Elder Tale – Bandeirantes do Ipiranga escrita por Daihyou


Capítulo 5
Capítulo 4 – Sujeira no Tapete


Notas iniciais do capítulo

Estou ficando relapso.
Ao menos estou cumprindo minha meta de fazer um capítulo maior que o anterior.



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Realmente não tinha comparação o que eu havia descoberto junto com a Camareira “Povo-da-Terra” junto com Azure. Realmente não saberia calcular essa possibilidade nem em um milhão de anos. Não parei pra pensar, pois todas as manhãs de nossas sessões intensas de jogos, sejam online ou mesmo os RPG’s de mesa eram sempre iniciados com um ritual obrigatório de um bom café para todos acordarem bem, seja pra ficarem mais dispostos, ou pra mim, não ficar de mau humor quando acordo. Logo depois que percebi que eu não estava em um hotel como em uma de minhas viagens antigas pra visitar uma namorada, mas sim ainda dentro do Elder Tale, eu percebi uma coisa.

“Não fiz pelos termos do jogo”

Enquanto Azure servia-se de café, interagindo com quase metade dos empregados do hotel enquanto tomavam a quarta jarra de café que eu fazia (ainda mais me surpreendendo por Azure socializar-se com ALGUEM, seja aventureiro ou do povo-da-terra), eu prosseguia pensando no que poderia ter acontecido com os sistemas do jogo. Não somente o sistema de combate sofrera alterações sutis, mas o sistemas de fabricação e produção também foram. Isso sem contar o comportamento do povo-da-terra, que me deixou mais perplexo. A quem não conhece a muito tempo o jogo e ficou preso nele, confundir-se-ia facilmente, pensando que são pessoas de fato, ao invés de dados do jogo.

–Será um bug? – Pensei alto.

–Ah qual é Padre! – Retrucou Azure. – Não fale blasfêmias!

–Vá pro inferno! Não parou pra pensar no que isso afetaria o sistema de profissões?

Foi nesse impulso que pensei novamente no próximo passo: As profissões. Ainda que existam poucas classes a se jogar no Elder Tale, o sistema de profissões fazem com que as Builds sejam deveras diversificadas, o que torna as coisas tanto originais quanto difíceis. Se parar pra pensar que um cozinheiro pode preparar pratos complicados, assim como um ferreiro pode forjar armas.

O que raios daria pra fazer neste jogo, agora que as limitações de criação ficaram pra mente humana? E o que poderíamos fazer agora que faremos as coisas FORA dos termos do jogo. Foi com esses pensamentos que deixamos a pousada e agradecemos ao pessoal que trabalha lá.

Depois de encarar muitos protestos de Azure que queria ficar tomando café o dia todo, seguimos pela praça central da cidade, agora com outros olhos. Minha cabeça estava a mil, não tinha sequer meios ou vontade de evitar isso. Todos os meus cálculos do jogo que levei anos e esforço pra esboçar, as tabelas e estratégia, praticamente tudo isso tinha sido jogado fora, assim como aquela xícara que caíra de minhas mãos logo de manhã. Começava a elaborar novos pensamentos, novas estratégias, novos meios de obter resultados melhores. Subitamente toda cidade ficou em minha mente. Um novo mapa panorâmico das coisas havia surgindo, e essa nova expansão provavelmente teria novos cenários, missões e monstros. Agregando isso ao novo estilo de “jogabilidade” que estávamos condicionados, nada mais seria o mesmo.

Nem mesmo os PVP’s. Se havia uma coisa que eu saberia logo em breve, seriam os duelos de Player VS Player. Tais confrontos eram inevitáveis. E uma vez que a interação era mais intensa, os combates ficariam mais realistas, mais dinâmicos... e mais cruéis.

Porém meus pensamentos foram rudemente interrompidos por uma trombada forte que eu sofri, me fazendo cair de bunda no chão. Balançando a cabeça rapidamente, sentira um leve desconforto no pescoço. Foi então que minha calma fora abalada fácilmente. Não somente eu fui afrontado por uma PK, como ela acabou de surrupiar meu amuleto.

–Ora. Olha o que eu ganhei de presente? – Comentou uma voz, feminina. – Que gentileza a sua.

Levantei a cabeça, óbviamente falhando em disfarçar meu princípio de acesso de fúria. Logo percebi que ela tinha uma Guilda embaixo do nome. Seu Nick era Black Marigold, uma Swashbuckler de nível 46. Aparentemente, tinha itens que eu reconhecia ser de outras guildas menores que eu mesmo ajudei a fundar. Uma criadora de problemas. Aparentemente eu tenho um talento em atrair mulheres problemáticas. Afastei esse pensamento logo que levantei.

–Boa pedida. Agora vou precisar do meu tesouro devolta. – Comentei tirando a poeira dos meus trajes.

A mesma apenas deu uma bufada em resposta, mantendo o sorriso cínico.

–O que? Isso, seu tesouro?! – Comentou Incrédula. – O que um guarda quer com um colar de mago?

Logo percebi que o alto tom de voz dela começava a atrair atenção desnecessária. Isso não era bom. Eu precisava sair de lá.

–Se não vale nada pra ti, pode devolver. Nem vou pensar que houve algo errado aqui.

Ao invés de se chatear-se com minha postura falsamente “submissa”, ela ficou ainda mais possessa comigo, cerrando o punho onde mantinha o amuleto seguro. Agora eu realmente comecei a me irritar com aquele projeto de jogadora. Ela era mais baixa que eu, aparentando um metro e sessenta, usando roupas de camponesas claras amassadas pela meia-armadura de placas que foram mal colocadas no corpo deixando salvo apenas seus cabelos cor de vinho escuro. Aparentemente ela só usava equipamentos que ela nunca sequer pesquisou ou caçou, pra não saber das propriedades dos itens que empunha. Muito menos os MEUS itens.

–Acha mesmo que vai ter essa merdinha devolta? Pois se quer, venha peg-

Não deixei ela terminar. Logo em seguida, os guardiões da cidade, protetores do PK dentro das cidades estavam com duas alabardas apontadas na minha jugular e nas minhas costas, apontando o coração respectivamente, enquanto eu tinha um punhal espetando o ventre dela. Normalmente áreas sensíveis das pessoas, principalmente mulheres. Porém dada a situação, eu precisava sumir daquele local e principalmente reaver meu amuleto devolta. Eu estava exposto a mais de cinco minutos. As chances de alguém reconhecer alguma de minhas marcas registradas estava ficando muito alta. Não posso arriscar demais. Porém ao mesmo tempo, não quero perder aquele amuleto.

–Bah! Que seja! – Respondeu ela, fingindo não estar intimidada com a afronta, jogando meu amuleto longe e me empurrando pra passar pela rua.

Deixei ela passar, guardando o punhal. Com isso, os guardas voltaram a seus lugares sem problemas, o que deixou quase todos que testemunharam o local aliviados. Ninguém havia morrido até agora na cidade, oficialmente falando, logo poucos saberiam que o sistema de morte/ressurreição ainda funciona neste jogo. Não sei se isso seria algo de dar pena ou de agradecer aos céus. Por enquanto, me contento em reaver meu amuleto, deixando-o vestido no pescoço e guardado por baixo dos trajes, que é seu lugar.Porém minha sorte nunca fora das melhores.

Novamente Azure me trouxera devolta ao planeta com algo gelado em meu braço. Ao me virar, vi uma caneca de cerveja. Fiquei animado por um instante, mas lembrei que como poucos deviam saber do que descobrimos sobre os itens, eu e ele apenas demos um curto sorriso de contentamento, a medida que bebíamos nossa água colorida.

E mais uma vez fomos abordados pela mulher, agora acompanhada. Olhava para ela encarando-me com deboche. Tinha uma expressão de superioridade, o que me fez sentir nada além do que nojo. Entretanto, mantive a expressão de desânimo e tédio dela em resposta.

–Vai fazer algo, garotão? – Indagou a mulher, novamente com meu amuleto em mãos.

Apenas pisquei algumas vezes, guardando o punhal e guardando-o, fazendo os guardiões recuarem e a multidão finalmente respirar aliviada. Logo em seguida arregalo os olhos, aparentemente surpreso por algo que estaria a esquerda dela.

–Por um acaso... – Comecei falando enquanto apontava

No momento em que ela virou o rosto, dei um tapa forte nas costas da mão dela que segurava o amuleto, fazendo ele voar da mão dela. E antes que completasse a reação dela, rapidamente recuperei meu tesouro com a mão livre.

–...Serve fazer isso? – Completei.

A mesma ficou pasma enquanto olhou para a própria mão e depois pra mim. Rapidamente ignorei-a e continuei andando com Azure para as beiradas do centro, em busca de ver de longe o parque para pensarmos no próximo passo, voltando a vestir o amuleto. Porém meu descuido foi naquela hora, quando subitamente fui lançado junto com ela estrada abaixo rumo o parque. Aparentemente ela ficou bastante fula com meu truque rápido e saiu em disparada contra mim, derrubando ambos rua abaixo nos limites da área segura, o centro, seguindo rolando a rua descendente que vinha antes da ponte para o parque. Entretanto lá já não era mais uma área segura.

Ainda em queda, tive pouquíssimo tempo pra pensar antes de parar na base da ponte. Seguia me recompondo da maneira que podia, o mais rápido possível. Infelizmente eu estava sem o mini-mapa devido a saída do centro e mesmo com Azure podendo vir me auxiliar, ainda tinha os dois guarda-costas da Marigold iriam barrar Azure, impedindo-o de chegar até onde estávamos.

Coitados. Devem imaginar que estariam segurando o principal do time enquanto o mero guarda auxiliar iria pagar pela afronta que fiz a chefia deles. Mal sabem eles, que diferente do Kobold-Chefe que eles viram e fugiram (Sim, eu me lembro de alguns rostos!), eu seria algo pior que aquilo.

E foi com esses pensamentos que seguia pensando durante o combate. Ela sacou sua espada longa de aço puro, um item clássico de Swashbucklers médios, devido a seu balanceamento de status. Devido ao novo jeito que são jogados, os jogadores agora optam não apenas por itens de bons status, mas também os que eles conseguirem manejar. E tal espada seria perfeita para duelos de PVP no nível dela. Mas para seu azar, além de eu ter um “presente” comigo, meu conjunto de itens e o tipo do meu personagem não eram pouca coisa.

E essa “pouca coisa” era facilmente retratada, a medida que seguia voando (literalmente) devido aos golpes e combos dela. Infelizmente para ela, entretanto, foi que, ao invés de tirar metade de minha vida, como a maioria dos guardas tomaria depois de um combo enfrentando alguém com mais de vinte níveis de diferença, ela apenas arrancou algo perto de um terço. Além disso, eu começava a regenerar mais rápido que a média, o que fazia os golpes dela, que acabavam por ter intervalos longos devido a falta de vivência dela em manejo real de espada, serem fúteis contra mim.

Era facilmente perceptível a frustração nos olhos dela. Claramente ela ficaria pensando se estou a usar algum Hack que alguns jogadores mal-intencionados usariam. Afinal, não seria a primeira vez que tentariam burlar o sistema, principalmente aqui na região onde moro, ou que eu estava a usar algum buff de jogo que me impedisse de morrer rapidamente. Para a tormenta dela, eu apenas tinha o que tinha, o que era mais que suficiente para ela ficar desesperada, uma vez que poucos sabiam do que eu usava por baixo da armadura, então ela não fazia a menor ideia. Seria engraçado se não fosse tão patético devido ao ato de puxar-me para um x1, me jogando rua abaixo antes. Não resisti.

–O que houve? Tem medo do que não consegue matar? – Indaguei secamente pra ela.

Ela apenas rangia os dentes de raiva, mas sabia que eu não estava errado. O simples fato de que ela teria uma alta difícil luta até me matar, além do longo tempo que isso consumiria, ela já desanimou-se a me atacar, sem contar com os meus contra-golpes que não são nada fracos. Além disso, ela chamar ajuda agora seria inútil, uma vez que Azure estava com eles. Não iriam durar muito, se forem tão burros quando ela.

De tanto andar pra trás, a deixei contra a parede de uma casa que ficava na frente da entrada do parque. Era realmente admirável ela lutar contra o próprio medo, vendo-a se arrepiar e a ficar com os olhos marejados, pasma e sentindo-se uma presa diante de um lobo que a cercou até aquele ponto. Ela não tirava os olhos dos meus, como se tentasse ler meus movimentos enquanto eu, evidentemente, deixava movimentos simples para ela ler e nada mais. Quase chorou por um momento, mas limpou o rosto com uma mão e mais uma vez lançou-se em um ataque de estocada com a espada. Porém eu estava com meu punhal naquela hora. E infelizmente pra ela, os guardiões não estariam lá, pois a arma já perfurou a boca do estômago dela enquanto ela ainda levantava o braço.

–Gah! – Foi o que ouvi dela.

–Mesmo com o sistema de jogo em realidade virtual, onde estamos presos, ficando em um plano onde estávamos o mais próximo da “realidade”, existem supressores de dor e outras sensações desagradáveis. Do contrário, uma luta, contra um goblin sequer, seria um jogo constantemente tenso devido as pessoas evitarem a dor. Mesmo assim, ter um objeto perfurando seu abdômen era algo que alguns até desmaiariam de choque. E enquanto ela tentava sair deslizando pela parede, a segurei pelo ombro, frustrando sua opção desesperada de fuga, torcendo a faca no corpo dela. Ela gritou bem alto.

–Olha, admiro sua tenacidade. Admiro mesmo. – Respondi rouco. Mas isso não compensa pelo que fez.

O medo era evidente em seus olhos. Dava pra sentir a sensação de impotência dela, como disse antes, igual a uma presa, uma lebre, a mercê deste lobo. Os olhos dela fitavam os meus, sentindo-se intimidada pela vontade de extirpá-la que eu deixava claro.

Por sorte, não durou muito..

–Padre! – Veio o grito de Azure, descendo da ponte

De imediato soltava minha cativa, tirando o punhal dela. A mesma notou, assim como eu, que caiu apenas 20% da vida dela com tudo aquilo. Eu sorria enquanto ela apenas ficava com vontade de vomitar, imaginando o que aconteceria se eu seguisse até o fim, quanto tempo levaria. Porém sadismos a parte, segui até Azure, limpando meu punhal e guardando-o na parte de trás da cintura.

–E aí padre, como foi?

Depois que ele perguntou, já um pouco distante de Marigold, apenas virei o rosto e a olhei de soslaio. Percebi a surpresa dela quando eu não olhava mais com ódio no coração, porém com uma certa compreensão e pena. Depois, virei-me pra Azure enquanto respondia.

–Perdi.


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Notas finais do capítulo

Notas finais.
Black Marigold - Swashbuckler 46



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