Já não basta eu sempre ferrar com tudo, ainda tem que aparecer mais coisa – alem da piriguete da minha prima - pra acabar com tudo de uma vez.

NINGUÉM vem aqui em casa, tipo, nunca, mas só porque o Edu ta aqui, parece que toda a família resolveu passar pra fazer uma visitinha.

Em um dia, apareceram minha avó, três tios, quatro primas e duas amigas da minha mãe. Pouca gente? Não quando todos te olham com aquele olhar de “ta namorando, ta namorando!”. Só faltaram cantarolar e bater palmas. E o pior eram as amigas da minha mãe e os vizinhos repetindo “Nossa, como você cresceu!”. Eu odiava esses encontros! O povo reparava em cada curva que tinha aparecido em você, e tem umas inconvenientes que ainda tem coragem de falar algo tipo “nossa, isso tudo é seu ou é só volume do sutiã? Lembro de você no berço ainda e bla bla bla”. E o que eu faço? Fico rindo que nem uma retardada, morrendo de vergonha. Por que senhor?

E pra ajudar ai mais a me matar de uma vez, elas viravam pra mim fazendo comentários sobre o Eduardo. Chegou um ponto, que eu nem negava mais nada, só acenava positivo com a cabeça.

Então, esse foi meu dia pré-casamento! Depois da cena da sala, almoçamos e meus planos de pesquisar alguma maquiagem pra fazer foram estragados pelo numero exagerado de visitas.

Ah, e adivinha o que o Edu fazia enquanto eu tava quase enfiando a cara no chão? Ria! Nossa, mas que apoio viu!

***

–Minha mãe faz questão que eu vá no salão, você vai ficar sozinho com o Sam ok? Daqui a pouco ele vai buscar a Mel... Pode ficar a vontade pra se arrumar. Volto o mais rápido que conseguir.

Ela fechou a porta fazendo cara de nojo. Ela odiava salão de beleza! Ia quando necessário, pra cortar o cabelo e só!

Como o Sam não passava muito tempo em casa, ele cedeu o quarto durante esses dias. Quando voltava pra casa pra dormir, dormia pelo sofá mesmo. Eu disse que saía, mas ele insistiu e disse que era até melhor pra ele...

Ficamos só os dois, e até fiquei com medo dele querer ter alguma conversa, mas isso não aconteceu. Só deu as caras para avisar que estava indo buscar a Irma no aeroporto.

Deitei na cama e só então me dei conta de que ia ser apresentado pra toda a família da Manu. Um frio percorreu minha espinha. COMO EU NÃO REPAREI ISSO ANTES?

A gente tava junto há dois dias, só dois dias.

DOIS DIAS!

E eu já ia conhecer a família dela. Ok, eu to apavorado!

***

Uma manicure fazia minhas unhas enquanto a cabeleireira torrava minha cabeça com aquele secador do mal! Não sei pra que eu tinha que fazer escova se meu cabelo é liso!

“O penteado vai ficar melhor com a escova” ela me garantiu. Mas eu tava pouco me importando com o penteado, só queria parar aquela quentura na minha cabeça.

Depois de umas duas horas, eu tinha feito as unhas, o cabelo, a maquiagem e já estava estressada! Eu queria ir pra casa logo, arrumar aquilo que aquela mulher tinha feito na minha cara, passar meu batom e vestir meu vestido lindo.

Minha mãe conversava sem parar com metade do salão.

–Mãe...

–Espera Manu...

–Mãe a gente...

–Armaria como tu é chata menina! Vamos embora!

Todo mundo calou a boca quando ela perdeu a paciência. Todos nos acompanharam com os olhares até o carro. Eu ainda tava cheia de grampo e bobs na cabeça e aquilo me agoniava! Minha mãe estava de escova com os cachos na pontas, o cabelo dela estava lindo.

Quando paramos em frente de casa, corri pro meu quarto. Só levei um susto quando vi outra pessoa lá dentro.

–Mel?

–Manu - ela veio correndo e me abraçou tão forte que quase perdi o ar.

Falou animada sobre tudo que tinha acontecido no seu trabalho, me fez varias perguntas. Sentia saudades dela.

–Agora precisamos nos arrumar certo?

O cabelo dela já estava pronto também – preso somente na parte de trás e caindo até o meio das costas.

Continuei a me arrumar enquanto conversava com ela. Arrumei a maquiagem que a mulher tinha feito, tirei o batom nude que ela tinha passado e sujei os dedos de vermelho, dando leves tapinhas com a cor nos lábios, com cuidado com meu recente corte. Não ficou forte, ficou como se eu nem tivesse passado nada na verdade. Mais algumas camadas de rimel – porque rimel é vida – e um pouco de pó pra amenizar a cor do blush.

Vesti o vestido e pedi pra Mel fechar. Graças aos deuses, serviu! Eu ainda não tinha provado ele, e minha prima que tinha alugado para mim.

–Manu, ficou...

–Eu sei.

Meus olhos só não brilhavam mais do que o vestido. Comecei a soltar o cabelo com cuidado. Duas mechas pequenas tinham sido cruzadas atrás e o restante estava solto. Tirei os últimos grampos e deixei os falsos cachos caírem. Eu sabia que não ia ficar enrolado a noite toda, provavelmente duraria sei lá, uns vinte minutos.

Me calcei, passei perfume e pronto. Minha Irma também já tinha terminado de se arrumar. Tiramos algumas fotos – como sempre tirávamos. Ela estava linda também. O vestido tinha um tecido brilhoso do busto até a cintura brilhante e era preto liso até o final, tomara que caia e curtinho.

–Ah, tenho que te apresentar alguém, espera ai.

Ela só concordou com a cabeça e começou a mexer no celular enquanto eu saia do quarto.

***

Por que gravata era tão difícil? Alem de que é super ruim de usar, me sufoca! Mas eu tinha que parecer gente né?!

Ouvi alguém bater na porta, mas não esperou minha autorização pra abrir.

–Ta pronto? – ela colocou só a cabeça pra dentro do quarto.

–Ainda bem que é você – segurei sua mão e puxei pra dentro. Uau.

O vestido era azul escuro e coberto de pedras. Como no vestido da Laura, ele marcava seu corpo, mas dessa vez, ela parecia confortável. O cabelo tinha algumas ondas nas pontas e o salto deixava ela um pouco maior.

–Por favor, para de me olhar assim – sua voz quase implorava. Ela estava com vergonha.

–Certo, desculpa... É que... – parecia que eu tinha me esquecido de como se fazia pra falar – É só que você ta muito linda.

Ela baixou a cabeça tentando esconder o rosto corado.

–Obrigada, agora por favor para.

–Ta bom, desculpa.

–E para de se desculpar – ela sussurrou uma bronca.

–Okay, pode me ajudar nisso?

Dessa vez ela riu da minha cara.

–Não sabe dar nó de gravata?

–Eu não uso gravata, pra que ia saber?

–Vem cá – ela me puxou pelas duas pontas ainda soltas da gravata – Você só tem que virar aqui, passar por aqui e – ela deu um puxão – Pronto!

Por causa do sapato, ela estava quase batendo no meu nariz, mas era o tamanho e o momento certo pra um beijo.

–Nem pense nisso mocinho, vou te apresentar minha Irma e tenho que chegar de batom lá!

Ela ajeitou minha gravata uma ultima vez, me olhando de ponta a ponta. Parou nos meus pés.

–Não acredito Edu...

Seus olhos estavam parados no meu all star preto – pelo menos ele tava lavado – e eu não conseguia saber o que ela tava pensando.

–Era isso ou ir descalço, naquela confusão eu esqueci de pegar o sapato e...

–Cala a boca – ela estava rindo. Pera, ela tava rindo? Passou os braços pelo meu pescoço, me analisou mais uma vez. Passou a mão pelos meu cabelos, despenteando – Agora ta perfeito.

–Mas Manu...

–Shiu – ela me silenciou - Se eu não tivesse que manter meu batom...

Ela fez uma careta de “mas que droga”.

–Vem, tenho que te apresentar alguém.