Utopia escrita por Renata Salles


Capítulo 10
Ruído


Notas iniciais do capítulo

Hey pessoas! Tudo bem?

O que fazer quando a lógica contraria seus sentidos? O que você faria?



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Jacob abriu a porta e jogou a chave sobre a mesa de centro como havia feito milhares de vezes antes, mas agora era diferente.

Estar em casa era estranho, desconexo; estava tão vazia... A última vez que ali estivera desfrutava da companhia de sua amada, e um havia se entregado ao outro.

Lágrimas se acumulavam em seus olhos pela lembrança quando um tremor chacoalhou seu corpo: alguém havia estado ali.

Seu primeiro impulso natural seria se transformar em lobo e farejar toda a casa e seus arredores, mas ele parou o processo: se fosse algum perigo era melhor que viesse de encontro a ele e o matasse, pois não havia motivo para seguir vivendo.

Ainda assim inspecionou o quarto de Billy silenciosamente, a cozinha, o banheiro... Não havia rastro algum, mas os pelos de seu pescoço seguiam eriçados.

Foi para seu quarto: queria apenas se jogar em sua cama e tentar se asfixiar com os travesseiros. As lembranças eram sufocantes. Estava tudo errado! Algo estava faltando, algo muito importante havia se perdido, mas ainda existia. Alguma peça não encaixava.

Ao chegar à porta petrificou. Renesmee estava deitada sobre sua cama, com as roupas surradas, rasgadas e sujas. Jacob caminhou lentamente em sua direção, retirando a cortina de cabelos que cobria seu rosto. Era um milagre!

E então os problemas: havia cortes e sangue por todo lado; ela estava fria e mais pálida que o normal.

Ele tirou sua blusa e a dela, e a deitou em seu peito, aquecendo-a. Observou que nos lençóis onde antes ela estava não havia sequer uma mancha de sangue, mas não deu importância ao fato. Ela estava ali, era o que importava.

Renesmee não parecia estar respirando.

Jacob alternava massagens cardiovasculares com respiração boca-a-boca, momentos em que a aquecia com seu próprio corpo, e orações; estava entrando em desespero. Que terrível crime cometeu para receber tal castigo?

Manteve-se nesse ciclo até que ela repentinamente se encolheu em seu peito, ele então a abraçou. Em alguns minutos a jovem abriu os olhos.

Jacob sorriu mal podendo acreditar, então ela o fitou, assustando-o: não, não era ela.

Suas feições machucadas eram as mesmas, assim como seu corpo e até mesmo suas roupas, mas os olhos... seus olhos castanhos estavam vítreos e cinza.

Subitamente ela o segurou, subiu suas mãos pelo peito dele e tocou seu rosto, sentindo-o como se não pudesse enxergá-lo, e outro tremor percorreu seu corpo. Ele se afastou, postando-se em pé ao lado da cama: ela cheirava a capim, incensos... e a vampiros.

Nessie estava confusa, não se lembrava de nada, só queria alcança-lo, apenas chegar até ele. De repente sentiu-se enjoada e seus joelhos cederam como se uma onda tivesse quebrado sobre sua cabeça. Por reflexo Jacob a segurou, colocando-a em sua cama novamente.

Vozes invadiram a mente do lobo; era ela, as vozes eram dela. Pareciam estar distantes, mas se aproximando cada vez mais, então distantes, e novamente próximas, estavam em todos os lugares, um chamando sobrepondo o outro. Era insuportável, enlouquecedor.

A garota abriu os olhos e automaticamente os chamados pararam.

Seus olhos cinza começaram a escurecer, quase retornando a cor natural, mas como se estivessem enevoados, e sua pele deixou um pouco o pálido sobre-humano, enrubescendo levemente, deixando-a com um aspecto um pouco mais vivo.

Ela passou a tossir compulsivamente e colocou a mão sobre o ombro esquerdo, como se estivesse com dor.

— Nessie?! — suspirou Jacob ao se reaproximar lentamente.

Ela demorou alguns segundos para responder, apenas fitando-o. Respirava com dificuldade.

— Jacob? — perguntou confusa com um suspiro, como que para si mesma. Sua voz estava fraca. — Jake! — repetiu abraçando-o ansiosa.

— Eu sabia que era tudo uma mentira! Um pesadelo! — suspirou apertando-a em seus braços.

— Pesadelo? O que houve?

Desconcertado ele a soltou relutante, fitando-a.

— Como você saiu do carro, amor?

— Carro? — repetiu franzindo o cenho.

— Não se lembra? — perguntou tentando se desviar da lembrança do pior momento de sua vida, mas ela seguiu fitando-o como se não compreendesse nada do que ele dizia. — Você fugiu no carro de seu pai e sofreu um acidente... Co... como conseguiu sair do carro? Como chegou aqui, Nessie?

Seus olhos enevoaram ainda mais, começando a voltar à cor cinza. Ela enrijeceu e seu corpo começou a tremer.

— Amor? Não se preocupe, já passou... Se não quiser falar, tudo bem, você está aqui, viva, é isso que importa!

Lágrimas acariciavam o rosto dela, sua respiração ofegante.

— Tudo está tão confuso... Eu não sei onde estou Jake, e está tão escuro aqui... e frio, está muito frio. Estou com medo.

Ele a abraçou, desejando tomar para si toda sua angústia, mas Renesmee parecia estar cada vez mais distante, com seus olhos enevoados cada vez mais cinza.

Ela se afastou, sua expressão se tornou fria:

— Você disse que eu era a única, prometeu que sempre estaria ao meu lado, mentiu para mim!

— Não, juro que não menti. Sempre estarei aqui, Nessie, você é minha vida. Nunca desistirei de nós, nunca a deixarei!

— Pretendia me contar?

— O... o que?

— Um dia... Alguma vez pensou em me contar a verdade? Alguma vez ao menos considerou parar de mentir para mim?

Jacob permaneceu em silêncio. O que poderia dizer? Ele não pretendia contar nada, nunca; ninguém pretendia.

Outro tremor percorreu o corpo da jovem, sua pele voltou a empalidecer, a respiração novamente difícil. Ela estava distante, com medo.

— O que será de nós, Jake?

— Nós vamos superar tudo isso, eu prometo.

— Por favor, não minta.

— Não estou mentindo.

Renesmee sentiu uma fisgada e colocou a mão sobre o buraco em seu ombro que começou a sangrar, o sangue escorria por seu braço. Ela cambaleou.

— Não me deixe Jake, por favor! Eu não quero ir...

— Você não precisa ir.

— Fique, Jake. Não me deixe ir!

— Nessie? — disse tentando segurá-la, mas ainda que estivesse a sua frente, ele a sentia mais e mais distante, sendo incapaz de alcança-la. — Não, Nessie! Não! — Despertou gritando.

— Shiii... está tudo bem, querido — tranquilizou-o Esme. — Foi um sonho, vai ficar tudo bem.

Assustado, ele olhou ao redor: Carlisle o havia sedado e Jasper o acalmara até que ele adormecesse no sofá dos Cullen, que no momento o miravam sem expressão, com exceção de Edward, que estava parado do outro lado da mesa de centro, soluçando incontrolavelmente, e de Bella que estava encolhida no chão abaixo da escada, com as mãos pressionando a cabeça, cobrindo os ouvidos.

Não. Não podia ter sido apenas um sonho! Era tão real...

Esme o abraçou. Ver sua família no estado em que estava, tendo perdido subitamente um membro tão importante, era como morrer várias vezes, de várias formas. Jacob retribuiu, chorando nos braços daquela que aprendeu a olhar como uma mãe. Às vezes o amor mais puro surge onde menos se espera.

Teriam que se preparar: aquele seria um dia longo e doloroso.



Os convidados, amigos e familiares mais próximos estavam chegando. Indiferente, Edward seguia trancado junto a seu piano; o som que produziam as teclas que tocava ecoavam melodiosos e tristes, e apesar de algumas conversas paralelas, na sala ao lado o silêncio inquietante reinava, o branco havia inundado toda a casa.

Era sua culpa: ele não foi capaz de perceber o comportamento da filha a tempo e agora era tarde. Se tivesse ficado na casa ao invés de ir à clareira a teria ouvido planejar sua fuga, e nada teria acontecido; sabia que todos pensavam assim.

Sua esposa o estava preocupando: estava muito quieta, imóvel, e não havia pronunciado uma palavra desde que encontraram o automóvel. Mas como ele se aproximaria? Como poderia encarar Bella novamente sabendo que ele fora o culpado da morte de sua filha? Como suportaria sua tristeza sabendo que ele a podia ter evitado?

Como encararia Jacob depois de ter destruído sua vida? A vida de seu amigo, de seu filho. Sabia que ele não suportaria, que não tardaria a reencontrar Renesmee, a busca-la, pois suas almas estavam interligadas, e não seria possível haver vida após um rompimento. E novamente ele seria responsável por sua partida, mas agora seria infinitamente pior.

Como sairia para receber os pêsames de uma morte que ele não impediu? Como encararia a si mesmo?

Como aceitaria saber que sua filha jamais voltaria para a casa? Como suportaria não mais vê-la abraçada com Jacob no sofá, ou jogando xadrez com os tios? Como se acostumaria a deixar de fazer bolo de chocolate ou Petit Gateau, sabendo que Nessie assaltaria a geladeira durante a noite? Como se acostumaria a não mais preparar o almoço, ou deixar a mesa a postos no domingo de manhã? Como suportaria não poder mais ver suas bochechas corando de vergonha ou como ela ficava linda e absurdamente teimosa quando estava irritada? Como suportaria não mais poder ver sua filha por toda a eternidade? Sua filhinha...

Seu amor falhara. Edward falhara como homem, marido e pai, e jamais seria capaz de se perdoar por isso.

Duas leves batidas e a porta se abriu. Jasper colocou apenas a cabeça para dentro da sala:

— Edward, estão todos aqui. Você não vai sair?

O vampiro manteve seu olhar nas teclas do piano, dedilhando-as lentamente. Jasper adentrou a sala, fechando a porta atrás de si e se aproximou.

— Ouça, eu sei como está sendo difícil para você, mas você precisa ser forte agora. Bella precisa de você firme, está entorpecida. Ela não vai conseguir sozinha.

Edward parou e o fitou, vendo-o retornar à porta. Jasper lançou um olhar compreensivo antes de se retirar.

O vampiro voltou-se ao piano, tocando lentamente a música que compôs para a esposa anos antes. Jasper tinha razão, ele precisava encará-la, não podia deixa-la enfrentar tudo sozinha enquanto ele se escondia.

Levantou-se lentamente e caminhou em direção à porta, respirando profundamente antes de sair.

Algumas pessoas apenas o fitaram, outras vieram expressar pêsames. Edward lutava para não prestar atenção em pensamentos alheios, mas era difícil.

De todas as inúmeras vezes, não conseguir ouvir os pensamentos de Bella jamais o intrigou como agora. Ela estava com um vestido longo branco com alguns detalhes em dourado, sentada no sofá com uma expressão desolada, linda e imóvel como uma dramática estátua de mármore. Charlie tentava conversar com a filha, mas seu olhar estava vago. Isso o enlouquecia. Edward pensou em se aproximar, mas hesitou: não se sentia pronto, não encontrava forças, ou coragem.

Jacob estava sentado no chão apoiado à parede de vidro, fitando a floresta, Seth sentava a sua esquerda encostado ao sofá enquanto Leah os aconselhava. Ela era uma boa amiga. Dizia a Jacob que ele não poderia ser irresponsável ao ponto de desaparecer na floresta novamente com seu pai doente, e com a alcateia precisando dele. Entretanto, o Alfa não conseguia pensar em outra coisa além do sonho que teve, estava convicto de que significava alguma coisa, apenas não conseguia entender o quê.

— Eu a segurei em meus braços noite passada — disse o lobo com a voz frágil, ainda com o olhar fixo na floresta.

— Como? — perguntou Leah.

— Ela estava tão enigmática... Foi confuso, assustador, mas como andar sobre as nuvens, como uma luz surgindo no meio da escuridão.

— Jake — começou a amiga.

— Estou perdendo tudo... mas ainda a sinto! Distante, mas ainda sinto nossa ligação. Ela ainda está aqui!

— Claro que está — concordou Leah —, ela faz parte de você.

Jacob balançou a cabeça de um lado para o outro, ninguém o entenderia, ele mal entendia a si mesmo.

Leah e Seth se levantaram.

— Sinto muito, Edward — disse a jovem quileute.

O olhar de Seth dizia o mesmo. Eles se abraçaram e só então o vampiro compreendeu suas feições abatidas — o que o surpreendeu sinceramente, ainda fosse previsível.

Sophia sempre soube que mais cedo ou mais tarde teria que partir, e ainda assim preferiu ferir Seth, escolheu mentir para a pessoa que sacrificaria sua vida por ela. Pobre garoto...

— Você precisará ficar firme.

— Eu sei.

— Também não acho prudente que faça nada do que está pensando. E não vá procura-la. Eu sei que dói, mas deixe-a livre, tenha calma e siga seu caminho, acredite em mim. Às vezes o amor é como um dia chuvoso, mas a vida continua e o tempo passa, as coisas mudam; pessoas mudam de ideia.

Seth o fitou franzindo o cenho.

— Você sabe de alguma coisa?

Edward balançou a cabeça de um lado para o outro. Seth se sentou no sofá.

— Fico feliz pelo noivado — disse a Leah.

— Obrigada — respondeu aturdida.

Ele se retirou, precisava se sentir sozinho.

Com um suspiro deixou que seus joelhos cedessem e encostou-se a ilha na cozinha. Com tanto espaço em sua mente ele vagava pela escuridão, submerso por um rio de nada.

Minutos passaram, talvez horas, ele não sabia, havia perdido a noção de tempo. Havia perdido tudo.

Era incrível, extraordinário. O que há pouco mais de vinte e quatro horas o enchia da mais pura cólera, agora soava ridículo, insensato. Já nem mesmo as lembranças de Jacob, saber que sua filha esteve nos braços daquele homem, o enfureciam. Pelo contrário. Reconfortava-o saber que ela pôde viver, mesmo que por tão pouco tempo.

No jardim da casa dos Cullen, próximo ao rio — lugar onde Nessie passou grande parte de sua curta infância brincando, onde gostava de ir para ler ou pensar, pois a tranquilizava o som do rio misturado ao puro canto dos pássaros —, foi feita uma trilha entre as árvores da floresta, que levava a uma pequena clareira, um jardim cujo centro continha um pilar de mármore branco com imagens grafadas, rodeado pelas mais lindas rosas. Havia nele uma foto recente da mestiça, e os escritos:

Renesmee Cullen

* 10/09/2006 † 13/09/2013

Filha adorada

Em nossos corações você sempre viverá

Te amamos mais que a nossa própria vida

Bella e Edward

Por toda a eternidade você será meu essencial

Te encontrarei no infinito

Seu Jacob

Todos se reuniram em frente ao túmulo, prestando luto à bela jovem. Carlisle se ofereceu a dizer algumas palavras, mas Edward precisava falar.

— Todos sabem que Renesmee não foi planejada ou aguardada como os bebes devem ser, pelo contrario, eu fui um dos que mais desejou que ela não existisse; tentei convencer Bella a desistir de tê-la várias vezes. Eu tinha meus motivos, mas me recusava a dar a ela uma chance. — Parou, cada palavra ceifava um pouco mais sua alma. — Não consigo imaginar o que teria sido de nós se ela não nos tivesse salvado. — Suspirou pesadamente — Ela era maravilhosa! Horas antes de nascer colocava seu velho pai em seu lugar. Era o amanhecer glorioso depois de uma guerra, e ainda assim continuamos errando... — Parou novamente para respirar, aproximando-se da lápide, fitando-a, tocou o mármore. — Eu não tenho como expressar o quanto me desprezo por um dia ter pensado em negá-la, por ter me deixado levar por coisas e sentimentos supérfluos, quando havia um pequeno milagre crescendo bem na minha frente. Oh, filha... — Não conseguia desatar o nó que obstruía sua garganta. — Me perdoe, por favor, nos perdoe... — concluiu com um fio de voz. Carlisle se aproximou para abraça-lo.

Bella soluçava descontroladamente.

— Não é certo uma mãe ter que enterrar seu filho — agonizou encolhida abraçando a si mesma.

Ninguém ousava falar ou se mover. Aquela era uma família destruída.

Jacob havia estado o tempo todo afastado, observando a cerimônia apoiado a uma arvore, negando-se a receber qualquer tipo de apoio, mas debulhando-se em lagrimas. Afastou-se, entrando desnorteado na floresta, e passou a correr a toda velocidade para lugar algum. Ele jamais a mereceu.

Forçou-se a se mover mais rápido. Transformar-se ou não era indiferente, ele era apenas um monstro, um mendigo, um animal sem rumo.

Abri e fechei os olhos repetidas vezes, até que eles retomassem o foco.

A voz dele ressoava em minha mente, seus gritos e chamados desesperados perturbavam-me, ainda podia sentir seu toque fervente sobre minha pele.

Estava confusa.

Meu corpo inteiro doía: minha cabeça pesava terrivelmente e meu ombro pulsava, respirava com dificuldade, mas me sentia tão confortável...

Levantei com um pouco de dificuldade, desvencilhando-me dos lençóis de algodão egípcio e da colcha de veludo. Estava com uma camisola branca de cetim que não sabia como havia vestido.

Fitei ao redor: não tinha a menor ideia de onde estava.

O quarto não era muito grande, mas extremamente aconchegante e até acolhedor, ainda que visivelmente luxuoso. A decoração era clássica e refinada, toda em tons creme, dourado e salmão, com boiseries no teto e nas paredes, os móveis de madeira eram delicadamente entalhados, havia castiçais estrategicamente posicionados, apesar dos abajures, e no centro um lustre de cristal. Era como estar no quarto de um castelo de contos de fadas.

Caminhei lentamente pelo aposento apoiando-me nos móveis, analisando-o. A esquerda havia um corredor: um closet e um banheiro, em frente à cama, uma porta dupla que estava trancada, e a direita outra porta.

Sobre o divã havia um vestido rendado, uma meia calça fio 80 e no chão, sapatos scarpin.

Na mesa de centro, ao lado de um castiçal com velas, havia uma bandeja de prata com frutas, cereal, queijos e uma taça de vinho. Peguei esta ultima levando a boca sem o mínimo de precaução, estava com a garganta seca e o nariz tampado. Corri para o banheiro e cuspi-o, meu coração acelerando. Aquilo era sangue.

Um arrepio percorreu minha espinha, meu estomago revirou. Precisava fugir.

Retornei ao aposento, olhando pela janela. Estava no quarto andar, no térreo havia um extenso jardim e a queda seria muito dolorosa. O dia estava nublado e eu não conseguia ver se havia alguém por perto, mas tinha que tentar.

Procurava uma forma de abrir a porta da varanda quando estagnei, ouvindo a porta se abrir.

— Que surpresa, enfim a bela adormecida despertou! — disse uma voz masculina.

Virei-me.

Ele era alto, moreno e absurdamente sensual. Parecia ter entre vinte e quatro e vinte e oito anos, usava uma calça jeans preta, camisa xadrez escura, tênis e uma jaqueta de couro.

Aproximou-se lentamente, analisando-me.

— Então és tu a adorável Nessie.

— Renesmee — corrigi.

Ele sorriu. Havia uma aura misteriosa ao redor dele.

No fundo de seus olhos castanhos era possível detectar o vermelho, seu cheiro era doce e forte, mas conseguia ouvir seu coração bater em um ritmo lento e contínuo.

— Você...

— Também sou um mestiço.

Senti minhas sobrancelhas se juntarem. Nunca havia visto nada como ele.

— É diferente — soltei.

Ele riu.

— Que graça haveria se todos fossem iguais?

O canto de meus lábios se esticou em um meio sorriso, que logo desapareceu. Mirá-lo de perto me fez ter a estranha sensação de que estava deixando algo escapar; ele me lembrava de algo, ou de alguém. Hesitei.

— A propósito, sou Eric — disse esticando a mão em minha direção. Apenas fitei-a. — Ei, não irei morder-te.

Era estranho. Apesar de não saber onde estava, quem era ele ou porque havia sangue humano em uma taça, eu não estava com medo. Havia algo familiar em Eric que me fazia quase confiar nele, sabia que não iria me machucar.

Toquei a mão estendida. Sua pele era consideravelmente fria, mas não tão fria quanto à de um vampiro, e mais macia que marmórea.

— É bom finalmente conhecer-te, Renesmee.

Recolhi a mão. Podia ver em seus olhos que havia algo mais ali.

— Te vista, o mestre quer ver-te — disse indo em direção à porta.

— Mestre?

Encarou-me:

— Bem vinda a Volterra — disse e abriu-a, mas hesitou. — Seja uma boa menina: não insultes tua inteligência tentando fugir. — Piscou. — Até mais ver.

Permaneci imóvel fitando a porta fechada por alguns minutos, como se ela fosse criar vida e me atacar. Meus maiores pesadelos haviam se concretizado: eu estava sozinha na fortaleza dos Volturi. Não havia escapatória.


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Notas finais do capítulo

Ai, ai, ai... Estamos presos em um campo minado!

O que estão achando? Me contem pessoas!

Até mais!



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