Utopia escrita por Renata Salles


Capítulo 8
Espectro


Notas iniciais do capítulo

Oii pessoas! Tudo bem?

Tem uma coisa que sempre penso... Eu nunca consigo saber quando segurar firme e quando largar. Falar de cabeça quente todos sabemos que não dá muito certo, a gente sempre acaba falando besteira e se arrependendo depois. Mas tem essa coisa sobre guardar... você nunca sabe se um grão de areia pode se transformar em uma bomba.

Boa leitura!



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Peguei algumas caixas na lavanderia e subi ao quarto de Edward, onde meus pertences permaneciam misturados aos dele.

Sentia-me entorpecida, confusa, com pensamentos desconexos. Tranquei a porta e comecei a empacotar minhas coisas; era hora de dar adeus a Hoquiam, adeus a minha vida. Não sei exatamente quanto tempo se passou, mas eu havia empacotado todos os pertences que levaríamos, separando os meus dos de Edward com nossos nomes nas caixas.

Não tinha mais nada para fazer ali. Olhei ao redor. O que ainda estou fazendo aqui?

Peguei em minha bolsa o diário de minha mãe, fitando a capa por alguns minutos. Novamente senti estar levitando por dentro, meu estômago estava pesado e contraído, como se a qualquer momento eu fosse vomitar algo ácido. Abracei o diário. As palavras ali escritas não me deixavam, eram esfregadas em minha cara vez após outra ao mesmo tempo em que me lembrava de todas as promessas, todas as mentiras. Lágrimas irromperam de meus olhos, eu estava tremula.

Eles deviam estar voltando. Meu celular começou a tocar.

Até que ponto se pode manter uma mentira?

Meu peito estava apertado, podia sentir a raiva em mim, mas tinha que seguir fingindo que nada aconteceu. Estava tudo bem, tudo bem.

Eles deviam estar por perto.

Eu estava pulsando. Odiava aquele diário, aquele lugar; aquela gente. Mas o que eu esperava? Eu era uma coisa, um monstro que suga a vida das pessoas. O que acontece com os monstros das histórias?

Uma chuva de papéis: eu havia rasgado o diário em um milhão de pedaços. Ele nunca mais iria me machucar, nunca mais. Nada mais iria me machucar. Nada. Nunca!

Ódio.

Barulhos me rodeavam, vozes falavam ao mesmo tempo, um chamado irritante. Do celular seguia um som estridente.

Eu nunca havia ferido alguém intencionalmente, nunca havia desrespeitado alguém, matado alguém. Mais do que isso, sempre fiz o que me pediam: fui a boneca de minha mãe, Rosalie e Alice, a criança substituta de Esme, a princesa indefesa de Jacob, o animal de estimação de Edward, a cobaia de Carlisle e Jasper... E o que ganhei? Quem eu fui? O que eu sou?

A porta foi facilmente derrubada e atirei nessa direção o que estava em minha mão. Meus joelhos cederam. Todos, com exceção de Edward, entram de uma só vez olhando abismados. Eu havia quebrado tudo o que havia no quarto.

— Filha, o que houve? — minha mãe veio em minha direção.

Esquivei-me.

— Não me toque!

Me desviei de sua expressão horrorizada.

O celular seguia tocando, o barulho estava me enlouquecendo. Pus-me em pé passando por Bella e vasculhei minha bolsa, pegando a droga do aparelho. Mal pressionei a tela em atender e ele já estava falando.

— Amor! — suspirou aliviado. — Por que demorou tanto para atender? Estou te ligando a tarde toda! — parou de falar por um segundo. — Nessie, você está aí? O que houve?

— Pergunte a sua Bella. — Joguei o celular em direção a vampira petrificada, que me encarava com uma expressão pasma. Ela deixou que o aparelho a acertasse no peito e caísse no chão aos pedaços.

— O que você disse? — perguntou com a voz instável.

— O que você ouviu!

Ela hesitou, abrindo e fechando a boca várias vezes.

— Filha, não é o que você está pensando... — disse se aproximando.

— O que estou pensando? — Ri de nervoso, olhando fixamente nos olhos dela. — Por que você não vai lá ter lobinhos com Jacob? Ah, é, você morreu!

Com a rapidez de um flash de luz sua mão atingiu meu rosto.



Emmett literalmente me arrastou até a sala, e os Cullen me obrigaram a ouvir sua versão da história. Edward não estava presente, aparentemente, ninguém o havia visto o dia inteiro.

Jacob chegou na parte em que Bella se refugiava de uma vampira descontrolada em uma barraca, podendo posteriormente se explicar.

Permaneci o tempo todo em silêncio, ouvindo atentamente.

Ao final da linda história de amor todos se viraram para mim, aparentemente esperando que eu dissesse que estava tudo bem, que poderíamos lidar com aquilo como uma unida família feliz.

Fui até a estante à frente, ficando de costas para todos.

— O que vocês querem de mim? Que eu esqueça?

Bella soluçou, sua expressão era de pura culpa, misturada a uma dor incompreensível.

Jacob ergueu a cabeça lentamente para me encarar, e uma cascata de grossas lágrimas começou a escorrer por seu rosto. Senti uma intensa vontade de abraçá-lo, de chorar com ele, de dizer-lhe que está tudo bem...

Mas não está tudo bem. Por mais que o ame, que ame a minha família, nada está e nem ficará bem, nunca, pois eu até poderia perdoá-los eventualmente, mas jamais esqueceria.

— Eu amo vocês — senti meu coração ser esmagado —, mas isso não muda nada.

Caminhei em direção as escadas, hesitando no primeiro degrau.

— Sabe Bella, você tem razão. Jacob é realmente o sol... — Meu olhar encontrou o dele. — O sol queima.

Subi as escadas e fechei-me no quarto de Edward, colocando a porta no lugar.

— Por favor, me deixem sozinha. Não quero vê-los, não quero ver ninguém! — anunciei.

Eu estava novamente tremula. Queria chorar, mas não havia lágrima alguma vindo, apenas um bolo obstruindo minha garganta. Abracei os joelhos.

Tudo estava muito silencioso, da sala nada se ouvia.

De repente despertei. O que ainda estava fazendo ali? Eu jamais os perdoaria, e de qualquer forma, naquela casa não havia espaço para mim, nunca houve.

Rapidamente, antes que Jasper ou qualquer outra pessoa pudesse sentir algum sinal, vasculhei os destroços, procurando a chave — a minha estava no chalé, mas Edward tinha uma cópia da dele em algum lugar... —, peguei um pouco do dinheiro que estava espalhado pelo chão, colocando nos bolsos da calça e saltei por onde antes havia uma parede de vidro. A queda me machucou, mas não me importei, não parei, não tinha tempo.

Corri para a garagem e saí silenciosamente, disparando ao chegar à estrada, fugindo.

Estava indo a toda velocidade para longe de Hoquiam, não olhava para as placas de modo que não sabia para onde ia, estava apenas subindo a montanha na estrada de pista única. Não havia em quem confiar, ajuda a pedir, eu era apenas uma peça descartável.

O céu laranja pelo pôr do sol ficava negro, e uma fina garoa anunciava uma tempestade.

Não se pode esquecer o passado. Por mais que se finja que nada aconteceu não é possível fugir dele para sempre. A vida não é um conto de fadas com príncipes encantados em um cavalo branco, e acreditar nisso é um terrível engano. Eu deveria saber, pois então veria o espectro se aproximar... veria que meu castelo era de vidro.

Tirei as alianças de namoro e noivado, não teria mais porque usá-las.

Poderia conseguir documentos falsos e viver em um lugar distante, seguir com a vida que quisesse ter; poderia fingir ser humana... Mas para quê?

Eu não tinha família, não tinha uma casa a que retornar, eu não tinha nada. Eu não era nada.

Uma árvore imensa surgiu a minha frente.

Eu não tive tempo para perceber que a imagem era viva, mas transparente. Sem pensar, virei todo o volante para a esquerda, saindo da estrada.

Então tudo começou a girar.


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Notas finais do capítulo

"Estou tentando aprender e morrendo de vontade de saber quando seguir em frente e quando deixar para traz. A sensação curiosa ninguém consegue explicar. Eu só não sei se vou arriscar novamente quando o futuro é tão incerto." - Kodaline, Unclear.

Continua...



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