Elder Tale – Bandeirantes do Ipiranga escrita por Daihyou


Capítulo 6
Capítulo 5 – Tragável Veneno


Notas iniciais do capítulo

Finalmente. Depois de muito desleixo, por apoio de alguns leitores (em especial a Srta Lau Chan) eu terminei esta budega! o/



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Continuamos nosso dia no parque da cidade, caçando mobs de monstros em um grande frenesi. Uma vez que éramos jogadores experientes, o processo de evolução de nível torna-se uma tarefa menos árdua. Isso somado ao fato de que tanto eu quanto Azrure estarmos acostumados a lutar com uma arma branca devido as experiências em SCAM, agregado a nossos corpos virtuais serem literalmente adaptados para o combate, faz com que a raid pelo parque tenha sido um total sucesso.

–Creio que já deu por hoje. – Comentei tirando o suor do rosto depois de ter finalizado o ultimo monstro. – Vamos voltar antes que tenhamos que lidar com o Full-Respawn.

–Graças a Deus padre! Já me cansei de surrar!

–Vá pro inferno! Você nunca se cansa de surrar alguém!

Depois que terminamos me senti menos incomodado. Depois de um dia de frenesi limpando o parque nas áreas inexploradas, obtivemos uma boa leva de dinheiro e itens, além de Azure atingir o nível 53 e eu o nível 42, Agora monstros como o Kobold-Chefe que antes eram difíceis, agora são um passeio no parque, por assim dizer. Respiramos mais aliviados, porém cansados, principalmente eu, e partimos em direção ao hotel onde nos hospedamos.

Respirava mais aliviado, carregando o loot que tínhamos acumulado neste tempo. Agora com o aumento de força, além de conseguir acertar e matar mais monstros por hora, eu podia finalmente sustentar todo o material sem dividir com Azure. Com isso, ele podia manter-se como minha escolta. Não que eu goste de carregar coisas ou que eu seja bondoso. Por mim eu dividiria igualmente pra eu não carregar uma grama sequer a mais. Porém, Azure era o único arqueiro. E como não gosto de ficar carregando tensão demais fora das lutas, por mais irônico que pareça, deixei ele com a tarefa de vigia. Cômico.

Então que a cena mais icônica desde que chegamos neste maldito jogo aconteceu. Não pensei que dentro de um jogo online, um MMORPG, teríamos que lidar com tal comportamento.

Nós éramos evitados pela multidão.

Aparentemente, devido a um pequeno rumor (dos amigos da jovem Marigold, que estavam traumatizados o suficiente por Azure, ao buscá-la) todos no centro da cidade tiveram ciência de uma dupla de jogadores que conseguiram causar terror suficiente para três PK’s (Player Killer’s) aposentarem seus serviços e ficarem trancados dentro de um casebre bem distante do centro. Não sei se fico lisonjeado pela fama ou se apenas fico furioso. Graças aos falastrões, nós não só somos evitados pelos jogadores, como também pelo “povo-da-terra”. Aparentemente eles agora podiam “sentir” como todos nós. Para nossa alegria, percebemos que o uso de argumentos de pechincha e similares podiam ser possível. E para nossa revolta nossa moral na cidade está tão macabra que mesmo uma criança, sabendo de nossa história, começa a chorar quando eu me aproximo. Felizmente Azure apenas ganhou a fama de Assassino, enquanto eu carreguei a fama de “esquartejador”. Francamente eu não consigo saber o pior, se são os rumores ou os nomes empregados a nós.

–Com licença. – Tentei dizer a um lojista, que tremeu inteiro ao me ver de perto. A

A minha pessoa, restou apenas suspirar e rezar para que os próximos lojistas na praça da cidade não saíssem correndo ou fechasse as portas na minha cara.

Aparentemente foi esperança demais.

–Que merda! Como vamos conseguir sequer algo forte pra aliviar a tensão? – Comentei estralando o pescoço.

–Tsc tsc tsc. Que pecado padre, já tomado pelo pecado da Soberba pra decidir tudo sozinho? – Comentou Azure com um falso ar de “anjo da guarda”

–Mas vá pro inferno! – Foi então que percebi o cínico sorriso de Azure e apenas suspirei. – Vamos ao hotel então, espertalhão.

Descemos da praça principal, longe daqueles olhares temerosos e xenofóbicos, longe daquela multidão incerta e longe daquele alvoroço causado meramente por nossa presença. Regressamos ao nosso hotel, onde finalmente conseguimos descarregar nossos espólios de caça e pudemos deixar a pose de fortes e imponentes, pelo menos eu, e sucumbimos ao sono.

Mais tarde, quase noite, fiquei ouvindo barulhos de vidro com metal, o que me deixou intrigado, pois Azure, ainda que seja uma pessoa noturna, não costuma ficar fazendo tantos trabalhos. Cocei o olho por um momento, observando o que aquele traste se propôs a fazer.

–Eureka É um milagre de Deus!

–VÁI PRO INFERNO! –Berrei

Azure pulou de susto, mas logo caiu na gargalhada, tentando suprimir o riso para não causar mais barulho que eu causei.

–Ah. Você acordou padre?

–Mas é claro! Como posso dormir com esse projeto de laboratório do Heisenberg aí?

Ele novamente riu.

–Não queria te contar, mas eu troquei mais cedo a minha profissão.

Por um momento, não entendi sequer uma palavra de primeira. Fiquei processando cada palavra com calma. Como assim?

–Como assim? – Não havia entendido como ele fez aquilo. – O sistema de profissões ainda funciona pra troca? Achei que estivesse desligado, junto com o sistema de portais.

–Ora. – Retrucou Azure irônico. – Por um acaso você sequer parou pra checar se tinha como você sair da sua profissão de aprendiz para já entrar em uma profissão em nível máximo?

“Merda” pensei.

–Mesmo assim Azure, o que vai aprontar agora?

Azure apenas deu um largo sorriso, terminando rapidamente de combinar alguns ingredientes extras em seu experimento, enquanto eu continuava com a singela expressão de não entender uma merda sequer daquilo tudo. Me parecia mais um dos delírios dele quando bolava um plano de fabricar itens mágicos. Da ultima vez, em outro jogo, conseguiu explodir uma oficina inteira. Desde então, não olho com agrado um experimento dele sequer.

Finalmente, ele passou um copo de cerâmica pra mim.

–Vamos, preciso que recupere a stamina para me acompanhar no que vou planejar. Beba.

Desconfiado, apenas assenti com a cabeça e peguei o copo que continha a primeira poção que vi ele fabricar como alquimista: uma poção de Stamina. Não confiei muito na veracidade do que ele dizia, mas como lembro que danos causados entre jogadores provoca a vinda dos guardiões, se eu morrer envenenado, ao menos posso arriscar a chance de ver ele ser impalado. Respirei fundo e tomei.

–Mas Cuma? Isso é impossível!

Matei a dita poção em um gole, enquanto já me colocava de pé, do lado de Azure, enquanto tentava entender o que acabou de acontecer. A poção de stamina dele tinha gosto... de cerveja

–Como fez isso?

–Lembra-se do dia do café, Padre? – Respondi com um aceno. – Então, depois daquilo, tentei recriar todas as bebidas da minha lista nessa madrugada

–TODAS? Em uma noite?

–Não me interrompa. – Bufou Azure. – Enfim, depois de tentar e tentar, vi que conseguia fabricar pelo menos a cerveja a moda nacional, do jeito que gostamos de beber. A partir daí, recorri ao sistema de troca de profissões em um dos momentos em que nos separamos. Dali pra frente, mais esta madrugada upando meu nível de alquimista. Aparentemente, já consigo fazer uma poção agregando ingredientes extras para, como posso dizer, agregar mais sabor. – Comentou risonho na ultima parte. – Sabe o que isso significa?

Azure realmente me botou em xeque naquele momento. Era muita coisa pra se absorver. Ele provavelmente não tinha ideia, mas enquanto eu analisava a descoberta, comecei a pensar quais outras profissões podem ser alteradas apenas pelo conhecimento adquirido durante o jogo, ou mesmo com os conhecimentos individuais, como por exemplo, um engenheiro fora do jogo, poderia construir facilmente uma casa com a profissão de marceneiro ou mesmo um escultor de pedras.

Não haveriam limites neste caso.

–Meu deus....

Essa nova expansão do Elder Tale não foi simplesmente feita apenas para prender os jogadores aqui dentro. Ela parece que foi feita para dar total liberdade ao jogadores, como se o jogo imitasse potencial ilimitado da mente humana, assim como é explorada no mundo real. Tal premissa vai quebrar o fino balanço. Se hoje estamos próximos da idade das trevas, com os recursos, a magia e a mente dos jogadores, poderemos chegar a uma nova revolução industrial apenas com o que lembrarmos do mundo exterior.

– Deixe me pensar Azure, calma. – Me sentei na cama novamente.

–O que foi padre? A fumaça te deu dor de cabeça? – Comentou Azure parando o que fazia

–Eu apenas... fiquei alegre com o que podemos fazer aqui. Nem parece que o outro mundo existe. Parece que nascemos aqui... E que o mundo que chamamos de “real” que seria o sonho.

Azure me encarou um momento, antes de gargalhar novamente.

–Para de falar merda Padre. Até parece que vai ver Deus aqui.

–Azure, você não crê no divino.

–A é. – Respondeu mostrando a língua.

Logo depois daquele “café tecnológico” o sistema de contatos dispara no meu menu. Vejo que ele continua o mesmo, parecendo um telefone a medida que eu atendia. Ainda preciso me acostumar a esta engenhoca maldita, que mais parece telepatia.

–Magnus? – Uma voz feminina, e estranhamente familiar. Ao olhar no sistema de link

Estremeci. Fazia mais ou menos um ano que não ouvia diretamente a voz desta pessoa. De todas as eras, de todos os dias, de todos os jogos e de todos os momentos, ela resolveu se instalar neste jogo, assim como eu, na época do update para ser presa aqui como todos os outros. Não tinha palavras naquele momento e, apesar de Azure chamar-me pelo apelido, algumas vezes me chamando pelo nome real uma vez ou outra (coisa que não revelarei a ninguém tão cedo, sorry) eu apenas fiquei focado naquela voz singela e meiga que conheço muito bem, enquanto observo o nickname “HelenaW”, totalmente sem ação

–Ah, está ocupado não é? Então deixe que eu ligo depois

–NÃO! Espere! – Quase perdi a respiração naquele momento.

–Ah, então tudo bem. – Comentou Helena com um fino sorriso. – Como você está, tirando todo este apocalipse, que todos comentam.

Ah, me faltava essa. De todos os hábitos que ela tinha, o de falar uma coisa pra esconder outra era sempre o que me irritava mais. Era óbvio que ela estava nervosa, beirando o desespero.

–Está no Rio de Janeiro, como antes?

–Eto... na verdade, estou mais ao sul. – Comentou Helena sem jeito.

–Ao sul? Mas o que.... – Então outro soco na cara da realidade.

Eu tive uma vez um grupo de três pessoas, contando comigo. Uma party distinta, que consistia de um homem e duas mulheres. Com ambas eu tenho um certo esqueleto no armário, e mesmo assim, independente do que houve no passado, eu sempre tive contato com ambas. Helena em especial, gostava de visitar essa pessoa no reino sul, justamente para visitar sua melhor amiga e ex-rival, Victoria B. Definitivamente eu não sou o sujeito mais sortudo do planeta.

–E você esta bem? – Comentei sério. Naquela hora, Azure já desistira de tentar falar comigo, me mandou me ferrar e voltou a alquimia.

–E-Eu? Estou bem. Estamos bem, na verdade Mag.

Era o meu temor e meu alívio. Meu maior temor fosse que Victória também ficara presa no jogo assim como eu e Helena. O meu alívio foi em saber que ambas estavam bem e juntas, o que me alivia, por hora, a ideia de ir no encalço delas, em outro estado. Na situação em que me encontro, não sobreviveria sequer cruzar o reino onde estou, quanto mais visitar outro reino.

–Mas e você Magnus? Tudo bem desde o reset que você sofreu?

A mesma meiga e astuta Helena.

–Estou bem. Azure está comigo e estamos reupando os níveis que eu perdi desde o ultimo julgamento que eu sofri depois da ultima grande guerra aqui neste reino.

–Ah bom. Fico aliviada. – Agora ela conseguira expressar melhor sua voz. – Bom, você precisa dormir, mocinho, ou lhe darei uma bronca quando nos virmos.

–Esta certo. Nos veremos em breve

Desliguei. Logo depois, olhei Azure terminando mais uma poção alcoólica, enquanto ouvi batidas na porta.

–ATENÇÃO! AJUDEM-NOS AVENTUREIROS! – Era a voz da camareira do outro dia, e parecia a beira do desespero. – HOUVE UMA INVASÃO NA CIDADE!

–Que? – Azure quase derrubou todo o laboratório dele com a surpresa. – Mas como assim? As invasões apareciam somente quando falhavam nas missões mensais!

–Aparentemente, ninguém saiu direito da cidade desde que essa nova versão do jogo apareceu, não é? – Comentei enquanto já me re-equipava.

–Que merda! Pior que é isso mesmo... Ei, espera aí, onde você vai? Os monstros apenas vão pelas ruas

Não respondi, apenas apontei o dedo para fora da janela, onde podia-se ver uma taberna próxima sendo pilhada e devastada na nossa frente. Desde o barman até as belas jovens que poderiam nos servir amanhã um belo drink. Aparentemente, nunca mais teremos aquilo neste jogo.

–Chega de papo furado Azure Death. AS ARMAS!


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Notas finais do capítulo

Azure Death - Bardo 43
Ex-Cervejeiro
Alquimista 15

Magnus - Cavaleiro 42
Aprendiz 90



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