Utopia escrita por Renata Salles


Capítulo 9
Negligências


Notas iniciais do capítulo

Hey pessoas! Tudo bem?

O que eu posso dizer sobre esse capítulo? Er... Respira e vai?! Já aviso que é denso e difícil, os próximos capítulos serão assim, para falar a verdade. Apenas... sinta, ok?



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O silêncio seguia intocado, ninguém ousava reagir.

Estava tarde e Edward ainda não dera notícias, desaparecera no momento em que sua família mais precisava dele. Sobrecarregado com a descarga de emoções, Jasper se ofereceu para ir procura-lo, sendo acompanhado por Emmett.

Os outros seguiram esperando ter alguma ideia de como prosseguir. Era difícil acreditar que estava aquilo mesmo acontecendo, todos haviam enterrado o passado, dando-o por encerrado uma vez que esclarecido. Ninguém jamais pensou que Renesmee pudesse se importar.

Jacob balançava o pé descontroladamente: sabia que tinha que deixar Nessie absorver os acontecimentos, tinha que dar espaço a ela, mas uma grande agonia lhe tomava o peito, um frio na boca do estômago... Bella, por sua vez, caminhava lentamente de um lado para o outro, perdida em pensamentos e lembranças. Estátuas vivas estavam espalhadas pela sala.

— Eu só queria saber como ela encontrou esse diário... Desde quando você tem um diário, Bella? Como pôde deixa-lo em um lugar que ela pudesse encontrar? — Jacob irrompeu o silêncio.

Ela parou, encarando-o.

— Procurar alguém para culpar não nos levará a lugar algum, Jacob — respondeu Carlisle sentado no sofá.

Silêncio.



Edward passou o dia desmatando o redor de uma clareira. Sabia que aquilo era inútil, pois teria de replantar todas as árvores e flores que arrancara, mas precisava liberar sua raiva. Sua filha, sua princesinha iria se casar.

Tudo havia acontecido tão rápido!

Renesmee nascera em meio a uma confusão imensa, confusão que trouxera consigo, onde a prioridade era salvar a vida de Bella — e tudo que aconteceu, tudo que haviam enfrentado antes da gravidez de repente pareciam histórias de ninar. Mas então Bella estava salva, e nada mais importava. A criança era maravilhosa...

A segunda grande tormenta passara com a mesma rapidez com que chegara, ainda que os Cullen soubessem que os Volturi não permaneceriam “passivos e amigáveis” por muito tempo, o que restava era viver.

Bella era uma vampira recém-criada e ela e Edward estavam recém-casados, era natural que o vampiro quisesse sempre estar em companhia da esposa. Mas o tempo... era tão difícil dividi-lo! Quando ele percebia a criança já estava dormindo. De qualquer forma, não havia com o que se preocupar: a família estava cuidando de Nessie e Jacob jamais permitiria que algo acontecesse a ela, eles a ocupavam o dia inteiro... Edward compensaria sua ausência no dia seguinte.

No entanto, ela crescia alucinadamente rápido e sempre havia outras coisas a fazer. Ele nunca compensava.

Não era justo!

Edward não podia aceitar que acontecesse tão cedo! Não estava pronto para se mudar com o restante da família e deixa-la para trás, deixar que Renesmee cuidasse de si mesma e de sua própria vida sozinha.

Ele olhou para o céu e só então notou que já estava escurecendo. Estava ali há muito tempo, Bella poderia estar preocupada.

Enfim decidiu agir: iria para casa e diria o que sente. Renesmee havia errado em muitas coisas, mas ele também deveria lhe pedir perdão.

Edward arrumou um pouco a bagunça na clareira, mais tarde retornaria para terminar. Estava se preparando para partir quando pensamentos alarmados invadiram sua mente.



De repente a porta se abriu ruidosamente.

Edward subiu as escadas como um foguete em direção a seu antigo quarto para constatar o inevitável: estava vazio.

Rapidamente, tentando não entrar em pânico, Jacob chamou a alcateia que, assim como os Cullen, se dividiu em grupos de busca. Renesmee não poderia ter ido muito longe.

Em geral esses grupos eram formados por três lobos e um vampiro, entretanto, Edward e Alice fizeram questão de ir juntos, talvez com seus poderes unidos pudessem encontrá-la mais rapidamente. Bella e Jacob se uniram em um grupo, apesar de estarem aparentemente brigados — ela havia se ofendido com sua acusação, jamais permitiria que sua filha se aproximasse daquele diário, não imaginava que ela pudesse mexer em suas coisas sem sua permissão por qualquer motivo.

Os grupos se dividiram para todos os lados.

O rastro estava muito difícil de ser seguido. O problema de carros é que eles restringem o cheiro a um lugar fechado, e a chuva forte apenas o fazia se dissipar mais rapidamente.

Eles procuraram como loucos por todos os lados durante toda a noite, mas não havia sinal de para onde ela poderia ter ido. Suposições não faltavam: talvez tivesse ido para a casa de Sophia, ou de Charlie, mas não fazia sentido ela ter voltado a La Push. Talvez Sophi tivesse ido encontra-la em algum lugar, talvez soubesse de algo, ou mesmo pudesse dar um palpite, uma vez que elas eram tão próximas.

Esme ligou para a filha-postiça, mas ela não atendia nenhum dos telefones e ninguém em seu escritório sabia sobre seu paradeiro, de modo que Seth foi enviado de volta para casa.

Carlisle e a esposa retornam a Hoquiam. A jovem apenas estava com raiva, precisava pensar, mas logo retornaria. Renesmee estava sozinha, sem mudas de roupa e com pouco dinheiro, não poderia ir muito longe de qualquer maneira.

A notícia logo se espalhou e todos estavam em alerta.

Charlie, que fora à casa dos Cullen para se desculpar com a neta, preparava um esquema de busca policial e seus antigos colegas alertavam às delegacias de toda a província: um aparecimento em público e ela seria localizada. Quileutes vasculhavam a reserva.

Renesmee era inteligente, sagaz, mas impulsiva e muito ingênua, nunca conviveu com humanos, não os conhecia em sua malícia e maldade, nunca havia estado longe da proteção de parentes e amigos. Não estava preparada para estar sozinha, para enfrentar o desconhecido, não estava pronta para descobrir como a vida realmente é. Ela precisava ser encontrada.

O amanhecer se aproximava e Seth ainda não havia retornado ou dado notícias. Jacob ordenou que Cartter fosse procura-lo, e pouco mais de duas horas depois o jovem voltou à forma de lobo:

Acho que vou precisar de reforços aqui, Jake.

O que houve? Onde está Seth?

É Sophia... Ela o deixou.

O que?, vários lobos pensaram ao mesmo tempo.

Cartter fez um breve, mas detalhado resumo de todos os acontecimentos que presenciara desde que chegou a casa de Seth, relatando inclusive a carta que ela deixou.

Oh cara, lamentou Jhon. Não acredito que ela fez isso!

Estranho... Não faz o tipo dela fugir assim, sem motivo nenhum e sem aviso, argumentou Tarcisio para si mesmo, tentando usar a razão ao invés da emoção. Pior que vê-la feliz com Seth era não poder mais vê-la.

Sem motivo?, começou Embry. Você prestou atenção no que ela disse na droga da carta?

Vai defender ela ainda, mano? Olha o que ela fez com nosso irmão!, acusou Paul.

Jared bufou. Todos sabiam que ela não era confiável!

Ei, deixem ele falar!, defendeu Quil.

Valeu cara!

De nada.

Só acho estranho que ela tenha ido embora de repente. Se estava preparando a partida há tanto tempo, então por que agia como se nada estivesse acontecendo?, Tarcisio fez uma pausa. Eles pareciam felizes na fogueira..., concluiu ciumento.

Porque ela é uma..., começou Jared.

Tarcisio rosnou, interrompendo-o.

Parem com isso!, ordenou o Alfa.

Primeiro Nessie e agora Sophia... vocês não acham isso estranho?, pensou Brady.

Oh, gênio. Você chegou a essa conclusão sozinho ou pediu ajuda pra alguém?, ironizou Paul.

Não me enche, sem-cérebro!

Esperem... até que faz sentido, defendeu Collin.

É bom saber que alguém escuta o que eu falo!, dramatizou Brady.

Está querendo dizer que elas estão juntas?, indagou Jacob.

Quem sabe?

Não sei... Nessie até tinha motivos para fugir, mas Sophia?, discordou Tarcisio. Desculpe Jake.

Tudo bem, lamentou o Alfa, o jovem estava certo.

Também acho que não, começou Jhon, eu e Emmett seguimos um rastro de Sophia até o aeroporto de Port Angeles, e não havia nenhum sinal da Nessie.

E por que você não comentou nada, mané!, acusou Collin.

A matriz da empresa dela é lá perto e ela está sempre viajando... ah, sei lá o que eu pensei!

Mas você é um pamonha mesmo!, disse Embry.

Olha quem fala!

Deus, eu vou sentir falta da Leah! Só ela conseguia fazer vocês andarem na linha e calarem a boca!, lamentou Paul. Er... Não que você não consiga cunhadinho... Argh, você entendeu o que eu quis dizer!

Entendi. E já disse para não me chamar assim.

Não se zangue cunh... chefe.

Jacob revirou os olhos, concentrando-se. Da próxima vez que algo assim acontecer nos avise Jhon.

Sim senhor.

Como Seth está, Cartter?, Quil quis saber.

Muito mal, mano! Quebrou o quarto todo e então desabou, não para de chorar! Liguei para Sue, ela está vindo pra cá.

Fez bem, cara, apoiou Quil.

Quil e Embry se ofereceram para ir ajudar Seth, e o Alfa solicitou que o mantivessem informado. Estava muito preocupado com o amigo, o irmão, mas não poderia deixar de procurar Nessie.

O que mais poderia dar errado? As coisas ainda podiam piorar?



Alice parou de repente, seus olhos perderam o foco.

Na visão, diversos policiais e membros do corpo de bombeiros se movimentavam na base de uma montanha, era possível ouvir barulhos de uma estrada que devia estar próxima. O céu estava claro, devia ser seis ou sete horas da manhã. Charlie estava pálido encarando um ponto fixo.

Um policial se aproximou:

— Charlie, você está bem?

Charlie não se moveu.

— Aquele é o carro do meu genro.

Os olhos do policial se arregalaram em espanto.

— O senhor tem certeza?

— Tenho — Charlie respondeu com um fio de voz.

Os olhos de Alice retomaram o foco e fitaram assustados ao irmão que parecia estar entrando em pânico. Nenhuma pista poderia ser ignorada; eles conheciam aquele lugar.

Há alguns dias Alice havia tido uma visão em que membros da guarda Volturi eram mandados em uma missão ao Canadá, e de lá seguiriam para Forks, pois Aro queria que os Cullen lhe fizessem uma “visita de cortesia”, para que ele pudesse ver Renesmee. Entretanto, no dia anterior a fuga da jovem a vampira havia tido outra visão, onde os guardas decidiam retornar a Volterra após a missão canadense. Esta decisão repentina havia surpreendido a todos, pois não era usual que os guardas não concluíssem suas missões. Em todo caso, os Cullen mantiveram-se em alerta.

Esta visão de Charlie parecia ser exatamente no mesmo lugar...

Brady perguntou mentalmente a Edward o que Alice havia visto, mas ele o ignorou:

— Diga aos outros que nos encontrem na rodovia cinco, Norte, sentido Bellingham, subindo para o Canadá — respondeu apressadamente antes de disparar nessa direção, sua voz falhava de nervoso. O vampiro não sabia exatamente o que estava fazendo, mal sabia o que estava pensando... apenas seguia seus instintos.

Brady deu o recado e agora os lobos guiavam os Cullen para a direção certa.

Jacob gritava enlouquecidamente, exigindo mentalmente que Brady fizesse com que Edward contasse a visão de Alice, mas ele mal conseguia alcança-lo: o vampiro corria obstinado em uma velocidade alucinante, como se lutasse contra os segundos. Aquilo não parecia ser um bom sinal.

Uma densa fumaça negra escalava a montanha para juntar-se às nuvens, à frente Edward saiu da estrada, voando colina abaixo.

— Diga para esperarem aqui. — Alertou Alice antes de segui-lo.

Quase simultaneamente os outros começaram a chegar, e logo todos estavam lá, sem entender nada.

— O que está acontecendo? O que estamos espe... — começou Emmett impaciente. Um grito irrompeu da base da montanha, interrompendo-o.

— Edward! — soltou Bella precipitando-se, descendo a montanha.

Estrelas brilhantes testemunhavam a chuva cair como lágrimas, e o céu noturno rugir anunciando o erro.

Sinais de um grave acidente podiam ser facilmente identificados: das marcas de pneus na estrada, da grama amassada e arrancada às peças de carro espalhadas pela colina. A imagem era muito assustadora, mas algo ainda pior estava por vir: Edward gritava enlouquecidamente, ajoelhado em frente a um carro em chamas virado de cabeça para baixo, enquanto Alice soluçava e lutava para segurá-lo.

Era forte o cheiro de Renesmee naquela parte da montanha, e principalmente em meio às chamas. Ela havia se abandonado, perdido a si mesma enquanto tentava se encontrar.

Não estava certo, mas não havia como negar o que estavam vendo.

Jacob uivou como nunca antes havia feito, gritou de agonia sentindo uma dor insuportável, não conseguia se mover ou respirar. Ela tinha que ter conseguido sair daquele carro a tempo, ela tinha saído! Aquilo não poderia estar acontecendo...

Emmett buscava uma forma de apagar o fogo enquanto Jasper ajudava a esposa a conter Edward. Há alguns metros Rosalie parou ao lado de Bella e segurou sua mão, elas estavam petrificadas, entorpecidas, em órbita.

O restante dos lobos se juntou a Jacob e uma sinfonia de uivos começou. Eles sabiam o que o líder estava sentindo, e nada poderia ser pior que aquilo.

No automóvel as chamas haviam consumido tudo. Junto aos destroços estava um medalhão de ouro que Bella dera a filha em seu primeiro natal, e que ela nunca se separava. Bella o segurou como se sua vida dependesse disso, abraçando Rosalie.

Ainda foram encontradas as alianças que Jacob dera à mestiça. Ele se transformou e as pegou, não conseguindo conter as lágrimas e os gritos.

Não havia espaço para ilusões: o carro havia descido toda a colina capotando, e na melhor das hipóteses era impossível que Nessie tivesse conseguido sair do automóvel sozinha; não havia sinal algum de que mais alguém tivesse estado ali.

As joias encontradas era tudo que restara dela. Estava acabado. Renesmee encontrou um lugar melhor para descansar.

É necessário silêncio para respirar, a pior parte depois do fim é ter que sobreviver.


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Notas finais do capítulo

Antes de querer me matar, respire. Continue respirando...

Continua...



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