Elder Tale – Bandeirantes do Ipiranga escrita por Daihyou


Capítulo 10
Capítulo 9 – Amarga Garoa


Notas iniciais do capítulo

Primeiro, estou com meus afazeres pessoais, então ta foda postar.
Segundo,sim, entre esse cap e o próximo, vou pular uns 2 dias pra acelerar. Narrar upagem de personagem me irrita.
Terceiro, os cookies estão ali do lado, perto da banana de dinamite.



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Medusa. Achei que essa missão tinha sido banida...

De todas as missões interpretativas que fiz com este personagem, a da Medusa foi uma das que mais me causou revolta com esse jogo. Sempre começa da mesma maneira, ainda que as escolhas de cada um sejam diferentes: Uma jovem é marcada, um dos aventureiros a encontra e diante das perseguições e da maldição, é feita a escolha de matá-la ou poupá-la.

Mas ambas as escolhas são falhas, uma vez existe um local obrigatório para se passar antes de terminar a missão, onde todas as poupadas por aventureiros bem alinhados ficam para serem executadas por aventureiros mais gananciosos em obter os itens raros. Porém o que me deixou confuso foi o fato dessa missão surgir tão cedo. No meio da invasão? Não fazia sentido.

–...dre. Padre!

Acordei do transe um momento, parando a carroça do nada. Percebi que Azure me encarava apreensivo. Tinha esquecido que mesmo neste mundo, minha expressão facial não é das melhores. E que quando pondero demais, parece que minha mente mergulha nas trevas.

–Foi mal. O que foi?

Naquele momento, até Lan estava me olhando preocupada. Mesmo sem me conhecer, a jovem já demonstrava certo nível de perspicácia em notas minhas sutis mudanças de humor.

–Tudo bem senhor? – Perguntou em Lan em voz baixa.

–Corta essa. Não sou seu comandante, ainda que pareça. Chame pelo nome.

Lan apenas engoliu seco e recolheu-se com a jovem.

–N-não precisa falar assim com ela.

De imediato, todas aquelas emoções fervilhantes que eu tinha guardado até agora pareciam transbordar no olhar que lancei para a jovem eleita. A mesma parecia congelar no ato, se abaixando e começado a soluçar. Apenas respirei fundo e voltei a comandar a carruagem.

–E aonde estamos indo Padre? – Indagou Azure.

–Vou checar uma coisa. Lembra que antes dessa atualização eu vendi quase todas as propriedades e comprei algo mais isolado?

Naquela hora, Azure entendeu aonde eu quis chegar, e apenas começou a rir.

–Ora essa. Você não podia ter dito logo de cara? Pensei que iríamos a uma dungeon. Até me preparei pra isso.

Eu apenas dava de ombros.

–Não deixei explicito o que iríamos fazer, em qual ordem.

Apenas percebi a gesticulação de Azure, onde ele me mandava. Ignorei e apenas segui adiante.

Depois de poucas horas, perto do sol ficar a pino, chegamos ao local.

Era um sobrado quase todo naturalizado por fora, mas eu esperava que estivesse o mais próximo de intacto por dentro. Antes de tudo eu tinha me certificado de deixar quase tudo que tenho para sobrevivência própria lá dentro. Com minhas contas, eu podia sobrever cerca de 100 anos de jogo apenas indo e voltando a esta cabana depois das caçadas. Embora dure bem menos com toda essa gente, não ligo de ter um pouco de companhia. Principalmente das poucas pessoas que conheço offline que estão neste jogo.

–E onde estamos Padre? – Perguntou Azure.

–Como nem tudo nesta versão de nossa cidade natal foi reconstruído baseado na época atual, mas também com referências históricas, estamos a menos de uma hora do sanatório abandonado Azure.

De imediato Azure entendeu a localização, concordando com um aceno.

–Falando nisso, Azure, pode me dizer se alguém que conhecemos também ficou preso. Como seu irmãozinho por exemplo.

Azure se encostou no sofá da sala, suspirando de alívio. Até parecia que entrou em outro mundo. E se esquecendo do que perguntei...

–Azure!

–Ok ok! – Respondeu o mesmo quase pulando do sofá de susto, checando sua lista. – Já vi alguns nomes. Como eles sabem que a maioria dos nossos grupos ficam aqui nesse estado, acho que eles virão em alguns dias nos arredores.

–Isso me alegra. Muito. – Comentei sentando-me na minha poltrona particular, que fica próximo ao sofá, respirando fundo.

–Sr... quer dizer, Magnus. – Comentou Lan com a jovem próxima a ela.

Já entendi de imediato o que se passava.

–Subindo as escadas no meio da casa você vai ao segundo andar e andar até a outra escada que leva ao sótão. Pode deixar a moça lá.

–Certo. – Comentou a mesma levando a jovem eleita até o sótão. Percebi que ela me encarou um momento apavorada, mas apenas retribui com meu ar de cansaço, o que a deixou evidentemente confusa. Balancei a cabeça negativamente, ignorando tais pensamentos.

–Azure, veja com Lan se os estoques da casa estão nos conformes. Possivelmente esta será nossa base enquanto ficarmos por estas bandas.

Azure partiu para cumprir o que eu pedi, mas creio que ele demorou pra entender o que eu tinha dito, voltando no instante seguinte.

–Como assim “enquanto ficarmos”?

–Ora, acha mesmo que vamos ficar pra sempre? Onde você acha que ficam os grandes eventos e as conferências sobre o destino deste reino sudeste?

Naquela hora, Azure engoliu seco e apenas foi atender meu pedido, enquanto eu pegava um mapa improvisado da região.

A grande central, a cidade que comanda todas do reino sudeste, onde no mundo real seria São Paulo. Tal cidade, similar a real, costuma ser a mais cosmopolita e movimentada. E como todo jogo online, tais cidades tendem a ser a mais caóticas de todas. Com altos índices de PKs que rolavam lá nas versões anteriores, já tive minha cota de guerras civis lá, de combates de Guildas e eu mesmo já comandei dezenas de massacres, o que me rendeu um apelido que não me orgulho, mas não nego. Eu esperava que nunca mais chegasse a por os pés lá. Mas mediante todos os incidentes na cidade, o “golpe” que dei nela a menos de um dia e o retorno da missão da medusa, onde o povo-da-terra caçará quem estiver do lado dela, não estou com muitas opções em um futuro próximo.

Uma voz me desperta novamente, era Lan, que trazia uma prancheta. Onde ela conseguiu?

Ah, esqueci que fui meticuloso ao pedir esta casa pra comprá-la...

–Senhor. – Comentou a mesma. Desisto de mudá-la. – O depósito está na metade. Mas temos um problema.

–Isso deve nos sustentar por pelo menos uma semana e meia. E qual é o problema?

–A jovem. Ela disse que precisava reencontrar a mãe dela e não parava de se debater. Azure está contendo-a. Mas quando ela finalmente cedeu, algo caiu das mãos dela. – Dizia entendendo o que parecia ser um pano ou papel.

Ao pegar o mesmo, meu sangue congelou.

–O-o-o.... O que? – Não consegui terminar a frase. Naquela hora, minha vista escureceu, ouvindo o que parecia ser meu corpo batendo no chão amadeirado.

Realmente aquilo não era coincidência. De todas as probabilidades, aquilo era mais difícil do que ganhar na loteria. Todas as medusas carregavam um selo que surgia a cada evento. E tal selo não devia existir. Não mesmo.

Senti um tapa na cara, e quase que de imediato pulei na jugular de Azure.

–Cretino!

Mas percebi logo que quem me despertou foi a jovem que resgatamos, agora descoberta.

Tinha cabelos loiros, tinha um pouco mais de altura que Fan Chau Lan e mais corpuda, pelo que se percebe pelos trapos de camponesa que estavam rasgados nos braços e canelas, possivelmente estavam amarrados, dadas as marcas nos tornozelos e punhos. Como suspeitei, era caucasiana demais pra esta região, então deve ser refugiada dos reinos do sul. Tinha olhos prateados, estranhamente familiares, mas não sabia de quem.

–Ah... deixe. – Disse encabulado, me recompondo.

–Gah... E o que foi agora Padre, que inferno! – Praguejou Azure.

–Já me desculpei ok?

–Não te ouvi antes...

–Esquece. – Encerrei logo aquela discussão tola, tossindo. – Onde tu ias guria?

A jovem apenas arregalou os olhos

–Estava apenas a fugir dos piás que me perseguiam. Depois iria para minha mãe.

Todos ali se surpreenderam pelo jeito de falar que eu usava e mais ainda por ela responder equivalente.

–Tendi. Acostume-se com o jeito de falar daqui se quer se misturar.

A moça apenas acenou enquanto se arrumada. Lan parece que emprestou alguns equipamentos iniciais, que aos padrões normais, é praticamente uma roupa forrada. Ao menos é menos pior que os trapos que a mesma estavam. Respirei fundo, me levantando.

–Dadas as circunstâncias, precisaremos ir para a capital dentro de alguns dias. Até lá, precisamos armar a casa para invasões e também pra eventuais invasões.

–Disso eu já sabia Padre, pelo que eu vi que você fez na cidade, não duvido.

Olhei pra Azure um momento e suspirei. As vezes esqueço que esse cretino consegue espiar alguns movimentos meus.

–Fez? Não entendo Magnus-san. O que o senhor foi fazer na cidade antes?

–Não foi nada de mais, apenas investimento. – Disse acenando para Lan.

Ponderei aonde iríamos nesta uma semana. Eu precisava de tempo pra saber se o plano que bolei surtiria efeito depois de uma semana. Conhecendo o povoado de onde saí, eles já devem ter colocado trincheiras até na igreja. Faz bem que alguns jogadores que moram lá serviram e já tem uma noção de eventos assim. Olhei mais uma vez e pensei.

–Então Magnus-san, eu queria perguntar. – Disse Lan apontando um local do mapa. – Onde o senhor conseguiu o mapa e que ponto é esse?

Olhei um momento, onde Lan apontou, era um ponto próximo ao sanatório abandonado, onde em teoria não existe nada ali....

Mas o que? Naquela hora eu lembrei de uma coisa, e me dei um facepalm por ter esquecido tão rápido.

–O que foi? O que eu fiz? – Perguntou Fan Chau Lan ficando nervosa.

–Como diria meu amigo, Euraka! Lan, você salvou meu plano! – Esbravejei, pegando o mapa e levando até a parede. – Azure, você lembra disso? – Comentei apontando o ponto.

–E como não saber, Padre? – Respondeu Azure sorrindo largamente. – É um dos pontos onde mais caçávamos. Você mesmo calculou que um dia de caças lá pode te colocar até no nível 70 sem problemas.

–Mas o que os pia-quero dizer, o que os moços falam? – Comentou a jovem

–Aqui é nada menos que um Dungeon apagada.

–O que?

A medida que fui explicando pra ela naquela hora, fui pedindo pra Azure pra pegar o essencial nos baús da casa. Dungeon, ou cavernas/masmorras, são os locais oficiais onde se vai afim de enfrentar uma série de monstros de um certo tipo com um chefe no final, de modo que depois de finalizar, ou se voltava o caminho em paz ou era transportado pro início ou até mesmo seguia adiante no local. Deste modo, uma Dungeon Apagada é onde um dia já foi uma Dungeon mas agora não tem mais um chefe ou perdeu parte do caminho, seja por ter redirecionado o chefe pra outro local, como o sanatório. Ainda sim, precisa-se de um acesso, como nas outras. Mas como o local caiu em desuso, assim foi o que aconteceu com suas “chaves” que são plantas raras que se colhia ao redor, e agora se colhem dentro do sanatório e são usadas pra outro propósito.

–Azure, quantas temos? Precisamos de pelo menos 5 para cada ida. Quantas eu colhi?

–Bom... pelo menos umas 400.

As meninas me olharam abismadas, tanto pelo número quanto pela paciência de se pegar todas as flores.

–Que foi? Eu tava entediado nos dias que faltavam pra atualizarem o servidor e trocar a dungeon de lugar.

Logo em seguida, Azure já se preparou para me acompanhar, mas eu o impedi.

–Não. Você vai ficar e proteger a casa e treinar a Lan.

–Não creio. Você vai lá sozinho? No seu nível? – Dizia Azure surpreso e desapontado.

–Azure. – Comentei suspirando. – Preciso que pegue a minha lista de emergência e faça a total estocagem da casa e peça ao Raika um guia de mercado da capital. Eu vi também na lista de contatos que ele está aqui conosco, mas conhecendo o maldito, ele não vai sair de lá nem que o paguem. Pode usar as economias guardadas aqui pra isso.

–E o quanto eu posso usar?

Parei pra contar mentalmente, mas desisti.

–Dane-se, usa tudo.

Naquela hora vi os olhos de Azure brilhando.

–Mas traga todos os equipamentos customizados de minha classe de lá e deixe-os prontos para eu levar comigo para o túnel. Pegue todos até os de nível 70. Pretendo voltar em 1 ou 2 dias.

De imediato, Azure já se lançou sobrado adentro, cantarolando música de capela, a medida que eu seguia xingando-o até na décima quinta geração em alto e bom som.

–Novamente, Magnus-san, perguntas. – Indagou Lan. – Como assim treinar-me? E quem é Raika?

–Raika é um amigo nosso de longa data, desde que Azure e eu entramos para um grande grupo online, praticamente uma cidade online que entramos, e lá conhecemos o Raika. Ele costuma ser um bom jogador e estrategista até melhor do que eu. Mas como Azure, ele é deveras preguiçoso. Na verdade eu também sou, mas minha paranoia é pior. – Comentei rindo na ultima parte. – Em todo o caso, ele mora na capital do reino sudeste, e como iremos pra lá de qualquer jeito, quero tudo pronto. Lan, sua missão é fazer guarda a jovem Caroline até nós voltarmos. Depois que Azure terminar o treino, você será a guardiã pessoal desta jovem até o fim da missão onde ela está envolvida. Só peço que não se envolva demais.

A mesma apenas sorri e acena positivamente, fazendo continência e voltando a cuidar de Caroline. A mesma olhou surpresa e segurou meu braço.

–Como sabe meu nome?

Naquela hora, até mesmo Lan, que estava absorta nos pensamentos de treino, pareceu em dúvida sobre como eu sabia o nome dela.

–Ah, deve ser pelas informações disponibilizadas. – Comentou Lan, causando confusão em Caroline.

–Informações? Onde? – Indagou a mesma nervosa.

–Na verdade é porque sua mãe um dia murmurou esse nome enquanto sonhava.

Naquela hora me retirei do local para me juntar a Azure, enquanto eu ouvia uma batida no chão similar a minha queda, enquanto Lan estava totalmente abismada.

–O QUE? – E foi o que ela gritou na sala, antes de voltar a si e acudir Caroline.

Eu não tinha tempo a perder e as coisas só apertavam. Ainda me pergunto se vou ter que encarar o reflexo de meus erros cometidos neste jogo, e também se um dia, além de resolver o mistério por trás de todos estarem presos no jogo, se alguém com meu histórico de julgamentos pelas equipes de criação do Elder Tale me permitiriam o privilégio de me libertar ou ficar preso neste mundo pra sempre.

Por hora, apenas tomo mais um drinque no inferno.


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