Utopia escrita por Renata Salles
Notas iniciais do capítulo
Ouvi dizer que você é uma "garota problema", você ouviu que eu sou um problema. Mas seu nome é uma onda me derrubando - sem jogos! Apenas um escravo totalmente seu, porque eu não me importo com o que dizem sobre você e você não se importa com o que dizem sobre mim. Mas sabemos o que dizem sobre problemas.
Verão de 2008
Seth limpou o suor das mãos no jeans que Alice lhe presenteou para “dar força” na ocasião, como se roupas pomposas pudessem ajuda-lo naquela empreitada. Ele pensou seriamente se deveria se ofender com o comentário, mas sabia que a vampira não tinha más intenções.
Sophia estava do outro lado da sala conversando com Rosalie, Esme e Carlisle, ela o encarou com um sorriso e Seth sentiu seu corpo inteiro congelar. Jacob pousou a mão em seu ombro.
— Relaxa cara, ela não vai te morder.
Seth o encarou cético.
— Pior que acho que ela vai sim.
— Ainda dá tempo de desistir, se quiser — tranquilizou Renesmee.
Ele a encarou confuso e ligeiramente magoado.
— Não — disse respirando profundamente. — Eu consigo.
— É claro que consegue! Que mestiça resistiria a esse sorrisinho?! — a amiga incentivou o empurrando com o ombro.
Jacob a encarou surpreso com as sobrancelhas erguidas.
— O que? — perguntou Renesmee.
Ele balançou a cabeça de um lado para o outro.
— Fique quieta baixinha — disse afundando a cabeça da amiga debaixo de seu braço.
Seth se aproximou e parou a frente de Sophia sem quebrar o contato visual. Ela logo agarrou seu braço.
— Ah Seth, querido, eu contava a Esme sobre a tristeza que são os designers da Adália’s! Tão incompetentes e sem criatividade... — suspirou. — Diga a ela que eles precisam de uma responsável capaz ou terei que arrancar os cabelos! — riu de sua dramaticidade.
Seth a encarou tão feliz e ambiciosa, e a nuvem de seriedade em sua cabeça dissipou. Ele a amava, queria passar o resto dos seus dias com ela. O que deveria temer?
Sem pensar e desviando-se completamente do plano, ele se ajoelhou a sua frente.
— O que... está fazendo? — perguntou por debaixo do fôlego.
— Case comigo Sophia.
Ela o encarou com os olhos arregalados por longos minutos, abrindo e fechando a boca algumas vezes. Sophia respirou profundamente antes de olhar ao redor extremamente constrangida.
— Vocês podem nos dar licença, por favor?
— Crianças, para o jardim — disse Esme com um sorriso conciliador. Em um instante Seth e Sophia estavam sozinhos na sala.
Ela o encarou com um olhar indecifrável.
— O que está pensando? Levante! — tentou puxá-lo pelo braço, mas ele não se moveu.
— Não quero mais esperar, eu não tenho dúvidas — respirou profundamente. — Case comigo Sophi, case comigo e eu juro pela minha vida que nunca vou te decepcionar.
Sophia mordeu o lábio. Tentou engolir sem sucesso a bola que se formara em sua garganta.
— Não — disparou.
Seth sentiu-se atordoado como se uma onda tivesse quebrado sobre sua cabeça.
— O que?
— Não. — Repetiu. Sua boca tremia. — Porque está fazendo isso?
— Eu não quero que vá embora.
— Eu não vou a lugar algum — disse com um sorriso compreensivo tocando seu rosto, suas bochechas estavam coradas.
— Não quero que vá embora nunca. Fique comigo Sophi, me deixe cuidar de você e eu te manterei a salvo. Não há nada que precise temer.
— Eu não preciso de proteção — sua voz era baixa e grave.
— Eu sei, mas amo você mais que tudo no mundo, não posso te perder.
Ela se ajoelhou a sua frente com os olhos lacrimejando.
— E eu amo você mais do que imagina, mas não sei ser dois. Isso nunca daria certo comigo.
— Tem dado certo para mim — rebateu magoado.
— Mas vai chegar um momento em que terei que partir de qualquer forma.
— Por quê?
— Eu já disse, é... complicado.
— Complicado? Eu te peço em casamento e você me diz que é complicado? Você pode não entender, mas eu vou atrás de você até o inferno se for preciso. Você não vai se livrar de mim.
— Você não pode. Eu... não quero — terminou quase sem fôlego.
— Quer sim — afirmou Seth diminuindo o espaço com um beijo.
Sophia o afastou. Demorou um minuto para abrir os olhos.
— Seth... eu preciso te contar uma coisa.
.
Inverno de 2015
Seth encarava fixamente o porta retrato dele e da irmã em sua versão infantil caçando conchas na praia, mas sua mente estava distante. Ele pensava em sua vida antes de se transformar em um lobo gigante e ter de amadurecer muito mais rápido que qualquer garoto de sua idade; pensava na irresponsabilidade e na falta de preocupações de um adolescente: lembrava de odiar acordar cedo e ter que lavar a louça depois do almoço, sentia falta de quando misturava tinta azul no shampoo de Leah e suco de blueberry na caixa d’água da escola. Queria poder voltar no tempo para a época em que era inocente, a época em que seus erros não tinham muita importância.
Nem os erros dos outros.
Sua mente o guiou para a lembrança da primeira vez em que viu sua esposa, quando seus lábios se esticaram para ele em um sorriso pela primeira vez; pôde sentir o aperto no peito com a lembrança de quando a segurou forte em seus braços, limpando cada lágrima que escorria por seu rosto; sentir as borboletas em seu estômago a primeira vez em que a tocou, e a sensação de que seu coração explodiria de emoção na primeira vez que a ouviu chamar seu nome enquanto dormia. Seth se lembrava de cada promessa sussurrada, de cada olhar e de cada toque, e quanto mais pensava menos conseguia entender.
A última vez em que a viu pareceu uma manhã como outra qualquer. Seth preparou as panquecas enquanto ela espremia laranjas com a expressão tranquila, as brincadeiras comuns. Antes dele sair ela lhe deu um beijo e disse que o amava, mas quando voltou ela havia partido.
Quatro anos de casamento, um amor infinito, e tudo que ela deixou foi uma maldita carta.
Seth fechou os olhos com força.
Mas se ela realmente não o quer como disse na carta, o que significa essa outra recém descoberta que diz exatamente o contrário? Se ela realmente não o quer e foi viver sua vida, por que dar a ele todos os seus bens? Por que alguém faria isso?
Por que ela fez isso?
Seth foi sugado de volta à realidade quando o copo que segurava estourou em pequenos pedaços. Ele apenas encarou o vidro no chão, e antes que pensasse no que fazer sua mãe já enrolara uma toalha em sua mão e começava a recolher o vidro.
— Vá lavar a mão querido, rápido — ordenou Sue com a voz suave e a testa franzida.
Ele balançou a cabeça e seguiu para o banheiro.
— Cara, o que está havendo? — perguntou Jacob atrás dele. — Você ouviu alguma palavra do que eu disse?
Seth observava os ferimentos causados pelo vidro cicatrizarem sob a água.
— Desculpe. Ando meio distraído.
— O que aconteceu? Você sumiu a semana inteira.
— É. Eu estava no escritório — respondeu absorto em si mesmo.
— Que escritório?
Ele apenas o encarou.
— O que você foi fazer lá?
Seth hesitou.
— Vamos lá fora.
Eles partiram para uma parte afastada do quintal, sentando-se sobre o tronco de uma árvore que Charlie derrubara para fazer lenha.
— Desembucha — disse Jacob.
— Lembra que eu disse que ia arrumar o que eu quebrei no meu quarto?
— Sim sim.
— Então... eu achei isso.
Seth pegou a carta em sua carteira e entregou ao amigo, encarando seus pés enquanto ele a lia.
— Wow, cara! Isso... não faz o menor sentido. — Jacob encava o papel com o cenho franzido, balançando a cabeça de um lado para o outro. — Esse Aro é o Volturi? — Era óbvio, mas precisava ter certeza.
— Sim.
Jacob respirou profundamente.
— O que os Volturi querem com a Sophia?
— Que ela entre para a guarda. Sophi disse que a única coisa que impede Aro de obriga-la a se juntar a eles é que não faz sentido ter ela e Jane na equipe porque seus poderes são similares, mas dispensar Jane significa perder o Alec, então Aro apenas tem ficado de olho em Sophia, esperando o melhor momento. Ele tem feito isso desde que descobriu sobre Renesmee e os híbridos de vampiros com humanas sem nunca se pronunciar, mas nosso casamento o deixou irritado. Nos torna uma ameaça ainda maior.
Jacob sentiu sua cabeça latejar.
— Desde quando você sabe disso?
— Eric me contou antes do casamento. Ele não ficou exatamente feliz com a ideia. Pensou que a verdade me faria desistir... — Seth sorriu amargamente. — Sophia me fez prometer que eu guardaria segredo, acho que tinha medo de ser rejeitada se a matilha soubesse.
— Mas ela não tem culpa...
— Até onde eu sei, não.
— Como é?
— Essa é a parte que ela me esconde. A verdade é que Aro quer controlar Sophia e seus poderes a todo custo, mas não pode tê-la em Volterra por algum motivo que não pode ser apenas os gêmeos, então, sempre que precisa aniquilar um problema discretamente sem envolver os Volturi, ele a obriga a fazer seja lá o que for. E adivinha que problema Aro está louco para se livrar...
Jacob piscou, chocado.
— Os Cullen — a resposta foi um pensamento dito em voz alta.
— Exatamente! É por isso que Edward e Sophia sempre brigaram tanto.
O Alfa o encarou sem fala por longos minutos, lutando para digerir as informações.
— Pelo amor de Deus, Seth! — finalmente conseguiu dizer. —Você tem noção que colocou a aldeia inteira em risco?
— Eu sei. Desculpa cara, pensei que tivesse tudo sob controle.
Jacob apenas o encarou cético, balançando a cabeça de um lado para o outro.
— E quem é esse Eric? É o mesmo que te ligou aquele dia?
— Sim, foi ele mesmo. Eric é um guarda Volturi, e... — respirou profundamente — e é meu enteado.
Os olhos de Jacob se arregalaram.
— O quê? — gritou.
— Shiiiii, sem escândalo!
— Foi mal, essa foi demais!
— Eu sei, também nunca me imaginei sendo padrasto!
— Como... quando? — gaguejou Jacob.
— Há muito, muito tempo mesmo Sophia foi casada com um humano — sorriu sem vida. — Ela soube que estava grávida pouco depois de abandoná-lo.
Jacob o encarou boquiaberto, imaginando quem seria aquela pessoa que tomou o corpo do seu melhor amigo.
— Como guardou segredo por tanto tempo?
— Ah, é só não pensar nessas coisas quando estou transformado. “Domestique sua mente”, Sophia dizia. Acabei ficando bom nisso — sorriu.
— O que mais você não me contou?
— Nada demais.
— Seth!
— Nada.
— Nunca mais me esconda nada!
Seth balançou a abeça de cima para baixo.
— Prometa — ordenou usando o tom de Alfa.
— Eu prometo que nunca mais te esconderei nada.
Jacob balançou a cabeça de cima para baixo devolvendo a carta ao amigo.
— Um tempo depois de eu encontrar isso — começou Seth — dois caras apareceram na minha porta dizendo que a Sophia deixou todos os bens dela para mim sob testamento, e que... eles disseram que ela morreu.
Jacob franziu as sobrancelhas.
— Não. Ela deve ter cansado de bancar a empresária.
— Mas Sophia adora aquelas empresas! E se ela não me ama mais e eu fui um erro, por que deixaria tudo para mim? Por que agora?
— É, isso é muito estranho.
— Eu passei a semana inteira tentando encontrar uma pista na Adália’s, qualquer coisa que me ajudasse a entender, mas tem tantos documentos que eu teria que me dividir em cem, e o tempo está passando...
— Se precisar de ajuda pode contar comigo.
— Obrigado. — Seth suspirou encarando um ponto inexistente. — Jake, acho que ela está com problemas.
Jacob o encarou sem saber o que dizer.
Como se estivesse esperando o momento apropriado, Sue saiu para o jardim.
— Aí estão vocês! Entrem, Leah e Lúcio acabaram de chegar! — disse com o rosto vermelho de emoção.
Seth e Jacob trocaram um olhar significativo e obedeceram.
Todos estavam na sala ao redor de Leah assistindo seu ultrassom pela televisão, ela já estava no quinto mês de gestação e sua gravidez ainda parecia um milagre. A vida finalmente a recompensava: as transfigurações em lobo que tanto a incomodavam chegaram ao fim, um garotinho crescia dentro dela e a Leucemia de Lúcio entrara em remissão, até sua relação com Emily voltava a ser como antes. Sua vida finalmente estava como deveria ser.
E por isso Seth a evitava. Sua felicidade o fazia ter esperança de que tudo acabaria bem.
Ele se aproximou e Leah agarrou sua mão, sorrindo.
— Ele é lindo — disse Seth limpando a lágrima que insistia em em acariciar o rosto dela. — Será o garoto mais amado do mundo.
Leah balançou a cabeça e o abraçou.
Do outro lado da sala Charlie e Paul discutiam sobre a taxa de criminalidade de Nova York. Desde que Paul decidiu entrar para a polícia eles pareciam pai e filho, andando pela cidade como o grande mestre e seu fiel aprendiz. Com a aposentadoria de Charlie saindo, ele se viu na necessidade de ensinar a Paul tudo que havia aprendido durante sua carreira.
Paul fez um sinal para que Jacob se aproximasse.
— Você não pode segui-la! — dizia Charlie — Mas deve estar sempre atento a sua rotina.
— Está ensinando Paul a ser espião?
Ele riu.
— É segredo. Eu sou o 007 — terminou com um sussurro.
— Bem que eu suspeitava! — Jacob riu. — Sue está requisitando força tática na cozinha, senhor.
— Oh, mulheres, o que seria de nós sem elas?
Charlie caminhou sorridente para a cozinha.
— O que foi?
— Recebemos ordem dos Federais para ficarmos de olho em uma garota nova na cidade, e Charlie estava me dando umas dicas. Não é que eu queira bancar a babá, mas o caso é muito sinistro! Acho que ela merece a atenção da matilha.
— Onde ela está?
— Em Forks. É a nova professora de Sociologia da escola.
— E qual é o problema?
— A garota foi incluída no Serviço Federal de Proteção à Testemunha depois sofrer uma tentativa de homissídio que matou seus pais. Incendiaram a casa dela durante a noite para que ela não pudesse testemunhar contra o chefe e alguns outros membros do cartel colombiano. Ela sobreviveu ao incêndio e fez o depoimento, mas meses depois uma quadrilha foi atrás dela... Cara, eles a sequestraram e a mantiveram em cativeiro, a torturaram e a estupraram por três dias antes que o FBI a encontrasse.
— Meu Deus!
— Pois é. Agora ela vai viver aqui e temos que protegê-la.
— Mas é claro! Nós vamos mantê-la a salvo. Ela já está na cidade?
— Sim, chegou há uma semana.
Jacob parou, refletindo. Forks não costuma ter muitas pessoas “novas na cidade”.
— Qual é o nome dela?
— Emma. Emma Huston.
Jacob sentiu um nó em sua garganta.
— Não! — sussurrou. Desejava com todas as forças que estivesse errado, mas na verdade fazia sentido: explicava a tensão e o fato de a garota que o salvou estar sempre alerta parecendo assustada, explicava porque ela parecia tão vulnerável e misteriosa.
— O que foi? — perguntou Paul com a testa franzida.
— Acho que eu a conheci.
.
Eric e Alec adentraram a sala de reuniões do Palazzo Dei Priori em silêncio, se postaram frente aos tronos dos líderes e se curvaram em uma reverência. Aro estava sentado em seu trono com uma expressão séria, encarando Caius após uma longa conversa.
— Ah, meus queridos — começou Aro com o tom baixo e aveludado. — Chegou a mim o relato alarmante de que a senhorita Cullen teria sofrido um terrível acidente.
Eric respirou profundamente.
— Sim senhor, Renesmee caiu do ponto mais alto da torre sul. Por sorte o lago amenizou a queda, mas a baixa temperatura da água em contato brusco com a temperatura elevada de seu corpo lhe causou uma pneumonia. Ela está com dificuldade para respirar e tem tido fortes crises de febre, mas pelos cálculos de Afton seus pulmões se recuperarão em uma ou duas semanas.
Aro balançou a cabeça de cima para baixo com a testa franzida.
— Você sabe se havia alguém com ela na torre?
— Não senhor, aparentemente ela estava sozinha.
— O que Renesmee diz a respeito? — questionou o líder.
— Ela não quer falar sobre o ocorrido, senhor. Apenas disse que foi um acidente.
— Claro. — Aro se inclinou para encará-lo. — Em sua opinião, existe alguma possibilidade da jovem ter tentado ferir a si mesma novamente?
— Imagino que não. Estive com ela algumas horas antes do ocorrido e não houve nada em seu comportamento que apontasse uma recaída.
— Está de acordo com seu companheiro Alec? — perguntou Aro o encarando fixamente.
Alec apenas piscou com a expressão indecifrável.
— Sim mestre, embora tenha a impressão de que a senhorita Cullen esconde alguma coisa.
— Qual o motivo de sua desconfiança? — perguntou Caius.
— Ela tem estado distante, consideravelmente arredia, e, com todo o respeito, Renesmee é o tipo de pessoa que sempre anseia por atenção.
— A garota tem tido algum outro comportamento incomum? — Caius perguntou interessado.
— Não — respondeu Eric rapidamente.
— Sim — discordou Alec.
O olhar de Aro passou de Alec para Eric, então para Alec novamente. A afeição de Eric pela jovem começava a incomodá-lo.
— Que tipo de comportamento, meu caro? — insistiu Caius.
Sua postura enrijeceu.
— Instabilidade principalmente, mestre. — Aro ergueu a sobrancelha. Alec hesitou por um segundo. — Ela me beijou.
Eric o encarou pasmo enquanto Aro se levantava de seu trono com um sorriso que logo se tornou uma gargalhada histérica.
— Você pode se retirar, Eric — disse sem tirar os olhos faiscantes de Alec.
Eric hesitou em protesto, mas se curvou resignado e se retirou. Aro se aproximou de Alec com um olhar intenso e tocou sua mão, invadindo sua mente para assistir as lembranças.
Para o desgosto do líder após o beijo Alec apenas a vestiu e a levou para a cama, se retirando do quarto para chamar Afton sem dizer uma palavra.
Aro respirou profundamente antes de soltar sua mão.
— Alec querido, você sabe o que a atitude da moça significa, não sabe? — O rosto do guarda se manteve indecifrável. — Ela gosta de você! — Aro suspirou forçadamente. — Oh meu querido... temo ultrapassar o limite... — e apesar de estar se referindo ao guarda com a postura rígida e dentes trincados petrificado em frente aos três tronos, Aro encarava Caius — pedindo mais do que me é permitido.
— Não se preocupe irmão, Alec é um aliado prestativo que deu diversas provas de sua lealdade — Caius virou a cabeça lentamente para encarar o guarda. — Tenho certeza de que nenhum de nossos pedidos excederia tais “limites”.
Aro caminhava de um lado para outro da sala, insistindo em ignorar a presença do servo.
— Sim, é claro, mas como poderia pedir algo tão... pessoal?
— Querido irmão, não se aflija, a dama é jovem e bela, e precisa de uma companhia mais próxima que garanta o direcionamento adequando de sua lealdade. De que forma um pedido como este o ofenderia?
Aro finalmente parou e encarou o terceiro líder em expectativa. Marcus suspirou depois de uma longa pausa e finalmente desgrudou os olhos de seu livro.
Alec se curvou em respeito enquanto o líder o avaliava.
— Meus companheiros querem que se envolva emocionalmente com a garota, visto que ela se sente intrigada por sua personalidade. — Aro fechou os olhos e caminhou inconformado de volta para seu trono. Marcus sempre destruía seus jogos. — Vejo que não possui sentimentos favoráveis à moça — Marcus observou.
— Renesmee é fraca e irritantemente ingênua senhor.
— A fraqueza é contida ao longo de experiências difíceis, e ingenuidade pode ser facilmente esclarecida com devida orientação e treino. Essas são todas as suas objeções?
Alec franziu os lábios, não gostava de se expôr.
— Ela é potencialmente arrogante, mestre.
Marcus estreitou os olhos.
— Entendo. E está disposto a mentir para manipulá-la?
— Se assim me for ordenado.
— Apesar de seus sentimentos?
Alec piscou desconfortável.
— Meus sentimentos mestre?
— Você é um homem instruído e inteligente, sei que se interessa pelos assuntos da mente... Imagino que deva saber que seu desprezo imediato cria uma ligação tênue entre você e a jovem. — O rosto de Alec enrijeceu. — Este pedido está além de suas funções, e suspeito que esteja igualmente acima de suas qualificações e condições atuais. Você pode declinar se assim desejar.
O guarda engoliu a seco. Não seria desqualificado por uma mestiça.
— Estou ciente mestre, mas é meu desejo servi-los.
Marcus se inclinou para encará-lo.
— Está disposto a enfrentar as consequências?
∞
Afton recolheu o termômetro e o guardou em sua maleta, então me entregou uma máscara de oxigênio ligada a um cilindro que estava em uma mala ao lado da cama.
— Isso deve ajudar com a falta de ar, mas use apenas em casos extremos, não queremos causar um problema maior.
Balancei a cabeça de cima para baixo.
— Sim senhor. — Minha voz soou fraca e rouca, fiz barulhos com a garganta.
— Não, não force! Aqui — disse me entregando um copo de água. — O antibiótico vai ajudar, não deixe de tomar nas horas certas!
Sorri agradecida.
Duas batidas na porta e Eric entrou com cara de poucos amigos.
— Devo me retirar. Melhoras senhorita Cullen.
Agradeci com um aceno de cabeça. Afton fez uma reverência a Eric e se retirou.
Ele se sentou no canto da cama e segurou minha mão.
— Como você se sente?
— Como se um trator tivesse passado em cima mim. E dado a ré.
Eric sorriu sem emoção.
— Aro me chamou no Palazzo para saber sobre sua situação... Chamou a mim e ao Alec na verdade.
Tentei me erguer para sentar sem muito sucesso, meus músculos ainda doíam muito.
— Desculpe te causar problemas.
— Não se preocupe com isso. Apenas diga-me: existe algo que queira me contar? — Apenas o encarei com as bochechas coradas. Ele me encarava sério, e um tanto decepcionado. — O que estava pensado? — Sua voz era um suspiro cansado.
— Olha, se você veio me dar lição de moral...
Eric acariciou minha mão com gentileza.
— Não vim brigar com você — interrompeu com um sorriso pesaroso. — É só que... — Eric respirou profundamente. — No início, quando Aro a fez ficar em Volterra eu pensei que ele a usaria para atrair sua família. Seus pais, pelo menos...
— Meus pais não se renderiam para que me libertassem.
— Talvez não, mas uma ameaça está se formando e os Volturi precisam reunir forças, por isso Aro quer que tu desejes ficar Renesmee, e vai fazer qualquer coisa para conseguir. — Balançou a cabeça de um lado para o outro e esfregou o rosto, sua preocupação me deixava em alerta. Eric não é do tipo que peca por exageros. — Não posso mais protege-la. Ele quer garantias.
A escolha de palavras ativou uma área especial em meu cérebro. Hesitei.
— Que tipo de garantias?
Ele ergueu os ombros.
— Tenho medo de imaginar.
∞
Sophia caminhava de um lado para o outro, acendendo as velas perfumadas. Diminuiu a intensidade da luz, arrumou as rosas no vaso e encarou-se no espelho. Estava ansiosa, com a expressão dura. Treinou um sorriso.
A porta se abriu e o vento frio invadiu a cabana de madeira. Sophia apenas encarou o reflexo dele pelo espelho.
Leonard tirou o casaco.
— Que bom que veio — ela disse se virando para encará-lo.
O vampiro a analisou. Seus cabelos estavam parcialmente presos para trás com uma fivela; ela usava um vestido branco esvoaçante e um espartilho que ressaltava seu busto, como ele gostava. Leonard sorriu se aproximando.
— Seu pedido é uma ordem, minha querida — ele se aproximou e beijou sua mão.
Sophia fez uma reverencia e pegou uma taça de vinho, sentando-se na beira da cama.
— Os Cullen disseram que deixou o transmorfo. Cansou de ser dona de casa?
A mestiça forçou um sorriso e encarou o espaço vazio na cama. Leonard se aproximou e sentou-se ao lado dela.
— Por quê escolheu Tanya Denali como parceira?
— Está com ciúmes?
Sophia o encarou fixamente e ele ergueu os ombros.
— Ela é linda e me satisfaz.
— Ah, vamos lá Leo... você pode me contar tudo.
Leonard a encarou por um minuto.
— Contudo — começou se aproximando lentamente, seus joelhos prendendo o corpo dela. Ele traçou o caminho de sua bochecha até o colo com beijos, então encarou-a novamente —, devo admitir que me entristece que Tanya não seja você.
Ele pressionou seu peso sobre ela, fazendo com que se deitasse, e a beijou. Sophia tentou se esquivar, mas ele prendeu os braços dela sobre a cabeça. Ele era muito forte.
— Leo, não... — disse desconfortável.
Ele desceu por seu pescoço com beijos novamente e abriu suas pernas.
— Leonard! — disse tentando afastá-lo.
— Você é inebriante... — Sophia fechou os olhos, respirando. Não adiantava lutar, Leonard sempre tinha o que queria. — Eu sempre soube que voltaria para mim.
Ela abriu os olhos.
— Eu não quero você — disse entredentes.
Ele enrijeceu, então a encarou com os olhos incendiados. Leonard apertou seu pescoço até que ela ficasse sem ar, Sophia não se moveu, sabia que ele pararia pouco antes de ela perder a consciência. Era o que ele fazia.
— Você é minha!
Leonard a soltou e voltou a explorar o corpo dela como se nada tivesse acontecido. Sophia respirou profundamente até que a tontura passasse, encarando o teto de madeira. Seu pai estava certo. Leonard sempre foi obcecado por ela, e se ele não pudesse possuí-la, ninguém mais poderia.
— Selas está vivo. — Sophia o sentiu petrificar sobre ela.
— Impossível — soltou após longos minutos.
— Ele veio me ver. Falou coisas interessantes sobre você.
Leonard prendeu os braços dela sobre a cabeça.
— Que coisas?
Sophia capturou seus lábios. Ele demorou para soltar seus braços, mas assim que o fez, ela abriu os botões de sua blusa e acariciou seu peito, beijou seu pescoço. Sophia se arrastou para o começo da cama e o puxou para ela. Aos poucos, quando julgou que havia conseguido o que queria e que poderia possuí-la, Leonard baixou a guarda.
Sophia o puxou para o lado e inverteu o jogo, posicionando um joelho de cada lado do corpo dele. Ela não parou, estava intoxicada pela raiva e pelo desejo. Leonard demorou para perceber os padrões, apenas sentiu a dor que crescia em seu peito.
Leonard afundou os dedos na pele dela fraturando sua clavícula, mas o sangue que escorreu por suas costas apenas pareceu estimulá-la. O espartilho dificultava que ele a ferisse nos órgãos vitais. Sophia tinha tudo sob controle.
Leonard voltou a apertar seu pescoço, mas ela já estava terminando: o peito dele se abriu em um corte seco. Leonard apertou seu ombro quebrado, mas a dor apenas alimentava sua raiva.
— Sophia... por favor.
Ela infiltrou a mão em seu peito até que pudesse tocar seu coração morto.
— Eu amo você — ele disse com um fio de voz.
Sophia arrancou seu coração e o partiu ao meio, então se inclinou e beijou seus lábios pela última vez.
Ela se levantou e derrubou algumas velas no chão de madeira, colocou seu casaco e caminhou lentamente até a porta.
Leonard não seria mais um problema.
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E aí, o que acharam? Me contem tuuuuudo!
Até mais!