O quarto do Sam era bem escuro e eu estava cansado. Acabei perdendo a hora, acordei quase no almoço já.

Putz, parabéns Eduardo, se mostra um preguiçoso no primeiro dia. Ótima impressão que você ta passando!

E só acordei porque a casa começou a ficar muito movimentada. Parecia que tinham umas vinte pessoas lá. Levantei e me troquei, lavei o rosto e escovei os dentes.

Pro meu espanto, não tinham vinte pessoas, nem dez! Tinha quatro, e só quatro mulheres conseguiram fazer um barulho tão absurdo a ponto de me acordar.

–Bom dia dorminhoco – a Manu veio do quarto dela segurando um par de sapatos, com um tom de gozação só pra me zoar.

Ficou na ponta dos pés me dando um beijo na bochecha e me olhou com uma mensagem de “sorry”.

Ela estava tão... Colorida! Usava uma regata folgada vermelha e um short jeans manchado propositalmente de varias cores. O cabelo estava preso – digo, preso direito, o que era estranho – em um rabo de cavalo. Parecia animada com algo.

–Quer tomar café ou não? O almoço vai sair daqui a pouco...

–Eu espero.

–AH – ela deu um grito – quero te mostrar uma coisa.

Ela me puxou até a sala, onde as outras três que não calavam a boca. Só a mãe dela percebeu nossa presença.

–Até que enfim Manu, pensei que tivesse se perdido no caminho...

–Não mãe, o sapato que se perdeu no quarto, a culpa não foi minha.

Ela foi até uma das outras que estava na sala e entregou o sapato. Essa ainda não tinha reparado que eu estava lá, mas a outra quase me secava com os olhos.

Mas o pior foi que a Manu percebeu.

–Joice querida, para de sugar o garoto, por favor.

–Desculpa, não sabia que ele tinha dona.

OPA!

–As duas não vão começar a brigar agora vão?

Era a outra que pegou o sapato.

–Não se mete Sarah! – a tal Joice cortou a outra de cara, que só bufou e voltou a atenção pros sapatos.

–Eu não sou obrigada a ouvir isso – a mãe dela resmungou já saindo da sala em direção a cozinha.

A Manu já tinha fechado a cara, os braços cruzados, os lábios franzidos. A Joice tinha um sorriso maldoso pelos lábios, continuava largada no sofá. Os olhares não se desviavam, quase dava pra ver a tensão entre aquelas duas. Devia ter algum passado...

–Ele não tem dona não Joice, por que? Ta querendo preencher a vaga?

–Não Manu, eu jamais faria isso com você...

Sua voz era obviamente falsa, ela tentava provocar a Manu. E conseguia.

–Engraçado como pra quem jamais faria isso, você ta bem soltinha né?

–O que ta insinuando?

–Que você é uma...

Ela não terminou a frase. O Sam entrou bem na hora, olhando curioso para as duas.

–O que ta rolando aqui?

As duas se fuzilaram ainda mais e a Manu voltou para o quarto. Mas era obvio que elas não tinham se resolvido.

***

VACA! BITCH! Aquele projeto de Bruna Surfistinha... Eu já não tava de bom humor por causa do sono que sentia. A Laís tinha preparado uma surpresa pra valsa e todas as primas iriam participar, menos a minha Irma é claro!

Ah, mas se ela ousasse chegar perto do Eduardo, eu arrancava aquele aplique ridículo da cabeça dela fio por fio.

Ouvi batidas na porta, reconheci quem era.

–Posso entrar?

Ele parecia meio espantado pela pequena cena que viu na sala.

–Claro – eu ainda tava fula da vida, era evidente.

–Então... O que foi aquilo? – ele sentou na ponta da minha cama e forçou um sorriso, mas não foi muito eficaz.

–Eu tenho intriguinha besta antiga com a Joice, você não tem nada haver. Não queria que tivesse visto isso...

–Tudo bem... O que ia me mostrar?

–Ia te apresentar pra minhas primas, a Sarah é legal... Mas ai a Joice estragou a apresentação simpática.

–Qual a historia de vocês?

–Bem... Desde pequena a Joice quer tudo que eu tinha. Passava horas no salão tentando copiar meu cabelo, algo que nunca deu certo já que o meu é liso e o dela não, roubava minhas bonecas e até minhas roupas! Mas eu acho que ela quer é chamar a atenção do Sam... Ela se faz de santa quando ele chega! Eu e ele sempre fomos tipo, inseparáveis! No inicio minha mãe até achava estranho que a gente vivia agarrado, sem maldade é claro. De qualquer maneira, ela só faz tudo isso pra tentar atrair ele.

–Pera, então o Sam é atraído por você?

–Não, eca! Eu quis dizer que a atenção que ele me dá, ela quer pra ela!

–Agora fez mais sentido, mas o que eu tenho haver com isso?

Putz, como podia ser tão lerdo assim?

–Acorda né, você é carne nova! Obvio que ela ia tentar atacar... Mas...

***

Ela olhou para os lados, garantindo que não tinha ninguém por perto. Me puxou pela camisa e me deu um beijo, tipo, beijo mesmo!

–Ta doida?

Ela cerrou os olhos, estava assustadora e extremamente encantadora ao mesmo tempo.

–Se ainda não ta claro, se eu ver vocês dois juntos...

–Não precisa terminar a frase! – interrompi logo.

–Ótimo! – ela abriu um sorriso como se nada tivesse acontecido, bagunçou meu cabelo e continuou – Vamos almoçar?