falando? O problema da escola? Eu fui provocado, e o senhor me ensinou a nunca tolerar desaforo calado não é mesmo?

- Arrogante como sempre não é Kai!-Disse o velho sorrindo de forma desdenhosa- Sim foi eu quem lhe ensinou isso, mas você também aprendeu que deve respeitar os que estão acima de você!

- Não!-Respondeu o garoto atraindo um olhar irritado por parte do avô. – Pelo contrário. O senhor me ensinou a derrubar e humilhar TODOS os que tentarem ficar acima de mim. Sem exceções! –Um sorriso arrogante se formou em seus lábios. Voltaire enrubesceu, Kai estava passando dos limites:

- Não  brinque comigo rapaz, ou vai sair machucado!-Disse ele em tom de ameaça.

- Sabe vovô, eu já cansei disso! Não sou obrigado a tolerar esse seu sermão inútil. Eu sei o meu lugar, sei meus limites, minhas responsabilidades e os meus direitos! Perante as autoridades o senhor seria preso por me torturar como fez aquele dia. Eu posso denunciá-lo... Posso acabar com você. Por que acha que eu não fiz isso ainda?-Kai estava fora de si, definitivamente aquilo não acabaria bem.. Mas se fosse para ser punido ao menos seria por uma justa causa.

- Olhem só, ou você está completamente louco ou é perfeitamente idiota. Acha que pode me ameaçar?-O velho se aproximou do menino a passos lentos. – Acha que eu já não sei de tudo isso? Sinceramente você deveria ser grato por viver aqui, e ter tudo o que qualquer um daria para ter!

Kai riu:

-Mesmo? E quem é idiota aponto de querer uma vida solitária e aturar um velho caduco e lunático?-Ele foi calado por tapa, seu rosto virou sentiu o ardor do impacto. Um filete de sangue escorreu pela sua boca...

- Nunca mais diga isso!-A voz de Voltaire era calma e tão fria quanto aquele olhar penetrante.

Kai saiu Dalí batendo a porta, aquilo era a gota d’água. Não ficaria naquela casa mais nem um minuto. Foi para o quarto se trocou, e foi saindo, mas quando ia abrir a porta do hall esta estava trancada.

-Você não vai para lugar nenhum meu neto!- Voltaire estava atrás dele girando a chave entre os dedos. – Quem disse que pode sair sem mais nem menos?

Ele foi se aproximando do menino que não se mexeu:

- Eu não fico mais aqui!-Respondeu Kai friamente.

-E vai para onde? Se sair daqui não tem para onde ir! –Disse o velho com um brilho maníaco no olhar.

-Meus amigos....

-Acha que eles acolheriam você? Ninguém suporta viver com pessoas como você, podem rir e brincar no começo, achar engraçado, fazerem piadas juntos. Mas no fim você sempre vai ficar sozinho. Todos eles te abandonam, TODOS!- Ele foi se aproximando cada vez mais:- Sua mãe te abandonou, seu pai te largou por causa do beyblade, e o que foi que te sobrou? Fui eu quem  acolheu você quando todos te abandonaram, foi a mesma coisa com os seus amigos.

Ele sorriu satisfeito ao perceber que aquela tortura psicológica estava  surtindo efeito em Kai, o menino estava com os olhos arregalados, o corpo trêmulo. Mesmo que não quisesse admitir seu avô tinha razão. Todos o largaram, até aqueles que diziam serem seus amigos... Nem mesmo o senhor Dinckenson quis ajudá-lo quando ele pediu.

Kai estava sozinho, sempre foi assim...

- Viu a diferença? Entre eu e eles? Eles te aturam por algum tempo, seu mal-humor, sua arrogância, sua falta de educação... Mas depois de largam e nem se dão ao trabalho de perguntar se você está bem! Agora eu não, eu aturo você, aturei seu jeito por nove anos e ao contrário deles nunca larguei.

-Por você precisava de mim! Por que você queria me usar, não só queria como usou! E se teve que aturar todos os meus defeitos foi por que você me criou para ser assim. – Kai saiu Dalí e foi para o quarto, se trancou deixou o corpo escorregar para o chão e levou as mãos ao rosto. Lágrimas escorriam entre seus dedos, a verdade doía, mas do que qualquer golpe que seu corpo pudesse receber.

Voltaire tinha razão, seus amigos não estavam nem aí para ele. Ninguém estava se importando com ele todos queriam apenas usa-lo, como o avô havia feito.

Tyson chegou em casa acompanhado de Kenny:

-Caramba que estranho, o que será que o avô do Kai fazia por aqui?

-Não sei Chief, mas aquele idiota deve ta fazendo da vida do Kai um inferno.- Disse Tyson se jogando na cama.

- Eu sinceramente tenho dó do Kai, o único parente vivo que ele tem é um monstro inescrupuloso que só pensa em poder.

- Sabe Kenny para ser franco o Kai não é muito diferente do Voltaire!-Disse Tyson fitando o teto.

Kenny se empertigou, olhando incrédulo para o amigo:

-Tyson como pode dizer algo assim? O Kai não é como o Voltaire!

-Pensa bem, frio, anti-social, ganancioso, tem fome de poder e não sem importa em pisar, mentir e trair os amigos para conseguir o que quer. Se ele não for igual ao Voltaire está bem próximo disso.

-Ah Tyson dá um tempo, o Kai é assim por causa da forma como foi criado. Se você fosse trancafiado em uma abadia com seis anos de idade iria entendê-lo. - Disse Kenny se sentando na cama e abrindo o laptop.

-Não! Eu não iria!-Kenny olhou para Tyson que continuou:- Ele nunca se abriu com a gente, não sabemos muito sobre o passado dele e muito menos sobre o presente. Ele nunca disse nada, é como se não precisasse da gente.

- Eu concordo que o Kai nunca disse nada, mas também nós nunca nos interessamos em saber! Agora vamos esquecer isso. Ei!-Ele chamou Tyson apontando o laptop. – É uma mensagem do senhor Dinckenson!

Tyson se arrumou na cama olhando a mensagem:

-Ele quer se encontrar com a gente! Amanhã.

- O que será que ele quer?-Indagou Kenny curioso.

-Vamos saber quando chegarmos lá amanhã! Aqui fala que tem estar toda a equipe, isso quer dizer que....

-Max e Ray virão também! Legal. –Exclamou Kenny animado.

- Será que o Kai vai estar lá?- Questionou Tyson ainda olhando para a mensagem.

-Acho que sim Tyson!

Enquanto isso...

Kai estava no quarto terminando o dever de casa quando Albert bateu na porta:

-Entre!-Disse o menino, ele já havia destrancado a porta e Albert então entrou:

-Acabou de chegar esta carta para o senhor, jovem mestre.

Kai pegou o envelope e pediu para Albert se retirar. Abriu e começou a ler:

“Olá meu jovem, a quanto tempo não é mesmo?

Bem o motivo pelo qual esta lendo isso é que marquei uma reunião com a sua equipe para amanhã as 17h00min e sua presença se faz necessária como capitão dos blade breackers. Espero que esteja disponível, aguardo-o amanhã no escritório da ALB!”

Atenciosamente: Stanley Dinckenson.

Kai terminou de ler e um sorriso já se formava em seu rosto:

- Isso quer dizer que teremos o campeonato mais cedo esse ano. Perfeito!

Ele guardou a carta e ficou pensando se deveria ou não pedir permissão ao avô para ir ao encontro com o dono da ALB.

- Que se dane!- Nunca precisei da permissão dele e agora ela também não se faz necessária!

Voltou para escrivaninha para terminar a lição, depois de pronta ele fechou o caderno. Eram exatamente 19h20min, decidiu tomar um banho antes do jantar.

Depois de estar trocado ainda faltavam alguns minutos para descer, ficou ali sentando no para peito da janela pensando no dia seguinte.