Elder Tale – Bandeirantes do Ipiranga escrita por Daihyou


Capítulo 11
Capítulo 10 – Lex Talionis.


Notas iniciais do capítulo

Só uma prévia.
Já está mais do que na hora de parar de ser bondoso.



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Pacote arrumado, cantis cheios, armas polidas, corpo reclamando de dores, mente inquieta. Tudo isso foi o que trouxe comigo quando fui à dita Dungeon Apagada. Embora eu sempre soubesse que dentro de alguns dias, mesmo com Lan cuidando de Caroline e da casa e com Azure cuidando das financias, eu teria que encarar surpresas demais pro meu gosto. E com um erro de calculo, achei que iria terminar em uma tarde.

Levei dois longos dias pra vasculhar aquela maldita caverna. Como ela é grande!

Meus céus. Nem me lembro de como é dormir confortavelmente. Mal dormi devido aos constantes alertas. Apaguei três vezes e em duas delas estava sendo arrastado ou fui atacado subitamente. Apenas na última quando peguei uma picareta abandonada e eu mesmo cavei um túnel curvo para eu dormir, consegui algum tempo precioso para deixar a mente tentar descansar. Todos aqueles monstros só iam ficando pior. É desagradável enfrentar monstros humanoides que sejam tão parecidos com pessoas de verdade. Ao menos eu pude treinar algo além de meus status...

Minha mente.

Azure com certeza poderia fazer em um momento de fúria, mas eu pessoalmente me sentia extremamente desconfortável em matar uma pessoa no jogo. Mesmo com a catedral que trazia os jogadores de volta a vida, a ideia de tirar a vida de alguém, parecia ao mesmo tempo assustadora e tentadora.

Mas agora tanto faz. Matei tantos monstros humanoides que podia refazer aquele ato no parque da cidade e torturar a jovem até a morte sem pestanejar. Tratei de subir da caverna com uma corda improvisada que deixei lá. Surpreendentemente, ninguém ou nada a tirou de lá e a mesma parece firme. Subi com o apoio da corda sem problemas.

Ao sair, sentia aquela brisa de ar úmido e frio naturais dos arredores da cidade. Antes eu julgava normal, mas depois de tanto tempo sem sequer uma luz do dia, aparecer no entardecer e sentir aquela brisa parecia trazer-me de volta pra casa. Pra minha cara de verdade.

Foi tão acolhedor que quase desmaiei ao relaxar o corpo. Tropecei um pouco e me recuperei, seguindo com passos bem pesados e constantes até meu sobrado. Depois de muito esforço, consegui finalmente atingir o nível 70, que era necessário ter para seguir na missão da medusa sem problemas. Mesmo que Azure nem deva estar no 60, eu sozinho já tinha plenos poderes e alguns truques extras pra lidar com tudo praticamente sozinho.

Ao me deparar com meu lar improvisado neste jogo, percebo que há luzes ligadas e até algum barulho. Não me lembrava de ter chamado tanta gente assim para vir ao local. Fui com cuidado até a porta, onde bati nela uma vez. Percebi que precisava controlar a força, uma vez que a batida foi forte o suficiente pra vibrar a porta e as janelas do lado. Automaticamente a barulheira cessou e alguém abriu a porta.

Ao entrar no local, percebo que todos estão bailando alegremente, e me deparo com meu estado decrépito. Por um momento, senti vergonha de mim mesmo. Admito isso abertamente.

Todo o segundo que gastei neste mundo eu sempre, sempre pensou no tempo que eu podia aproveitar, apenas para aumentar o status e me fortalecer. Mas observando Azure tocando cello na sala, com a Lan e a Catherine dançando alegremente no local, meu cotovelo coçou. Parei encostado na porta, mesmerizado com a cena. Realmente era algo tão trivial e óbvio, mas ao mesmo tempo tão... Reconfortante.

Era patético. Eu, um dos top jogadores de outras versões e um dos guardas que já comandaram combates, que já até questionou o modo como GMs comandavam o servidor sul-americano, fui derrotado, quase obliterado, com um dos mais cruéis dos fatos.

Jogos são pra se divertir...

Aquela cena era tão brilhante, que me deixava ofuscado. Fez-me sentir uma leve inveja e almejar o que eu vejo. Paro pra pensar no quão patético eu parecia no meio daquela cena, e me recolhi a ficar quase invisível na porta, apenas checando o maravilhoso mundo que reluzia na minha frente. Em algum momento, eu devo ter adormecido, pois a música me deixou totalmente anestesiado. Toda aquela dor e frustração, todos os planos se esvaíram de mim como água, e apenas ouvi um ruído metálico, que seria meu corpo indo de encontro ao chão. Não tenho total certeza se algum deles chegou a me notar antes, mas creio que logo vão notar o ausente e rígido líder deles estirado no chão pela segunda vez. Realmente patético.

Logo depois, no que parecia ser alguns minutos depois, ouvi múrmuros e vozes na minha mente. Ao que parece, parece que eu estava com exaustão ou algo assim. Sentia minha armadura pesada, logo tentei tirá-la. Mas como minha força fazia falta, enquanto movia o corpo para fazer o comando de “desequipar”, senti uma mão suave e fina me conduzindo, até que o peso da armadura não me causasse incômodo, depois de apagar novamente.

Finalmente, no que parecia ser o dia seguinte, acordei na minha cama principal, na suíte, eu percebia que eu estava meio grogue pela falta e alimentação, sentindo o estômago roncar sonoramente. Naquele instante também eu senti o cheiro de café fresco do meu lado, em um dos criados mudos. Suspirei, tomando o café que ainda estava quente. Foi minha sorte que eu acordei em boa hora

–Ah Padre, finalmente. – Comentou Azure sentado do lado da cama. – Você ta ficando mole. Uma caverna já te mata?

Ajustei-me na cama, com uma leve dor nas costas. Eu devo ter caído com força no chão ou eu dormi demais.

–Quanto tempo... se passou? – Perguntei

–Dois dias, Senhor. – Respondeu Lan chegando ao quarto.

Ajustava-me na cama, me vestindo com o equipamento básico. Pressenti que Fan Chau Lan iria me impedir, mas Azure a segurou no meio do caminho.

–Vejo que você conseguiu finalmente me passar, Padre.

Estranhei a pergunta de Azure. Mas quando ele no nível 63 e Lan no nível 49, apenas suspirei.

–Vejo que não ficaram quietos. Foram na floresta?

–Não só lá. Ao menos a Lan aprende rápido – Comentou Azure, fazendo a pequena corar.

–E como vão os ganhos? Soube de algo da cidade?

–Como eu suspeitei, o Raika vai vir ao anoitecer.

–E qual o Nick dele no jogo mesmo?

–Sentury Venganza

Dali pra frente eu apenas consultei o menu, revendo os itens que peguei. De lá, olhei para Lan, deixando uma espada acinzentada na cama.

–Quando pegar o nível 50 use essa espada Lan. Mas não a use demais.

A mesma olhou a espada. Era cinza, com detalhes mais claros, que lembravam nuvens. Mas o desenho era mais disforme.

–Por que senhor?

–É uma arma de propriedade fantasma. – Respondeu Azure, adiantado. – E ainda por cima um item único. Conseguiu tirar a sorte grande Padre. De certo modo.

–Como assim de certo modo? – Indagou Lan ainda não entendendo.

–Este item. – Comecei. – Nas edições anteriores, causava efeitos fantasmagóricos ao ser usado e quando matava os inimigos. Claro que era apenas enfeite, pois na tela do computador, era apenas uma boa animação, quase um “Mini-CG”. Mas não sei dizer como vai ser a reação do uso dessa arma. Então tome cuidado.

Lan engoliu em seco. Pelo que percebi, ela não era muito fã de fantasmas. Ela acenou positivamente e levou a espada consigo, ainda com certo receio. Apenas suspirei.

–Preciso voltar à cidade. Peça a Lan para fazer a guarda da jovem Caroline. Você virá comigo Azure

Vi os olhos de Azure ficarem brilhosos, como a de um gato liberado pra sair.

–Xá comigo!

Logo depois nós saímos do sobrado, indo em direção ao centro da cidade. Precisava ver o quanto de lucro eu tive pelo curto tempo que estava. A invasão secundária viria em pouco tempo, logo eu precisava estar preparado. Azure apenas esticava o corpo igual ao gato que ele tinha na casa dele. Às vezes me pergunto se ele de fato é uma pessoa ou não.

Chegando à cidade, tudo parecia vir de um filme de terror. Esqueço-me que o mês em que estamos é outubro, logo viria o Halloween. E tal época era tenebrosa, principalmente por nos lembrarmos da quest que tínhamos em mãos.

–Lembre-se Azure. Creio que por termos abrigado-a, a responsabilidade de lidar com a cidade caiu em nossos ombros.

Azure apenas dava de ombros, não ligando. Caminhamos até o banco, enquanto eu ficava intrigado de como estavam as pessoas. O povo-da-terra já começava a desconfiar dos aventureiros pelo sumiço de Caroline, já presumindo que eles desconfiavam que alguém a escondeu ao invés dela ter fugido. Algo me incomodou um momento, mas deixei pra lá quando fui checar no banco.

–Ai meu... Pelos céus...

Eu sabia que a movimentação de itens era intensa, mas eu calculei muito longe da realidade. Ao mostrar o resultado dos lucros, Azure começou a rir freneticamente.

–É uma benção, Padre. Aceite.

–Vá pro inferno!

Normalmente, em uma semana pós-evento, mesmo em intervalos de evento como este, o mercado costuma ficar caótico. Ou os itens somem ou ficam presos no estoque, com ninguém pra comprá-los. Eu julgava que só poderia suprir o aluguel deles com o resto de minhas economias do banco e parte dos lucros no próximo mês. Entretanto, eu esqueci que, além de estarmos presos em um jogo, às pessoas não são exatamente tão confiantes em enfrentar monstros como seria na tela de um computador. Elas sentem medo, e medo causa um efeito surpreendente. Mesmo com o preço do mercado alto por eu ter elevado o preço dos aluguéis das lojas, todo o estoque delas, mesmo o reserva, tinha sido esvaziado. Além disso, o banco já havia descontado o pagamento do mês, que é o que o povo-da-terra fazia, quando o lucro já batia o preço daquele mês, além de eu ter pedido isso mesmo. Porém, toda a fortuna que eu tinha antes disso, todo o dinheiro de quase uma década jogando Elder Tale... Havia triplicado.

Não sabia se eu estava feito naquele jogo ou ferrado. De todo o modo, agradeci ao banqueiro e saquei uma gorda quantidade. Depois repassei tudo pra Azure.

–Lembra-se da lista de coisas que queríamos fazer no passado pra transformar a minha casa em mini base militar? Pode pegar tudo e mandar lá.

–Beleza. E o troco?

Eu apenas dei um sorriso. O mesmo começou a rir novamente.

–Beleza. Valeu pela comissão, Padre. Que sejas abençoado.

–Vai se ferrar.

Logo depois de me despedir de Azure, segui por um dos corredores onde eu tinha as lojas. Estranhamente, as pessoas do povo-da-terra e até alguns aventureiros que viviam naquelas lojas, apesar de minhas taxas pesadas, muitos deles me cumprimentavam com alegria. Mesmo assim, senti um clima de hostilidade vindo de muitas pessoas que passavam pelo corredor. Porém finalmente eu havia entendido no momento em que cheguei perto do portão. Eu vi o mesmo sujeito que foi apedrejar Caroline sussurrando no pé do ouvido de um guarda, apontando pra mim.

“Merda”

Sabia que eu devia ter finalizado o cretino quando tive a chance. O mesmo percebeu que eu vi os movimentos dele e saiu correndo. Mesmo assim, o estrago já estava feito. Pressenti muitos da cidade me olhando torto. Não levaria muito tempo até eles se perguntarem onde eu vivo. Rapidamente eu me coloquei em uma esquina e chamei no chat pela Lan.

“Lan atende essa chamada logo”

No momento em que ela atendida, apenas ouvia arfadas e ruído de espadas se cruzando. Depois, um grito e a chamada se encerrou. Percebi que a localização dela havia mudado.

Da casa foi direto para o tempo onde os aventureiros voltavam depois de morrer. Senti que eu ia ficando sem chão. Parei e fui ajustando o fôlego. Porém quanto mais eu tentava, pior ficava. Com as mãos trêmulas, eu chamei Azure.

–[Que foi padre? Acabei de finalizar o pedido pra levarem as compras pra nossa casa. Vão levar amanhã.].

–[Azure... portão. Por favor.].

Azure terminou a chamada. Não sei se ele foi rápido ou se o tempo ficou disforme pra mim e eu andei muito lento. Porém no momento em que eu senti a sombra do portão, Azure me segurou no ombro e me chacoalhou um pouco.

–Força Magnus. Que houve homem?

–A casa foi atacada. Mataram a Lan.

Naquela hora, senti a mão de Azure apertar com força o meu ombro.

–E a loira?

–Não sei. Traga-me um cavalo e depois vá ver a Lan, por favor. – Dizia em um suplício.

Sem força para andar direito com o choque, peguei o cavalo que Azure já trouxe pra mim em um sussurro, e comecei a galopar com a força que tinha nas mãos. O cavalo parecia sentir minha tensão, e acelerava mais do que eu pedia, me fazendo chegar até ao sobrado sem muito esforço. Desci caindo do cavalo, cambaleante até chegar à porta, onde eu via a sala semi-destruída e com nada restando apenas um pedaço da roupa que dei a Caroline, junto com um pedaço do cabelo dela. Respirei fundo, caindo de joelhos.

Novamente perdi a noção do tempo em que fiquei lá, pois logo Azure, não tinha uma feição de poucos e Fan Chau Lan, que estava aos prantos, chegaram.

–Me perdoe Senhor. Não pude segurá-los. Eram muitos.

Azure apenas a acalmou, enquanto eu ficava imóvel, sentindo o cheiro do cabelo de Caroline. Lembranças amargas me vieram à mente.

–Quem? – Foi o que perguntei, em um tom de voz que não lembrava que tinha.

–N-não sei exatamente. – Disse Lan incerta, com medo aparente na voz.

Azure a acudiu, deixando-a chorar no ombro dele.

–Lan me disse no tempo, antes de cair à ficha, que foi um grupo de pessoas do povo-da-terra, acompanhados de uma guilda. Parece que eles querem fazer a missão assim como nós, porém não na escolha que era feita.

Levantei-me aos poucos, caminhando até ambos, com fôlego pesado.

–O que ouviu, antes de cair?

Lan parecia pular novamente com meu tom de voz. Ela olhou incerta nos meus olhos e depois respondeu.

–E-eu. Eu vi o brasão da Guilda, e depois ouvi sobre fogo, antes de sentir uma agulhada no pescoço. Perdoe-me, por favor.

Apenas respirei fundo, levantando uma das mãos. Ambos ficaram defensivos, mas Azure apenas observou Fan Chau Lan respirar aliviada quando fiz um afago na cabeça dela.

–Quando o Torian chega? – Sussurrei.

–Ele chega um pouco antes do anoitecer.

–Ah sim. Então temos tempo. – Eu dizia pegando uma poção vermelha do inventário. Azure automaticamente arregalou os olhos ao ver tal poção. – Se falaram fogo, creio que irão queimá-la na fogueira no ápice da noite.

–E o que faremos Senhor? – Dizia Lan secando as lágrimas no casaco de Azure.

Apenas tomei aquela poção, A Poção de Cólera. Senti meu sangue ferver, e o status de “Beserk-Mode” ligado por um dia ficando aceso no meu menu. Depois disso, apenas enxergava as coisas com menos cor, pulsantes.

–CAÇAR!


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Notas finais do capítulo

Dados do personagem da fic

Nome: Jace Torian (Apelidado Raika em off)
Nome do Char: Sentury Venganza
Classe: Pirata (Build de Samurai)
Nível e Status: Desconhecido.



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