Elder Tale – Bandeirantes do Ipiranga escrita por Daihyou


Capítulo 9
Capítulo 8 – Mais perdidos que o Achado.


Notas iniciais do capítulo

Até agora, poucas alterações no capítulo. O resumo das habilidades e talvez a ficha de HP/MP de cada um será postada logo depois. Maldita gripe. x.x"



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Agora com o nosso grupo que aumentou para três pessoas, tive que mudar todas as táticas. Mesmo Fan Chau Lan ser uma médium, sua escala de habilidades (Sua Build) era a de uma jogadora corpo-a-corpo solo, quase uma eremita que se sustentava por magias defensivas, contra golpes e cura. Logo adaptei o papel dela como a de elo de troca entre Eu e Azure ou como guarda de Azure em caças (Raids) onde haviam grandes quantidades de monstros. Mas o problema era a teimosia dela com as perguntas sobre os movimentos.

–Ano, por que ficamos treinando o dia inteiro com os Kobolds da área de entrada do parque? EU mesma já consigo lidar com quase todos eles sozinha. – Comentou ela.

Depois de um dia de treino intenso (para a tortura de Azure) estávamos almoçando no restaurante em frente ao Hotel. Depois dos problemas que eles tiveram, para evitar que eles fechassem, comprei o local para funcionar como nosso fornecedor e abrigo até eles consertarem tudo.

–Azure e eu treinamos a sincronização de nossos movimentos. Como Kobolds daquele nível são fracos, nossos erros de sincronia não custarão caro. - Retruquei

–Ah sim, entendo. – Respondeu Lan abaixando a cabeça.

“Merda” – Pensava suspirando. As vezes esqueço que preciso melhorar o jeito de falar.

–Relaxe – Dizia fazendo cafuné nela. – Não é que não confio em você. Apenas quero que o time fiquei mais confiante um no outro e mais confortável na hora da luta.

Ela sorriu e voltou a comer. Logo em seguida, a única garçonete que trabalhava lá, a mesma que eu tinha salvado outrora, veio nos servir mais um prato antes e voltar e ajudar a equipe de reforma que contratei.

–Agradecido.

Ela ficou sem jeito ao meu agradecimento e logo se retirou. Seu nome era Sheila e não falava muito.

–Acho que a Sheila ainda tem medo de mim. – Comentei baixo

Lau apenas tossiu e Azure apenas dava um sorriso de deboche.

–Você precisa sair mais Padre. E isso vindo de alguém que no outro mundo mal sai de casa em semanas de noitadas a mais de 5 anos quer dizer muito. – Comentou Azure quase rindo.

Estranhamente, depois daquela primeira leva de ataques dos Kobolds, as coisas pareciam melhorar. Normalmente durante o jogo, os Kobolds deixavam uma cidade em paz por uma semana se eles ganhassem a primeira batalha. Tal pensamento me atormentava a medida que tentava comer. Por outro lado, outra coisa me chamou a atenção. Desde o ataque, muitos estabelecimentos e barracas foram dizimados. Com poucas exceções como este restaurante que eu mesmo paguei, poucos eram os que se recuperavam.

“Espera. Mas este local só se recuperou depois de ser comprado a preço de banana e pago a reforma”

Foi aí que tive a minha ideia principal para minha ascensão. Sabia que eu não poderia competir com o poder bruto de outros aventureiros. Eu era o tipo de jogador que resolvia os Puzzles das masmorras e conhecia a história por trás daquilo enquanto as maiorias dos Aventureiros apenas se preocupavam em pilhar e ganhar experiência. Dadas as circunstâncias, creio que a maioria sequer se lembra do período de 1 semana de intervalo das lutas. Talvez essa era a minha chance. Eu tinha uma quantia considerável de ouro, acumulados de anos de jogo, tanto como jogador solo, como das guildas que criei e participei, onde eu sempre ficava com os tesouros das guildas quando estas se desmanchavam.

Daquele instante, me coloquei de pé.

–Volto a noite. – Comentei aos dois, que apenas ficavam curiosos com o que eu planejava. Eu apenas peguei um cavalo alugado e fui o mais rápido que podia até o antigo prédio da prefeitura da cidade, atualmente a Guild Hall da cidade. Dali iria começar a maior loucura que fiz. E talvez uma que pudesse dar certo.

E foi o que pensei, depois de lidar com todas as filas, burocracias e afins. Tinha esquecido como demoravam. Nas horas que passei lá, verifiquei os danos causados nas lojas.

“Em torno de 60% das lojas foram quase que totalmente dizimadas”

Logo naquele instante, peguei toda a minha fortuna em minha conta e, sem sair de lá, fui comprando um a um, cada lote, junto com a taxa de reparo. Como ainda teriam uma semana de ataques, coloquei o prazo de reparo de um mês. Seria o mês mais apertado que eu passaria nesse jogo, mas valeria a pena.

Apenas consegui voltar para o hotel no final da tarde, balançando os bolsos quase vazios de ouro, restando apenas 12 peças em cada bolso, mas pensativo sobre os 70% de TODOS os estabelecimentos da cidade em meu nome. Com certeza no dia seguinte, todos os jogadores notariam a mudança súbita nas lojas que ainda funcionavam. Mas honestamente eu não estava nem aí. Seguia caminhando até o hotel, quando ouvi um assobio, reconhecendo Azure e Lan chegando.

–Padre. O que em nome de Deus o senhor foi fazer?

–Te preparando o purgatório. – Respondi secamente. Azure riu.

–Ok fera, mas sério, o que você ficou fazendo? – Indagou o mesmo. Dava de ombros

–Apenas ficando pobre. – Comentei sorrindo.

–Não acredito. – Comentou Lan. – O senhor fez voto de pobreza, Magnus-san?

Respirava fundo. Essa Lan...

–Não foi isso. Apenas fui comprar algo caro. – Comentei despreocupado. Desta vez, foi Azure que não entendeu muito bem.

–O que comprou?

Nada respondi. Apenas apontei a placa do hotel onde ficávamos, mostrando o nome do novo dono.

–Comprou o hotel? Como assim Padre?

–Comprei. Entre outras coisinhas. Que tal nós montarmos uma raid para fora da cidade? Preciso respirar ar mais fresco e ainda temos 5 dias para curtir até a próxima invasão.

Lan acenou com fervor e Azure suspirou de alivio.

–Finalmente, sem mais treino! – comemorou

–Mas depois da invasão, teremos o treinamento intensivo apenas para a Lan.

–Mas o que? – Indagou Azure, onde eu apenas ignorei entrando no Hotel, buscando as chaves para os quartos de cada um.

Ao menos, depois de tudo aquilo, eu poderia curtir um merecido descanso na única suíte do hotel, que agora me pertencia. Tinha muito que pensar, e com a compra dos lotes, dinheiro era algo que eu só deveria me preocupar depois de um mês.

E foi assim que permaneci até o amanhecer. Sendo recebido com um canto de galo.

[CÓCÓRICÓ!]

–Inferno!

Coloquei-me a levantar, percebendo que o maldito galo que ficou cantando perto do hotel era provavelmente um galo que era mantido em cativeiro em uma das lojas. Uma vez que a maioria delas estava destruída, alguns monstros não ofensivos estavam a solta na cidade, o que trazia um leve caos, mas ao mesmo tempo, me davam a chance perfeita. Já comecei a me arrumar com antecipação.

E surpreendentemente, ouvi um toc toc na porta no momento em que deu o horário proposto. Não contava que alguém viria tão cedo. Possivelmente seria Azure de ressaca que não dormiu, como as vezes acontecia. Ao abrir a porta, me deparei com a surpresa de ver a Lan, arfante, apoiando-se na beirada da porta.

–há... S-senhor. Desculpe o... atraso.

Francamente, essa pequena...

–Primeiro, respira mulher! – Respondi. – Sabia que eu tinha passado pra você que era pra ser pontual, mas não precisa se matar pra isso.

Apenas via Lan se recompor aos poucos, tomando um fôlego fundo.

–Agradeço senhor. – Respondia a mesma, me fazendo rolar os olhos

–Corta essa, me chame por Magnus. – Dizia seguindo corredor adentro, chutando a porta do quarto de Azure. – Acorda, Infiél!

Algumas coisas interessantes que se descobre sobre algumas pessoas. Primeiro, Azure manteve os seus hábitos offline no jogo, ou seja, ele dormia apenas de cueca com o quarto revirado. Segundo, Lan não estava acostumada a aquele nível de intimidade com amigos ou a ficar vendo um homem semi nu. Terceiro, que ele tinha uma das armas dele do lado da cama. E por ultimo, a pontaria de Azure é quase perfeita quando ele. QUASE.

–Padre! Que merda ? – Dizia Azure vendo que o virote de sua besta de mão passou raspando no meu rosto. Apenas suspirei

–De quantos minutos você precisa? – Comentei tirando o sangue do ferimento, que já curou-se.

–Ahm... pelo menos uns vinte.

–Hmm... Tem cinco! – Bradei forte, saindo de lá com a Fan Chau Lan, fechando a porta com força antes de Azure fazer algo em resposta.

E enquanto eu caminhava pelo corredor do hotel, percebi um reflexo de luz, notando algo familiar.

“Será que estão...?”

Mas suspirei ignorando o pensamento. Aquilo podia esperar.

Logo depois que Azure descia as escadas, murmurando algo sobre me mandar pro internato e Lan começar a tentar acalmá-lo, apenas dei de ombros, passando pelos dois e seguindo logo depois para a direção da rua. Não queria mais desperdiçar tempo.

E curiosamente, tempo era algo que sempre parecia fugir de mim. Pois logo naquele instante que tinha decidido que nada mais iria interromper minha pequena expedição, eis que surge um dos mais horrendos eventos que testemunhei desde a invasão dos Kobolds: Um apedrejamento.

Aparentemente uma jovem mulher (que percebi pelas pernas claras debaixo dos trajes) coberta por uma túnica rasgada em alguns cantos, que cobria quase que totalmente seu corpo (exceto pelas pernas, claro) fugia desesperadamente de uma pequena turba de pessoas, especificamente, do povo-da-terra, que seguiam em arremessar pedras e paus, provavelmente acumulados dos escombros de vários prédios depredados e/ou dizimados. E toda vez eu ouvia o mesmo coro.

–Bruxa! Víbora! Morra!

Tal canto me devolveu a época em que eu conheci, fora do mundo virtual, uma mulher que estudava as artes ocultas, como prefiro chamar, e que sofria bullying na escola. E tal memória passar pela minha mente, foi a segunda vez que me fez mergulhar no monstro interior.

E quando dei por mim, tinha pego uma das pedras que iam acertar a cabeça da jovem, esmagando esta até ficar poeira.

–Quem quiser morrer tentando apedrejar esta mulher, um passo afrente. – Bradei em tom audível, mas em tom rouco.

Automaticamente, Fan Chau Lan sentiu-se perdida, pois desconhecia como eu conseguia partir tão rapidamente para a linha de frente, enquanto que Azure apenas balançava negativamente, sacando seu arco na direção dos mesmos. E dentro de instantes, seja pelo arco de Azure, ou olhando em meus olhos, um a um, eles seguiram embora. Depois de todo aquele stress, a jovem fugitiva, que estava pasma até agora, sucumbiu ao aparente cansaço e caiu de joelhos no chão, apoiando-se com as mãos na terra.

–Quem... quem são vocês? – Foi o que ouvi da jovem, que tinha uma doce voz.

E foi justamente a voz dela que me trouxe a realidade, rapidamente abrindo as mãos e acudindo a mesma.

–Estás ferida?

–Eu... eu estou bem. – Disse a mesma, buscando fugir de meu toque.

Não tinha entendido no momento, mas optei por não protestar contra. Mas quando a mesma tentou levantar e ameaçou cair, rapidamente a segurei em meus braços, colocando-a de pé.

–Obrigada. – Sussurrou tentando novamente se libertar. Mas desta vez a segurei.

–E acha que consegue ir longe assim? – Retruquei.

A mesma se encolheu, imagino eu que fosse por vergonha e por saber que eu tinha razão. Azure olhou algo no braço dela que me segurava e arregalou os olhos um momento.

–O que foi Azure? – Perguntei.

O mesmo apenas balançou negativamente.

–Já volto. – Foi o que respondeu.

Enquanto isso, Lan apenas parecia incerta sobre o que fazer.

–Sr Magnus, não acha melhor levarmos ela de volta ao hotel?

De imediato a fugitiva apertou meu braço, apreensiva.

–Não. Nada de hotéis. Eles me conhecem, e irão me seguir enquanto eu estiver na cidade. Preciso... Preciso fugir. – Dizia nervosa, tentando se apoiar em mim o máximo que podia.

–Ok ok... Mas o que faremos? – Perguntei. – Eu precisaria de algum transporte para prosseguir em nossa jornada. Nós iremos manter nosso trajeto de caça Lan, mas preciso de um plano para poder levar ela conosco enquanto mantemos o disfarce da caça até ela se recuperar.

Foi então que ouvi um barulho de cavalos relinchando e uma certa gritaria vinda de um dos portões. Logo vi Azure conduzindo uma carruagem pequena, de um cavalo só, mas que cabia pelo menos cinco pessoas.

–Vamos Padre! Acelere!

Admito que fiquei pasmo um momento. Nessas horas em que eu tinha que manter o papel de “médico” dos nossos grupos, eu quase sempre esquecia como Azure também tinha o mesmo dom de perspicácia que eu, talvez até mais. A única coisa que geralmente impedia ele de agir mais vezes era sua preguiça. Talvez fosse esse um dos fatores que sempre me definia como testa de ferro das Raids.

Mas não agora.

–Certo. Lan me ajude a colocá-la na carroça. Azure, fique na retaguarda que eu assumirei as rédeas.

Com poucos momentos, já nos aprontamos para ficarem posicionados na carroça. Assumi as rédeas e rapidamente levei todos para fora da cidade. Com um sumiço de alguns dias com aquela jovem, teríamos tempo o suficiente para entender o que estava acontecendo naquela cidade, por que ela estava sendo perseguida e ainda sim, fazermos nossa caçada e reestocarmos nossos suprimentos. Precisava de tempo para analisar cada fator com calma.

E justo neste instante, pego uma mensagem privada de Azure. Sempre que ele queria conversar algo comigo fora do alcance de qualquer grupo, ele sempre enviava uma mensagem.

[Padre, alguém está lendo?]

[Não. Lan está acudindo a jovem. Que foi?]

[Eu vi a marca no braço dela mais cedo. Temos problemas se eu estiver certo.]

[E o que você viu?]

Ouvi Azure respirar fundo, no fundo da carroça, antes de receber outra mensagem

[Lembra a antiga missão evento de Dia das bruxas, sobre o “Beijo da Medusa”?]

De fato eu me lembrava daquela missão. Era um evento, que um GM bem sádico criou para pregar peças nos jogadores. Era deveras arriscado, pois além de pagar com dinheiro, podia perder uma quantidade de experiência maior do que com uma morte normal no jogo. A missão consistia em achar a real medusa dentro da cidade. E quem a descobrisse, tinha que escolher entre matar ela e salvar um grupo de aldeões, ou aliar-se a Medusa e realizar a vingança dela sobre os aldeões que a trataram mal. Mas em ambos os casos, quem participasse podia morrer ou ganhar uma maldição que duraria até o evento de fim de ano, onde Papai Noel removia todos os efeitos negativos de status.

[E o que tem essa missão?]

[Acho que acertamos na loteria ao contrário, pois creio que acabamos de achar a medusa antes da hora]

E mais essa agora?


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