Sayaka encara o rosto desconcertado de Kamui que intimamente desejava que o chão se abrisse e o engolisse, mas bem nesse momento Shaoran aparece atrás da menina e a pegando pelos ombros fala:

–-Precisava mesmo falar com você! Huum..... precisa dela Kimihiro?

–-Agora não... por que?— o homem sorria satisfeito.

O rapaz sorri e apontando com a cabeça atrás de si mostrando Kurogane e Faye, um carrancudo e o outro super animado, diz:

–-Queríamos ir fazer compras e mais tarde o jantar! Não vai ser a mesma coisa que você fazer, mas.... nós melhoramos muito!

–-Esta bem... ia mesmo pedir para Sayaka-chan ir fazer compras amanhã. Vamos... venha aqui....— Watanuki havia se sentado e movia o indicador para a garota.

Ela não precisou ouvir seu nome, não precisava que o homem dissesse que era para ela ir ate ele, porque simplesmente sabia que era consigo com quem ele falava. A menina caminha rapidamente ate ele e para há alguns centímetros, o que incomoda profundamente Kamui.

Mesmo na escola, Sayaka mantinha sempre uma certa distancia das pessoas fossem as melhores amigas ou... nada. Agora que o menino pensava, tirando as amigas Sayaka não parecia próxima a ninguém, nem mesmo com ele que achava que ela o correspondesse, mas olhando para a cumplicidade estranha que aqueles dois tinham se sentiu ainda mais ciumento.

–-Aqui esta a lista das coisas que vou precisar...... tome aqui o dinheiro e.... quero que compre algo apenas para você no caminho de volta para casa. Esta bem?— o atual bruxo das dimensões dava um sorriso triste, porém sincero, para a jovem a sua frente.

Ela cora e um grande sorriso se abre em seu rosto, abana a cabeça minimamente e dando tchau para todos corre para os rapazes e todos saem para a rua. Quando a porta da frente se fecha e tudo lá dentro é reinado pelo silencio, Kamui lança um olhar para Watanuki, toda a vontade de separa-la daquele homem tinha sumido apenas porque ela havia sorrido daquele jeito e era a primeira vez que via. Um sorriso feliz, livre, verdadeiro e espontâneo completamente diferente do sorriso cortes e forçado que sempre dava, agora ele podia ver a diferença.

–-Ainda quer que eu a mande embora?— Watanuki sabia o que se passava pela cabeça do menino, volta a sua posição semideitada com Maru e Moru ao redor agora.

–-Não... não sei mais... o que quero! Ela parece tão feliz... feliz de verdade com você...— o menino olhava triste o chão.

Esse comentário pegou Watanuki desprevenido, ela feliz por causa dele? Como?

–-Huuum..... ameixas, ameixas, ameixas... aqui! Ameixas em conserva!—Sayaka nas pontas dos pés pega vários vidros e coloca no carrinho, depois com Kurogane no seu encalço vai mais para frente.

Depois de uma hora inteira eles estavam parados em um canto da ala de doces e a menina revia tudo na lista:

–-Ameixas, vinagre, gengibre, sake, rabanete, polvo........

–-Tudo ai, Sakura?—Shaoran pergunta com um sorriso que logo desaparece.

Sayaka olha para responder algo, mas logo para quando vê a cara de sofrimento do rapaz, o que a faz lembrar um pouco da própria e esquecida dor e a faz dizer:

–-Tudo em ordem sim! Acha que só uma garrafa de sake culinário será suficiente?

Ela sorria um sorriso sereno e calmo oferecendo toda a esperança que podia, embora a própria não sentisse isso, como resposta o rapaz a abraça pelos ombros com toda sua dor momentaneamente guardada e fala:

–-É o suficiente sim! Mokona disse que na receita pedia só meia garrafa.

–-Ah, não fica com ela só pra você Shaoran! Também quero apertar ela!— Faye diz com um imenso sorriso no rosto e com os braços estendidos pra ela.

Mas o espadachim o segura e diz:

–-Fala baixo e deixa pra fazer isso outra hora! As pessoas estão olhando o seu estardalhaço!

–-Buu buu... o Kuro-Kuro não é nem um pouco legal!— fala o loiro apertando a bochecha do moreno e correndo mercado afora.

–-É KUROGANE, SEU... —o homem corre atrás do feiticeiro.

Os outros dois se olham e fingindo que não era com eles vão levando o carrinho ate o caixa mais próximo, passam as compras pagam e só depois que estão lá fora com todas as sacolas assistindo a caça de Kurogane é que Shaoran percebe:

–-Mokona não esta aqui!

–-Fala do branquinho? Ele ficou com Kimihiro-San... por que?—a menina ria discretamente.

–-Então... como ainda nos entendemos?— ele olha surpreso para ela.

–-Huum? Como assim?—ela para de olhar para a caça de gato e rato e se vira séria para ele.

Ele vai falar algo, mas o homem que a menina tinha visto antes na casa do feiticeiro para diante deles e pergunta:

–-Shimizu-chan? Fazendo compras para o Watanuki?

Então seu olhar recai sobre Shaoran que devolve seu olhar sem pestanejar, mas logo seus olhares voltam para ela que responde:

–-Sim! Como estamos com visitas lá em casa, Kimi...

–-Lá em casa? Esta morando lá?— Doumeki parecia infeliz com a ideia.

–-Nã... não exatamente... é só que...—atrás do homem ela nota Kurogane tentando asfixiar Faye e corre ate lá—Senhor espadachim não faça isso! Por favor!

–-Sei o que pensa, mas não pode impor sua vontade á ela. O destino à fez ir ate ele e não há nada que possa fazer!— Shaoran não olhava para Doumeki, observava a menina tentando afastar o moreno do loiro.

Doumeki suspira e olhando a mesma cena, diz:

–-Eu sei... mas... sabe, não queria que ela passasse o mesmo que o Watanuki. Desejar tanto uma coisa que nem se sabe quando vai ter em mãos. —vê Sayaka levantar Faye— Ela não deveria se envolver tanto com... ele.............

–-Por quê?— Shaoran se apressa á perguntar quando percebe que os outros estavam voltando.

–-Porque... acho que...— mas ele não chega a terminar.

–-Vamos indo? E... quer ir jantar lá em... na casa do Kimihiro-San?— a menina olha timidamente para Doumeki.

O homem suspira mais uma vez e faz um carinho na cabeça dela, pensa por um momento e depois fala:

–-Hoje não vai dar, mas um outro dia será um prazer! E Shimizu-chan?— ela murmura um sim—Não se envolva tanto... pode se machucar!

Ele se vira e vai embora deixando a menina meio espantada e Shaoran sem a resposta que tanto ansiava, Kurogane pega as sacolas que ela carregava e por fim Faye a pega no colo e a leva de cavalinho.

–-Se... senhor feiticeiro.....—a menina estava vermelha ate a raiz dos cabelos.

–-Ah deixa, vai? Estava louco de vontade de te levar assim... você é tão pequena e fofa!—o loiro parecia o retrato da felicidade.

Sayaka vai retrucar, mas ela percebe o olhar de uma moça do outro lado da rua com longuíssimos cabelos negros com franja de fios retos, corpo longilíneo com curvas generosas e seios fartos, olhos azuis e tristes e trajava um uniforme de colégio. Eles vão passando por ela sem ter noção de que ela os olhava, apenas Sayaka, antes de perderem contato visual ela vislumbra a moça dizer:

–-Sinto a falta dele... mesmo eu não sendo eu.....................

Uma única lagrima solitária desce por seu rosto e então a menina não consegue vê-la mais, seu coração se aperta, a dor da despedida e da espera a sufocando. Mas da onde vinha isso?

–-Senhor feiticeiro... quero descer...........................—Sua voz era quase um lamento.

–-Mas...— Faye a olha para responder, mas o rosto desolado dela o impede de continuar.

A desce de suas costas e antes que se desse conta ela corre em disparada na direção que tinha visto a tal moça, não se deu ao trabalho de olhar para trás quando gritaram seu nome, não parou quando seus pulmões começaram a arder pelo esforço e parou menos ainda quando viu que seu objetivo não estava mais no mesmo lugar. Esbarra em pessoas e atravessa ruas sem olhar para os lados e em faróis vermelhos, nem via aonde ia. Pois a tal moça era sua prioridade.

–-A... felicidade... do... Kimihiro....—a voz entrecortada falava algo que a cabeça não entendia.

Por fim seus joelhos cederam e ela cai sob eles, olha para cima e se vê diante da torre de Tóquio. Se levanta cambaleante e num ultimo esforço vai o mais depressa que podia ate a porta de entrada e se joga contra ela. Mas ao invés de cair no saguão, Sayaka se viu jogada no nada.

–-Ora... fazia tempo que ninguém aparecia diante de mim! Ainda mais depois do que me aconteceu.... o que deseja?

A mulher de fala mansa e sedutora encara a menina com seus olhos purpuras e parecia sua versão mais velha, para espanto de Sayaka que tentava recuperar o folego. A menina pergunta:

–-Quem... quem é você?

–-Eu? Sou o espirito guardião do pilar do equilíbrio que separa as dimensões umas das outras e também a fonte de toda a magia existente. E antes que me pergunte sobre minha aparência, já aviso que não possuo uma própria, então, tomo as dos outros emprestadas. — ele suspira e sorri— Então? O que deseja?

–-A felicidade do Kimihiro de volta!— embora não soubesse o porquê daquilo ter saído da sua boca, sentia que verdadeiramente queria aquilo, desejava—Quero a felicidade dele!

O guardião a olha surpreso e pergunta:

–-Mas e você? Não tem nada para pedir para você? Sei que tem uma dor profunda guardada ai e ainda assim vai pedir por ele?

–-Vou... e não há nada que eu não faça para isso!— Ela se sentia decidida.

–-Acabou de conhecê-lo. — Ele foi enfático.

–-Não importa! Ele precisa de mim! Só eu posso fazer isso!— por algum motivo Sayaka acreditava cegamente no que falava, sentia verdade em cada letra— Foi por isso... que o destino me uniu á ele!

O guardião fazia cara de descrença, mas quando viu que a menina falava sério resolve atender seu pedido, diz:

–-Anos sem querer nada e no fim pede algo para outra pessoa! Bem... o quanto esta disposta á pagar por isso?

Mesmo assustada, Sayaka não ia voltar atrás.

Fim do desejo 3.